sexta-feira, maio 30, 2008

Velvet Underground - Part 1

Domingo, é de manhã e o sol já passou da minha barriga. É assim que vejo mais ou menos que horas devem ser. Quando o sol passa do meio dia ele reflete numa janela do arranha céu do outro do lado do Central Park e começa a invadir meu quarto. Quando chega por volta das 3 da tarde está no ângulo perfeito para esquentar minha barriga que a esse momento se retorce de fome e desconforto com o exagero na bebida. Se a bebedeira foi das fortes, como a da noite anterior foi, ainda não me incomodo. É por volta das quatro e meia que o sol a pino bate no meu rosto. Mas que raios? Eu preciso de uma cortina.

Digo que é de manhã porque a passagem das horas se dá nossa cabeça, eu acordo de manhã, almoço e passo para tarde só depois da janta e normalmente quando estou pelas ruas dessa cidade cheia de ratos que estou efetivamente na noite, aí sim, a noite de Nova Iorque, é meu território, conheço cada beco, cada esquina, cada clube e cada puta dessa cidade. Quando se tem grana, se tem tudo, tudo tem um preço é o que o meu velho costumava falar quando brincávamos com os constantes atrasos em festas natalinas ou aniversários. O velho safado sempre aparecia com o melhor presente, um computador, um carro, uma viagem pra velha Europa ou qualquer merda do gênero. E compra mesmo, aposto que o velho trai minha mãe com toda e qualquer puta, deve cheirar tubos de pó e com isso compra a juventude eterna. O palhaço vive como se fosse mais novo que eu.

Mas se fosse pra falar dos velhos eu me dava um tiro na cabeça, sei que esse sol, pilhado a mil na minha cara deve me arrancar fora do quarto e me por a fazer algo útil. Quero uma cortina. Tenho iPods, tenho notebook, toda a coca que meu nariz pode agüentar e um carro fudido na garagem. Por que não tenho uma cortina? Essa pergunta sempre me martelou a cabeça, porém nunca com força suficiente para que tomasse alguma providencia.

Sei que ontem tive que esperar umas três horas pelo cara que me arranja as drogas, e sei que perdido num beco sujo, sujeito a qualquer merda de maníaco afim de me enfiar uma faca, eu pensava justamente nessa merda de cortina. Inclusive deixei algumas gramas com ele e salvei alguns trocados furados na disposição de hoje comprar uma cortina pro quarto. Me arrastei feito um zumbi pro guarda roupas, vesti um jeans e uma camiseta qualquer, antes de tudo passei no banheiro e dei uma checada na cara, estava um lixo. Iria passar pela cozinha, pegar algo pra comer e botar o pé na rua, tentar achar uma cortina em pleno domingo de tarde.

Antes de sair, apanhei uma banana, é engraçado, quase nunca temos bananas em casa, eu gosto, gosto mesmo de bananas e tomei o elevador pra alcançar a rua aonde sai meio sem rumo esperando que alguma loja de cortinas brotasse na minha frente. Do outro da rua, vestida inteira de preto passava uma mulher de mais de um metro e oitenta de altura que na hora me fez lembrar, devia uma grana pra dona do Porão de Veludo, no qual eu gostava de ir sarrar umas putas, beber e cheirar sem me preocupar.

Apalpei o bolso, verifiquei que ainda tinha alguns cigarros no bolso da calça acendi um e resolvi passar antes no clube, pagaria minha conta, beberia talvez um trago bom e depois buscaria minha cortina. Como seria essa cortina? Pensei bastante enquanto descia a rua. Nunca havia pensado na cortina em si, apenas na necessidade terrível que eu sentia de possuir uma, o sol sempre me despertava de uma forma horrível.

quinta-feira, maio 29, 2008

Quero.

Cheguei em casa e me atirei na cama. Alto pela cerveja que rolou solta na reunião, me senti um estranho dentro da minha própria casa. Ou não seria mais minha casa, e sim a casa de meus pais, ou melhor, sempre foi a casa deles, e uma hora temos que agradecer e seguir adiante. Sem mais essa de canguru, essa de ficar pendurado nos país até secar a fonte. Fiquei atirado, jogado, quieto, sozinho e sem causar qualquer agitação em minha cama. Quando um dos dois passa pelo quarto, levanto ligeiro e me jogo ou na TV, ou num livro, ou em qualquer bobeira para não ter que responder o que estava pesando. Ou pior, se estava bem por estar flertando com o teto. Se estava bem? Claro que não, meu lugar não é ali, meu lugar está num além realidade, numa terra chamada sonhos e que tem endereço já, vai ser um quartinho ali na região da Consolação, Paulista, Augusta, um quartinho, uma sala, uma cozinha e um banheiro.

Justo ontem, embriagado de desejos e álcool, justo ontem, fiquei imaginando como seria se esse lugar, cravado no centro da cidade fosse verdadeiro. Pobre de mim, minha falsa realidade. Ainda não tenho nada e já almejo com todas as forças. E não vou deixar que a vida me vire de quatro e foda meu rabo de graça. Vou nadar até a terra de ninguém, com uma faca na boca e matar quem for pra ter meu canto.

Então, foi justo nessa noite de ontem que me peguei desejando:

Desejando que minha vida, como um pássaro, entrasse em ninho qualquer. Entraria, e como um pássaro desesperado por liberdade, quebraria tudo, deixaria um rastro de caos e destruição. E justamente por todo esse caos, a vida vai ganhar força! Vou aceitar da mesma maneira que aceito um cachecol em dias frios. Eu vou me entregar às metáforas e vou transformar essa aventura em garrafa de uísque e discos de vinil. À noite, jogado num puff vou ler Fante, e de dia vou escrever, escrever como se não existisse um amanhã.

Quero ouvir Smiths, quero beber um belo trago, quero ácido, quero ela, quero trepar, quero olhar depois pra ela, rir, rir da fortuna que fomos presenteados, quero isso tudo mais um pouco. Quero ter sete gatinhos, quatro machos e três fêmeas: john, paul, george, ringo, patti, nina e amy. Quero isso e tudo que puder agarrar com minhas próprias mãos.

Tarde ou não é tempo de revolta, e a revolução é sempre um amanhecer sangrento. Seja depondo um governo, a anarquia o caos! seja saindo de casa, seja revolucionando tudo por si mesmo. Eu quero.

quarta-feira, maio 28, 2008

Slam - Nick Hornby

Nick Hornby nunca foi de escrever livros com grande profundidade ou as reflexões mais importantes a cerca da vida. Sempre foi um cara que escrevia de forma simples, sem floreios e disparando referências Pop pra todos os lados. No geral eu sempre devoro os livros dele. Alta Fidelidade continua sendo o Top 1. O cara realmente não perde a mão e consegue sempre inovar de alguma maneira singela. Hora escrevendo sobre um cara de meia idade sem aspiração ao futuro, ou sobre quatro pessoas que querem se matar, ou sobre suas músicas preferidas, um garoto e sua febre com o futebol, e agora um adolescente que precisa encarar o amadurecimento que chega repentinamente.

Se me pedissem para resumir o enredo do livro, de forma simplória e sem estragar surpresas, temos Sam, um garoto de 18 anos que recorda quando tinha 16 anos e conheceu Alicia, uma garota que virou sua vida de cabeça para baixo. Antes ele tinha sua vida pacata, estudo, skate, ídolos, seus poucos amigos e levava tudo numa boa. Depois de Alicia, tudo mudo...

É uma literatura rápida, que desliza fácil fácil nas suas pouco mais de duzentas páginas. As sátiras do cotidiano continuam lá, os coadjuvantes cheio de personalidade e de certa forma uma pequena lição de vida sobre o eterno processo que é crescer. Talvez um dos pontos que mais me agradou, é a forma suave que o drama é desenvolvido. Chega a soar feio dizer, mas Slam, é um livro com nada demais, apenas um bom livro, mas em terra de cego, caolho é rei, então, um bom livro hoje em dia vale ouro.

Ps.: É incrível como o inglês cinquentão consegue escrever como se de fato fosse um muleque de 18 anos. Impressionante. Queria eu ainda ser tão jovial.

terça-feira, maio 27, 2008

Antonin Artaud - O Teatro e Seu Duplo

É meio grande, mas vale a pena. Uma reflexão maravilhosa sobre nós mesmos, e como lidamos com tudo isso que nos rodeia.

