É foda, não sou de guardar rancor. Ela bem que podia me ligar, marcaríamos uma cerveja. É só puxar a cadeira mesmo e sentar. Ser amigos, como ela mesma me definiu, uma rocha, aquele amigo que está sempre ali. Podemos tentar. Mas, porra, não chegue muito perto. Você quem quis brincar comigo. Acontece, ser humano adora se divertir, as vezes somos quem se diverte, outras somos o motivo da diversão. Só não posso te deixar chegar perto. Qualquer um menos você. Eu disse que estava aí pra ti. Sentei na janela do meu quarto, olhando a cidade tombar até bem além dos meus olhos, fumei um cigarro, dois cigarros, um maço. Tive que levantar todo fodido, sem mais um puto de sentimento no peito para continuar. Então saiba que não foi fácil. Fique longe de mim. Podemos até sentar, só não sente do meu lado, e beber qualquer porcaria. Não serei grosso, não apontarei o dedo na tua cara, nem desejarei a morte sua e de toda a sua família.
“Oi”
Eu não quero saber da sua vida e nem de suas noitadas. Muito menos que se sente insegura. Mas para de me olhar agora. Que tal enfiar a merda da tristeza que abre meu peito entre nós? Assim tu não acaba comigo de novo. Pior é que basta um sorriso seu pra me ferrar tudo de novo. E eu sei que se eu perder essa tristeza que carrego no peito, fico sem rumo. Só não chega perto, é pedir muito? Eu não quero saber da sua vida nem de suas alvoradas no relento com cheiro de álcool.
“Como está?”
Você não. É doce feito chocolate gostar de ti, é uma pena que o amargo da ferrugem estraga todo o gosto quando desejo algo mais além da pura e ingenua admiração. E cá estou eu, sozinho, atirado na noite de frente a esse bar, quietinho e sozinho. Quando alguém fala comigo, reúno o que me resta de força e dou um jeito de polidamente recuar. Me encolho. Desabo em prantos quando não tem ninguém por perto. Já me vi escorrer feito garrafa de vinho tombada. Me vejo nas cinzas que se empilham no cinzeiro. Muitas vezes choro, deságuo até achar não restar um pingo de ser humano por dentro. Mas agora eu tenho que ser forte.
“Você está linda.”
Sei que nunca chorei todo o ser humano que tenho dentro de mim porque guardo umas lágrimas, bem no fundo, mas guardo. Você me trouxe esse sentimento de abandono. Inundo os bares atrás de você, e agora que está na minha frente, linda e radiante, com esses olhinhos dançantes de japonesa nada me resta a não ser desabar. Não quero arrumar nada, nem quero mudar uma virgula. Eu só quero ser o que me resta, respirar e engolir as mágoas.
“Senti sua falta.”
Fico imaginando o tempo todo como seria se você fosse verdadeira. Queria só sinceridade. Ou melhor sinceridade doe, eu queria a minha verdade na sua sinceridade. Não quero essa máscara de falsidade. Não quero essa coleira de Prometeu. Quero aquele desejo latente e juvenil de amor sem preceitos. Quero uma noite aonde poderíamos dormir abraçadinhos e no dia seguinte você estaria lá. Não minha querida. Você nunca vai se livrar de mim. Eu não quero me livrar de você. Só não chega perto porque doí.
“Eu...”
Eu a beijei. Chegue mais perto, cole esse momento em minha retina para sempre. Ouvi a respiração de espanto dos meus amigos, ouvi a moto passando lá na rua de casa, e ouvi a cama rangendo pela madrugada adentro. Senti sua boca de cachaça e lembrei do quanto ansiava por isso. Eu não vou desaparecer. Agora vou pensar que a vida que não tivemos pode vir a existir, em breve, esse beijo representa tudo. E eu quero tudo, eu quero as manhãs de domingo, quero os anos que não passaram ainda, quero os filhos que não tivemos e os cabelos brancos que estão por vir. Quero meu violão e sua voz. Quero sua boceta e o seu líbido. Quero essa noite. Quero você perto.
“Now it's three in the morning and you're eating alone
Oh the heart beats in its cage"
quarta-feira, julho 16, 2008
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Um comentário:
vc é completamente maluco.
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