sexta-feira, fevereiro 29, 2008

A felicidade só é real quando partilhada

O que arte nos ensina e a vida nos tira? Porque será que cada vez mais o nós é substituído por um eu egoísta e falso. Cruzar a América em busca de respostas não vai adiantar. A felicidade só é real quando partilhada. E é isso que vamos fazer, vamos subir lá e que seja por 1 minuto, vamos tirar um sorriso de alguém que teve uma péssima semana, ou vamos tirar uma lágrima daquele que tem se remoído e mal sabe que tudo que precisa é botar pra fora. Se é criança, a inocência do olhar vai estar lá. Se é solidão e medo de ficar só, família partida, rumos bifurcados, busca pela verdade, se for qualquer coisa, vamos fazer por nós. Nós, aqui e nós ali, todos nós. E que tudo seja feito com o frescor e arrepio de uma primeira vez. Que nos amemos, nos apaixonemos, nos toquemos. Que seja de alma.


O Grupo de Teatro Universitário Comunitário da PUC-SP (GTUP), formado por alunos da Universidade, realiza uma apresentação extra da peça Bailei na Curva, de Julio Conte, dia 29/2, às 20h30, no campus Marquês de Paranaguá. A montagem celebra os 25 anos do texto.
Bailei na curva, texto de Julio Conte
Direção: Fernando Daghlian
Elenco: Grupo de Teatro Universitário Comunitário da PUC-SP (GTUP)
João Madrid
João Milton da Veiga
Venicio Neto
Rodrigo Junqueira
Renato Banti
Karla Di Lascio
Camila Inês
Celia Regina
Jocarla Gomes
Lilian Fagundes

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

...

A esperança sempre foi um sonho prestes a acordar. Sempre achei que essa luz ofuscante revelava um corpo débil e incompleto. Uma alma fragmentada e totalmente desprovida de razão. Esse sonho buscava preencher esse vazio. Entender essa falta de sentido. Nem de longe pretendo aceitar aquela visão covarde de impossibilidade quanto a realização. Se para muitos amor é um parte da vida, pra mim é a vida toda. Que não exista sol, comida e noite. Que exista a eterna e deliciosa possibilidade de despertar e lhe aguardar.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Versos. Tempo #12

Triste de quem não conserva sequer um vestígio de que um dia foi criança. Só de brilhar os olhos, feito criança no natal, ao vê-la, sei que vivo graciosamente. Sou dos que acredita que se uma poesia consegue se auto explicar, não é poesia, algumas coisas foram feitas para não serem compreendidas, apenas vivenciadas. Sei pois a ironia só atinge aos inteligentes. Feliz são os estúpidos, pois esses sim, são intangíveis. Não, não e não, não quero fazer hora até a morte. A vida não é uma sala de espera como muitos fazem proveito. Pois ela, minha raposa, é assim imprevisível, obvia como espero, e sempre escondendo uma surpresa, um novo descobrimento, feito poesia mesmo. Inferno. Como é difícil versar sobre amor. E depois vem o inevitável. Quem é ela? Pois ela é minha poesia, minha raposa. Mas quem? Porém ela vai além, ela é a contínua disponibilidade em se apaixonar dia após dia, cada vez mais perdidamente. Então não verso pra ela ontem, nem para ela hoje. Verso para ela e essa constante capacidade de me encantar. Verso?

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

Em Busca do Eu - 1

Vinte e dois de fevereiro, barrete em minha mão esquerda e prestes a ser arremessado ao ar. Depois de anos de estudos, talvez não tanto esforço como exigia, e muitos gestos subjugados a uma doutrina familiar infeliz e um desgosto crescente por tudo que me cerca, depois de tantas coisas estarei livre. Meu plano é simples, agradeço aos meus pais, eles me puseram no mundo e me sustentaram até a maioridade. Da iniciativa deles de sempre me mostrar a importância do estudo, e nunca questionar ou poupar economias quando se falava no meu futuro. É com esse simples gesto, facilmente comparável ao osso sendo jogado para o espaço em “2001 – Uma Odisséia no Espaço”, jogando esse chapéu simbólico ao ar, pagarei minha liberdade.

Não questiono a ganância nas pessoas de que agora, colocamos a pedra base para construir um futuro brilhante, criar uma família perfeita, dois filhos, um emprego estável, uma casa bonita e aconchegante. Minha esposa servindo um jantar delicioso e meus filhos seguindo o exemplo de um pai bem sucedido. O mundo que nos cerca, cria essa agridoce realidade que isso nos realiza e isso nos completa como ciclo natural de nossas vidas. Tudo isso pra mim é amargo como aquele café que servia de combustível para horas de insônia auto provocada para vã tentativa de superação acadêmica.

A sanidade é totalmente relativa: a minha por exemplo será totalmente questionada. Logo que o sol se esconda no horizonte distante, tomarei talvez minha primeira atitude parcialmente humana, parte instintiva e primal, como os animais devem reagir quando acuados e parte causa de um processo longo e tortuoso o qual chamamos: vida na sociedade moderna. Que não tenho apego por essa vida sem razão, nunca escondi, que me identifico com grandes canalhas que esbofetearam nossas faces com pequenos milagres em forma de arte também é óbvio. Daí veio meio gosto pela literatura ou pelo teatro. Também desse gosto masoquista pela auto flagelação e exposição de minhas fraquezas surgiu a necessidade crescente desta fuga.

Antes de lhes contar os acontecimentos deste dia marco em minha jovem vida, devo lhes situar um pouco melhor em qual situação me encontrava; naufrago e perdido nesta ilha chamada São Paulo. Nasci em berço de ouro, meu pai, executivo, grande empreendedor. Um homem habilidoso, veio do outro lado do oceano e batalhou seu lugar nesta terra selvagem. Criou uma empresa de eletrônicos no banheiro de sua casa. Viveu amores, brigas e sucessos. Grandes sucessos. Minha mãe, humilde mulher do campo. Cresceu numa cidade menor que uma igreja evangélica e foi jogada ao mundo por uma família graciliana que fugiu do bucólico lar rumo ao sonho televisionado por novelas e telejornais ditadoriais. As linhas incertas desta grande peça que ainda está sendo escrita a bilhões de autores anônimos colocou os dois juntos, cresceu um sonho comum, e nasceu uma criança afortunada.

