Direção - Eduardo Coutinho (Babilônia 2000, Jogo de Cena, Peões e o Fim E O Princípio)
“Antes eu conhecia todo mundo, mas agora construíram esse viaduto no final da rua, e eu não conheço mais ninguém.” essa frase bem que podia ser de algum dos diversos personagens anônimos dessa obra prima do cinema. Mas não é, ela vem de uma peça de teatro que estudei a um tempinho atrás, e mostra sem delongas que quanto mais “evoluirmos” mais isolados e fechados de todos ficamos. Gostem ou não de Eduardo Coutinho, ele sabe como ninguém fazer documentários, ainda mais no Brasil, país que teima em ser tão irregular no cinema.
Eu poderia dizer, quase que a mesma coisa: antes eu conhecia todo mundo, brincava na caixa de areia com os meninos, me jogava na piscina com o pessoal, comia pão com requeijão na casa do vizinho, bolo de chocolate na casa da guria do andar de cima, levava uma fita pra assistir filme com o pessoal do décimo primeiro andar... e agora tomo o elevador e o que vejo? Faces... faces sem nome, faces sem história, faces... apenas faces...
Coutinho de forma genial dá um tapa na cara de quem tem sangue correndo nas veias. Por trás dessas faces, por trás dessa cortina de ferro que separa a vida das pessoas, existem histórias, existe um universo todo. Foi mais do que interessante, passar quase duas horas passeando pelo Edifício Master. Participando de sua rotina, vendo de tudo, jovens casais idosos, apaixonados, desesperados, desempregados, amabilidade, sentimentos, humanidade...
Estórias... como a da jovem mãe mineira que fala abertamente sobre sua profissão como prostituta e lança um interessante debate com Coutinho sobre a mentira. Ou da senhora que falando “ francamente” conta da sua decepção com o marido. Ou do senhor que se diz tímido e tem medo de gaguejar, mas conta sua história de uma vez e ainda se emociona. Ou do brasileiro que cantou “ My Way” ao lado de Frank Sinatra ou da senhora que sonhava ser cantora. Ou da portuguesa que acredita no poder do trabalho.
Não é um filme que se presa a botar em um altar o mega condomínio que é o Master, com seus 12 andares, 23 apartamentos por andar e cerca de 500 moradores. Poderia ser de qualquer prédio, poderia ser do pequeno prédio em Pinheiros, dois andares, em que provavelmente os únicos dois vizinhos, mal sabem da vida um do outro. Deve ser por isso que não existiu imagens externas do prédio, não existi a rua, portão do lado de lá. Tudo se passa dentro, dentro de um prédio que poderia ser o meu, o seu ou melhor ainda o nosso.
Esse documentário veio para evidenciar a riqueza do ser humano e a importância de se humanizar o outro. O documentário mostra que esse outro nada mais é que um ser humano repleto de angústias, medos, vaidades, remorsos, alegrias e sentimentos diversos.
Edifício Master é um documentário de Eduardo Coutinho. Lançado em 2002.
segunda-feira, abril 28, 2008
Edifício Master (2002)
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