Extraído do In Antonin Artaud, Le théâtre et son double, Paris, éditions Gallimard, 1964, págs. 9-18. Tradução de Roberto Mallet.

Jamais, quando é a própria vida que nos foge, se falou tanto em civilização e em cultura. Há um estranho paralelismo entre essa destruição generalizada da vida, que encontra-se na base da desmoralização atual, e a preocupação com uma cultura que jamais coincidiu com a vida, e que é feita para governar sobre a vida.

Antes de retornar à cultura, observo que o mundo tem fome, e que ele não se preocupa com a cultura; e que é apenas de maneira artificial que se quer dirigir para a cultura pensamentos que estão voltados unicamente para a fome.

O mais urgente não me parece tanto defender uma cultura cuja existência jamais salvou um homem de ter fome e da preocupação de viver melhor, e sim extrair disso que se chama de cultura idéias cuja força viva seja idêntica à da fome.

Nós temos necessidade sobretudo de viver e de acreditar naquilo que nos faz viver e que alguma coisa nos faz viver ¤ e aquilo que sai do misterioso interior de nós mesmos não deve retornar perpetuamente sobre nós mesmos, em uma preocupação grosseiramente digestiva.

Quero dizer que se para todos nós é importante comer, e já, nos é ainda mais importante não desperdiçar nesta única preocupação imediata de comer nossa simples força de ter fome.

Se o signo da época é a confusão, vejo na base dessa confusão uma ruptura entre as coisas e as palavras, as idéias, os signos que são a representação dessas coisas.

Certamente não são sistemas de pensamento que nos faltam; o seu número e as suas contradições caracterizam nossa velha cultura européia e francesa: mas quando é que a vida, a nossa vida, foi afetada por esses sistemas?

Não diria que os sistemas filosóficos são algo que se possa aplicar direta e imediatamente; mas das duas, uma:

Ou esses sistemas estão em nós e somos impregnados por eles a ponto de viver deles, e neste caso o que importam os livros? ou nós não somos impregnados por eles, e neste caso eles não merecem nos fazer viver; e de qualquer forma, que importa seu desaparecimento?

É necessário insistir sobre esta idéia da cultura em ação e que se torna em nós como um novo órgão, uma espécie de segunda respiração: e a civilização é a cultura que se impõe e que rege até mesmo nossas ações mais sutis, é o espírito que se encontra nas coisas; e é de maneira artificial que se separa a civilização da cultura, e que há duas palavras para significar uma única e idêntica ação.

Julgamos um civilizado pelo modo como ele se comporta, e ele pensa da maneira como se comporta; mas já sobre a palavra civilizado existe uma confusão; para todo o mundo, um civilizado culto é um homem esclarecido quanto aos sistemas, e que pensa através de sistemas, de formas, de signos, de representações.

É um monstro em quem se desenvolveu até o absurdo essa faculdade que temos de extrair pensamentos de nossos atos, em vez de identificar nossos atos com nossos pensamentos.

Se falta amplitude à nossa vida, ou seja, se lhe falta uma constante magia, é porque gostamos de observar nossos atos e de perder-nos em considerações sobre as formas sonhadas de nossos atos, em vez de sermos impelidos por eles.

E essa faculdade é exclusivamente humana. Diria mesmo que é essa infecção do humano que nos estraga certas idéias que deveriam permanecer divinas; pois, longe de acreditar no sobrenatural e no divino inventados pelo homem, creio que foi a intervenção milenar do homem que acabou por nos corromper o divino.

Todas as nossas idéias sobre a vida devem ser modificadas, numa época em que nada mais adere à vida. E essa penosa cisão é motivo para que as coisas se vinguem, e a poesia que não está mais em nós e que não conseguimos mais encontrar nas coisas ressurge de repente pelo lado mau das coisas; e jamais se viu tantos crimes, cuja gratuita estranheza só pode ser explicada por nossa impotência em possuir a vida.

Se o teatro existe para permitir que nossos recalques tomem vida, uma espécie de atroz poesia se exprime através de atos bizarros, onde as alterações do fato de viver demonstram que a intensidade da vida permanece intacta, e que bastaria melhor dirigi-la.

Porém, por mais que queiramos a magia, no fundo temos medo de uma vida que se desenvolvesse toda sob o signo da verdadeira magia.

E é assim que nossa ausência enraizada de cultura espanta-se com certas grandiosas anomalias e que, por exemplo, em uma ilha sem nenhum contato com a civilização atual, a simples passagem de um navio, somente com pessoas sadias, pode provocar o aparecimento de doenças desconhecidas nessa ilha, e que são uma especialidade de nossos países: zona, influenza, gripe, reumatismos, sinusite, polinevrite, etc., etc.

Do mesmo modo, se achamos que os negros cheiram mal, ignoramos que para tudo aquilo que não é Europa somos nós, os brancos, que cheiramos mal. E eu diria mesmo que exalamos um odor branco, branco assim como se pode falar de um "mal branco".

Como o ferro aquecido ao branco, pode-se dizer que tudo o que é excessivo é branco; e para um asiático a cor branca tornou-se a insígnia da mais extrema decomposição.

Dito isto, podemos começar a traçar uma idéia da cultura, uma idéia que é antes de tudo um protesto.

Protesto contra o estreitamento insensato que é imposto à idéia de cultura ao se reduzi-la a uma espécie de inconcebível Panteão; o que resulta em uma idolatria da cultura, da mesma maneira que as religiões idólatras colocam deuses em seu Panteão.

Protesto contra a idéia separada que se faz da cultura, como se existisse, de um lado, a cultura, e de outro a vida; e como se a verdadeira cultura não fosse um meio requintado de compreender e de exercer a vida.

Pode-se queimar a biblioteca de Alexandria. Acima e além dos papiros, existem forças: podem nos roubar durante algum tempo a faculdade de reencontrar essas forças, mas não podem suprimir a sua energia. E é bom que muitas das grandes facilidades desapareçam e que certas formas caiam no esquecimento; assim a cultura sem espaço nem tempo contida em nossa capacidade nervosa ressurgirá com uma energia amplificada. E é justo que de tempos em tempos se produzam cataclismas que nos incitem a retornar à natureza, ou seja, a reencontrar a vida. O velho totemismo dos animais, das pedras, dos objetos utilizados para aterrorizar, das vestimentas bestialmente impregnadas, em uma palavra tudo o que serve para captar, dirigir e desviar as forças, é para nós uma coisa morta, da qual sabemos apenas tirar um proveito artístico e estático, um proveito de fruidor e não um proveito de ator.

Ora, o totemismo é ator porque se move, e é feito para atores; e toda verdadeira cultura apoia-se sobre os meios bárbaros e primitivos do totemismo, cuja vida selvagem, ou seja, inteiramente espontânea, quero adorar.

O que nos fez perder a cultura foi nossa idéia ocidental da arte e o proveito que dela tiramos. Arte e cultura não podem andar juntas, contrariamente ao uso que universalmente se tem feito delas!

A verdadeira cultura age por sua exaltação e por sua força, e o ideal europeu da arte visa lançar o espírito em uma atitude separada da força e que assiste à sua exaltação. É uma idéia preguiçosa, inútil, e que engendra, a curto prazo, a morte. Se as múltiplas voltas da Serpente Quetzalcoatl são harmoniosas, é porque elas exprimem o equilíbrio e as curvas de uma força adormecida; e a intensidade das formas está lá unicamente para seduzir e captar a mesma força que, em música, é despertada por um dilacerante teclado.

Os deuses que dormem nos Museus: o deus do Fogo, com seu incensório que recorda o tripé da Inquisição; Tlaloc, um dos múltiplos deuses das águas, com sua muralha de granito verde; a Deusa Mãe das águas, a Deusa Mãe das Flores; a expressão imutável e que soa, debaixo de várias camadas de água, da Deusa com o vestido de jade verde; a expressão arrebatada e bem-aventurada, o rosto crepitando de aromas, onde os átomos de sol dançam em círculos, da Deusa Mãe das Flores; essa espécie de servidão necessária de um mundo onde a pedra se anima porque foi golpeada da maneira correta, o mundo dos civilizados orgânicos, aqueles cujos órgãos vitais também saem de seu repouso, esse mundo humano penetra em nós, participa da dança dos deuses, sem retornar nem olhar para trás, sob pena de se tornar, como nós mesmos, pulverizadas estátuas de sal.

