sexta-feira, setembro 26, 2008

”Escrevo porque preciso, preciso porque estou tonto.” - Leminsk

quinta-feira, setembro 25, 2008

Eu sabia, eu sabia que poderia contar com o Salinger. Depois de ler o livro meia boca do Fuguet, resolvi para me esbaldar de orgasmo literário ler um conto curto do Salinger. Agora eu entendo tudo. Ser humano é cheio de cagar as coisas, e a dita normalidade é assustadoramente bizarra. Nota mental: ler tudo do Salinger. Dá vontade de falar pra todo mundo, mas vou deixar que os afortunados tropecem nessa obra. Não, não estou falando do Apanhador. Quero uma cerveja. Não, quero anfetaminas, saudades das minhas pilulas. Preciso falar sobre: a garota, a viagem e a casa. Preciso falar sobre a banda. Em breve. A cabeça roda, eu to sorrindo, hoje vou ver a minha garota e ontem eu li um dos melhores textos literários de minha vida.

quarta-feira, setembro 24, 2008

Roteiro Patagônia

Agora vou passar os próximos meses acertando detalhes da viagem. A meta é ambiciosa. Vinte dias, sair de Buenos Aires, descer até Ushuaia, subir até Santiago do Chile e voltar para Buenos Aires. Nessas horas pesa o tempo e a grana, mas a viagem será feita na base de albergue, trem, ônibus, qualquer coisa que rode na direção que precisemos. Mas é mais ou menos isso aqui, ó:

17 – São Paulo / Buenos Aires
18 – Buenos Aires / Puerto Madryn
19 – Visitar a Península Valdéz
20 – Pueto Madryn / El Calafate (Pesquisando)
21 – Glaciar Perito Moreno
22 – Parque Nacional Los Glaciares
22* – El Calafate / Ushuaia
23 – Canal Beagle e Pinguinera
24 – Trekking Laguna Perdida
24* – Ushuaia / Punta Arenas (Chile)
25 – Parque Torres del Payne
25* - Punta Arenas / São Carlos de Bariloche (Argentina)
26 – Roteiro dos Lagos
27 – Dia livre
27* - Bariloche / Santiago (Pesquisando)
28/29/30/31 – Santiago
31* - Santiago / Mendoza
01/02 – Mendoza
02* - Mendoza / Córdoba
03/04 - Córdoba
04* – Córdoba / Buenos Aires
05/06/07 – Buenos Aires
07 – Buenos Aires / São Paulo

Pesquisando – Viabilidade dessas rotas. Isso incluí tempo, dinheiro e se existe algum traslado.
* São viagens de madrugada, mais barato e ganhamos tempo na viagem.
Dia 26 é meu aniversário, vou passar na estrada, melhor impossível. E eu vou tentar manter um diário virtual da viagem. Claro que isso se limita a 5 minutos no máximo por dia. E se o lugar tiver internet relativamente barata ou de preferência inclusa nos albergues.

segunda-feira, setembro 22, 2008

É engraçado pegar esses livros de turismo. Me sinto pequeno. O mundo que é imenso. Eu nunca vi neve, na verdade nunca nem saí do Brasil. Vendo as fotos estampando as páginas, eu lembro do meu Pai. Ele saiu lá de Marrocos e se matou de trabalhar aqui no Brasil. Nunca teve tempo de ver coisas, de ver o mundo. Foi direto de um país lá na África pro Brasil. Invejo, porra, cresceu em Marrocos foda. Mas depois que atracou em terras brasileiras nunca mais pode fazer nada. Eu quero viver tudo que ele não viveu. Eu e minha garota vamos pra Patagônia, mas não pense que no conforto, arranjamos a passagem mais barata pra Buenos Aires e de lá, é pé na estrada, dedão pra cima e mochila nas costas. Vamos encarar América do Sul adentro. Soltar o parapeito e cair em queda livre. Mais vale nós dois no constante porre de se embebedar de vida do que um casal preso a tosca realidade. Eu devo isso, eu devo isso a ele. Devo uma vida que muitos tem medo de viver. Devo isso a mim mesmo.

Troca de passes.

Sem perder muito tempo.

