Domingo, é de manhã e o sol já passou da minha barriga. É assim que vejo mais ou menos que horas devem ser. Quando o sol passa do meio dia ele reflete numa janela do arranha céu do outro do lado do Central Park e começa a invadir meu quarto. Quando chega por volta das 3 da tarde está no ângulo perfeito para esquentar minha barriga que a esse momento se retorce de fome e desconforto com o exagero na bebida. Se a bebedeira foi das fortes, como a da noite anterior foi, ainda não me incomodo. É por volta das quatro e meia que o sol a pino bate no meu rosto. Mas que raios? Eu preciso de uma cortina.
Digo que é de manhã porque a passagem das horas se dá nossa cabeça, eu acordo de manhã, almoço e passo para tarde só depois da janta e normalmente quando estou pelas ruas dessa cidade cheia de ratos que estou efetivamente na noite, aí sim, a noite de Nova Iorque, é meu território, conheço cada beco, cada esquina, cada clube e cada puta dessa cidade. Quando se tem grana, se tem tudo, tudo tem um preço é o que o meu velho costumava falar quando brincávamos com os constantes atrasos em festas natalinas ou aniversários. O velho safado sempre aparecia com o melhor presente, um computador, um carro, uma viagem pra velha Europa ou qualquer merda do gênero. E compra mesmo, aposto que o velho trai minha mãe com toda e qualquer puta, deve cheirar tubos de pó e com isso compra a juventude eterna. O palhaço vive como se fosse mais novo que eu.
Mas se fosse pra falar dos velhos eu me dava um tiro na cabeça, sei que esse sol, pilhado a mil na minha cara deve me arrancar fora do quarto e me por a fazer algo útil. Quero uma cortina. Tenho iPods, tenho notebook, toda a coca que meu nariz pode agüentar e um carro fudido na garagem. Por que não tenho uma cortina? Essa pergunta sempre me martelou a cabeça, porém nunca com força suficiente para que tomasse alguma providencia.
Sei que ontem tive que esperar umas três horas pelo cara que me arranja as drogas, e sei que perdido num beco sujo, sujeito a qualquer merda de maníaco afim de me enfiar uma faca, eu pensava justamente nessa merda de cortina. Inclusive deixei algumas gramas com ele e salvei alguns trocados furados na disposição de hoje comprar uma cortina pro quarto. Me arrastei feito um zumbi pro guarda roupas, vesti um jeans e uma camiseta qualquer, antes de tudo passei no banheiro e dei uma checada na cara, estava um lixo. Iria passar pela cozinha, pegar algo pra comer e botar o pé na rua, tentar achar uma cortina em pleno domingo de tarde.
Antes de sair, apanhei uma banana, é engraçado, quase nunca temos bananas em casa, eu gosto, gosto mesmo de bananas e tomei o elevador pra alcançar a rua aonde sai meio sem rumo esperando que alguma loja de cortinas brotasse na minha frente. Do outro da rua, vestida inteira de preto passava uma mulher de mais de um metro e oitenta de altura que na hora me fez lembrar, devia uma grana pra dona do Porão de Veludo, no qual eu gostava de ir sarrar umas putas, beber e cheirar sem me preocupar.
Apalpei o bolso, verifiquei que ainda tinha alguns cigarros no bolso da calça acendi um e resolvi passar antes no clube, pagaria minha conta, beberia talvez um trago bom e depois buscaria minha cortina. Como seria essa cortina? Pensei bastante enquanto descia a rua. Nunca havia pensado na cortina em si, apenas na necessidade terrível que eu sentia de possuir uma, o sol sempre me despertava de uma forma horrível.
sexta-feira, maio 30, 2008
Velvet Underground - Part 1
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