Se eu pudesse escolher um quarto ideal para morar, seria algo mais ou menos assim: nas paredes haveriam pôsteres do Apocalipse Now, dos Beatles e do Neruda. Nada de fotografias, e um criado mudo que iria deixar sempre empoeirado, só para brincar de desenhar algumas bobagens na falta do que fazer. Uma estante, meus livros, algum aparelho que fizesse música sair pelas caixas o tempo todo, uma cama, uma máquina de escrever daquelas bem antigas e uma caneca constantemente alimentada de café puro. Por mais que belas mulheres desfilassem seus traseiros de lá pra cá, seria um quarto marcado pelo assassinato do tempo. A garrafa de uísque faria companhia permanente as alegorias desenhadas na poeira. Acho que um dos grandes prazeres seria depois de uma noite insone tomar uma dose do velho Jack e ver a luz do sol invadir as frestas da persiana velha e em estado de decomposição avançado.
Mas eu queria mesmo é ver uma bela morena rondando pelo quarto depois que eu a tivesse dado um belo trato. Depois de fazer ela gemer e falar puta merda a noite toda. Afinal trepar é como uma boa música, começa devagar, e num crescendo vibrante e descontrolado termina em um suspiro e uma urgente necessidade de beber algo. Nesse momento que o quarto se enche com o desfilar de uma mulher nua e meu copo de uísque cheio, o cheiro de sexo entupindo as narinas e o sol escorregando pela janela mal tapada me sinto perdidamente vivo e com um delírio eufórico de liberdade a custa de muito suor, gozo e álcool.
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Ike & Tina nos falantes do quarto.
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