terça-feira, fevereiro 12, 2008

Piggies At The Palace

Não tenho a menor idéia do porque, se é que existe razão para todos os acontecimentos bizarros deste mundo. A estrada serpenteava de lá pra cá e não se via uma alma viva por quilômetros. Vez ou outra sim, ermos cidadões apareciam sobre a luz fantasmagórica do farol do carro. Uma civilização inteira esquecida em meio ao nada. No carro, estava eu, o Mark, a Chris e a Anne, todos em busca de um pouco de paz. O rádio nos embalava suavemente com a voz de Joan Baez, a canção era “El Preso Numero Nueve”, com seu ritmo latino, a história de um homem que matou e não se arrependeu, a história de um amor não correspondido.

Não me pergunte o que veio em seguida, acho que dormi, acordei vendo a névoa tomando conta paisagem e ouvindo a chuva castigar o chão de pedra lá fora. Os sinos da igreja marcavam nove badaladas, hora da missa, um homem digno se limpa de seus pecados essa hora. Ao meu lado uma bela índia de pele avermelhada e curvas esculturais se enrolava em um pedaço do lençol ensopado de sexo. Uma garrafa de uísque vagabundo repousava na cabeceira quase no fim. Sempre foi assim, nada me fazia sentido por completo, aonde estariam os outros? Como vim parar aqui?

Me joguei uma cueca sobre o sexo descoberto e saí pela porta do hotel, o que me surpreendeu foi o corredor surrealista que se desenhou em minha frente. Sem dimensão clara, desmentia as regras da física e um cartaz imenso dizia “Bem Vindo ao Inferno”. Ao lado podia observar Anne debruçada sobre a Chris em uma posição obscena. Da boca das saím larvas e gritos de desespero, a luxúria de outra hora era castigo e dor nelas agora. Algo me impediu de me aproximar e tira-las daquele agonia angustiante. Era excitante, quase escatológico observar elas apodrecendo sobre o próprio sexo.

Observei logo a frente a imagem de Nelson Rodrigues com mantos de feiticeiro, estava sentado atrás de uma pequena mesa redonda coberta por uma toalha de pano azul turquesa. Me aproximei. “Seu destino é real e cru, corra agora e seja legítimo consigo mesmo.”. A gaita tocava de seu peito, algo que vinha de dentro. Nisso me dei conta da vaca que se aproximava com seu sino oscilante no pescoço. Metade mulher, metade bovina, uma morena perigosa de olhos castanhos chorosos, típicos de quem escuta Smiths, bunda de uma vaca gorda e pronta pro abate. Mugia como uma gralha e me despertava visões de uma catástrofe sem igual.

Atravessei a porta.

Estava em um supermercado e buscava algo para cortar o cabelo. “Tudo bem” disse o traficante sóbrio e amigável que repousava na sessão de verduras. Sentei sobre um tomate gigante e fechei os olhos, tudo que me restava era aguardar. Foi quando observei, de olhos fechados, vi claramente o paredão aonde executavam os que dormiam. E senti as mão habilidosas me cortando o cabelo, as orelhas e o bico do peito. Agradeci e lhe paguei com um sexo vulgar e rápido. Senti com a violência que ele me invadia, não que fizesse sentido, depois me senti melhor e pude encarar o resto da jornada.

Ri como nunca tinha rido na vida, gargalhadas de um vagabundo estuprado e perdido no subconsciente doente de um ser humano cosmopolita. Salvador Dali me encarava e me mandou encarar a procissão diária em busca da comunhão, aonde beberíamos o leite do padre com tiras de sua própria carne. Recusei veemente alegando ser ateu. Suficiente para que me deixasse passar e adentrar o frigorífico. Dezenas de corpos dos nativos estavam em sacos pretos e um gato pulava entre eles. Aquela cena me excitou, me masturbei vendo aquele holocausto, imaginei aquele pequeno gato matando um por um dos nativos estúpidos. Ah, que delícia, a vingança de uma raça decrépita. Vingança é algo que comemos pouco antes de morrer de indigestão, mas sempre morremos felizes sendo enrabados pelo Diabo.

Ajeitei-me entre os corpos, gargalhando ainda, esperando que fosse devorado pelas larvas. Fim. Será que sou livre agora?

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