sexta-feira, setembro 12, 2008

Tenho um puta medo da velhice. De fazer tudo, de ganhar o mundo e depois acabar fraco, sem força pra andar numa cama qualquer. O velho matou gigantes pra chegar aonde chegou. Foi mais forte que tudo que eu já vi. E hoje, é derrubado por uma dor na perna, nas costas ou na alma. Tanto faz. O tempo é filha da puta. Chega cortando o barato que é ser ser humano. O velho tá definhando. Eu queria sentir algo, mas não sinto nada. Sou um completo vazio enquanto ele definha no quarto ao lado. Aposto que quando ele ir embora irei ficar pensando muito a respeito. Aí esse vazio será preenchido por uma dor filha da puta de todas as vezes que engoli uma palavra de carinho. O velho era uma muralha, agora são alguns tijolos espalhados esperando o caminhão de entulho.

É uma merda viver sem espectativas, e uma merda maior ainda é viver esperando a morte. Sem tesão de sair por aí, sem tesão de ver os filhos calçando seu devido lugar no mundo. Será que é sempre assim? Eu não quero definhar feito um cachorro abandonado. Ontem, bebi um copo de uísque enquanto rabiscava umas letras em homenagem ao meu pai. Homem foda, mas nada prestou, era tudo um monte de coisa nenhuma. Porque ele é isso agora, ele é história, passado magistral, presente decadente, futuro certo. Eu nunca falei te amo. Eu nunca dei um abraço de verdade. Ele construiu esse abismo, demonstrou carinho de formas tortas, eu comprei a idéia, perdi muito. Agora só tenho essa porra de dor, uma dor gritante de ver o velho apodrecer em vida direto pro caixão.

O ciclo dele tá se fechando. Espero ter a sorte que esse grande homem teve. Espero até o fim agradecer cada minuto que ele me deu. Espero em vida, gozar tudo que ele deixou pra gozar agora. Espero que todo o sacrifício dele seja pago pela moeda do meu gozo em vida. Se ele detonou a própria alma pela família, se ele se destruiu por mim, eu agradeço. Vou viver da melhor forma possível.

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