Filmes



Violência Gratuita: Versão idêntica ao original Austríaco. Os atores não devem nada, e o clima é o mesmo. Pra quem não sabe, é um exercício de sadismo. Uma família vai passar as férias na casa de campo e acabam por cair nas mãos de dois psicopatas. Foge e muito do convencional dos filmes de terror. Talvez isso faça valer a pena. É uma maneira diferente de assistir os filme de Terror. No meu caso, como eu já tinha assistido ao original alguns anos atrás, o impacto não foi tão forte. Mas recomendo aos que não viram nada. A experiência no cinema é sempre melhor. (7/10)



Crônicas de um Amor Louco: Adaptação dos contos do velho Buk. Gostei por ser uma versão bastante fiel. Minha garota que recém leu os livros que são retratados aqui, confirmou que o diretor foi bastante fiel. O ator é meio canastrão, mas acho difícil fazer o velho safado sem ser canastra. O filme deu uma cansada no meio, mas é bem bom. Com cenas lindas como a primeira transa com a Cass. Para os fãs desse universo decadente que é alma humana. Imperdível. (8/10)

Livro



Os filmes de minha vida: Faltam vinte páginas, tem sido um sacrífico acabar essa leitura. E olha que raramente eu empaco em livros. Albert Fuguet me enganou, depois do fantástico Baixo Astral, me veio com esse livro que para não dizer outras coisas, simplesmente não me apeteceu em nada. Muito chato. (2/10)

Não vai tocar, desencana cara. O telefone não vai tocar. Vai ficar naquela mesinha, inerte, inútil, sem vida alguma. Não vai tocar. A tua casa tá uma bagunça e você precisa se erguer. Não é uma puta qualquer que pode te derrubar. Você não pode se enterrar em garrafas vazias, discos e roupa suja. Sempre que chego na sua casa tem aquele silêncio, um calor preso a dias ali dentro. E você esperando o telefone tocar, desencana.

Se um dia tiver que acontecer vai acontecer e pronto. Eu sei que você tem sede, fome, que você precisa de álcool. Mas você não é zumbi algum. Então acorda desse pesadelo. O mundo não é tão vazio assim. Tu ainda vai é perder a garota que disse “eu te amo” esses dias. É engraçado que quando passo na frente da tua casa, tá rolando algum negão no último volume, como se desesperado você quisesse ser notado. Ninguém vai notar, essa cidade não liga para qualquer idiota. Então acorda, deixe de lado esse marasmo. Eu sei que na boa literatura, todos se fodem! Eu sei que você é da tradição do Fante, e como um bom fodido espera que sua vida se transforme na saga de um bêbado ordinário. Mas assim, sinceramente, você vai acabar morto por alguém que não vale um conhaque barato.

Uma hora, o vazio vai apertar, você vai querer sorrir e não vai conseguir. Você não nasceu para ser pano de chão. Então tira esses trapos do corpo, toma um banho, coloque uma roupa e vá cuidar da sua mulher. Abra um vinho, brinde com ela: aos bons tempos. De pé, agora, seu bêbado imprestável. Pode reclamar, mas vai ser vencido pelo cansaço. Ninguém gosta de um homem devastado, debulhando-se em lágrimas. Olha só, avisa quando estiver pronto, então faremos nosso som, e você terá nos braços a mulher que tanto ama. Não demora. Não seja burro. A luz desbota rápido, o mal-estar ataca o tempo todo. A realidade sempre golpeia na cara, então, força homem.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Nossa Geração?

Existem outros milhares idênticos a mim. O que me diferencia do resto? Porra nenhuma, a juventude hoje é uma grande colagem de idéias e clichês batidos. Uma juventude pelada. Qualquer um é a mesma cópia em tons pastiche do outro. A arte é fastfood. Os sonhos são vendidos em um plano que ninguém escapa. Por mais outsider que eu gostaria de ser, sonho com a mesma porra que os palhaços na sala ao lado sonham. E pior é tudo nivelado por baixo.

Vivemos numa época que o mediano, ou porque não mediócre, tem tudo ao alcance. Claro, não vou ter um notebook da Apple, nem viajar para Dubai. Mas vou para a Argentina e compro um notebook de segunda mão. A banalização tá tão grande, que os ditos contra cultura de hoje, não passam de palhaços e sombras do passado. Ninguém se salva. O que eu quero? Um apê, viajar uma vez por ano, degustar os melhores livros e whiskeys, tocar minha música. Quantos não querem isso?