No México, uma vez que se trata do México, não existe arte e as coisas servem. E o mundo está em perpétua exaltação.

À nossa idéia inerte e desinteressada da arte uma cultura autêntica opõe uma idéia mágica e violentamente egoísta, ou seja, interessada. Pois os mexicanos captam o Manas, as forças que dormem em todas as formas, e que não podem surgir de uma contemplação das formas em si mesmas, mas somente de uma identificação mágica com essas formas. E os velhos Tótens estão lá para acelerar a comunicação.

Quando tudo nos leva a dormir, olhando com olhos fixos e conscientes, é duro despertar e olhar as coisas como em um sonho, com olhos que não sabem mais para que servem, e cujo olhar está voltado para dentro.

É assim que nasce a estranha idéia de uma ação desinteressada, mas que é ação de qualquer maneira, e mais violenta por aproximar-se da tentação de repouso.

Toda verdadeira efígie tem sua sombra que a duplica; e a arte surge a partir do momento em que o escultor que modela crê liberar uma espécie de sombra cuja existência atormentará seu repouso.

Como toda cultura mágica que os hieróglifos apropriados estabelecem, o verdadeiro teatro também tem suas sombras; e, de todas as linguagens e de todas as artes, ele é o único que ainda possui sombras que romperam com suas limitações. E podemos dizer que, desde a sua origem, elas não suportaram limitações.

Nossa idéia petrificada do teatro junta-se à nossa idéia petrificada de uma cultura sem sombras, onde, para qualquer lado que se volte nosso espírito, não encontramos senão o vazio, quando de fato o espaço está pleno.

Mas o verdadeiro teatro, porque se move e porque se serve de instrumentos vivos, continua a agitar as sombras onde a vida jamais deixou de existir. O ator que não repete o mesmo gesto duas vezes, mas que faz gestos, se move, e certamente brutaliza as formas, mas por trás dessas formas, e através da sua destruição, encontra aquilo que sobrevive às formas e produz a sua continuação.

O teatro que não está em nada mas que se serve de todas as linguagens: gestos, sons, palavras, fogo, gritos, encontra-se exatamente no ponto em que o espírito tem necessidade de uma linguagem para produzir suas manifestações.

E a fixação do teatro em uma linguagem: palavras escritas, música, luzes, ruídos, indica sua perdição a curto prazo, sendo que a escolha de uma linguagem demonstra o gosto que se tem pelas facilidades dessa linguagem; e o ressecamento da linguagem acompanha a sua limitação.

Para o teatro, como para a cultura, a questão continua sendo nomear e dirigir as sombras: e o teatro, que não se fixa na linguagem nem nas formas, destrói assim as falsas sombras, e ao mesmo tempo prepara o caminho para um outro nascimento de sombras, em volta das quais se incorpora o verdadeiro espetáculo da vida.

Quebrar a linguagem para tocar a vida é fazer ou refazer o teatro; e o importante é não achar que esse ato deve permanecer sagrado, ou seja, reservado. O importante é acreditar que todos podem fazê-lo, e que para tanto é necessária uma preparação.

Isso leva a rejeitar as limitações habituais do homem e os poderes do homem, e a tornar infinitas as fronteiras daquilo que denomina-se a realidade.

É necessário acreditar em um sentido da vida renovado pelo teatro, onde o homem impavidamente torna-se mestre daquilo que ainda não existe, e o faz nascer. E tudo aquilo que não nasceu ainda pode nascer, desde que não nos contentemos em continuar sendo simples órgãos registradores.
Da mesma maneira, quando pronunciamos a palavra vida, é preciso entender que não se trata da vida reconhecida a partir do exterior dos fatos, mas dessa espécie de frágil e fugidio centro em que as formas não tocam. E se ainda existe algo de infernal e de verdadeiramente maldito nestes tempos, é esse demorar-se artisticamente sobre as formas, em vez de ser como os supliciados que são incendiados e fazem sinais de dentro das suas fogueiras.

O Homem Dos Olhos Dançantes - Sophie Dahl

Sophie Dahl, outrora a guria que deu pro Mick Jagger, ou a modelo bonitinha que podia estampar propagandas da moda rocker mundo a fora, surpreende nesse pequeno livro.. De mil possibilidades ela escolheu escrever. E escreveu um pequeno conto de fadas moderno. Estamos realmente falando de um conto de fadas, sem tirar nem por o que leram pra gente quando criança. João e Maria, O Patinho Feio, Cinderela, A Bela Adormecida, todos esses contos que tripularam as viagens de nossa infância são clara cama pra Sophie deitar e rolar.

De maneira curta e direta, entramos em um pequeno conto sobre uma garota, que se apaixona, consegue seu homem, briga, se separa, tenta fugir do amor não correspondido e como todo conto de fadas pede, volta ao seu homem no final e resolve o desentendimento e vivem felizes para sempre.

Não é nada profundo e nada intelectual, mas é bonito, divertido e porque não poesia? Um delicioso passeio pelo lado que anda morrendo em nós, um passeio inocente e sem compromissos por uma terra de sonhos, devaneios e sem precisar apelar para violência ou para a competição que hoje é tão utilizada nos desenhos para crianças. Sei lá, todo mundo quer uma pessoa de olhos dançantes e ervilhas-de-cheiro. Ela apenas traduziu num conto que todos deviam ler... inclusive as crianças.

Ele e ela estavam sozinhos em São Paulo, poderia ser sozinhos em Curitiba, sozinhos em Nova Iorque ou sozinhos em Buenos Aires. Pouco importava o lugar. Estavam sozinhos na vida. Incomunicáveis em meio a tanta informação. Estagnados. Não sabiam pra onde ir, tinha medo de ir pra frente e acabar voltando pra onde estavam de alguma forma. Ou mesmo de irem para trás e enfrentar os fantasmas do passado. Eles se encontram. E se entendem. Dividem a sensação de deslocamento e o vazio. A vida parece ter perspectivas ao lado um do outro. Existe vida após o sonho? Ou o amor é simplesmente um momento fugaz? Perguntas que só chegam ao sentido completo com um beijo, um beijo feito mel. Esse beijo poderia ter sido em um trem na Europa. Mas agora que eles tem a vida toda pela frente. Isso ainda pode acontecer. É amor, é uma promessa. É vida. O tempo, o amor, a vida... tudo constantes que farão eles seguir em frente.

segunda-feira, maio 26, 2008

300

São pouco mais das duas da tarde. Sol na cabeça e Television nos fones de ouvido. E eu me sinto bem. É raro parar e falar isso. Eu me sinto bem. Sei que nunca mais vou deixar ela sair da minha vida. Ela que entrou na minha vida, jogou tudo de ponta cabeça e e nunca mais vou deixa-la sair. Sinto que tudo está de certa forma aonde devia estar. A viagem perfeita, o teatro que tanto amo, a banda que eu vou ainda fazer de tudo pra levantar. Tantos homens e mulheres mortas... porém estão aqui, comigo, do meu lado. Fante, Leminski (que agora ganhou um apego especial), Burrows, Baudelaire, Pessoa e Lispector. Eles todos sabem que o cara aqui, está entrando nos trilhos e não está mais tão perdido na tradução como parecia. Não estou sozinho. Da janela posso ver milhões de vidas que se desdobram para sobreviver a esse inferno. Agora que estou realmente entregue a algo maior, a um novo rumo da vida, digo, ainda bem. Respiro fundo e que venham os próximos passos.

quarta-feira, maio 21, 2008

“What a drag it is getting old”

Deve existir algum espécie de culto secreto aonde eles desejam, almejam e emanam mantras sagrados para o João não ter dinheiro no fim do mês. Tudo bem, quando faltar grana, basta cerveja, um legume qualquer pra jogar na sopa e livros.

“Doctor please, some more of these”

Tédio. Muito tédio mesmo. Estou a menos de um dia de chutar a estrada pra trás e sumir um pouco da vidinha pacata de sempre. E tenho quase certeza que a televisão é a droga, é o ópio da geração atual. Pois no que deveria estar arrumando os últimos detalhes pra sair fora amanhã, me joguei na frente da tevê, vendo um jogo de futebol que nem é do meu time. Devo estar até babando. Hoje deve ser uma longa noite, sinto meus olhos arregalados, devo estar desperto a duzentos e vinte. Eu ainda tenho tanta coisa pra escrever. Tanta coisa pra cuspir. E tanto sono pra recuperar. São quase duas da manhã e o sono ainda nem nada. A uns vinte minutos atrás me joguei no armário, busquei freneticamente até achar minha velha e surrada camisa do Ramones, hoje em dia é um artefato de lucho! No shopping deve estar pra lá de cinqüenta reais. Quem diria, na época paguei dez conto e olhe lá.

