Antes de conhece-la eu era inocente, um garoto bobo com minha câmera digital. Meu pai sempre antenado nas tecnologias, logo tratou de arrumar um aniversário, natal ou sabe-se lá o que para me presentear com uma novíssima tecnologia de tirar fotos. Na real, eu gostei muito do presente, eu sempre fui um cara meio mentiroso, não, mentiroso não, estava mais para um cara imaginativo. Tinha meu próprio mundinho e via fantasia em tudo. Não era raro me perder nos parques públicos em meio a tantas epifanias acontecendo.
Foi assim, desse jeito que meio sem querer comecei a observar essa garota, chegava todo dia no parque, sempre trazia algum livro, deitava-se na grama e mergulhava numa leitura concentrada, virou meio que minha obsessão, tirava fotos dela sempre buscando um ângulo que me permitisse dar um zoom suficiente para capturar a capa do livro também. Acho que nisso se foram seis meses de convivência individual. Ela lá e eu aqui. Minha imaginação jogava a mil com possibilidades de um dia conhecer essa garota que lia de Byron à Clarice. Na época, nomes obscuros pra um jovem como eu. Na volta pra casa eu sempre dava um jeito de passar no sebo da Av. São Luis e comprar algo próximo do que minha musa estava lendo.
E nisso sempre recebia telefones de casa, eu perdido pelas ruas, meus pais preocupados. Isso durou até o dia em que ela se parou de ir ao parque, depois de uma, duas e três semanas sem compartilhar de sua leitura arrebentei minha câmera num acesso de fúria.
terça-feira, abril 29, 2008
2 - Kamera
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