segunda-feira, junho 30, 2008

Meu quarto é quente, paredes de madeira isolam o calor lá dentro. Minha cama, tem uns três cobertores e é aquecida por Fante, Bukowski, Camus e tantos outros que repousam nas gavetas abaixo do meu colchão. Já era pra estar quase acordando pro ordinário dia. E tudo que tenho é um lençol ensopado. Inquieto, queimando e com os lábios rachados de febre e auto flagelação. Pior é febre causada por peito tenso e olhos secos. Febre de não relaxar e ser compulsivo feito o diabo. A cidade toda já acordou e germinou por todo esse asfalto gasto. E eu ainda estou no blues capenga e torto dos Stones. Violão chorão e o Mick lamentando um amor em vão. E tem gente que acha que sabe o que se passa no próximo. O caralho, cada um de nós tem a porra de um universo inteiro dentro, foda, foda, acho que não vou compreender nem uma vírgula do que sou. Eu não sei o que está acontecendo comigo. Sei que sou um filha da mãe compulsivo, nem de perto sou frouxo e com peito aberto tenho febre porque vou ligar no dia seguinte, vou acordar com a mão na cintura dela e vou faze-la minha. Foda é essa insônia filha da puta. Porque ontem não terminou, ainda é hoje e hoje já estou indo trabalhar.

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Tive o prazer de conhecer uma mulher que escreve, e escreve bem pra cacete, em breve vou ler o livro dela. O nome dela é Sabina Anzuategui e o livro lançado é “Calcinha no Varal”, admito que estou realmente curioso. Pra quem não conhece vale a pena dar uma olhada no blog dela: Limas da Pérsia. Olhem um pequeno texto.

“Acordei provavelmente às três da manhã, depois de um sonho sobre sucos, sopas e o medo de ter a casa invadida, e um hábito secreto em relação a algo que não lembro, dirigindo carros antigos em alta velocidade e batendo de propósito contra o muro, e minha mãe descobre o segredo e eu viro um homem que foge, e numa curva perde a direção do carro - uma peça escapa do motor, e quando tento alcançar a peça eu acordo.

Não consegui voltar a dormir, e depois de alguns pensamentos soltos tentei lembrar dos meus últimos períodos de euforia, com medo que o ciclo começasse de novo. Mas não consegui me concentrar e lembrei apenas da última depressão, que começou no início de junho.

Aos primeiros sintomas pensei que era uma tristeza e iria passar. Mas meu estado piorou em agosto. Não fiz nada na terça-feira porque era aniversário do meu marido e pensei que ele ficaria muito triste se eu me suicidadesse nesse dia.

Na quinta-feira fui ao hotel Formula 1 e perguntei no balcão se havia um quarto no sétimo andar, pois o barulho da rua me incomodava. Só havia algo livre no décimo primeiro. Achei que seria alto demais, mas ainda assim entreguei meu cartão de crédito e assinei o recibo que o funcionário me entregou. Não acendi a luz quando entrei no quarto. Deixei a bolsa sobre a cama e abri a janela, mas havia uma haste metálica parafusada à base. O vidro só se afastou dez centímetros da parede. Desci até a Rua da Consolação e caminhei até uma loja de luminárias. Perguntei se vendiam chaves de fenda, mas responderam que não. Na terceira loja me indicaram uma casa de materiais de construção na esquina da Alameda Santos. Atravessei a rua. Havia muitos carros e naquele momento eu preferia não ouvir nenhum barulho. A chave de fenda custou doze reais e eu voltei para o hotel.

Tive que soltar seis parafusos. Enquanto estava claro quase tive coragem. Mas foi difícil encarar o abismo debaixo da janela depois que anoiteceu. No escuro, a distância parecia maior.”

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