Acho gozada a linha entre realidade e ficção. A arte finge ser realidade, ou as vezes o oposto acontece, e a realidade imita a arte. Eu não sei aonde narro realidade e aonde escorrego para ficção. Uns podem me chamar de mentiroso, outros de artista. Nem um nem outro, apenas um ser humano que gosta de viver, gosta de ficcionar e gosta do inventado. Talvez, não, na realidade, muito provavelmente o que escrevo por aqui não seja um relato fiel, e nem deve ser. É minha visão torta de uma vida nem um pouco direita. Seria injusto contar os fatos como são, seria desonesto comigo mesmo excluir essa ficção que alimenta a alma.
Por isso, começo o relato escrevendo de um quarto de hotel vagabundo, ou melhor, do banheiro do quarto. Minha mulher dorme em paz depois de uma foda fantástica. Metemos muito bem hoje. Teve de tudo, aonde língua, pau, suor e tesão nos levaram a lua. Ela desmaiou e dorme feito um anjo depois que toda essa foda. Agora, as luzes apagadas, o cuidado em bater as teclas desse velho notebook, o silêncio desse velho hotel, tudo isso tem um toque único. O cheiro de sexo... e que sexo, será difícil de esquecer. Parece que a cada vez melhoramos mais. Estou com sono e fedendo a vinho barato.
Tem que ter muita bola pra assumir no peito uma coisas dessas. Vou casar com essa guria. Já comecei a pagar um apartamento para nós dois. Não é grande coisa, mas tá num lugar bom e vai ser nosso canto. Nada mais de hotéis com cheiro de motel, ou como eles preferem, hotéis de alta rotatividade. Teremos nosso canto. A levarei pra passear nos finais de semana, e aos domingos farei uma macarronada que aprendi mezzo com o velho mezzo sozinho. Se dá medo? Sim, dá um puta medo, um moleque que pouco passou dos vinte estar pouco se fodendo, não estar nem aí com o que o futuro pode estar reservando, depois da curva pode estar vindo um caminhão na via contrária, e aí, é tarde demais, perda total, lataria destroçada, ferro retorcido misturado com carne triturada. Não ligo, meto o pé no acelerador e vou seguindo essas curvas, feito Roberto na estrada de Santos.
Nosso apê tem tudo para ser de fato o paraíso, ele tem uma cozinha dessas americanas, com balcão e uma sacada bem bacana. Sempre vai ter uma garrafa de vinho barata na geladeira e não vai faltar música. Nessas horas a tecnologia impera. Já tenho tudo planejado, muita música num computador e um visual retro, meio anos cinqüenta, algo que remeta a uma jukebox. Um ou outro puff pra se largar e deixar a vida passar. Afinal, até respiro em paz de saber que ela dorme ao lado. O banheiro desse hotel é bisonho, pequeno, mal caibo e muito menos tenho espaço para sentar e digitar o que me vem a cabeça. Ao menos estamos juntos. Esses defeitos acabam por nem aparecer. Vou matar o vinho antes do amanhecer, e em breve acordo ela em brasa pronto pra mais uma.
Como é bom ser jovem, ter sangue correndo nas veias, ser devoto do ópio. Não o ópio de antigamente e sim o ópio do gozo sem pecado. É bom fazer as coisas da maneira que jovens amantes fazem. É bom sonhar, e é melhor ainda viver o sonho. Que se foda meus antigos lamentos, eram bobagem e hoje são lixo. Bati de cara num muro, quebrei os dentes e mandei o mundo a merda. Isso até ela me mostrar que os dentes haviam crescido novamente, e que eu podia sorrir. Essa casa vai chegar. Até lá, esses inferninhos irão presenciar muitas outras noites de sexo, gozo e álcool, pois luxúria ou não, eu gosto.
segunda-feira, agosto 18, 2008
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