segunda-feira, setembro 22, 2008

Não vai tocar, desencana cara. O telefone não vai tocar. Vai ficar naquela mesinha, inerte, inútil, sem vida alguma. Não vai tocar. A tua casa tá uma bagunça e você precisa se erguer. Não é uma puta qualquer que pode te derrubar. Você não pode se enterrar em garrafas vazias, discos e roupa suja. Sempre que chego na sua casa tem aquele silêncio, um calor preso a dias ali dentro. E você esperando o telefone tocar, desencana.

Se um dia tiver que acontecer vai acontecer e pronto. Eu sei que você tem sede, fome, que você precisa de álcool. Mas você não é zumbi algum. Então acorda desse pesadelo. O mundo não é tão vazio assim. Tu ainda vai é perder a garota que disse “eu te amo” esses dias. É engraçado que quando passo na frente da tua casa, tá rolando algum negão no último volume, como se desesperado você quisesse ser notado. Ninguém vai notar, essa cidade não liga para qualquer idiota. Então acorda, deixe de lado esse marasmo. Eu sei que na boa literatura, todos se fodem! Eu sei que você é da tradição do Fante, e como um bom fodido espera que sua vida se transforme na saga de um bêbado ordinário. Mas assim, sinceramente, você vai acabar morto por alguém que não vale um conhaque barato.

Uma hora, o vazio vai apertar, você vai querer sorrir e não vai conseguir. Você não nasceu para ser pano de chão. Então tira esses trapos do corpo, toma um banho, coloque uma roupa e vá cuidar da sua mulher. Abra um vinho, brinde com ela: aos bons tempos. De pé, agora, seu bêbado imprestável. Pode reclamar, mas vai ser vencido pelo cansaço. Ninguém gosta de um homem devastado, debulhando-se em lágrimas. Olha só, avisa quando estiver pronto, então faremos nosso som, e você terá nos braços a mulher que tanto ama. Não demora. Não seja burro. A luz desbota rápido, o mal-estar ataca o tempo todo. A realidade sempre golpeia na cara, então, força homem.

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