Posso dizer que nunca me faltou nada, e que tive a dita infância invejada por todo e qualquer jovem desta cidade da garoa. Vivi a revolta do grunge, a paixão byroniana pela vizinha do condômino em que cresci. Fiz amigos que representavam tudo para mim. Transei, me fudi, fui um sozinho. Me distanciei. Me revoltei e virei o bobo da corte de uma escola cruel, onde a doutrina de ser ser humano é inserida em nossas cabeças como nas mais doentes visões de ficção científica. Paguei caro por ser diferente. Por muitas vezes joguei a toalha e deixei essa correnteza branda e constante me levar em frente. Busquei saída de diversas formas, no Rock & Roll selvagem. Toquei guitarra como um deus dourado dos anos sessenta. Deixei o cabelo crescer, fumei maconha e experimenta altas viagens. Me joguei na vida perdida. Virei um vagabundo perdido na noite suja que uma cidade grande pode oferecer.

Isso não me satisfez em nada. Me voltei para os estudos. Como quem muda de canal, deixei de lado a revolta e aceitei a enrabada que tomava dos homens no poder. O pó branco que escorria de um nariz empinado era passado. Entrei na mais conceituada e prestigiada faculdade do Brasil. Estudei, trabalhei, e virei um herói da classe universitária. Fiz trabalho comunitário, achei uma mulher perfeita. Namorei e era exemplo de um perfeito fantoche do que a sociedade precisa. De pesadelo de meus pais, virei sonho e papo para os jantares regados de hipocrisia e falsa moral. Um sorriso cênico e paciente estampava meu rosto, ainda que soubesse a respeito do caminho que assumiria era complicado demais. Uma gratidão silenciosa e confusa me prendia a ao menos entregar um presente de ouro aos meus procriadores. “Obrigado mamãe, obrigado papai”. Lembro-me de ter dito com tanto gosto isso nessa manhã antes de vir para a formatura. Depois disso tomei banho e recordo-me de não sentir o gosto dos cereais misturados com iogurte. Não me irritou o transito desproporcional de uma cidade a beira do caos. Caminhei livre de culpa, assim como um condenado redimido caminha para a cadeira elétrica. Com a diferença que eu sabia que era apenas um rito de passagem. Porta para uma jornada em busca de algo que perdera junto com a inocência anos atrás. Um questionamento pessoal e investigatório em busca do eu selvagem.

Ainda vou contar com mais atenção a respeito desses personagens de importância inquestionável e relevância duvidosa. Porém agora que o Reitor parece acabar seu discurso aonde as palavras responsabilidade, orgulho e futuro soaram como conquistas dignas de guerras napoleónicas, preciso cumprir as ultimas instruções da etiqueta social. Com um sorriso mais sarcástico que o Coringa, meu barrete voa rumo ao sol e logo abraço ilustres desconhecidos, desejo do fundo do coração um futuro brilhante e boa sorte. Logo me vejo sob o olhar orgulhoso dos dois que me trouxeram ao mundo, e de canto vejo o olhar sensual e cartomante de minha namorada, inegável mãe de meus futuros filhos e perfeita mulher de uma família feliz e harmoniosa. Mal sabe ela que estou prestes a estragar todos esses planos.

Depois de festejar, parabenizar e ser parabenizado por ser dono do mundo, pelo menos por alguns minutos. Me vou ao banheiro, tremendo tomo meu calmante e respiro fundo, molho minha nuca e meu rosto. A imagem do espelho se torna extremamente nua e ameaçadora, sei que não tenho volta. Preparei essa partida durante anos, o carro estava aonde deveria estar. Minhas malas prontas. Levaria o mínimo. Volto para a festa. Dou um ultimo e caloroso abraço em meus velhos. “Obrigado por tudo, mesmo”. Minha mãe chora, ela sempre foi mais emotiva, meu pai duro feito rocha aprendeu a se defender das emoções e mesmo assim tinha os olhos vermelhos e pesados de lágrimas contidas. Minha namorada. Admito que aprendi a gostar dela, uma sensibilidade além da média medíocre. Um talento imensurável de lidar com outras pessoas. Claro, um sexo maravilhoso, e momentos compartilhados de forma mágica. Até pensei em leva-la algumas vezes. Mas não, essa busca era minha. Do mesmo jeito que fiz a barba com convicção nesta manhã, a abracei, tomei seus lábios uma ultima vez. O meu libido, disparou e ansiava mais do que nunca uma ultima transa com aquela pequena musa. “Obrigado por tudo querida, sem você este dia nunca teria chegado. Espero que daqui pra frente, tudo que conversamos e planejamos de alguma forma ou de outra venha a se realizar.” Nosso abraço foi longo, sentia o orgulho que ela me ostentava e a forma invejada com a qual muitos nos dirigiam olhares. Naquela hora, desejei do fundo de minha alma tímida que ela fosse feliz.

Os últimos itens da minha lista de afazeres estavam se aproximando, passei em uma instituição financeira aonde assinei os documentos e doei toda minha poupança para um projeto que visava levar a arte para as comunidades carentes. Me machucava saber que parte desta grana sumiria na sujeira que é essa política que mancha cada vez mais a dignidade de uma nação. Mas sabia que por menor que fosse o percentual realmente utilizado nesta obra já seria o bastante. Semanas antes tinha sacada cerca de dois mil reais, inclusive já havia realizado algumas compras, um equipamento de som mais profissional para colegas da minha quase famosa banda, que na realidade nunca saíra de um quarto sujo de Pinheiros. Também dera um jeito de melhorar os recursos de meu grupo quase lírico de teatro.
Agora a chave girava na ignição e ninguém, nem ao menos eu, tinha idéia de onde iria parar. As rodas giravam e deixavam o asfalto para trás. serpenteando o rio morto que cortava a cidade feito ferida exposta em pele já idosa, joguei meu telefone móvel no rio ao primeiro toque de alguém que percebera minha ausência. Logo estaria deixando a realidade adestrada para trás. Abri o vidro, os falantes tocavam a guitarra de Keith que representava perfeitamente a boêmia de uma vida de excessos. Os Stones me soavam ar fresco e sempre me impulsionavam rumo ao abismo do desconhecido. Esse tipo de música pede ar fresco, e a cidade que ficava no passado já estava distante o suficiente para que o ar se tornasse puro e com cheiro de novidade.

Será que dessa vez vai?