É engraçado como passa o tempo, passam pessoas, passam histórias. Tudo passa e pouco fica de verdade. O mais engraçado é que nesse estado de quase lixo em que me encontro. Hipnotizado por uma televisão brilhante a minha frente, é engraçado demais ver o quão impregnado estou por seu odor, por seu gosto e por seu corpo desnudo abraçado a minha cintura pela manhã. Todo esse estado letárgico deve ser alguma abstinência séria de nossa entrega mutua.

Eu escrevo, eu enlouqueço, eu gozo de felicidade sem motivo. Você, sempre está lá. Você continua lá, mesmo com os quilos que ganhei desde que nos conhecemos, mesmo com os fantasmas que por vezes me levam a loucura. Deixei a barba cresce e agora uso um cachecol. O que mais me encanta, não fiz porque você pediu. Fiz porque é algo meu, totalmente meu, que você adora.

Agora pouco, antes dessa hipnose provida pelo aparelho de imagem aí, eu estava atirado na minha cama. Minha cama que goza da regalia de ter gavetas cheias de livros. Poucos podem realmente dormir sobre tamanha coleção de livros tão maravilhosos. Amo minha coleção. E amo imaginar que eu mais ela, vamos aumentar essa coleção, vamos ter livros do mundo todo. Mas a pouco, quando estava deitado no colchão, não pensava nos livros, e sim como seria bom ter você me dando um delicioso beijo de boa noite e depois se aninhando em meio peito pra dormirmos juntos. Quero por que quero é o amor em forma de desejo. E eu quero por que quero dormir e acordar com você hoje, amanhã e sempre. Não sei se é devaneio da minha cabeça, mas acho que só o meu corpo cabe no seu, só eu posso ter você, só você pode me ter. Se pudesse parar tudo, seria eu e você o tempo todo.

Sua foto está no mural do trabalho, no mural do quarto, nem fotos da família ou dos amigos eu tenho. Por que tem sido isso. Uma aposta, um tiro cego no quero por que quero. Tenho a carta que você me escreveu dentro do meu livro preferido. Minha gata parece gostar de quando estou em estado de ameba impregnado até o último fio da barba por desejo de você.

Tenho uma foto sua na parede. É a única foto que não tem meus amigos. Eu e você, quando as coisas estavam lindas. Tenho o livro que comprei pra te dar e você não quis. Tenho a carta que escrevi pra te entregar mas não te encontrei. Perdi o guardanapo onde você respondeu o guardanapo que eu te dei. Não sei onde está outro guardanapo que escrevi pra te mandar, contando como iam as coisas em um dia que lembrei de você enquanto voltava para casa.

E quando bota a Amy pra cantar ao meu pé de ouvido. Saiba que não é pra ter ciúmes, é unicamente pra me sentir mais perto de você. É como se eu pudesse driblar o tempo e espaço e te trazer para o meu lado. Bom, é bom sonhar acordado.

Meu quarto anda numa organização tenebrosa. Parece exposição de feira de decoração. Tudo pela falta de vontade em usar o que tenho aqui. Pra mim me basta a cama, e um toca discos pra te trazer pra perto. Os dias passam e não vejo a hora de te ter sob o mesmo teto.

terça-feira, maio 20, 2008

"Ambition makes you look pretty ugly
Kicking, squealing gucci little piggy"

Sendo um cara que trabalha. Eu devia ter um senso máximo de responsabilidade e dever com o futuro do meu país. Devia, ou melhor, foi isso que ouvi a pouco o meu chefe dizendo para o meu colega. Engraçado que ele trabalha cem vezes mais do que eu. Passo o dia ziguezagueando entre música, mercado livre e tentativas frustradas de comprar algo. Sim, um vício incurável, porém contido. Não tendo dinheiro pra gastar tudo fica muito mais fácil. Está vendo, dinheiro! Tudo se resume a essa palavrinha maldita, se antes existia a tuberculose, depois a cólera, aids, tantas doenças que detonaram tanta coisa, porque nunca meter a boca nas agências bancárias? no dinheiro que só gera desconfiança e intrigas? Cacete, porque raios trabalho se penso tudo isso? Eu nem sei direito, mas uma vez mergulhado nessa merda, não tem muito o que fazer acho.

E nisso fico eu, aqui, perdido num cubo no meio do coração dessa máquina mercante e gasto meus dedos e minha criatividade com textos e mais textos. Um dia vão sacar a sacanagem e me chutam pra fora. Até lá...

É eu acho que sou um puto totalmente psicopata e doente. Mesmo com a minha cabeça latejando e o sono batendo forte. Insisto em passar as noites entregues aos livros e o trabalho entregue ao ócio. Acho que esse tempo que vou passar longe de computadores vai me fazer um bem e tanto. É só isso que desejo, passar um tempo longe de computadores em sua essência. Quando muito deixa-lo num canto com a única função de vitrola ou vídeo cassete.

A sorte é estar totalmente obcecado por certa mocinha, isso sim, isso vai me ferver o sangue me jogar num quarto perdido no meio do nada. A adoro o som dela dando pra mim com gosto! Salve o sexo, salve o álcool e salve a isolação da sociedade.

Essa loucura toda me levou a lembrar de uma noite que sai, estava me jogando num porão ao som de Le Tigre e uma doida, cabelo chanel e vestido vermelho me atacou, dançava comigo e se oferecia. Eu, com minha moralidade duvidosa ataquei e desejei ela. Ela sumiu... depois de um tempo, passei a busca-la... Morrissey... e nada do vestido vermelho... Yeah Yeah Yeahs... e nada do vestido vermelho... Strokes e lá estava ela. Desfalecida, totalmente bêbada num sofá próximo ao bar. Uma das mocinhas perdidas pela noite... me lembrei disso nem sei o porque. Sei que me dou muito por feliz de estar em outra agora. Estar embarcando em umas loucuras de outra forma e de outra espécie.

Ok, um adento. A balada era o DJ Club, a moça de vestido vermelho, depois provado a teoria de que as pessoas cool se conta em uma mão, era prima da irmã da amiga do batera da banda. Foi assistir um ensaio e ficou toda inibida ao me ver, possivelmente lembrava parcialmente do que havia cometido algumas noites atrás e como estava menos alterada, não conseguiu encarar a realidade. É a realidade é muito pra uns. Novamente afirmo, sorte minha encarar algo como estou encarando com peito aberto e sabendo muito bem se tratar de realidade cravada a ferro quente na pele. Não é só sexo, é algo muito maior.

Ps. A insanidade será redobrada quando o processo de uma nova casa estiver mais próximo.

segunda-feira, maio 19, 2008

Como será?

Um dos grandes baratos de morar com alguém, acho eu, é acordar e ir tomar um café com pão e queijo depois de uma noite devassa de sexo. Mas quer dizer que tudo se resume a sexo? Não, não é só sexo, tem todo o lado cool da coisa, tem o papo de química e de pele e tudo mais. Tem os filmes, a música, Stones e Bowie, ou Amy e The Coral, que seja, tem os seriados e a cumplicidade em dormir juntos pelados sem necessariamente pensar no sexo. Mas fatalmente, o sexo com quem amamos a qualquer momentos é um atrativo e tanto.