Não estou desiludido, é o mundo que vivemos, é o mundo que nossos país e avôs criaram. O nosso Band a Part virou uma família quadrada com dois filhos, um carro bacana, uma viagem por ano e que diferencialmente do resto, se acha especial, mas não é. Somos essa baciada de gente, geradas fielmente em moldes made in china. Ninguém escapa do consumismo. Ninguém escapa do capitalismo, que é mesmo um Câncer moderno. Tivemos a peste negra, a tuberculose, a Aids e agora o consumo. Aonde está o artista? Poderia citar por horas constelações inteiras de estrelas falsas.

Pão e circo mais forte do que nunca. Me sinto uma vaca num enorme pasto. Como a mesma grama que você, rumino igual. Meu cérebro atrofiado enxerga apenas a cerca infinita que limita meu mundo. Somos a geração do conformismo. Alguém quer mudar isso? Eu sinceramente mais me importo com a minha garota, minha viagem nas férias, meu apê sendo construído e meu pequeno pasto particular sendo irrigado. A pergunta é, tem como fugir? O sonho acabou galera. Apague a luz o último que sair.

...

Depois de poucas horas de sono veio a luz. Acho que o que restou é achar alguém, compartilhar a realidade e aproveitar o gozo. Sim, pensando melhor, somo a geração do livre gozo. Muito melhor do que parece. Se somos completamente descartáveis, que aproveitemos da melhor forma nossa curta estádia.

...

Encoleirado no trabalho. Entro nessa mesma sala todos os dias. Pra que? Por que? Quero um bar. Quero fazer algo estúpido e perigoso.

Cacete, é isso! Todos fazemos a mesma merda. Importa quem faz com estilo. A loucura nada mais é do que a oposição a realidade. Quero ser louco. Quero um porre e ser louco. Quero me entrelaçar com minha garota, perdido e doente de amor. Não podemos despertar desse quase sono em que se encontra tudo. Mas temos que continuar.

quarta-feira, setembro 17, 2008

O tempo me engole. Eu? Eu sou um cara qualquer. Ela me perguntou, quem é você? Eu não sou muito mais do que a imagem mostra. Barriga de cerveja, cabelo descuidosamente desarrumado, boca grande, fala maior ainda, pouca capacidade auditiva. Quero ter umas plantas na varanda de casa. Não sei direto como é minha cara, pra falar a verdade, sou obrigado a olhar todos os dias no espelho para não esquecer quem eu sou. Mesmo assim, sou sombra de um eu que nunca se concretizou. No passado, figura inseparável do copo de whiskey. A última vez que me vi, abraçava uma privada depois de algumas cervejas e caipirinha barata. O que eu fazia bebendo é outra história. Hoje tenho a barba recém feita. Já começa a se tornar áspera e dificilmente vai agradar ao toque alheio. Eu suspiro o tempo todo, e na maior parte dos suspiros me esvaio em pensamentos distantes. Não é descaso com a realidade, e sim apego com um outro tempo. Sou dos caras que sobe no telhado do prédio e bebe qualquer porcaria vagabunda sozinho mesmo. Arranco a rolha e abro um livro, o mundo é minha fronteira. Eu tenho uma namorada. Não quero outra, e estou muito feliz com ela. Romance é isso. Tudo isso mais ela, ela e a paz de saber que eu sou alguém outro, e talvez isso que importe. Eu machuco minha boca o tempo todo. I'm in the right mood for love. Mas isso não é fácil de entender pra qualquer um. Dizem que a vida é amarga, e eu acho que deve ser, por isso mesmo eu gosto de amargo e vou levando. Como diria meu amigo Luidou, amor é um cão dos infernos. Eu sou isso, um velho no corpo de moleque, parado numa esquina suja qualquer. Se tiver que lamber a sarjeta, lambo e saio por cima. Esse gosto estranho na minha boca não vem de hoje. Sei que, olho pro lado e vejo a garota certa na minha cama. Me gasto todos os dias. Mas não da forma mais intensa. Na verdade não sou um junkie acabado. Nem perto disso. Sou apenas um mentiroso que achou a verdade e se enroscou bem nela.

terça-feira, setembro 16, 2008

No fundo nós nunca mudamos. Posso estar um pouco mais gordinho, um pouco mais acabado, estragado mesmo, mas no fundo sou o mesmo moleque maluco que botava terror no colegial. Não existe constância. Existe um tudo muda, e tudo é mesmo só que diferente. Tipo esse rio aqui do lado de onde eu trabalho. É sempre a mesma morte em forma de cicatriz aberta. Eu vou fazer 24 em breve. E nesse ritmo frenético da cidade antes que me toque, terei 25. Aí, meu apartamento vai estar pronto. Vou me mudar pra ele, eu mais minha garota. Estou feliz, acho que ando mais equilibrado que antes. Deixei os tempos modernos para trás e não tomo mais remédios, acho que finalmente me regrei por mim mesmo. Ou me regrei por ela.