Por diversas vezes tentei escrever um livro. Não sei o porque essa empreitada tanto me encanta. Vou tentar novamente. E quem visita esse blog irá compartilhar desta tentativa. Como sempre o nome do livro é algo que é bem complicado. Por hora não pensei no nome mesmo, apenas sintetizei o tema: Em Busca do Eu. Tenho quase certeza que isso vai mudar, e muitas vezes. Porém para não dificultar, sempre irei postar os trechos do livro usando esse título. Bom é isso espero que gostem.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

The Who - Who's Next? (1971)

Esse quarteto inglês é um dos poucos que faz frente aos Beatles, perde talvez por possuir uma carreira muito mais irregular, porém algumas obras primas do Rock saíram da cabeça desses quatro ingleses revoltados. Um guitarrista genioso e compositor de primeira. Um vocalista com excelente alcance, e um feeling perfeito. Um baterista monstro. E um baixista que está entre os melhores do mundo, com um temperamento pra lá de duvidoso.

Com outros álbuns simplesmente fenomenais, incluindo a conhecida Opera Rock – Tommy – foi no disco de 1971 que a perfeição finalmente foi alcançada. Muitos creditam este como o trabalha máximo da década de 70. Entre esses muitos, incluí-se este que escreve. Eu nunca pensaria que os sintetizadores, quase sempre extremamente mal utilizados, seriam chave deste soberbo trabalho. Nunca se ouviu um disco onde a banda soa tão alta e ainda sim cheia de detalhes e texturas.

É um trabalho de extremos. Raiva e sofrimento, humor e arrependimento, paixão e tumulto. Tudo isso misturado em uma química estranha e convidativa. Pulsada com a raiva de um coração jovem. Ao mesmo tempo que mostra que realmente o sonho acabou, a utopia colorida do poder da flor finalmente estava batida, e neste lixão onde vivem nossos adolescentes, a música acabou e nós não seremos enganados novamente.

Tecnicamente é até cruel falar de um disco tão completo. Enquanto nosso guitarrista cuidou de criar elaboradas composições e inventivas bases de guitarra, com diversas camadas de sons detalhando e crescendo com todo o sentimento que gira em torno do álbum, temos um vocalista que nunca esteve tão em forma, indo de interpretações suaves a gritos cheios de energia num piscar de olhos. A cozinha é uma história a parte. Talvez a melhor dupla de baixo e guitarra da história, no trabalho mais técnico e complexo da história do Rock, sem exageros. Keith, em suma, debulha viradas de bateria precisas durante quase todas as músicas, sem nunca soar exagerado ou tentando roubar o foco, de fato servindo a música. Enquanto John cria linhas de baixo mágicas e flutuantes, ele parece brincar com o instrumento e surpreende também não buscando roubar o foco e servindo a música de forma fantástica.

Destaques: vale tudo? Mas se for pra escolher algo: Baba O Riley, The Song Is Over (Linda), Behind Blue Eyes (Mesmo alguma bandinha de moda tentando estragar ainda é um clássico) e Won't Get Fooled Again (aff).

Isso é arte! Isso é Rock & Roll.



Vejam o gênio em fase de composição:



E agora a música servida por todos esse monstros de seus instrumentos:

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

Sobre a loucura. Normalidade?

Que calor! Mal posso acreditar que vivo em uma metrópole acinzentada e estou longe de qualquer cachoeira ou maravilha natural para me refrescar. Com sorte amanhã, sexta-feira, é o começo de um fim de semana no qual posso deitar e rolar.
Posso me deitar na banheira, cheia até a borda, fechar os olhos, esquecer da vida um pouco. O que mais posso desejar além de um bom banho e uma cama macia? Depois de um mês tão pesado e cheio de compromissos. A produtora me ligou incansavelmente, engraçado como as vezes passo dias rezando para o telefone tocar, e depois, como em um dilúvio bíblico, recebo ligações a mil.
Deve ser engraçado, pagaria para ver a cara de todos aqueles produtores ensacados em ternos Armani. Fico deitado em minha banheira pensando. Como pode, eles não tem nenhuma qualidade excepcional a não ser extorquir os outros. Mesmo assim sou totalmente dependente desses porcos. Seria hilário ver a cara de desespero de um deles se me vissem apontando um revolver bem no meio da fuça.
Vou sair do banho e desnudo caminho para a cozinha. Que barulho é esse? Meus sentidos estão todos alertas, as sombras da parede tomam vida e me ameaçam com tenebrosos sorrisos sarcásticos.
De sobressalto me viro. Ninguém se espreita no corredor. O chão está cada vez mais traiçoeiro. Minha única saída possível é o conforto quente dos cobertores de minha cama. Colado a parede e pulando uma batida do coração a cada canto escuro que observo, chego em meu quarto banhado de suor. Sinto o pulsar de meu sangue percorrer cada veia do meu corpo trêmulo. Escorrego para debaixo das cobertas e procuro ficar o mais quieto possível, como se nem respirasse para poder escutar um eventual invasor. Será que algum produtor descobriu meu ódio, e o potencial perigo enterrado em minha calma e resolveu dar cabo de mim?
Como em um relógio mecânico, meus músculos esquematicamente movem meu olhar para cada canto daquele quarto outrora tão conhecido. O computador desligado, o armário semi-aberto, evocando febris possibilidades de sua escuridão mais profunda do que a do quarto. A janela fechada, abafando mais ainda aquele ambiente hostil e sufocante. A televisão emite aquela pequena luz do piloto. Um simples ponto vermelho flutuando no ar. Devo estar ofegante, pois minhas mão sentem o cobertor subir e descer violentamente. Quem faz toda a pressão é meu peito libertino em busca de ar.
Não sei que horas peguei no sono. Não sei se morri. Nem se fui tragado pelas escuridão. O zumbido se torna cada vez mais alto. Um fio traiçoeiro que me mantem preso a realidade. Não sinto meu corpo, só sinto o pesar de uma mosca de minha alma. Canseira, paranóia e medo. Conhaque! Preciso de conhaque. Não sei estou na cama ou no parquinho em que brincava quando criança. Minha cama parece a caixa de areia aonde certa vez enterrei o brinquedo preferido de meu melhor amigo por pura inveja. Minha respiração já está normalizada, mas ainda não sinto meu corpo.
Mãe? Pai? Que barulho é esse? Agarro com toda a força o meu cobertor de areia. Imediatamente me vem a cabeça meu primeiro beijo desengonçado, no qual culpei um joelho machucado pela total falta de intimidade que tinha com a garota. Novamente, sobressalto, terror. O piloto da televisão assustadoramente cresce em minha direção. Parece o olho do inferno. Mente pra mim novamente, mente. Mentalizo, a mentira da piada chamada vida. Abro os olhos, meu quarto. Fecho os olhos, ela veio me buscar. Espero que seja indolor. Me sinto caminhando por sobre uma navalha, igual uma lesma o faria. O suor me ensopa, o calor. A minha mente mente a minha realidade, os produtores todos estão aqui, querem minha pele.
Já é alto madrugada. Ou deve ser? O sono me domina. Opa, ou estou enganado. O sol nasce? Ou seria a luz no final do túnel. Revoltoso o mar de cobertas me joga pra lá e pra cá. O apito surge como um aviso de ultima chamada, para um porto de despedidas, nunca de chegadas. Me atenho a buscar o apito, surte como uma salvação. O apito aumenta, salto da cama desesperado, sol a pinho. A claridade me machuca. Meu quarto está inteiro, meu corpo no lugar, o despertador salva vidas me tira da terra perdida entre a lucidez e a morte.
Preciso me arrumar, tenho uma reunião com os produtores a respeito de uma nova oportunidade de emprego.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Paixão Virtual X Tolerância da Realidade