É aquela coisa, acordar, centro da cidade, abrir a janela e dar de cara com uma neblina cobrindo a massa cinza. O inevitável que seria ter um pote de amendoim e diversas cervejas na geladeira. Toda aquela personalidade que a casa vai adquirir, os cantinhos, a decoração. O prazer quase inexplicável que é ter a garota que você ama, pronta para lhe fazer uma massagem nas costas quando você precisar. E num domingo que estiver dando bobeira, assar uma costela no forno enquanto viramos cervejas e ouvimos Teenage Fanclub. E provavelmente descobrir que na esquina de casa, trabalha um senhor velhinho, que vende cachorro quente, daqueles prensados e com tudo que se tem direito. E por causa das baladas, ele passa a madrugada toda ali. Então, meio da noite, num intervalo entre a trepada e o filme antes de dormir, descer e traçar um cachorro quente sem pressa ou desespero quanto ao fim do dia. Pois no dia seguinte terá mais. E naqueles típicos dias de São Paulo, quando não parar de chover, madrugada a dentro poderemos conversar sobre livros e bobagens.

sexta-feira, maio 16, 2008

Em Busca do Eu - 11

Cinco e meia da manhã, os flashes dos jornalistas me cegaram e trouxeram lembranças de um passado urbano esquecido. Se eu soubesse que o maior erro é desperdiçar o desespero, teria aproveitado melhor a espinha sensível, o calor na palma das mãos e as borboletas no estômago. Havia pisado em solo brasileiro menos de doze horas atrás. Fui transferido de pronto para uma delegacia especial e logo se irritaram com a minha falta legitimidade. Sem documento, ironia estampada e nenhuma vontade de colaboração. Essa é a receita perfeita para um caos sem precedentes.

Nunca o sofrimento humano me pareceu algo tão aceitável. Não tinha mais clara noção do bonzinho e do malvado. Aquele político de merda, heroicamente me tirou do horrível cativeiro em que me mantinham em favor a um brilhante álibi político. Se tivessem perguntando minha opinião eu teria ficado lá pelo Chile mesmo. Essa vida sub humana que a cidade impõem é centenas de vezes pior.

Com o tempo aprendemos a deixar de procurar aceitação. De alguma forma obscura eu não merecia ser amado ou mesmo notado. E agora o que eu havia ganho era um foco inteiramente meu de atenção e exposição na mídia. “Por favor, estou realmente cansado, podíamos continuar amanhã, não?”. A resposta era quase sempre certeira, tapa na cara, cusparada no olho e xingamentos a balde. Eles queriam minha ficha. O anonimato era terrível. Viam que tinha certa cultura, que sabia falar... creio que assustava um pouco a idéia de que eu podia ser qualquer coisa.

Me divertia com os comentários de canto. Ele pode ser filho de político, diziam. Eu era como um monstro. Um alien capturado, porém totalmente nocivo e principalmente, desconhecido. “Vamos moleque, qual é seu nome, seus documentos, temos a noite toda, e vamos descobrir que porra que é você.”
Na real, a noite já escoava pelo ralo da manhã, e quando se deram por exaustos me jogaram numa cela qualquer e mandaram eu refletir se eu deveria colaborar, ou uma nova sessão de boas vindas seria gentilmente oferecida. Eu estava com meus momentos de paz contados. Em breve os jornais, a televisão, a internet jogaria minha cara a cada cinco minutos para o mundo todo, meus pais reconheceriam o filho perdido e tratariam de entrar em contato.

Se pudesse aproveitar, teria que ser agora, ou me entregaria a possibilidade de encarar a pacata vida beirar minha quase existência real e entregue a natureza humana. Fui o que quis ser e me entreguei a esse instinto latente que rasga meu peito como ferro em brasa. Não sei se tomado por inspiração devia cravar os dentes nessa primavera que se vai. Devo ter chorado, os flashes, Julia, doce Julia. Ela teria que enfrentar a dura realidade de descobrir meu paradeiro depois de ter sido abandonada feito rato no meio do nada.

Enquanto me serviam o rango podre, comida que não era nem digna de ser servida para os cachorros, anunciaram a descoberta de minha identidade. Descobriram meu curso superior, descobriram a minha morte. Como seria daqui pra frente? Me deixei levar pela onda, do que lembro são momentos fragmentados. Entrevistas na qual não respondia nada, tentativas frustradas de toda e qualquer rede de televisão de ganhar minha presença que já devia valer milhões. Queria entrar em contato com a Julia. Sei que depois de uns meses, meu caso virou assunto da política nacional, acabei caindo um pouco na sombra do sucesso. Deixaram de me procurar e meus pais me jogaram numa chácara no interior de São Paulo, colocaram dois armários para me vigiar, afinal haviam algumas restrições impostas pela justiça.

Eu precisava dar um jeito de sair dali, pé na estrada novamente, ir atrás da Julia, ir em busca de algo. Minha vida é uma busca, e o que me realiza é buscar, quero buscar tudo. A inquietação me jogava nas paredes daquele pedaço de nada no fim do mundo. Me fingi de peso morto, um filha da mãe vencido é muito mais perigoso que qualquer peso pesado. A chácara ficava realmente no meio do nada, eu digo, não estou exagerando. Uma estradinha de terra e mais nada. A rotina era a mais chata possível. Acordar, dormir e me manter fora de confusão. Enquanto o mundo brigava pelo caso do brasileiro sem nome, que agora já possuía identidade porém, para termos de audiência, o termo do brasileiro sem nome, era mais interessante.

Em breve daria um jeito de enganar esses dois e fugir dali, era só questão de tempo.

quinta-feira, maio 15, 2008

Os 1001 filmes para assistir antes de morrer

Seguinte, existe um livro de 1001 filmes para assistir antes de morrer, achei a relação e peguei os últimos 101 filmes que correspondem aos mais recentes. Depois posto mais 100. Comentei alguns que assisti.


  1. Cyclo (1995)

  2. Underground (1995)

  3. The Brave Heart Will Take the Bride (1995)

  4. Dead Man (1995)


    • Filmaço.


  5. The Usual Suspects (1995)

  6. The Pillow Book (1996)

  7. Three Lives and Only One Death (1996)

  8. Fargo (1996)


    • Irmão Coen como nunca mais conseguiram ser. Excelente filme.


  9. Independence Day (1996)


    • Cinema Pipoca que na época entreteu com a destruiçado EUA.


  10. Secrets and Lies (1996)

  11. Breaking the Waves (1996)

  12. The English Patient (1996)


    • Boring.


  13. Gabbeh (1996)

  14. Lone Star (1996)

  15. Trainspotting (1996)


    • Clássico absoluto.


  16. Scream (1996)


    • Na real, na época foi pipoca... nada mais.


  17. Deconstructing Harry (1997)

  18. L.A. Confidential (1997)

  19. Happy Together (1997)

  20. Princess Mononoke (1997)

  21. Fast, Cheap, and Out of Control (1997)

  22. The Butcher Boy (1997)


    • Um puta filme sob o quão incrível pode ser o imaginário de uma pessoa


  23. The Ice Storm (1997)

  24. Boogie Nights (1997)

  25. Kundun (1997)

  26. The Sweet Hereafter (1997)

  27. Funny Games (1997)


    • Um puta filme sádico, e ficam dizendo que Albergue vale a pena... tsc tsc... fiquem de olho na refilmagem.


  28. Taste of Cherry (1997)

  29. Open Your Eyes (1997)

  30. Mother and Son (1997)

  31. Titanic (1997)


    • Poucos podem ousar dizer que nunca assistiram. Tem sua qualidade, seu valor, pela reconstrução do návio e os efeitos especiais. Trama fraca.


  32. Tetsuo (1998)

  33. The Celebration (1998)

  34. Saving Private Ryan (1998)


    • Para quem gosta de filme de guerra, pode contar com um excelente filme com direito a uma cena de abertura fantástica.


  35. Buffalo 66 (1998)

  36. Lock, Stock and Two Smoking Barrels (1998)

  37. Run Lola Run (1998)


    • Cinema independente alemão de alta qualidade.


  38. Rushmore (1998)

  39. Pi (1998)


    • Uma baita loucura das boas


  40. Happiness (1998)


    • Esse já no oposto, de felicidade pouco tem. Puta atuação Phillip Seymour Hoffman.


  41. The Thin Red Line (1998)


    • Transformaram guerraa em poesia, lindo.


  42. The Idiots (1998)

  43. Sombre (1998)

  44. Ring (1998)

  45. There’s Something About Mary (1998)

  46. Magnolia (1999)


    • Filmaço!!!!


  47. Beau Travail (1999)

  48. The Blair Witch Project (1999)


    • O marketing fez desse filme um marco. Teve seu momento.


  49. Taboo (1999)

  50. Rosetta (1999)

  51. All About My Mother (1999)


    • Filme bom, vale assistir.


  52. Three Kings (1999)

  53. The Wind Will Carry Us (1999)

  54. Audition (1999)

  55. Time Regained (1999)

  56. Fight Club (1999)


    • Puta filme, crítica nervosa a sociedade. Até Brad Pitt se salva nesse.


  57. Being John Malkovich (1999)


    • Uma doidera das melhores! Ótimo.