Acho que faço mais as coisas por mim agora do que antes. Antes fazia teatro pra mudar o mundo. Hoje faço música pra existir. Não existiu música mais sincera do que as que venho fazendo. São minhas, no máximo para pessoas próximas. Acho que o George me entenderia. Não quero tornar isso burocrático. A música já tentou por várias vezes me derrubar. Mas eu insisti. Primeiro foi minha total falta rítmica. Hoje, concentrado toco até um jazz se quiserem, guardada as devidas proporções claro. Depois veio a total falta de memória, eu não conseguia decorar nenhuma música. Hoje elas fazem sentido e eu apenas toco. Acho que antes eu lesava pelos excessos. Eu posso até demorar anos com a minha banda, só não quero morrer sufocado. A hora que tiver que ser será. Eu sinto que vai ser em breve. Vamos torcer, mas deixem minha alma respirar.

E será que músico lá tem porra de alma? Não sei, mas apaixonado tem, então deixem eu cuidar da minha porra de alma, que é pouca coisa mas é o que eu tenho. Me tranquei muito tempo no meu mundo, sem deixar ninguém entrar nele. Preguiça, descaso e medo. Principalmente medo de repetir tudo aquilo que tinha me fundido a cachola. Agora eu ando pra frente, mãos dadas com um futuro muito melhor e orgulhoso de um passado vencido.

Que merda mais pastosa. Não gosto de retratar essa boa fase. Na verdade estaria fudidamente puto de ler que o garoto tá feliz. Mas, nem tudo é felicidade. Tem muito chão pra comer até as coisas estabilizarem da forma que desejo. Então peço a ajuda de vocês. Para a futura casa, alguém sabe aonde encontro: posteres de filmes antigos, tamanho grande e de qualidade minimamente aceitável e puffs simpáticos?

segunda-feira, setembro 15, 2008

Ë madrugada, tem gente espalhada por toda a casa. As latinhas de cerveja se empilham em uma velocidade incrível. Eu e minha garota nos encostamos em um canto e observamos tudo. Eu estou avoado, minha cabeça se foca nas imagens, se foca no tato do nosso abraço, mas fica longe, fica no embrulho do estômago. A garota dança obscenamente. Toca clássicos dos anos oitenta. A-ha, Tear For Fears entre outros.

Foi uma madrugada doida, lembro da cama em seguida, da garota ao lado apagada. Ela encostou na cama e desabou, já era dia. Eu ainda rolei pra lá e pra cá. Lembro que algum momento uns caras vieram, conhecidos meus, deixaram mais cerveja e foram embora. Em outro momento, lembro de gente se pegando nos corredores da casa. Tropecei em alguma peça de roupa que achei melhor não olhar. Em certo momento as pessoas desabavam pelos cantos da casa.

Essas noites são recheadas de um completo vazio delicioso. Não tem sentido, não tem nada que acrescente em nossas vidas. Os dois moleques que recém conheceram o álcool se divertiram pra cacete. No lugar de uma noite tradicional de sono, tiveram conversas, sexo, bebida e música. Eu e minha garota, curtimos o tesão de estarmos ali, fazendo parte daquilo, talvez mais do que isso, talvez o tesão de estarmos proporcionando aquilo.

Essa porra de vazio é viciante. Melhor do que qualquer ambição de merda por coisa nenhuma. Nessas horas eu vejo que só quero mesmo que você esteja por perto, e me diga tudo aquilo que por vezes fica nosso olhar. Eu sou tonto, viciado em eco! Preciso ouvir ressoando na parede o eu te amo. Quero vida e essa festa foi vida. Quero por que não quero que tudo seque. Não quero nosso chão sujo de folhas mortas. Feito uma criança ontem cortei o dedo, hoje tenho uma pequena cicatriz, talvez nem pra sempre fique. Mas você, todos os dias deixa cicatrizes para sempre em mim. Eu preciso ficar parado, eu preciso que o mundo se movimento, eu preciso de você parada ao meu lado. E nós precisamos fazer o mundo girar. A realidade é estúpida. Aqui, nosso mundo, é perfeito. Foda-se quem não acha. O fim não vai acontecer. Nunca.

