quarta-feira, setembro 17, 2008

O tempo me engole. Eu? Eu sou um cara qualquer. Ela me perguntou, quem é você? Eu não sou muito mais do que a imagem mostra. Barriga de cerveja, cabelo descuidosamente desarrumado, boca grande, fala maior ainda, pouca capacidade auditiva. Quero ter umas plantas na varanda de casa. Não sei direto como é minha cara, pra falar a verdade, sou obrigado a olhar todos os dias no espelho para não esquecer quem eu sou. Mesmo assim, sou sombra de um eu que nunca se concretizou. No passado, figura inseparável do copo de whiskey. A última vez que me vi, abraçava uma privada depois de algumas cervejas e caipirinha barata. O que eu fazia bebendo é outra história. Hoje tenho a barba recém feita. Já começa a se tornar áspera e dificilmente vai agradar ao toque alheio. Eu suspiro o tempo todo, e na maior parte dos suspiros me esvaio em pensamentos distantes. Não é descaso com a realidade, e sim apego com um outro tempo. Sou dos caras que sobe no telhado do prédio e bebe qualquer porcaria vagabunda sozinho mesmo. Arranco a rolha e abro um livro, o mundo é minha fronteira. Eu tenho uma namorada. Não quero outra, e estou muito feliz com ela. Romance é isso. Tudo isso mais ela, ela e a paz de saber que eu sou alguém outro, e talvez isso que importe. Eu machuco minha boca o tempo todo. I'm in the right mood for love. Mas isso não é fácil de entender pra qualquer um. Dizem que a vida é amarga, e eu acho que deve ser, por isso mesmo eu gosto de amargo e vou levando. Como diria meu amigo Luidou, amor é um cão dos infernos. Eu sou isso, um velho no corpo de moleque, parado numa esquina suja qualquer. Se tiver que lamber a sarjeta, lambo e saio por cima. Esse gosto estranho na minha boca não vem de hoje. Sei que, olho pro lado e vejo a garota certa na minha cama. Me gasto todos os dias. Mas não da forma mais intensa. Na verdade não sou um junkie acabado. Nem perto disso. Sou apenas um mentiroso que achou a verdade e se enroscou bem nela.

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