Uma noite, inverno, rodei até a Paulista – plena época de festas – estava tudo decorado e mais do que preparado para comemorar mais um ano de sucessos em nossas vidas. Essa avenida marco é uma das mais altas da região central dessa cidade escorregadia, traiçoeira, culpa da chuva de falsidade constante que a cobre. Era madrugada, essa avenida tipicamente empilhada de relógios ambulantes estava de certa feita vazia, a pista molhada impedia que meus pneus dessem firmeza nos movimentos. Estava indo rumo a Pamplona, iria descer a ladeira até a Franca e ali iria encontrar os caras. Seria um encontro inusitado, há tempos cada um tinha tomado seu rumo. Mesmo assim, mesmo eminente a um encontro que me ansiou a semana toda, só conseguia pensar na minha garota, nada conseguia ficar entre eu e ela. Exceto talvez o fato que ela ainda não compartilhava da mesma visão de mundo que eu. Sempre que me dava conta que eu era o tolo apaixonado e ela ainda não tinha tido as bolas de arriscar uma vez na vida, era como se minhas rodas não me segurassem contra um caminhão vindo na via contrária. Era como estar indo para a direção da morte e nada. Por um instante, paz... segundos que precediam a queda. E depois era a sensação de ser uma bala sendo atirada de um revólver torto.
Eu não fui atropelado, a Pamplona chegava e eu via os noturnos se espalhando pelos botecos sem alma. Ela podia estar lá, alguém poderia ter armado em cima de nós, marcado um encontro surpresa. Apesar de ser foda encarar aqueles olhos nipônicos sem me entregar e jogar-me aos seus pés, se ela estivesse lá agiria como homem. Ela que teria que se arrastar por mim. Quando a noite cai, meu coração pesa feito chumbo e eu não vou deixar uma qualquer foder de vez com minha cabeça. A lua tá lá em cima e eu to cheirando pólvora, a qualquer momento ela puxa o gatilho e eu sou atirado. Ela pode nem estar lá. Apesar que seria a cara do Paulo aprontar uma dessas. Eu só queria pedalar até as festas de amanhã, o hoje me cansou, essa mesma música por toda a parte. Queria que tivesse um sol rachando na minha cabeça pelo menos eu não teria que pensar tanto no porque. Pamplona, descendo até minha mão tremer no guidão. O amor sempre vem acompanhado de assassinatos. Queria que minha mente desintegrasse por um minuto. Porra por que você não me fode como fode com ele?
Viro na Franca, ali estão todos, o Felipe, o Marcel, o Paulão e o Mutante. A Velha guarda. Nada da faca que me corta só com o olhar. Nessa hora senti um desejo incrível de descer a serra e me jogar no mar. Minha turma é foda. O Felipe é como um irmão, come feito um pedreiro, tem uma banda de metal e é o cara. O Marcel doido, aparece e desaparece mas é foda. Agora o Paulo que me preocupa ele que poderia ter armado o esquema e chamado a Ana, aquela japonesa me mataria se aparecesse por aqui. O Mutante é irmão de alma, sem mais palavras. Quem sou eu? Pouco importa, o que importa é o que deixa ela feliz. Só sinto dor que levo no peito sobre as rodas. O velho reduto, DJ Club, a máquina de pinball, aonde posso me enfiar e desaparecer até de manhã. O demônio veste um vestido azul e arrumou o cabelo num moicano charmoso, ela está ali, era como se eu fosse morrer. Queria abrir os olhos, e pra isso me basta um cachaça certeira. Quem sabe bebendo ela não desaparece?
terça-feira, julho 15, 2008
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