A festa nunca termina para quem come poeira na estrada. Tá frio pra cacete, as pessoas quase congelaram lá na festa. A casa não tinha aquecedor e nós nem tínhamos o porque comprar um também. Nada pode chegar perto da dimensão do que eu sinto. To louco, prisioneiro do meu próprio convento. Creio que seja um câncer, já espalhado no corpo todo.

sexta-feira, setembro 12, 2008

Tenho um puta medo da velhice. De fazer tudo, de ganhar o mundo e depois acabar fraco, sem força pra andar numa cama qualquer. O velho matou gigantes pra chegar aonde chegou. Foi mais forte que tudo que eu já vi. E hoje, é derrubado por uma dor na perna, nas costas ou na alma. Tanto faz. O tempo é filha da puta. Chega cortando o barato que é ser ser humano. O velho tá definhando. Eu queria sentir algo, mas não sinto nada. Sou um completo vazio enquanto ele definha no quarto ao lado. Aposto que quando ele ir embora irei ficar pensando muito a respeito. Aí esse vazio será preenchido por uma dor filha da puta de todas as vezes que engoli uma palavra de carinho. O velho era uma muralha, agora são alguns tijolos espalhados esperando o caminhão de entulho.

É uma merda viver sem espectativas, e uma merda maior ainda é viver esperando a morte. Sem tesão de sair por aí, sem tesão de ver os filhos calçando seu devido lugar no mundo. Será que é sempre assim? Eu não quero definhar feito um cachorro abandonado. Ontem, bebi um copo de uísque enquanto rabiscava umas letras em homenagem ao meu pai. Homem foda, mas nada prestou, era tudo um monte de coisa nenhuma. Porque ele é isso agora, ele é história, passado magistral, presente decadente, futuro certo. Eu nunca falei te amo. Eu nunca dei um abraço de verdade. Ele construiu esse abismo, demonstrou carinho de formas tortas, eu comprei a idéia, perdi muito. Agora só tenho essa porra de dor, uma dor gritante de ver o velho apodrecer em vida direto pro caixão.

O ciclo dele tá se fechando. Espero ter a sorte que esse grande homem teve. Espero até o fim agradecer cada minuto que ele me deu. Espero em vida, gozar tudo que ele deixou pra gozar agora. Espero que todo o sacrifício dele seja pago pela moeda do meu gozo em vida. Se ele detonou a própria alma pela família, se ele se destruiu por mim, eu agradeço. Vou viver da melhor forma possível.

quarta-feira, setembro 10, 2008

Alguma coisa extremamente errada deve tá acontecendo por aí. Tá tudo muito bom na minha vida. Antes tava uma bosta. Agora tem sido um ano muito bom. Alguém tem que tá se fodendo. Tem que largar o osso vez ou outra. Alguém tem que tá batendo a cara no concreto bem forte. Voando sangue e dentes pra tudo quanto é lado. Apesar do mundo inteiro ser uma grande máquina quebrada, sempre tem um ou outro lado bonito. Ontem o violão parecia ser meu melhor amigo, sentei no meu quarto, peguei ele com carinho colo e fiquei horas tocando. Toquei blues, toquei country, toquei rock, toquei minhas músicas e músicas dos outros. Meu violão é o violão mais legal de toda a cidade. E mesmo nessa máquina velha e quebrada tem coisa que salva. Agora a grande pergunta é: Qual a velocidade de uma andorinha africana ao migrar no inverno carregando um coco? Sim, eu assisti Monty Python pela enésima vez ontem. Podem ver, foi uma noite produtiva. E digo mais, esse fim de semana vou beber, beber o suficiente para descongelar minha casca. O velho demônio da vodca vai voltar.

terça-feira, setembro 09, 2008

Anos Incríveis com cara nova? Lost in the 80s?

E se o anos incríveis tivesse se perdido no meio dos anos oitenta?

Bob Brush, o mesmo cara que contou nossas vidas e criou um elo definitivo sobre o crescer de um jovem, seja nos anos 60 ou em qualquer época, está preparando um piloto de um seriado similar. Este iria se desenvolver nos anos 80. Cacete, no final dos 80 quando eu era um fedelinho ainda, eu assisti o que rolou no final dos 60 através desse seriado lindo que foi os anos incríveis. Será que 20 anos depois eu vou assistir o que foi o meu crescer no final dos 80? Calafrios na espinha. Desse cara eu espero qualidade. Vamos ver. Eu desde já faço petição que ao menos uma temporada torne-se realidade.