Será que existe alguma possibilidade concreta de uma idéia maluca como essas dar certo? Digo, ela recém o conheceu pela Internet, e ele vivia em um estado vizinho. Gostar de Rolling Stones e ler Salinger não deveria ser o bastante para tamanha identificação.

Esse mundo virtual cria ilusões fantasmagóricas. Digo, ele usava um apelido que fazia referências ao Dylan, vez ou outra rabiscava alguns versos de porta de banheiro em seu blog e deixava sua lista de músicas, escutadas para todo mundo ver no last.fm. Com essa construção de bits e bytes o príncipe encantando vinha cavalgando em gigabytes de banda larga.

Eles travavam algumas deliciosas conversas noite a dentro. Várias na real. Era o ponto máximo do efêmero. Ela se tocava noite após noite fantasiando transas banhadas de conhaque barato e com Ramones nos falantes do notebook. Levava seus dedos bem fundo na doce ilusão que sua alma perfeita iria realizar todos seus mais íntimos desejos. Ela olhava aquela foto que ilustrava seu homem e já se dava por inteira dele, desejava sua boca. Fitava a boca como um animal prestes a dar o bote.

Já tinha feito algumas tentativas de rascunho no qual se entregava para seu amante digital e lhe oferecia ir para a cidade dele e morarem juntos, criarem uma vida, serem felizes como numa utopia hippie falida. Uma pose bancada de anos que se foram, que morreram, e que traziam um glamour mágico ao serem plagiados sem qualquer ideal real.

A cena era clara em sua cabeça, depois da resposta empolgada dele. Ela pegaria um avião, e seria recepcionada no aeroporto. Eles se aproximariam, ela iria tentar prolongar aquele segundo que antecede o beijo o máximo possível, para se lembrar e guardar consigo o momento que entraria numa nova fase de sua vida. Aquele segundo quente, duradouro, difícil de encarar, o frio na espinha. Músculos a mil. E então faria de tudo para segurar pelo maior tempo seu aguardado beijo de boas vindas. Ali já sentiria o calor subindo suas pernas, a falta de força em se sustentar, a vontade louca de ter aquele homem consigo para sempre.

Aquela noite, iria falar tudo para ele. Iria propor o beijo, iria propor a transa, iria se tocar como nunca tivera se tocado. Seria o momento de sua vida. A sua boca rósea estava umedecida e desejava secretamente aquele beijo improvável. O mais desagradável da improbabilidade é justamente a falta total de chão e gravidade aonde se apoiar. Nem um computador calcularia as chances daquilo de dar certo.

Sua prima passava o dia todo lhe insistindo para irem em alguma balada, para se divertir, descontrair. A prima não dizia, mas era obvio que sua solidão, e sua total falta de sociabilidade, quando se trancafiava em seu quarto e passava horas apenas se jogando naquele flutuante mundo da virtualidade, era mais do que óbvio que as pessoas já se preocupavam quando ela poderia voltar ao planeta terra.

Seus mamilos passaram a tarde eriçados e prontos com a possibilidade de finalmente saberem que a língua quente dele iria satisfaze-los de prazer. Mesmo que de forma contida passara o dia mais sorridente e tentou por diversas vezes ignorar sua prima, e um pingo de humanidade e auto piedade que lhe restavam.

Na hora combinada, ela ligou o computador, e esperava a Internet conectar. Desesperada consigo mesma, não pensou duas vezes, deixou com que o mensageiro conecta-se sozinho. A essa altura já estava escada abaixo para ir se encontrar com sua prima. Naquela noite, apenas o fantasma de uma possibilidade ferida iria chegar aos lábios de um cara casado e totalmente despretensioso de levar algo a sério com aquela garota engraçadinha. O doce território da fantasia iria dormir sem seu casal favorito. Foi a ultima vez que ela tentou contato com ele.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Wilco - Misunderstood (Ou tudo está caindo aos pedaços?)

Estava revirando meus arquivos antigos, e achei essa meio que adaptação, tradução, versão, prosificação que fiz de uma musica do Wilco a uns quatro anos atrás. A música é otima. Existe uma versão maravilhosa no álbum ao vivo. Kicking The Televisions. Afinal, cada estrela é um sol poente.

"Eu sempre me confundo pacas com tudo. Até o gosto do cigarro já achei maravilhoso. Mesmo quando existem coisas que eu nem posso encontrar. Até mesmo quando eu conto uma mentira. Estou sempre pra lá de confuso. Eu machuco ela e nem sei o porque. Eu a amo e nem sei o porque. Mesmo sendo um paspalho em termos de longa projeção. Mas vem cá queridinha, tu ainda ama o Rock N Roll? Mesmo sendo apenas quatro e meia, refletidos no LCD. Você vai ficar presa, encantada, perdida olhando e fitando uma foto minha. Isso mesmo, porque tu não pega seu baixo e toca uma viagem de ácido? É engraçado. Ele nunca está satisfeito e sempre acha que deve algo a alguém. Eu não, eu vivo e sei o que quero. E anos vão se passar, feito água debaixo da ponte, depois desta data aonde superei tudo. Mesmo sendo que a sorte é somente ilusão de sua mente perturbada. Tentando fazer com que tudo que eu toque me leve a um futuro vitorioso. Isso mesmo, vou rastejar de volta pra cama. Achando que essa sorte embutida em minha alma vai me acompanhar pra sempre. Tadinho, sou apenas o garotinho da mamãe. Positivamente desempregado. Tão confuso.... tão complicado. Mesmo tendo um papel bem desenhado por Deus. Aprendendo a me virar.... apenas muito confuso... muito confuso. Eu agradeço a Você por nada em especial. Nada. Nada em especial mesmo."

