segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Paixão Virtual X Tolerância da Realidade

Será que existe alguma possibilidade concreta de uma idéia maluca como essas dar certo? Digo, ela recém o conheceu pela Internet, e ele vivia em um estado vizinho. Gostar de Rolling Stones e ler Salinger não deveria ser o bastante para tamanha identificação.

Esse mundo virtual cria ilusões fantasmagóricas. Digo, ele usava um apelido que fazia referências ao Dylan, vez ou outra rabiscava alguns versos de porta de banheiro em seu blog e deixava sua lista de músicas, escutadas para todo mundo ver no last.fm. Com essa construção de bits e bytes o príncipe encantando vinha cavalgando em gigabytes de banda larga.

Eles travavam algumas deliciosas conversas noite a dentro. Várias na real. Era o ponto máximo do efêmero. Ela se tocava noite após noite fantasiando transas banhadas de conhaque barato e com Ramones nos falantes do notebook. Levava seus dedos bem fundo na doce ilusão que sua alma perfeita iria realizar todos seus mais íntimos desejos. Ela olhava aquela foto que ilustrava seu homem e já se dava por inteira dele, desejava sua boca. Fitava a boca como um animal prestes a dar o bote.

Já tinha feito algumas tentativas de rascunho no qual se entregava para seu amante digital e lhe oferecia ir para a cidade dele e morarem juntos, criarem uma vida, serem felizes como numa utopia hippie falida. Uma pose bancada de anos que se foram, que morreram, e que traziam um glamour mágico ao serem plagiados sem qualquer ideal real.

A cena era clara em sua cabeça, depois da resposta empolgada dele. Ela pegaria um avião, e seria recepcionada no aeroporto. Eles se aproximariam, ela iria tentar prolongar aquele segundo que antecede o beijo o máximo possível, para se lembrar e guardar consigo o momento que entraria numa nova fase de sua vida. Aquele segundo quente, duradouro, difícil de encarar, o frio na espinha. Músculos a mil. E então faria de tudo para segurar pelo maior tempo seu aguardado beijo de boas vindas. Ali já sentiria o calor subindo suas pernas, a falta de força em se sustentar, a vontade louca de ter aquele homem consigo para sempre.

Aquela noite, iria falar tudo para ele. Iria propor o beijo, iria propor a transa, iria se tocar como nunca tivera se tocado. Seria o momento de sua vida. A sua boca rósea estava umedecida e desejava secretamente aquele beijo improvável. O mais desagradável da improbabilidade é justamente a falta total de chão e gravidade aonde se apoiar. Nem um computador calcularia as chances daquilo de dar certo.

Sua prima passava o dia todo lhe insistindo para irem em alguma balada, para se divertir, descontrair. A prima não dizia, mas era obvio que sua solidão, e sua total falta de sociabilidade, quando se trancafiava em seu quarto e passava horas apenas se jogando naquele flutuante mundo da virtualidade, era mais do que óbvio que as pessoas já se preocupavam quando ela poderia voltar ao planeta terra.

Seus mamilos passaram a tarde eriçados e prontos com a possibilidade de finalmente saberem que a língua quente dele iria satisfaze-los de prazer. Mesmo que de forma contida passara o dia mais sorridente e tentou por diversas vezes ignorar sua prima, e um pingo de humanidade e auto piedade que lhe restavam.

Na hora combinada, ela ligou o computador, e esperava a Internet conectar. Desesperada consigo mesma, não pensou duas vezes, deixou com que o mensageiro conecta-se sozinho. A essa altura já estava escada abaixo para ir se encontrar com sua prima. Naquela noite, apenas o fantasma de uma possibilidade ferida iria chegar aos lábios de um cara casado e totalmente despretensioso de levar algo a sério com aquela garota engraçadinha. O doce território da fantasia iria dormir sem seu casal favorito. Foi a ultima vez que ela tentou contato com ele.

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