segunda-feira, setembro 01, 2008

Essa vida é venenosa. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis, tudo que fazemos está nos matando. Começando pela condição precária de vida que aceitamos. Primeiro ar, que é a base da vida. Nosso ar é um lixo, é podre, entope o nariz, suja os olhos, encarde até a mente.

Eu tava prestando atenção, e acho que São Paulo é a cidade dos desesperançados, é real, é a cidade de quem larga essência por uns trocados a mais, dos migrantes de todos os lugares que pouco criam laços afetivos e simplesmente querem sugar até o último centavo da terra da garôa. Garôa cada vez mais escassa. O que colabora com esse ar nojento. Temos asfalto sujo, cimento velho e caos por toda a parte. Todo mundo vem pra São Paulo em busca de algo. E se dizia que nossa vida é venenosa, começa por onde escolhemos para morar. Aqui só tem fodido e mal pago. Terra de quem sonha. Terra de ninguém, ao mesmo tempo que morre neguinho de fome no semáforo, os ricos compram sua fantasia no Morumbi.

Eu gostava da praça do pôr-do-sol, a tempos minha garota me pede para irmos lá. Eu dou um jeito de não ir. Sabe por que? Porque São Paulo não tem horizonte. Aqui não tem por do sol. Aqui o céu até que ensaia um rosa bonito vez ou outra. Não passa de um tóxico venenoso e cheio de poluição. Não tem pra onde fugir. E nossa vida vai minguando.

Hoje tive um puta dor de cabeça o dia inteiro. E o que vejo em volta é só gente pisando na cabeça dos outros. Inveja, São Paulo transborda inveja. Toda cidade sente inveja de quem sobrevive e consegue subir acima do concreto. A maioria é engolida e fica a margem dessa sociedade, quem escapa, é alvo de inveja. Não tem disfarce. Não temos mar, nem cordilheira, não temos vinhedos nem belas construções. O que é belo está como que regurgitado e cuspido de qualquer maneira.

Essa cidade é uma puta velha. Daquela que te seduz no escuro, que rebola no seu pau e paga de putinha de vinte anos. Quando você se empolga e bota a grana na mão, ela é uma escrota, velha, sem dente e gorda. O hálito azedo, a carne flácida e sofrida. Ela já pegou a grana e você está lá, na cama com a puta velha.

Nem o charme boêmio podemos nos gabar de ter. Somos uma cidade de trapaceiros, de falsos e de moralista que nada fazem além de se vangloriar pelo tamanho do documento de um gringo que fez acontecer seu negócio. Sim, porque a cidade só tem grana por causa dos gringos, se fosse por nós paulistas não seriamos nada. Esse cimento me enveneno até a espinha hoje. Cansei.

Mesmo assim, todo veneno tem um doce barato. Coca mata e fode conosco, e quem experimentou garante, é o melhor bagulho do mundo. Cada um escolhe o jeito de morrer. Hoje eu quase entreguei os pontos e me joguei no Pinheiros de tanto masoquismo que meu corpo tinha que suportar. Quero minha garota, uma casa no campo e meu violão. Quero superar esse meu vício de você cidade perdida.

Em breve seremos uma família. É bom saber que teremos dois quartos numa rua tranquilha próximo a um dos poucos parques que prestam na cidade. Quando eu vi, eu sabia que era ali mesmo. Agora resta saber se a cidade vai nos deixar vivos até lá. Acho engraçado as coisas estarem encaminhadas. Nós somos roqueiros, não somos arrumadinhos, também não somos um mostruário de pircings. E justo nós, justo o casal que parece fadado a pastar muito, espera agora a casa ficar pronta. Vou vagar nas ruas de São Paulo, mesmo sabendo que esse veneno me mata. Em breve tiro uns dias pra nós e vamos pra cordilheira dos Andes. Me aguardem.

2 comentários:

Anônimo disse...

Blogger John disse...

Posso dizer que sim. Ficção baseada em realidade. Tentei lhe agradecer o comentário por email, e só hoje vi que voltou. Gostei do seu blog. Obrigado.

Beijos.


Bom, eu não ligo se você tentar me re-enviar um e-mail. :D


Tenho uma ilusão quanto à São Paulo. E não, seu texto não me fez desistir de passar por aí algum dia, e quem sabe até morar ... Tenho um amigo que passou férias aí, voltou me contando de cada esquina que passou, e sabe quando você ouve aquela música que te faz estalar os olhos de tão abertos, arregalados ? Foi assim! A cada palavra, eu não me cabia mais por dentro de cede por SP. Brevemente faço prova p'ruma faculdade, e USP está na lista das tantas que prestarei vestibular. Fácil não é, mas me permitam idealizar.

E se quer um lugar lindo de se morar, sem modestia, Minas é uma opição.

Beijos, e.

John disse...

A questão e.

é que eu nao tenho seu email querida, normalmente respondo os comentários pessoalmente por email, velho habito. Se quiser, me envie um email no joao.madrid@gmail.com e assim tu nao terá seu endereço divulgado. E ai podemos nos falar.

E eu amo São Paulo, a hora do ódio foi ontem.

E eu amo Minas. Conheço pouco, e amo.

Beijos J.