A música que serviu de inspiração foi Misunderstood. E agora vou deixar um belo clipe da mais bela música do último trabalho desta grande banda: Impossible Germany.

... the days until now.

E foi assim, um simples desvio no nosso destino. Nós sentamos no cinema, enquanto a escuridão aumentava e a projeção começava. Demorou. Ela me olhou e eu senti um arrepio percorrer meus ossos. E esse desvio do destino nos atingiu feito um trem. Nem que eu andasse perdido em Londres, procurando disco voadores e sem qualquer lugar para ir, sentiria tudo isso de novo. E como essa Londres é encantadora. Sim, eu sou o homem que te ama. Em meio a barulho, bagunça e microfonia. Nossa vizinhança ainda vai ver como é bom ter algo mesmo sem pedir por nada. Mesmo porque todos dizem não querer nada, mas vivem pedindo por algo. Eu te amo baby, e todo esse tempo longe de você, só me aumenta o desejo de dizer, eu te amo, te amo, te amo baby. E nós vamos viajar sim, viajar em carros, aviões, vacas, bicicletas e camelos. Mesmo porque quando agente não sabe aonde está indo, qualquer estrada nos leva lá. E se tu esquecer o pente, eu mesmo serei teu espelho querida, vou refletir o que você é, serei chuva, vento e luz sobre sua pele cheirosa. Não me importa faltar dinheiro, sapatos, cerveja ou perfumes. Não importa mesmo, porque eu tenho vida. Mesmo porque a fama é uma árvore de frutos amargos, e nem sempre esse fruto lhe fará bem, nem sempre é possível cantar essas injurias. Mas lhe garanto, isso passa, e aí vamos rodar a toda velocidade pela estrada. E você desnuda no meu banco de trás do carro. Agente pode ir pro México, com uma preguiça bonita. E que tal escutar a música que nossos pais escutava? Porque você mesma sabe que quando eu visto um Vestido de Noiva, eu não sou nada bom. Haha, o senhor sol, me traz de volta minha querida. Pois em janeiro o sol me deu você. Meu presente de ano novo e de aniversário. Tenho medo desses economistas de voodoo. Mas relaxa amor, quando eu vou pra trás e você vai pra frente, alguma hora agente se encontra de novo, pode crer, não tem erro. Sinto saudades de você baby, garota, eu preciso de você. Que ritmo gostoso esse. Não gosto de dormir sozinho ou me pendurar no telefone para te ter. Quero pele com pele. E agora agente espera o que o destino retorcido nos reserva. Pois isso é leve como leve pluma. Muito leve. É simples e suave como coisa, coisa nenhuma. Sombra e silêncio, ou espuma? Nuvem azul que arrefece. Essa coisa nenhuma que amadurece em mim. Luv ya.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Can you? Hey Bulldog - Beatles

Writing is often like driving a truck at night without headlights, losing your way along the road, and spending a decade in a ditch.

E tem quem ria do futuro, e agora nem consegue mais falar tão cheio de si.

Beatles. O que é essa música?

Louca Paixão - Turks Fruit (1973)

Direção - Paul Verhoeven

to bêbado de novo, segunda vez em menos de vinte e quatro horas, porque acabei de assistir a um filme fudido de bom, “Louca Paixão (Turkish Delight)”. de um holandês filha da mãe, não era um europeu qualquer metido a fazer filmes cabeça, era de um cara que entendia das coisas. tive que tomar um trago de uísque depois de tamanha porrada na boca do estômago. um filme que mostra de maneira fantástica o quão insano uma paixão pode ser. o filme não podia ter vindo em hora melhor, pois estou apaixonado, e muito ali me serviu de espelho, não quero errar como no filme, porque ela é especial, eu sei disso. eu sou a porra do garoto extrapola a intimidade da aproximação humana de uma forma nada convencional. quero mergulhar em todos os produtos do corpo humano, sangue, suor e gozo. e se eu colocar flores sobre o seio desnudo de minha amada, saberei que também virão as larvas.

me sinto assistido pelo coração, cérebro e libido de todos os que estão em minha volta, talvez não tudo ao mesmo tempo, mais sim como um mosaico imenso e desconexo. pois falta gravidade quando estou sonhando com um futuro que vai passar de cabeça pra baixo. fico mais do que contente em sentir essa melancolia de quem quer viver uma paixão distante no ontem, e totalmente possível no amanhã. só sei que te amo e não tenho medo de absolutamente nada. eu to bêbado feito um cachorro miserável, mas não tenho vergonha de admitir que mesmo não sendo um velho safado, sou um jovem sonhador. eu acredito na mesmice da eternidade. se é como pequenos momentos de ontem, a desejo mais do que tudo.

it only makes sense when you hit your head against the wall

isso não é uma resenha, nem uma recomenção.
é uma reação do organismo a altas doses de arte.

terça-feira, fevereiro 12, 2008

Piggies At The Palace

Não tenho a menor idéia do porque, se é que existe razão para todos os acontecimentos bizarros deste mundo. A estrada serpenteava de lá pra cá e não se via uma alma viva por quilômetros. Vez ou outra sim, ermos cidadões apareciam sobre a luz fantasmagórica do farol do carro. Uma civilização inteira esquecida em meio ao nada. No carro, estava eu, o Mark, a Chris e a Anne, todos em busca de um pouco de paz. O rádio nos embalava suavemente com a voz de Joan Baez, a canção era “El Preso Numero Nueve”, com seu ritmo latino, a história de um homem que matou e não se arrependeu, a história de um amor não correspondido.

Não me pergunte o que veio em seguida, acho que dormi, acordei vendo a névoa tomando conta paisagem e ouvindo a chuva castigar o chão de pedra lá fora. Os sinos da igreja marcavam nove badaladas, hora da missa, um homem digno se limpa de seus pecados essa hora. Ao meu lado uma bela índia de pele avermelhada e curvas esculturais se enrolava em um pedaço do lençol ensopado de sexo. Uma garrafa de uísque vagabundo repousava na cabeceira quase no fim. Sempre foi assim, nada me fazia sentido por completo, aonde estariam os outros? Como vim parar aqui?