  58. American Beauty (1999)


    • Como dia minha raposa, sempre que vejo uma sacola de plástico voando, me lembro do filme. Muito bonito.


  59. Attack the Gas Station! (1999)

  60. Eyes Wide Shut (1999)


    • Irregular, mas no geral bom.


  61. The Sixth Sense (1999)


    • Outro filme que levou milhares as salas de projeção. Eu não gostei desse não.


  62. The Matrix (1999)


    • O primeiro Matrix é incrível.


  63. Nine Queens (2000)

  64. The Captive (2000)

  65. In the Mood for Love (2000)


    • Poesia!


  66. Ali Zaoua, Prince of the Streets (2000)

  67. Gladiator (2000)


    • Chatinho


  68. Kippur (2000)

  69. A One and a Two (2000)

  70. Requiem for a Dream (2000)


    • O melhor filme sobre drogas.


  71. Amores Perros (2000)


    • Bruto e foda.


  72. Meet the Parents (2000)

  73. Signs & Wonders (2000)

  74. Crouching Tiger, Hidden Dragon (2000)


    • Cinema oriental feito pra hollywood, chato.


  75. Traffic (2000)


    • Cansativo.


  76. The Gleaners and I (2000)

  77. Memento (2000)


    • Baita filme interessante, começando pelo roteiro.


  78. Dancer in the Dark (2000)

  79. O Brother, Where Art Thou? (2000)


    • Fantástico!!!


  80. Amelie (2001)


    • Bravo! Quem não se encantou com ela?


  81. What Time Is It There? (2001)

  82. And Your Mother Too (2001)

  83. Kandahar (2001)

  84. Spirited Away (2001)

  85. The Piano Teacher (2001)

  86. The Son’s Room (2001)

  87. No Man’s Land (2001)

  88. Moulin Rouge (2001)


    • Os musicais não são mais os mesmos.


  89. Monsoon Wedding (2001)

  90. Fat Girl (2001)

  91. Mulholland Dr. (2001)


    • Lynch na véia. Muito bom.


  92. The Royal Tenenbaums (2001)


    • Ótimo


  93. The Lord of the Rings: The Fellowship of the Ring (2001)


    • Começa a saga mais demorada do cinema... uma vez vale a pena.


  94. A.I.: Artificial Intelligence (2001)


    • Irregular, mas no mais, interessante.


  95. Gangs of New York (2002)


    • Com uma puta atuação do Daniel Day-Lewis o filme convence.


  96. The Pianist (2002)


    • Drama dos bons.


  97. Talk to Her (2002)


    • Obra prima do cinema espanhol.


  98. City of God (2002)


    • Bom, mas o cinema nacional já fez coisa melhora.


  99. Russian Ark (2002)


    • Vale como exercício de cinema, interessante.


  100. Chicago (2002)


    • Boring


  101. The Barbarian Invasions (2003)


    • Drama dos melhores


  102. Kill Bill: Vol. 1 (2003)


    • Legalzinho.


terça-feira, maio 13, 2008

Memórias do Cotidiano. #1

As vezes preciso cuspir palavras em uma folha digital qualquer para evitar que a loucura tome conta de meu libido. Sou paranóico e compulsivo em relação a quão repressora essa cidade consegue ser. Acho que o maior problema é que quando eu quero algo, por mais bobo que seja, uma bebida, um burrito ou uma ópera, eu quero muito. Um mimo de homem compulsivo e paranóico.


A cidade é um grande mostruário de tentações. Música, teatro, livros, comida, vida. Tudo, quero tudo. Mas ao mesmo tempo, a cidade é sufocante, e impõem barreiras caóticas para qualquer desejo que tenhamos. Horários, transito, pessoas atravessando as ruas. Violência e monstros saídos de filmes do Lynch a cada esquina. Por vez, domingo passado, um ser primal, saiu por detrás de uma lata de lixo. Enfiou as mãos no bolso, encarou minha namorada e depois me fitou dos pés a cabeça. O ser totalmente fora de uma racionalidade confiável, tropeçou o andar pela corda bamba da vida e começou a tossir e botar para fora todo o câncer da alma ferida de pobre brasileiro. Nós apertamos o passo pelas ruas do centro.


É sempre assim, o grotesco rabiscando o harmonioso. Não podemos ignorar um mundo todo que nós cerca. Chamarei minha pequena de raposa, é assim que gosto de chama-la e se por vezes deixar escapar esse apelido, já sabem de quem me refiro. Eu e ela estamos a alguns meses juntos. Pretendemos juntar os trapos, pular para um barraco nosso, montar nossa casa. A finada instituição do casamento. Mesmo que não por meios religiosos, que hoje andam com a dignidade pra lá de arranhada, temos o desejo de formar uma família. Eu mais ela. Ela e eu e o futuro que nos reserva.


Não é fácil dois jovens se apaixonarem e encararem esse mundão a fora. Alias pode ser até fácil pra quem não tem nada. Nada por nada, um nada ao lado de quem se ama não? Mas não é caso. Tenho certos mimos, como devo admitir, incuráveis. Meu utópico sonho pelo teatro, minha paixão pela música Pop e conseqüentemente a banda que tento empurrar desde pirralho, meu gosto pela cultura que por vezes não é tão barata como poderia ser, isso são fatores delimitadores de um mergulho a cegas nessa selva de concreto.


Devo fazer um parêntese aqui em relação a música Pop. Essa foi a música originada pelo quarteto de Liverpool, sim os Beatles. Esses criaram um universo aonde a música podia ter um imenso apelo popular sem deixar de buscar evolução melódica, técnica e contextual. Eles e mais um bando de jovens fizeram muita coisa boa. Não me refiro a essa música mastiga que teima em reinar nas Fms do país. Música boa é música boa, a música atual passa longe. Se quiser entender do que digo, procure ouvir Mutantes, Rolling Stones, Roberto Carlos, novamente uma intervenção, o Rei tem sua fase boa apenas até o começo dos anos setenta, Nirvana e Radiohead. Aí sim estamos falando de música de qualidade.


Por isso ainda não sai da casa de meus pais, um tanto quanto geração canguru mesmo. Apesar de conscientemente conhecer a triste situação dos jovens que se penduram em seus pais até os trinta, trinta e cinco anos, procuro usufruir dessa regalia por mais um tempo. Quem sabe até o fim do ano pelo menos. Até lá posso juntar uma grana, pesquisar um canto bom para morar, no centro mesmo. Nós dois ostentamos esse desejo de morar próximos ao centro. Me pergunto por vezes a melhor opção, parcelar algum cantinho, me meter no aluguel. Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas de um jovem.


Nesse domingo que encontramos o famigerado monstro do Lynch, não confundir com o quão monstro Lynch consegue ser, me refiro ao ser que nós assustou no centro, pois nesse mesmo domingo, ainda tivemos um momento maravilho. Sentamos em uma cantina italiana que ainda preserva o aspecto mais antigo de servir a comida. Pedimos uma bela massa enquanto conversamos horas a respeito das jovialidades que fazem essa vida a dois tão maravilhosa.

segunda-feira, maio 12, 2008

Não Sobre O Amor - Felipe Hirsch

Não sobre o amor, é uma peça sobre o amor. Chega a ser quase irreal o fato de termos uma história onde nada acontece porém o clima, a atmosfera da gélida russa toma conta de todo o espaço intimista preparado para o espetáculo. Temos cartas de amor, mas rodeadas por um estranho temor do vazio da escritura amorosa e da repetição de palavras viciadas, criando texturas bem diferentes do convencional.



"Estou escrevendo cartas para você e, ao mesmo tempo, estou escrevendo um livro. E o que está no livro e o que está na vida ficaram uma confusão incurável"

A velha dúvida, aonde começa a ficção, aonde o amor deixa de ser invenção literária e se torna combustível vital da sobrevivência da raça humana. Em certo momento uma luz no fim do túnel é oferecida. O sentimento tornasse muito mais real depois de pronunciado.