Notícia Oficial.

Aguardo ansiosamente.

Linha de Passe, Vanguart e Calcinhas no Varal.

Uma garoa fina, minha garota com a pele mais cheirosa que eu poderia pedir, um show competente dos caras do Vanguart e a Clarah Averbuck bebendo vinho no gargalo com a filha no colo. Uma boa maneira de começar a semana.

Umas rapidinhas:

Linha de Passe: Delicado. Sútil. Um soco. A uma semana atrás fomos assistir Nossa Vida Não Cabe Em Um Opala. Bom. Ela gostou mais. Eu gostei. Essa semana fomos ao Linha de Passe. Muito Bom. Eu gostei mais. O outro é mais porrada, é mais bruto. Esse é mais centrado nas pequenas sutilezas que vida alguma consegue explicar. Aqui o final fez toda a diferença. Anda. Cacete! Até agora a voz do cara na minha cabeça. Fé barata e safada, mas fé é fé e em alguma coisa eles tem se segurar.

Quando é que a vida passa a ser sofrida demais pra levar adiante? É fácil se manter nas leis impostas pelo sistema, quando temos um pão e manteiga na mesa. Tantos e tantos seres humanos são obrigados a se desligarem dos sonhos porque a vida não dá espaço pra tal. Não digo sonhos do riqueza, não. Mas um sonho como a Elis cantava, uma casa no campo, para os amigos, pra sua música. Muitas vezes queremos pouco, e mesmo assim não temos chance. Achei esse filme foda. Tecnicamente perfeito, e de uma sutiliza pesadíssima.



Calcinhas no Varal de Sabina Anzuategui. Existem livros que acontecem de cair em suas mãos no momento certo. Certa vez, li em algum lugar obscuro da rede que um cara tinha matado um ladrão que invadira sua casa e ao ao ser detido na delegacia passou a noite numa cela, no dia seguinte respondeu em liberdade a questão de legítima defesa. O fato é que ele tinha recém comprado O Estrangeiro e pode levar o livro para a cela, o qual devorou durante a madrugada. No dia seguinte era um novo homem. Imaginem o efeito de ler o estrangeiro logo após cometer um homicídio? Ler Calcinhas no Varal para mim teve um efeito parecido uma vez que algumas passagens do livro me fizeram muito sentido. É um ótimo romance. Recomendo.



Vanguart. Realmente é uma banda ao vivo. O disco até hoje não me fisgou com gosto. Agora ao vivo ouso dizer que não arrisco perder shows. Os caras sabem o que fazer em cima do palco sob a luz da ribalta. Agora mais literalmente impossível, eles estão fazendo uma série de shows no Teatro Décio Almeida de Prado. Procurem aí no Google e tentem ir no próximo. Vale a pena. O evento chama Vanguart para menores e é justamente oportunidade para galera mais nova que não pode comparecer nos eventuais shows de madrugada que a banda faz lá no Studio SP. Boa iniciativa.

segunda-feira, setembro 08, 2008

Ele costumava correr para evitar a loucura. Do mesmo jeito que o outro lá pedalava para evitar o amor. Ambos fugiam da mesma coisa. Ele é estudioso, aplicado e bem sucedido. Querendo dá um banho em todos que o cercam e vira presidente de qualquer porra de empresa. Gosta de Beatles. Domingo de noite, se alguém ligar pra ele vai ter que esperar o toque incansável do telefone interromper sua cerveja sagrada. Ele vive sozinho feito um defunto. Tem medo de se relacionar. Ou diz que se relacionar é perda de tempo. Curiosamente, um dos poucos amigos que tem, é justamente um casal. Enquanto o outro lá se sustenta nos cigarros, esse aqui prefere se sustentar no dinheiro. Um pequeno porquinho capitalista. Tem bom humor para quase tudo, exceto mulher. Quando fala de mulher, ou se anima com a possibilidade de sua grana bem conquistada a comprar, ou logo se entristece. Esse não engana, tomou no rabo por alguma piranha e agora tem medo de até pensar na vaga possibilidade de tentar novamente. Não acredita em amor, e acha que quando chegar aos cinqüenta vai casar com uma russa de vinte anos pra deixar o legado fluir. Coitado mal sabe que está esperando o amor feito um gato esperando o leite no vasilhame. Sinto muita pena dele. E eu odeio sentir pena. Mas o tom de voz que ele usa quando fala de achar alguém é foda. Amor é foda. Ou te é uma benção, ou te é uma enrabada para não se esquecer tão cedo. Quantos por aí não devem cagar de medo do amor?