Me joguei uma cueca sobre o sexo descoberto e saí pela porta do hotel, o que me surpreendeu foi o corredor surrealista que se desenhou em minha frente. Sem dimensão clara, desmentia as regras da física e um cartaz imenso dizia “Bem Vindo ao Inferno”. Ao lado podia observar Anne debruçada sobre a Chris em uma posição obscena. Da boca das saím larvas e gritos de desespero, a luxúria de outra hora era castigo e dor nelas agora. Algo me impediu de me aproximar e tira-las daquele agonia angustiante. Era excitante, quase escatológico observar elas apodrecendo sobre o próprio sexo.

Observei logo a frente a imagem de Nelson Rodrigues com mantos de feiticeiro, estava sentado atrás de uma pequena mesa redonda coberta por uma toalha de pano azul turquesa. Me aproximei. “Seu destino é real e cru, corra agora e seja legítimo consigo mesmo.”. A gaita tocava de seu peito, algo que vinha de dentro. Nisso me dei conta da vaca que se aproximava com seu sino oscilante no pescoço. Metade mulher, metade bovina, uma morena perigosa de olhos castanhos chorosos, típicos de quem escuta Smiths, bunda de uma vaca gorda e pronta pro abate. Mugia como uma gralha e me despertava visões de uma catástrofe sem igual.

Atravessei a porta.

Estava em um supermercado e buscava algo para cortar o cabelo. “Tudo bem” disse o traficante sóbrio e amigável que repousava na sessão de verduras. Sentei sobre um tomate gigante e fechei os olhos, tudo que me restava era aguardar. Foi quando observei, de olhos fechados, vi claramente o paredão aonde executavam os que dormiam. E senti as mão habilidosas me cortando o cabelo, as orelhas e o bico do peito. Agradeci e lhe paguei com um sexo vulgar e rápido. Senti com a violência que ele me invadia, não que fizesse sentido, depois me senti melhor e pude encarar o resto da jornada.

Ri como nunca tinha rido na vida, gargalhadas de um vagabundo estuprado e perdido no subconsciente doente de um ser humano cosmopolita. Salvador Dali me encarava e me mandou encarar a procissão diária em busca da comunhão, aonde beberíamos o leite do padre com tiras de sua própria carne. Recusei veemente alegando ser ateu. Suficiente para que me deixasse passar e adentrar o frigorífico. Dezenas de corpos dos nativos estavam em sacos pretos e um gato pulava entre eles. Aquela cena me excitou, me masturbei vendo aquele holocausto, imaginei aquele pequeno gato matando um por um dos nativos estúpidos. Ah, que delícia, a vingança de uma raça decrépita. Vingança é algo que comemos pouco antes de morrer de indigestão, mas sempre morremos felizes sendo enrabados pelo Diabo.

Ajeitei-me entre os corpos, gargalhando ainda, esperando que fosse devorado pelas larvas. Fim. Será que sou livre agora?

sábado, fevereiro 09, 2008

You Get So Alone At Times That It Just Makes Sense

Gosto de acordar abençoado por Eros e Afrodite. Sei que as drogas e o álcool ainda vão me faltar no sangue. Mesmo porque agora a única droga que tenho, é a droga do amor. Eu não sou como um viciado comum que pensa em roubar pertences da família em busca de mais um pico. Eu penso em como me manter respirando para viver mais um dia e vê-la mais uma vez. Sou condenado a cada segundo ao manicômio que é a saudade do que tenho mais não está, nesse momento, entregue aos meus braços. Sou o mais paspalho fantoche desses deuses que brincam com o sentimento amor.

Sei que em poucas horas terei os apetrechos dos sonhos de qualquer jovem do nosso século, tenho um carro, um trabalho, roupas boas, instrumentos músicas, um pedaço de papel pra rabiscar meus abortos mentais e uma casa do caralho. Mas tenho que admitir que troco tudo isso por sua buceta.

A perversão e o amor quando caminham juntos proporcionam momentos de êxtase puro. Alias queria não publicar esse pequeno trecho tão pessoal que escrevo para você. O privado e o público tendem a se misturar de forma perigosa, como calmantes e vodca. Uma paranóia quase constante de gelar a espinha. O desejo de joga-la contra a parede para uma foda tão primal quanto passional. O velho safado e sua sabedoria me fascinam sempre.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Homem Diante do Abismo.

Eu era jovem, bonito e perigoso. Vivia dançando com o perigo e o meu Fusca vermelho, era um carro de respeito, além de ser última novidade em termos de automóveis lá em Cerqueira César, me levava para todos os cantos, nunca me via parado ou muito menos voltando, sempre em frente dizia a todos. Entretanto o que reservei aqui é certa vez que passava as férias em Sorocaba, quando me refiro a férias, digo férias mesmo, tiradas na empresa que vez ou outra eu resolvia fazer um bico. Pois todos achavam que eu era um libertino, que vivia no bem bom, mas é diferente viver no bem bom com um cara que lhe paga o salário nos dias de bom humor, enquanto lhe olha torto e roga pragas. Aqueles dias sim, eram férias merecidas: a base de muito suor, mulher e bebida.

Pois então, estava em Sorocaba, em um pequeno hotel próximo ao centro da cidade. Era desses hotéis construídos em antigos casarões, lar outrora de famílias importantes que hoje não passam de fantasmas de seus antepassados. Tinha um ar imponente ainda, ostentava antigas peças de decoração e aquele pé direito altíssimo contribuía com a atmosfera local. Tinha uma bela piscina nos fundos, com um jardim encantador, diversas musas de biquíni desfilavam seus traseiros pra lá e pra cá durante a manhã toda. Eu passava boa parte da manhã no quarto, trancado, a janela meio aberta, observando a área de lazer, o sol me dava náuseas, uma constante sensação de estar em alto mar, sozinho e sem ninguém para me resgatar. Apenas depois do almoço conseguia firmar meus joelhos e fincar firmemente meus pés no chão para dar um passeio.

As refeições por sinal era um dos poucos momentos que me socializava um pouco, logo conheci um grupo de amigos que passava as férias por lá, um casal austríaco e uma família do sul do país. Como o refeitório era em um salão bem grande e possuía enormes mesas, era impossível não trocar um ou dois minutos de conversa fiada com seus vizinhos, e assim que me chamaram para ir na inauguração do mais novo clube noturno da cidade.