Os temas da peça estão todos lá: relações amorosas, a memória, estado de procura por si mesmo, perdição na vida e o ato de criação literária. Porém tudo é muito mais nebuloso, nada nos é entregue de forma direta e clara. Tudo vem com imagens e embaralhado. Embaralhado da mesma forma que o cenário está montando sem lógica física. A cama na posição vertical, a cadeira pregada na parede, a lâmpada no chão, a janela no teto. Tudo serve de detalhe deliciosos para apreciação do público. A escolha da sala pequena não foi ao acaso. A proximidade do público com o palco, a bagunça do cenário e as possibilidades mil oferecidas pela direção fazem o espectador mergulhar hora na viagem cênica por completo, hora nas complexas propostas de cenário e corpo dos atores, ou hora no denso texto das cartas narradas.



Uma peça delicada, para ser degustada lentamente e principalmente, para se entregar e deixar que a viagem proposta pela Sutil Companhia de Teatro aconteça sem premeditações. O trabalho dos dois atores também é fantástico, tanto na parte corporal aonde desafiam a grávidade e brincam com a nossa noção de perspectiva, como na interpretação de textos tão complicados. O uso de projeções também se mostra certeiro e cada vez mais marcante na carreira do Felipe.



Ficha Técnica
Não Sobre o Amor
Adaptação e direção: Felipe Hirsch e Murilo Hauser
Elenco: Leonardo Medeiros e Arieta Corrêa
Duração: 90 minutos
Classificação: 12 anos
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Preço(s):R$ 15,00.
Data(s):Até 6 de julho de 2008.
Horário(s):Quinta a Sábado às 19h30m / Domingos, 18h
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 - Centro - São Paulo – SP
Telefone: (11) 31133651
Cartões: Visa |Mastercard |Credicard

domingo, maio 11, 2008

Charles Bukowski

"Os bêbados das três horas da manhã, em todos os Estados Unidos, fitavam as paredes, depois de terem finalmente desistido. Não era preciso ser bêbado para se machucar, para cair na mira de uma mulher; mas a gente podia se machucar e se tornar um bêbado. Você podia pensar por algum tempo, sobretudo quando era jovem, que estava com sorte, e às vezes estava mesmo. Mas havia todo tipo de médias e leis em ação das quais você nada sabia, mesmo quando imaginava que tudo ia indo bem. Uma noite, uma quente noite veranil de quinta-feira, você se tornava o bêbado, você estava lá fora sozinho num quarto de aluguel barato, e por mais que tivesse visto isso antes, não adiantava, era até pior, porque você tinha pensado que não teria que enfrentar aquilo de novo. A única coisa que podia fazer era acender mais um cigarro, servir outra bebida, examinar as paredes descascadas em busca de olhos e lábios. O que homens e mulheres se fazem uns aos outros estava além da compreensão."

quinta-feira, maio 08, 2008

Portishead - Third (2008)



Nota – 7

Existem alguns poucos artistas que não deviam ser analisados sem um contexto histórico. Como se pode falar de Beatles sem considerar sua importância para a música Pop? E o Bob Marley e todo seu contexto político e racial, sem contar na disseminação do Regae. O que seria do Rock And Roll sem o Elvis? Pois bem, o que seria do Trip Hop sem o Portishead? Esse estilo tão característico de Briston, cidade berço, aonde batidas desaceleradas dão sustentação para instrumentações cheias de detalhes. Portishead está entre os pais desse estilo tão tênue e difícil de se manter o nível.

Tanto é que foram dois discos e o fim da banda. Parecia difícil expandir os horizontes da proposta sonora, cada um seguiu seu caminho, a Beth lançou um álbum solo interessante e Portishead parecia ser passado. Foi depois desse intrincado fim que a mística em torno da banda cresceu, sempre houve uma expectativa calada a cerca de um próximo trabalho. Foi que sem muito alarde o novo disco de composições originais é lançados nesses meados de 2008.

Depois de uma primeira audição mais desatenta ficou me faltando um algo. As músicas eram boas, o disco soava legal, era um trabalho bem feito. Enfim, algo digno de ser Portishead. Mesmo assim algo me faltava. Ou faltava, ou como começou a ficar mais claro nas audições subseqüentes, ou na realidade algo havia mudado drasticamente. Uma sensualidade antes chave em meio ao denso nevoeiro criado pela banda, deu lugar apenas a mistérios sombrios e mais enquadrados nesse mundo atual e conectado.

Um dos motivos de soltar um: “puta que pariu, que merda é essa?” é logo nos primeiros segundos do disco. Uma frase em português abre o disco, e significados a parte ou não, já cogitam ter alguma ligação com bruxaria e vindo deles, pode ser qualquer coisa. Como um todo existe um belo apanhado de canções, algumas com um lado mais puxado para algo tribal, outras mais singelas, funcionando de maneira bastante interessante. Sem duvida temos um baita disco em mãos e facilmente concorrerá nos melhores de 2008, porém, eu achei um tanto quanto aquém dos trabalhos anteriores da banda, esse lado de desapontamento pode tanto ter vindo pela expectativa imensa ou pela falsa sensação de conformismo que por vezes sinto no disco. Mesmo tendo momentos ousados, algumas coisas me parecem estar pisando em territórios seguros e sem ousar nem um pouco. Enfim nem todos podem ter uma carreira como os Beatles. Nem todos chegam na atemporalidade que a boa música exige.

Destaques: Machine Gun, Nylon Smile, The Rip, Silence e Deep Water.
mo bem diferente do mercado. Para o bem dele e de toda a atemporalidade que a boa música exige.

terça-feira, maio 06, 2008

Arte da Loucura

"We work in the dark we do what we can we give what we have.
Our doubt is our passion, and our passion is our task.
The rest is the madness of art."

Henry James

Introdução a carreira solo dos Beatles.

Que os Beatles pra mim são a maior banda da história não é novidade alguma. Admiro o trabalho do quarteto desde seus tempos de iê iê iê até os últimos suspiros como grupo. Considero o maior álbum da história o Revolver e dentre os 10 maiores com certeza figuram outros 3 ou 4 discos pelo menos.

Mas não estou escrevendo para falar o quarteto quanto unidade e sim para pontuar os grandes trabalhos realizados pós sonho. Poucos realmente foram a fundo nas obras realizadas nas carreiras solos, e os que procuram conhecer melhor chegam a conhecer tesouros que por si só valem mais do que muitos artistas conseguem realizar com décadas de estrada.

Começando pelo John Lennon, o sonhador John, talvez tenha sido uma carreira solo pra lá de estranha e frustrante a dele. Sempre um passo a frente do que se previa, lançou discos como o Plastic Ono Band e Imagine, aonde do inicio ao fim vemos trabalhos maravilhosos. Depois seus discos não foram mais tão poderosos, sim existem ótimas músicas espalhadas aqui e acolá, mas nada mais tão fulminante como essa dupla de discos do início dos 70. Procure ouvir: Mother, Remember, God, Hold On, Well Well Well, Jealous Guy, Oh Yoko!, How Do You Sleep, Mind Games, #9 Dream, Bless You, Scared.



Chegamos no Paul, que teve com certeza a carreira solo de maior sucesso entre os quatro. Paul pode se dizer ter trilhado o caminho oposto ao do John, e emplacou diversos hits ao longo de sua carreira que até hoje se mantém firme e dentro do propósito criado pelo ex-beatle. Discos como McCartney, RAM, Band On The Run, Tug of War, Flaming Pie, Memory Almost Full mostram um Paul amadurecendo e mantendo qualidade e personalidade em seus trabalhos ao longo das décadas. Trate já de escutar: Every Night, Maybe I'm Amazed, Too Many People, Back Seat Of My Car, Band On The Run, Jet, Let Me Roll It, Take It Away, Wanderlust, Song We Were Singing, Great Day, Lonely Road, Jenny Wren, Gratitude e That Was Me.



E agora começa a ficar divertido. George Harrison, o mais quieto de todos. Durante os beatles, lançava uma música por disco, quando muito duas. E como se fôssemos atropelados por um caminhão logo após o fim dos Beatles George nos presenteia com All Things Must Pass, álbum triplo e magnífico do início ao fim. Obra prima da música moderna. E não parou por aí não, Living In The Material World, George Harrison, Cloud Nine e Brainwashed são trabalhos de primeiro nível. Ouça: All Things Must Pass, Beware Of Darkness, Isn't It A Pity?, Living In The Material World, Dark Horse, Woman Don't You Cry For Me, Not Guilty, All Those Years Ago, Cloud 9, Someplace Else, When We Was Fab e Any Road.



