Tédio. Muito tédio mesmo. Estou a menos de um dia de chutar a estrada pra trás e sumir um pouco da vidinha pacata de sempre. E tenho quase certeza que a televisão é a droga, é o ópio da geração atual. Pois no que deveria estar arrumando os últimos detalhes pra sair fora amanhã, me joguei na frente da tevê, vendo um jogo de futebol que nem é do meu time. Devo estar até babando. Hoje deve ser uma longa noite, sinto meus olhos arregalados, devo estar desperto a duzentos e vinte. Eu ainda tenho tanta coisa pra escrever. Tanta coisa pra cuspir. E tanto sono pra recuperar. São quase duas da manhã e o sono ainda nem nada. A uns vinte minutos atrás me joguei no armário, busquei freneticamente até achar minha velha e surrada camisa do Ramones, hoje em dia é um artefato de lucho! No shopping deve estar pra lá de cinqüenta reais. Quem diria, na época paguei dez conto e olhe lá.
É engraçado como passa o tempo, passam pessoas, passam histórias. Tudo passa e pouco fica de verdade. O mais engraçado é que nesse estado de quase lixo em que me encontro. Hipnotizado por uma televisão brilhante a minha frente, é engraçado demais ver o quão impregnado estou por seu odor, por seu gosto e por seu corpo desnudo abraçado a minha cintura pela manhã. Todo esse estado letárgico deve ser alguma abstinência séria de nossa entrega mutua.
Eu escrevo, eu enlouqueço, eu gozo de felicidade sem motivo. Você, sempre está lá. Você continua lá, mesmo com os quilos que ganhei desde que nos conhecemos, mesmo com os fantasmas que por vezes me levam a loucura. Deixei a barba cresce e agora uso um cachecol. O que mais me encanta, não fiz porque você pediu. Fiz porque é algo meu, totalmente meu, que você adora.
Agora pouco, antes dessa hipnose provida pelo aparelho de imagem aí, eu estava atirado na minha cama. Minha cama que goza da regalia de ter gavetas cheias de livros. Poucos podem realmente dormir sobre tamanha coleção de livros tão maravilhosos. Amo minha coleção. E amo imaginar que eu mais ela, vamos aumentar essa coleção, vamos ter livros do mundo todo. Mas a pouco, quando estava deitado no colchão, não pensava nos livros, e sim como seria bom ter você me dando um delicioso beijo de boa noite e depois se aninhando em meio peito pra dormirmos juntos. Quero por que quero é o amor em forma de desejo. E eu quero por que quero dormir e acordar com você hoje, amanhã e sempre. Não sei se é devaneio da minha cabeça, mas acho que só o meu corpo cabe no seu, só eu posso ter você, só você pode me ter. Se pudesse parar tudo, seria eu e você o tempo todo.
Sua foto está no mural do trabalho, no mural do quarto, nem fotos da família ou dos amigos eu tenho. Por que tem sido isso. Uma aposta, um tiro cego no quero por que quero. Tenho a carta que você me escreveu dentro do meu livro preferido. Minha gata parece gostar de quando estou em estado de ameba impregnado até o último fio da barba por desejo de você.
Tenho uma foto sua na parede. É a única foto que não tem meus amigos. Eu e você, quando as coisas estavam lindas. Tenho o livro que comprei pra te dar e você não quis. Tenho a carta que escrevi pra te entregar mas não te encontrei. Perdi o guardanapo onde você respondeu o guardanapo que eu te dei. Não sei onde está outro guardanapo que escrevi pra te mandar, contando como iam as coisas em um dia que lembrei de você enquanto voltava para casa.
E quando bota a Amy pra cantar ao meu pé de ouvido. Saiba que não é pra ter ciúmes, é unicamente pra me sentir mais perto de você. É como se eu pudesse driblar o tempo e espaço e te trazer para o meu lado. Bom, é bom sonhar acordado.
Meu quarto anda numa organização tenebrosa. Parece exposição de feira de decoração. Tudo pela falta de vontade em usar o que tenho aqui. Pra mim me basta a cama, e um toca discos pra te trazer pra perto. Os dias passam e não vejo a hora de te ter sob o mesmo teto.
quarta-feira, maio 21, 2008
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