Eu sempre tive um certo fogo pelas diversões noturnas, ainda mais estando sozinho, solteiro e totalmente animado em pegar uma caipirinha fogosa e que muito possivelmente nunca mais a veria na vida. Porém com o arrastar quase parado do dia, me sentia inclinado a não ir a esta noitada. Algo me forçava contra meus princípios primais e me dizia para escutar a voz da razão. Mas que razão? Não existia nenhuma premissa obvia que me pudesse fazer desistir da idéia de sair e me acabar com os prazeres mundanos. O dilema perdurou por toda a tarde e me escorreu pelo corpo enquanto tomava meu banho momentos antes de sair. E foi justamente quando saí do banho que me enfiei na mais velha camiseta e voltei pra cama decido a não sair aquela noite de maneira alguma.

Foi uma noite longa e sinuosa. Nas linhas que Guimarães Rosa adoraria descrever, me vi ensopado de suor. Sentia que o calor do mundo desabava em minhas têmporas. Por dentro sentia me queimando como se estivesse no próprio inferno tomando um Drink com o velho safado. Isso até o raiar do dia seguinte, quando sem sobra de dúvidas eu estava muito pior. Nada melhorava, minha fobia matinal me atacava de forma aguda, o corpo latejava em desespero buscando uma rufada de ar fresco.

O dia se arrastava mais penosamente que ontem, e as dores já formigavam por todo meu corpo... não sai para comer, não sai para jantar, nem mesmo para abrir a janela. Me curvava feito animal covarde no canto de minha cama e rezava para santos de todos os altares. As paredes do quarto se jogavam contra minha cama, e o barulho antes agradável das pessoas se divertindo na piscina era uma sinfonia de terror, uma serra me atravessando a cabeça. Já em delírio febril, me imaginava tomando só mais uma cerveja, ou tendo um delicioso traseiro mulato rebolando na minha frente, por segundos me distanciava da dura realidade e logo sentia ser puxado com força desmedida de volta pra cama do quarto. Talvez tivesse sido melhor, procurar alguém, mas agora nem forças para sair da cama tenho, e o quarto não tem telefone. Tentava gritar, mas sei que uma pessoa do outro lado do quarto teria dificuldades de escutar mesmo o mais furioso dos meus gemidos débeis.

Queria ter vivido mais, não sei, a morte chegando disfarçada de resort paradisíaco de férias é algo que quase ninguém espera. Não li metade do que gostaria de ter lido, e não comi metade das garotas que me imaginei trepando. Na verdade não comi aquela em especial que invadia meu mais profundo subconsciente. Acho que vivi uma mentira até agora, só não consigo me lembrar do que fiz para merecer algo de bom ou de ruim. Passei em branco, queria ter cicatrizes de batalha no corpo, tatuagens feitas em uma prisão, queria ter tomado algum porre merecedor e não apenas impulsos infantis para chamar a atenção. Não quero dormir pois sei que amanhã não vou acordar... é uma pena meu corpo já estar atrofiado demais para sair desta jaula que me fechei. Se dormir talvez não acorde...

Os Satyros fazem montagem contemporânea de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues

Não assisti, porém, gosto do trabalho do Satyros, acho que eles podem ter dado uma cara bem legal a esse clássico do Teatro Brasileiro, vou assistir e comento em breve. Devo ir hoje. Segue release da UOL.

Estréia nesta sexta-feira (8) no Itaú Cultural, em São Paulo, montagem contemporânea de "Vestido de Noiva", de Nelson Rodrigues. O texto foi levado pela primeira vez ao teatro em 1943 pelo diretor polonês Zbigniew Ziembinski e pelo grupo Os Comediantes. A montagem dessa vez ficou a cargo de Rodolfo García Vázquez e da trupe do Os Satyros.

Um dos destaques da peça é a participação da atriz e diretora convidada Norma Bengell no papel da prostituta Madame Clecy, como em remontagem de 1976 feita para a inauguração do Teatro Nelson Rodrigues, no Rio de Janeiro.

Diferentemente do que foi feito até os dias atuais, a narração da história será concentrada na mente da protagonista Alaíde (Cléo de Paris), quebrando os 3 planos - memória, alucinação e realidade - sugeridos no texto de Nelson Rodrigues.

Outra novidade é a contemporaneidade aplicada ao texto do escritor e dramaturgo carioca. O grupo utilizará recursos multimídia no palco, como exibição de imagens em vídeo, além de músicas pop - como da cantora islandesa Björk - na trilha sonora da peça.

"Vestido de Noiva" fica em cartaz todos os dias, até 17 de fevereiro, no teatro do Itaú Cultural, em São Paulo.

VESTIDO DE NOIVA
Texto de Nelson Rodrigues, com a companhia Os Satyros
Direção: Rodolfo García Vázquez
Quando: 8 a 17/2, às 19h30
Onde: Sala Itaú Cultural (Av. Paulista, 149; Tel.: 2168-1777)
Quanto: entrada franca (retirar bilhete com uma hora de antecedência)
Mais informações: www.satyros.com.br

Fonte - UOL (Diversão e Arte)

Desejo e Reparação – Atonement (2007)

Direção – Joe Wright (do mediano Orgulho e Preconceito)

Sentei para assistir esse filme totalmente desavisado de críticas ou opiniões acerca dele. Apenas com uma expectativa acima da média, considerando que o livro que deu origem é um dos grandes livros que já tive a oportunidade de ler. Quando soube que ele recebera algumas indicações para o Oscar e que o diretor era o mesmo do insosso Orgulho e Preconceito, me desanimei um pouco, mas logo tratei de espantar o desanimo e me concentrar no que poderia ser uma ótima adaptação de uma excelente história.

O enredo gira em torno de uma garota de 13 anos, com um gênio pra lá de complicado, que desde pequena já mostra um talento para escrever e procura sempre ser o centro das atrações. Somos jogados em um dia de verão na casa de campo de uma família rica, eles se preparam para receber o filho de volta após uma viagem de negócios. Tudo é mostrado em uma clima agridoce, enquadramentos perfeitos, atuações firmes, atmosfera pomposa... eu achei que tudo isso levou a deixar as coisas bem artificiais, simplesmente não convencendo. A garota de 13 anos faz uma séria acusação a um dos criados da casa, que acarretará em penosas consequências no futuro.

O que me espanta é todo o alarde em torno de algo tão sem profundidade como o que nos é mostrado aqui. Achei superestimada a atriz Keira Knightley (Piratas do Caribe), que apesar de estar melhor, ainda é artificial demais. A menininha realmente dá um show de interpretação, não poderiam ter escolhido criança melhor para o papel. A falta de grandes filmes no circuito Hollywoodiano, realmente faz com que este longa tenha certo destaque, e dentro dos padrões da indústria de cinema, com certeza é um filme que vai agradar muita gente.