quinta-feira, setembro 04, 2008

que inferno. penso no deus e no diabo. como é que eu pude me preocupar tanto. temos é que viver e gozar. relaxei. o que me aflige não será resolvido hoje. não tem mais problema. fim de semana resolvemos. irresponsável? talvez, pouco sei. quem disse que eu quero, morrer, derreter, desintegrar, virar merda antes da hora? eu quero deitar, botar a garota no peito, e dormir em paz. se der merda, nada que um drinque no inferno não resolva. me entrego, nos entrego, que essa maldita estrada nos leve ao próximo motel, ao próximo bar. e que no próximo abismo nos atravessemos reto o guard rail. sim, cair de cara no chão metros abaixo, voar dente, sangue e porra para todo lado.

quarta-feira, setembro 03, 2008

Tem dias que acordo como que se estivesse bêbado. Pode ser que seja ansiedade, medo, felicidade, sentimentos ao extremo que um corpo ainda jovem como o meu não sabem controlar, se é que algum dia vai saber. Aí olho pra mesinha de canto, o celular tá carregado, o crachá da empresa denuncia a rotina, o computador ainda tá ligado, olho o navegador e vejo uma série de sites sobre gravidez. O copo ainda meio cheio de chá gelado está do lado do teclado. Lembro da minha garota, e lembro da barra que estamos enfrentando. Então eu acabo pensando, mas porra não tem como, absolutamente não tem como. Beberico o chá gelado e me enfio no chuveiro. Sofro feito um cachorro pensando nas piores possibilidades. Nem em mil anos isso daria certo agora. Sei que ela também acha o mesmo. Foda, se tudo sair como não planejamos, vamos precisar de um plano B. Eu jurei que nunca mais iria me martirizar pelo passado, mas é melhor quebrar juramentos do que engolir sentimentos que precisam esporrar mundo a fora. Foda-se o juramento. Tenho um puta medo de que minha vida seja revirada em questão de horas. Até o fim de semana vamos resolver isso. What the hell? Acordo com o corpo todo doendo de tensão, do simples e irrefutável medo de que amanha seja bem diferente de hoje. Mas não, eu acredito na minha competência e sei que tudo vai dar certo. Eu sei disso.

segunda-feira, setembro 01, 2008

Essa vida é venenosa. Em todos os sentidos possíveis e imagináveis, tudo que fazemos está nos matando. Começando pela condição precária de vida que aceitamos. Primeiro ar, que é a base da vida. Nosso ar é um lixo, é podre, entope o nariz, suja os olhos, encarde até a mente.

Eu tava prestando atenção, e acho que São Paulo é a cidade dos desesperançados, é real, é a cidade de quem larga essência por uns trocados a mais, dos migrantes de todos os lugares que pouco criam laços afetivos e simplesmente querem sugar até o último centavo da terra da garôa. Garôa cada vez mais escassa. O que colabora com esse ar nojento. Temos asfalto sujo, cimento velho e caos por toda a parte. Todo mundo vem pra São Paulo em busca de algo. E se dizia que nossa vida é venenosa, começa por onde escolhemos para morar. Aqui só tem fodido e mal pago. Terra de quem sonha. Terra de ninguém, ao mesmo tempo que morre neguinho de fome no semáforo, os ricos compram sua fantasia no Morumbi.

Eu gostava da praça do pôr-do-sol, a tempos minha garota me pede para irmos lá. Eu dou um jeito de não ir. Sabe por que? Porque São Paulo não tem horizonte. Aqui não tem por do sol. Aqui o céu até que ensaia um rosa bonito vez ou outra. Não passa de um tóxico venenoso e cheio de poluição. Não tem pra onde fugir. E nossa vida vai minguando.

Hoje tive um puta dor de cabeça o dia inteiro. E o que vejo em volta é só gente pisando na cabeça dos outros. Inveja, São Paulo transborda inveja. Toda cidade sente inveja de quem sobrevive e consegue subir acima do concreto. A maioria é engolida e fica a margem dessa sociedade, quem escapa, é alvo de inveja. Não tem disfarce. Não temos mar, nem cordilheira, não temos vinhedos nem belas construções. O que é belo está como que regurgitado e cuspido de qualquer maneira.