E por fim o Ringão. Não vou falar que teve uma carreira solo brilhante, pois não seria completamente verdade. Ringo sempre pareceu ser o cara que fazia as coisas unicamente pelo gosto de fazer. Tocou o que bem queria, pouco se importou com a crítica e com a mídia, isso são pontos que tornam a carreira autêntica e cheia de pontos altos. O disco Ringo é de altíssima qualidade e guarda pequenas jóias do Pop. Procure escutar: It Don't Come Easy, Photography, No No Song, Golden Blunders, Give Me Back the Beat, Think About You...

Em Busca do Eu - 10

Devo ter pego no sono, não sei, lembro de estar bem desperto, de estar acompanhado a passagem repetitiva e insossa do interior brasileiro. Mas não consigo lembrar de merda nenhuma depois, apaguei, e acordo agora, o sol já está se pondo. Perdi um dia inteiro da minha vida e nem sei o que aconteceu. Estou na parte de trás da kombi. Minhas calças estão jogadas no banco da frente e minha cueca arriada. Puta merda, o filha da puta deve ter dado um jeito de me comer. E agora aonde é que está esse filha da mãe? Levanto sentindo uma dor horrível, como se fosse uma fisgada na bunda e sinto um enorme nojo daquele lugar. Pego minha calça e vestindo da forma mais rápida que meu corpo debilitado me permite pulo pra fora da kombi que está estacionada numa dessas paradas de caminonheiros, o porcão está ali, parado ao lado de outros tão ou mais imundos que ele. Checo meus bolsos e o dinheiro se foi, olho pro lado e vejo a estrada interminável para um inferno qualquer no meio desse Brasil.

Caminho devagar até um torneira no prédio ali do lado, sempre mantendo o olho no desgraçado, qualquer coisa me metia a correr, lavo o rosto e de canto olho vejo um velho que mais parecia uma caveira esperando para usar a torneira. Me finjo de bobo e continuo a beber, vendo uns cacos de vidro logo ali, ao alcance da minha mão. Na hora de fechar a torneira me apoio com a outra mão no chão e subo com o caco de vidro escondido na mão. O velho, caipira que só, vestido com camisa xadrez, calça jeans surrada e cinto grande e exclamativo grunhiu: “Dia”, aceno com a cabeça e levanto, quando ele se distrai coloco a caco de vidro contra aquelas costelas secas. “Seguinte velho, tu vai me levar até a fronteira do país e é agora mesmo.” O velho tolo tremia feito uma menina, deixou cair o garrafão de água balbuciava o nome de deus e da virgem maria a cada segundo e tremia, mas me levou até a sua caminhote velha, com a caçamba cheia de milho verde. Era uma dessas caminhotes Ford, velha como o seu dono.

Quando entrei no carro expliquei a situação, expliquei que se ele me levasse até a fronteira eu não iria furar ele com essa porcaria de pedaço de vidro. Ele disse: “Filho, tu precisa amar a vida, amar a si mesmo, amar a Deus.”. Enquanto dava partida naquela lata velha. Amar a mim mesmo? Quem era esse velho pra falar isso? Eu estava fazendo isso porque tinha muito zelo por mim. Não tenho culpa que esse meu corpo é uma jaula, uma porcaria de jaula que me impede de fazer o que bem eu queria. Se estou nesse palco de medo e falta de confiança em mim mesmo, é culpa Deles. O que é mais febril e doente é o fato que no final dessa peça vazia vão me aplaudir de qualquer jeito. A única coisa que me faz continuar é o medo, medo de uma era inominável que está acabando com o mundo.

“Dirigi essa merda velho filha da puta.”

Não é porque muita coisa tem sido esquecida que quer dizer que foi perdoada. Que merda, queria meu corpo livre dessa merda toda. Queria meu espírito livre desse buraco. E esse velho safado? Quem ele acha que era? Dirigia choramingando e se referindo a Deus de um e um minuto.

“Escuta aqui seu velho tolo, você serve um Deus enquanto sua família morre, você acha que está fazendo parte de uma intervenção divina enquanto pais matam os filhos e filhos matam os pais. Toda e qualquer faísca de amizade e amor tem morrido sem a menor esperança.”

Ele tentou rezar, e não se concentrar no que eu falava, apontei o dedo na cara dele, e mandei ele me ouvir, me sentia possuído por algum demônio místico. Tinha força naquele momento pra desafiar o próprio Criador. E caímos naquela merda? Quem vai jogar a primeira pedra hein?

Eu queria poder voar, senti as lágrimas me vindo aos olhos, seria inevitável. Eu era volátil como uma bomba nuclear, a mínima fricção e BUM! Quem jogaria a primeira pedra hein? Eu estava fazendo tudo errado, deixei o caco de vidro cair no chão e me coloquei a chorar feito criança. O velho encostou o carro e filha da puta fez exatamente o que eu imaginei que faria. Me consolou.

“Me leva pra qualquer lugar, me leva pra algum lugar onde nem carros nem aviões cheguem.” soluçava e tentava falar no ombro ossudo do velho. Adormeci com um carinho fraterno por parte dele. Me sentia o mais sujo dos seres.

segunda-feira, maio 05, 2008

Lista: Filmes para se assistir antes de morrer.

Um colega de trabalho acaba de me pedir uma relação básica de filmes que se deve assistir antes de morrer. Como se fosse fácil... mas fiz uma seleta rápida e vou compartilhar aqui, sem ordem de preferência.

Poderoso Chefão
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças
Crepúsculo dos Deuses
Kes
Um Corpo que Cai
Chinatown
Casablanca
Mágico de Oz
Inverno de Sangue em Veneza
Apocalypse Now
2001: Uma Odisséia no Espaço
Alien
Noviça Rebelde
Taxi Driver
Juventude Transviada
Laranja Mecânica
Os Bons Companheiros
Quanto Mais Quente Melhor
Era Uma Vez no Oeste
Encontros e Desencontros
A Vida de Bryan
A Primeira Noite de Um Homem
Janela Indiscreta
Tubarão
Um Estranho no Ninho
Blade Runner
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Um Bonde Chamado Desejo
Veludo Azul
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Touro Indomável
Matrix
A Doce Vida
Sindicato Dos Ladrões
Lavoura Arcaica
Trainspotting

Citações dos Leitores:

Bruno Siffredi
Terra em Transe - Glauber Rocha (Fantástico)
O Pântano - Lucrécia Martel

Juno - Juno (2007)

Diretor - Jason Reitman (Obrigado Por Fumar)

Existe uma tênue linha que separa os filmes de uma estrita ficção somente passível de acontecer nas telas do cinema e a imitação da realidade. Digo isso pois, uma coisa é ir aos cinemas e assistir filmes como Indiana Jones, por exemplo, um filme que não busca retratar a realidade, usa e abusa de recursos cinematográficos e cumpre com excelência o seu papel. Inclusive estarei nas estreias do quarto filme da franquia. Agora temos outro filão de filme que são as histórias reais, filmes que não buscam a fantasia, se apoiam firmemente ao cotidiano do planeta terra. Exemplos como “Na Natureza Selvagem (Into The Wild)” provam que retratar a vida com um olhar poético pode ser algo maravilhoso também. O que mais me incomoda nos filmes que são os filmes que não nos entrega nada de fantástico, buscam ser reais e factíveis e fazem tudo isso sem o menor tempero. Exemplo agora do tão falado “Um Amor Para Recordar (A Walk To Remember)”, filme que só não me fez chorar de desgosto por ter dormido antes, tentando ser dramático ao extremo e pegar as pessoas pelo coração, não convence com atuações pouco sinceras e diálogos pouco convincentes.

Juno brilha nesse aspecto de sinceridade de diálogo, eu busquei expressões e não achei outra se não um filme extremamente sincero, que difere e muito da enxurrada de outros filmes com a temática girando em torno de adolescentes. O filme tem seus defeitos, não tem um excelente roteiro e por vezes se deixa levar em alguns modismos ditados pelo “tal cinema alternativo”. Um dos pontos pra lá de interessantes é a direção de arte, que acertou em cheio, deu uma identidade pro filme e provou de forma singela que não se precisa de muito para demonstrar bom gosto. A atuação de Ellen Page também é um ponto positivo e nos vende a idéia do drama passado pela personagem. Sem contar a trilha sonora que tem todo seu charme a parte e combina perfeitamente com o clima do filme.

Em meio a tantas bombas que tendem a sair do cinema dito alternativo, temos um belo exemplo de como fazer cinema, simples, sincero e cativante.