Porém, aqui fica minha dica, se quer mergulhar nesta maravilhosa história, leia o livro. Chama-se Reparação e é do Ian McEwan, utilize o link para comprar no Submarino, vale cada página lida. Quanto ao filme, se você é um frequentador casual das salas escuras, e não muito amante dos livros, vá e aproveite esse filme que pelo menos é muito bem feito.

Lá vem o Chaves.

Estava conversando com um amigo ontem e lembrei de uma passagem do Chaves que é simplesmente genial:

Professor Girafales:

- Chaves, como se chamam os animais que comem de tudo?

Chaves:

- Ricos.

E ainda tem gente que acha que Chaves tá batido.

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

Alemão obeso é condenado a cinco anos de prisão por esmagar esposa

"Berlim, 6 fev (EFE) - Um alemão obeso de 50 anos foi condenado a cinco anos de prisão no país por sentar sobre sua mulher e matá-la por esmagamento.

A audiência de Hildesheim, ao sudoeste da Alemanha, considerou o homem, cuja identidade não foi divulgada, culpado de graves lesões físicas com conseqüência de morte.

O acusado, que no momento do crime pesava 128 quilos, reconheceu durante o processo que tinha tido uma forte discussão com sua esposa e que se sentou em cima dela quando ela estava caída no solo, embora tenha negado qualquer intenção homicida.

A mulher fraturou 18 costelas ao ser esmagada por seu marido e morreu em decorrência dos graves ferimentos internos sofridos poucas semanas depois, após uma dolorosa agonia, afirmaram os peritos que estudaram o caso.

O tribunal de Hildesheim atendeu com sua sentença à solicitação de pena feita pelos promotores, enquanto a defesa, que indicou que o alemão tinha caído acidentalmente sobre a mulher, pedia uma pena menor e que o acusado pudesse obter liberdade condicional.

Um perito certificou, no entanto, que o marido precisou ficar no mínimo dois minutos sentado em cima da mulher, que pesava 63 quilos, para causar lesões tão graves.

O juiz que presidiu a audiência, Ulrich Pohl, disse que o episódio foi causado pela péssima relação matrimonial, na qual o homem maltratava sistematicamente sua esposa.

Após ser esmagada pelo marido, a mulher demorou vários dias para ir ao hospital, onde foi diagnostiscada apenas com fratura em três costelas e recebeu alta imediatamente.

O tribunal afirma que o médico que atendeu a mulher não fez um diagnóstico correto, já que os peritos reconheceram nas imagens de raios X à primeira vista mais de uma dúzia de fraturas de costelas, pelo que ela deveria ter sido internada imediatamente.

"Foi uma agonia torturante que durou semanas", ressaltou Pohl na leitura da sentença. EFE"

quarta-feira, fevereiro 06, 2008

Bob Dylan - Simple Twist Of Fate

O que é essa letra???

They sat together in the park
As the evening sky grew dark,
She looked at him and he felt a spark tingle to his bones.
'Twas then he felt alone and wished that he'd gone straight
And watched out for a simple twist of fate.

They walked along by the old canal
A little confused, I remember well
And stopped into a strange hotel with a neon burnin' bright.
He felt the heat of the night hit him like a freight train
Moving with a simple twist of fate.

A saxophone someplace far off played
As she was walkin' by the arcade.
As the light bust through a beat-up shade where he was wakin' up,
She dropped a coin into the cup of a blind man at the gate
And forgot about a simple twist of fate.

He woke up, the room was bare
He didn't see her anywhere.
He told himself he didn't care, pushed the window open wide,
Felt an emptiness inside to which he just could not relate
Brought on by a simple twist of fate.

He hears the ticking of the clocks
And walks along with a parrot that talks,
Hunts her down by the waterfront docks where the sailers all come in.
Maybe she'll pick him out again, how long must he wait
Once more for a simple twist of fate.

People tell me it's a sin
To know and feel too much within.
I still believe she was my twin, but I lost the ring.
She was born in spring, but I was born too late
Blame it on a simple twist of fate.

As cinzas do vale que ficou para trás.

Não sei se quero todos os prazeres da vida em cinco minutos infames de ilustre folia. Quero sentir nossos corpos tremerem de fogo e desejo todos os amanhãs que insistirem em raiar. Quero cheiro, suor e gemidos sincopados com o bater do meu coração penoso. Até o fim dos tempos. Esse desejo de reparação do que não aconteceu, a covardia dissolvida em promessas de jovens amantes, a parede desabada a base de bombadas da mais devassa das fodas. Sou constantemente atropelado por esse trem, a cada fitada dessa índia mítica. Doce devaneio derretido que nasceu e cresceu na cidade esquecida em meio a vales escuros. Nos encaixamos na mais perfeita simetria perdida, um perfeito retrato da geração perdida em néon e poeira. Um sonho que não será interrompido por guilhotina alguma.

De volta.

O pequeno, quase insignificante, fardo de amar alguém logo é esmagado brutalmente pelo insustentável peso que é: amar e ser amado. Mesmo assim, cada segundo vale essa eternidade a peso de moinhos de vento.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Como passar bem o Carnaval?

Este será um carnaval atípico, talvez o primeiro ao lado de alguém que eu realmente goste, e longe das folias. Aposto em algo irreal, cheiro de chuva, carícias manhosas e sentir o tempo escorrer devagar pelos nossos dedos. Longe das pessoas que costumam deixar tudo cafona nesta época do ano. Será meu primeiro carnaval quieto, sossegado, e feliz, sim feliz por estar deitado ao lado de quem eu desejo. Não negarei sequer um prazer simples que a vida me sirva durante esses dias no jardim do Éden. Poderia finalmente por alguns dias não ser ninguém, ser apenas o que deva ser no momento certo. Sem pensar, sem racionalizar demais. É nesse ponto acho que está meu lado Carnaval. Não serei nada, serei o que bem entender durante uns dias, e depois voltarei para a rotina da labuta diária. Nesse ponto estarei na mais perfeita folia. Longe? Sim... na mais perfeita folia bem longe daqui. Até as cinzas, estarei de volta. ou não. Agora minha pretensão se limita ao combinado das próximas horas, o que vier depois, será fruto do acaso. Bom carnaval a todos.