Essa cidade é uma puta velha. Daquela que te seduz no escuro, que rebola no seu pau e paga de putinha de vinte anos. Quando você se empolga e bota a grana na mão, ela é uma escrota, velha, sem dente e gorda. O hálito azedo, a carne flácida e sofrida. Ela já pegou a grana e você está lá, na cama com a puta velha.

Nem o charme boêmio podemos nos gabar de ter. Somos uma cidade de trapaceiros, de falsos e de moralista que nada fazem além de se vangloriar pelo tamanho do documento de um gringo que fez acontecer seu negócio. Sim, porque a cidade só tem grana por causa dos gringos, se fosse por nós paulistas não seriamos nada. Esse cimento me enveneno até a espinha hoje. Cansei.

Mesmo assim, todo veneno tem um doce barato. Coca mata e fode conosco, e quem experimentou garante, é o melhor bagulho do mundo. Cada um escolhe o jeito de morrer. Hoje eu quase entreguei os pontos e me joguei no Pinheiros de tanto masoquismo que meu corpo tinha que suportar. Quero minha garota, uma casa no campo e meu violão. Quero superar esse meu vício de você cidade perdida.

Em breve seremos uma família. É bom saber que teremos dois quartos numa rua tranquilha próximo a um dos poucos parques que prestam na cidade. Quando eu vi, eu sabia que era ali mesmo. Agora resta saber se a cidade vai nos deixar vivos até lá. Acho engraçado as coisas estarem encaminhadas. Nós somos roqueiros, não somos arrumadinhos, também não somos um mostruário de pircings. E justo nós, justo o casal que parece fadado a pastar muito, espera agora a casa ficar pronta. Vou vagar nas ruas de São Paulo, mesmo sabendo que esse veneno me mata. Em breve tiro uns dias pra nós e vamos pra cordilheira dos Andes. Me aguardem.

Estou na Rua Augusta. Escuto uma música dos anos 60, meu estômago se contorce. O balcão do botequim é de um granito impessoal, frio como a alma dessas putas que tomam o último trago da noite. Nesse boulevard, a decadência é alimento pro meu ego. Ao fundo tem uma mesa de bilhar, um casal de veados faz um jogo lento e cheio de enrabadas descabidas de pudor. Lá fora a chuva rala insiste em criar essa atmosfera congelada. Olho e não sei se já passou muito ou pouco da meia noite, nada mudou. A vida de todos que estão por aqui não vale uma garrafa de uísque bom. Me contento com um velho oito e encaro o reflexo de um morto no balcão reluzente.

Ainda estou meio anestesiado e não lembro de muita coisa. Não lembro do último porre, nem lembro como vim parar no centro. Foi dado um delete em algumas memórias, agora estou razoavelmente lúcido e sei que devia estar em casa. Olho pra tevê velha e mal sintonizada e alguma produção B passa no corujão. A porta de ferro do bar já está semi fechada e pago a conta. Não sei com qual dinheiro, respiro, olho para a rua e vejo o sol se levantar ainda que tímido. Sinto a vida começar a brotar na cidade.

Caminho rumo a Paulista e meu estômago me lembra que provavelmente a última coisa que ingeri foi no café da manhã passado, ou pior, antes disso. Aos poucos as ruas vão se enchendo de escravos. Inspiro e expiro, sinto a realidade voltando a tomar conta do mundo. Bêbado e desesperançado não tem espaço no nosso pequeno mundo. É, o mundo é uma pequena gaiola.

Sinto apenas meu corpo, tenho esperança de não ser apenas um zumbi. A barriga doí e me lembra que sou humano. Apesar de não ter decência alguma, eu estou compondo deliberadamente minha própria história. Passo a mão no bolso e vejo mais algumas notas amassadas e resolvo tomar um ônibus pra casa. Enquanto todos estão vindo eu estou voltando. Minha cara crivada de tristeza deve provocar compaixão, duas pessoas me perguntam se estou bem.

Silêncio no caminho. Escuto o motor, escuto o trânsito porém nada é sútil o suficiente para me fazer fugir do silêncio. Sonho um déja vu. Sou um perverso urbano, masoquista e sem escrúpulos. Chegarei em casa fedendo álcool e provavelmente levarei uma sova do velho. Deixei ele na mão, as motos devem estar acumuladas e a culpa é minha. Só me resta o vazio que é trabalhar sem objetivo, trabalhar sem sonhar, viver sem ela.