segunda-feira, junho 02, 2008

Estou entre os pensamentos, ruminando uns desejos antigos. Estou com o desenrolar de Na Margem (Em Busca do Eu) rabiscado na minha cabeça. Talvez a história rume de alguma forma para Buenos Aires, afinal uma cidade dramática, com tango e mulheres elegantes trariam o clima necessário para o desfecho que ando preparando. Aonde será que o narrador enfim desistirá, agradecerá e deixará a história?

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Mas acho que o que mais me cutuca nessa noite fria são as dúvidas, pensamentos, vontades. Amor? Parem tudo. Eu simplesmente quero porque quero. Acho que a gula é um câncer antes de evoluído, só aumenta e piora, aumenta ao ponto que um dia vai me fazer pedir morfina, ou gritarei de dor até a morte. Algo irracional, o comer pelo comer, o comer pra jogar o problema pra depois. Todo dia a gente aprende algo novo. E eu estou aprendendo que lutar contra impulsos que vem lá de dentro não é tão trivial quanto o manual dizia.

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Se não luto contra minha gula, me pego contente remoendo aquele sentimento gostoso que é olhar no fundo dos olhos de alguém, aquele alguém que simples por acaso, deita a cabeça no seu peito e não espera mais nada. Os olhos estão ali, estranhamente belos e hipnóticos. Tudo ali na minha frente, debaixo do meu nariz de batata. Me pertencem tanto quanto os meus já não me pertencem por completo. É tudo pó e luz, aquele momento que tu se pega, com um raio de luz iluminando a poeira que o tão limpo quarto antes escondia dos olhos. É nesse momento que você vê que existe algo no ar, algo entre o meu olhar e o dela. E esse algo é foda.

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Por fim estou com tanta leitura pra fazer mas por vezes me perco na poesia do velho safado do Buk, o cara é foda. Vou ver se essa semana acabo o De Cabeça Baixa do Flávio Izhaki, fica aqui já o elogio pra esse cara que tá lançando esse grande livro e promete muito na literatura brasileira, escrevo algo do livro em breve. Quero começar logo o Trapo do Tezza, esse livro é foda, eu li a muito tempo, e está dentro da minha lista de releituras para 2008. E ainda empolgado pelo Nome Próprio devo ler pela primeira vez um livro da Clarah, uma grande escritório que até então eu só tinha acompanhado pelos blogs mesmo. E mesmo assim o grande Buk não sai do meu imaginário que fica mais e mais rico a cada poema descoberto. Fiquem com esse aqui:

Big Night On Town

drunk on the dark streets of some city,
it's night, you're lost, where's your
room?
you enter a bar to find yourself,
order scotch and water.
damned bar's sloppy wet, it soaks
part of one of your shirt
sleeves.
It's a clip joint-the scotch is weak.
you order a bottle of beer.
Madame Death walks up to you
wearing a dress.
she sits down, you buy her a
beer, she stinks of swamps, presses
a leg against you.
the bar tender sneers.
you've got him worried, he doesn't
know if you're a cop, a killer, a
madman or an
Idiot.
you ask for a vodka.
you pour the vodka into the top of
the beer bottle.
It's one a.m. In a dead cow world.
you ask her how much for head,
drink everything down, it tastes
like machine oil.

you leave Madame Death there,
you leave the sneering bartender
there.

you have remembered where
your room is.
the room with the full bottle of
wine on the dresser.
the room with the dance of the
roaches.
Perfection in the Star Turd
where love died
laughing.

Vou fazer uma tradução livre do poema, eu adorei esse e pra quem não entende inglês fica aí:

Uma Grande Noite na Cidade

bêbado nas ruas escuras de alguma cidade.
é noite, você está perdido, aonde é o seu quarto?
Você entra num bar para se encontrar,
pede uísque e água
maldito bar empoçado, acaba ensopando
parte de uma das mangas de sua
camiseta
É um boteco safado – o uísque é fraco.
você pede uma garrafa de cerveja
A madame morte caminha até você
usando um vestido.
Ela se senta, você compra pra ela
uma cerveja. ela fede a um pântano, e pressiona
a perna contra você.
O atendente do bar desdenha
você o deixou preocupado, ele não sabe
se você é um policial, um assassino, um
louco ou um
idiota
você pede por uma vodca.
Você despeja a vodca no gargalo
da garrafa de cerveja.
É uma da manhã. Num mundo de vacas mortas.
Você pergunta pra ela quanto por uma chupeta,
engole tudo goela abaixo, tem gosto
de óleo de maquinário.

Você deixa a Madame Morte ali,
você deixa o desdenhoso atendente
ali.

Você se lembro aonde
seu quarto fica.
O quarto com uma garrafa de
vinho na mesa de canto.
O quarto com a dança das
carpas.
Perfeição na Excreção da Estrela
aonde o amor morreu
gargalhando.

...

e uma homenagem ao Bo Diddley... quem não conhece, corre atrás que é coisa fina.

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