Aqueles dentes reluzentes e de um branco pérola insistentemente forçavam minha conturbada consciência a elaborar miraculosas respostas aos mais infames comentários. Tudo começou com uma pergunta bastante simples que havia feito: “Qual é seu nome?”. Isso bastou para que a quase melodiosa resposta me encantasse: “Bianca”. Sentindo o suor em minha nuca e o silêncio afundar um vale entre aquele ser angelical e eu, que de santo não tenho nada respondi de bate e pronto: “É o nome mais bonito que eu já ouvi!”
A música recomeçara e nesses dias de contexto branco e ideologia fraudada, a música mais parecia um produto descartável feito para ser idolatrada hoje e esquecida amanhã. Não era mais como nos tempos de gente como Neil Young, Nick Drake, Jeff Buckley ou Leonard Cohen espremiam suas almas até a quase se esvair para tirar canções que falassem de suas dores, sentimentos e idéias sobre o mundo. Tocava o som de alguma banda sensação do momento, pouco me fazia diferença, não existe mais o puro e simples fato de se cruzar oceanos atrás de um coração de ouro.
A batida da música era incansável, e Bianca se movia suavemente, parecia estar em outro mundo, dançava como se não houvesse amanhã e mesmo assim mantinha a paz de celibato casto. Castidade era algo que passava longe de minha imunda mente. Apenas o pequeno balançar de seus seios rijos e o pequeno movimento de sua saia curta, que vez ou outra revelava uma curva mais ousada era suficiente para arrancar suspiros de aprovação dos idiotas que tentavam vulgarmente dançar e agarrar a primeira garota que desse uma brecha.
Eu devaneava, cerveja em mão.
Mal percebi que a música cessara e que Bianca tinha sentado-se em um sofá velho e mofado no canto da parede cheia de rabiscos dos propensos frequentadores deste porão sujo e cheio de perdição. Tomei um longo gole e me aproximei, novamente senti o fio de suor correndo como rio nuca abaixo. “Você se importaria se eu senta-se aqui?”. Acho que a resposta foi um murmúrio meio incompreensível, que devia significar que não mudaria nada a minha presença ou não ali.
Sentei-me e reparei no decote que tanto me masturbava a imaginação, tentei logo disfarçar e percebi seu lábio inferior, saliente, grosso, convidativo. Devia estar com a expressão de um idiota perante a algo totalmente desconhecido. “De onde você é? Daqui mesmo?”. Perguntei em meio aquele desespero familiar que são os poucos segundos de silêncio entre você e a garota desejada e a resposta veio com um ar de desconforto em meio ao quase levantar dela para buscar outro lugar menos infectado com a presença de um cara como eu provavelmente: “Sou.”. Me senti fora de contexto e decididamente convencido que ela não queria papo, meu sexo quase saltava para fora da calça em pensar como ela ficaria fora dessa roupa ousada.
Lembrei-me de Brando no cinema e sabia o que fazer. Tomei um ar mais decidido, olhei pra ela, bem no fundo daqueles olhos imensos e líquidos. Acho que nunca desejei tanto como naquela pequena fração de tempo. Aproximei um pouco o rosto e disse no ouvido dela de forma sucinta e meio enrolada com sabor de álcool: “Então nossa transa será em tua casa ou na minha?”.
Ela sorriu de canto.
sexta-feira, janeiro 11, 2008
Como conquistar garotas (Segundo Brando).
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