quinta-feira, junho 05, 2008

Em Busca do Eu - 12

Não sei mais compreender o tempo. Ele não fazia mais o menor sentido. Por vezes rápido e por vezes tão devagar. Me pareciam anos desde que o Seu Osvaldo havia me resgatado da perdição em que me encontrava. Aquele desassossego não me importunava mais. Acho que foram tantas quedas, seguidas e tanto sangue derramado no asfalto que finalmente havia me cansado. Esta perto do Paraguai, o homem havia me dado um bom emprego. A loucura não era mais minha companheira. Tinha pena de que Julia não podia compartilhar desse momento de paz comigo.

Um dia eu escrevi uma carta pra ela, passei horas narrando tudo que aconteceu. Carta em mãos, lá estava toda a dor que eu sentia naquele quarto de hotel sujo, lá estava todo o desespero que quase me fez arrancar os cabelos... tudo aquilo que não me levara a nada. Louco? Sim, eu estava louco e perdido na vida. Agora esse velho, por mais danado que possa ser, no bom sentido, me mostrou... mostrou que posso encarar a vida de outra forma.

Eu sei que todas as noites me bate aquela velha inquietação, aquela vontade de sumir, de me mandar, de fugir do mesmo jeito que fugi de Julia, que fugi de meus amigos, minha família e minha cidade, mas é logo o dia raiar que eu me ocupo com os afazeres da fazenda, trato do gado, cuido da horta. Tudo aqui, nesse momento me parece que uma hora me rende dez horas, o dia se torna longo e um único e denso acorde, em sustentação eterna. A noite, a noção do tempo se perde de novo e de novo. Me sinto um ratinho de laboratório, que vai de lá pra cá e de cá pra lá sem propósito algum.

Acho que nesses dias de suspensão, minha alma cabe dentro de uma caixinha de música. Tenho me sentido pequeno, quieto e irreconciliável. Talvez agora eu seja o que meus pais sempre queriam. Mesmo porque adotei Seu Osvaldo como meu pai, apesar do ódio e do nojo que tenha de mim mesmo em certos momentos.

De concreto sei que estou ajudando nas preparações para a festa de reis na cidade. Coisa de interior mesmo, vai ter umas barraquinhas na praça, vai ter uma banda no coreto, pessoas ouvindo música e dançando. Sei que eu estava de cima da escada pregando as placas que orientavam a direção das comidas, das atividades e dos banheiros quando uma pequena guria de pele branca, cabelos ruivos e sorriso meia lua me tocou a batata da perna.

Ela me oferecia uma pequena caixinha de pregos, porém isso pouco me chamou a atenção. Eu já havia visto ela por vezes na missa. Porém nunca tinha reparado no belo corpo que tinha. Da posição privilegiada que a escada me oferecia, me deparei com o busto dela, cheio de sardas que me levavam a devaneios até o decote fechar exibindo um belo par de seios, naquele momento meu equilibro balançou, devo ter feito alguma careta grotesca pois ao mesmo tempo que derrubei o martelo, que passou assoviando ao lado do dona da venda que arrumava umas fitas no poste, a garota caiu na gargalhada devido a minha trapalhada clássica.

Desci da escada agradeci ela ainda sem jeito, naquele momento me sentia o velho animal instintivo e primal. Queria possuir ela, de todas as maneiras, queria encher a cara... mas um canto de consciência me mostrou polidamente que necessitava de mais cautela ali. Sorri e puxei um papo sobre a festa, a convidei pra um jantar mais tarde na lanchonete da praça, velho papo de ser novo na cidade, ainda não conhecer bem as pessoas. Acho que seria até mais fácil do que imaginava.

De resto passei o dia arrumando a festa, com a cabeça na ninfeta. Aquele par de seios não me saiam da cabeça. Já estava na hora, aquele sexo visceral com a Julia já completava quase um mês. Arrumei todas as placas, ajudei a levantar uma barraca e carreguei o equipamento da banda. Depois satisfeito com o dia de trabalho fui pra um banho e me preparar o bote, aquela ninfeta não me escaparia nem em mil anos. Me pesou um pouco o fato que o velho me dera abrigo, me dera uma nova vida, mas foda-se agora o lance era comer essa garota.

Um comentário:

Anônimo disse...

Valeu pela visita no blog e pelas suas palavras.
Abraços.