quinta-feira, julho 10, 2008

Em Busca do Eu - 14

Havia comprado uma colônia barata no mercadinho da praça, cabelo lavado e penteado para trás, barba feita, cheiro de homem limpo. A camisa social eu mesmo passara e vesti minha melhor calça. Toda a roupa havia sido presente do velho que achava indecente a maneira precária que minhas roupas estavam no momento em que me achou lá no posto. Em um mês havia juntado mais roupa do que em minha vida toda. Tinha camisas, roupas para trabalhar, calças, bermudas, chapéus. Acho que de certa forma o velho se sentia culpado por não me pagar um salário de verdade. Já me bastava dar abrigo e comida, me tratar de forma decente e não abusar de minha boa vontade. Porém para ele, faltava algo, que deve ter sido traduzido na forma em que me presenteava sem parar com roupas para as mais diversas situações. Mesmo que até então minha vida se resumia muito a uma noite informal na cidade e dias e dias de trabalho no campo, fora a sagrada missa de domingo.

Tinindo feito um centavo novo, fui a rua paralela a praça do centro da cidade. Marta havia me deixado o endereço e a referência certeira para que a fosse buscar as oito em ponto. Harmonicamente, bati a porta da residência da garota e fui atendido por um pai de poucas palavras, quieto e observador, parecia nada gostar de minha presença ali. Relutante, questionou minhas intenções e por fim negou que qualquer garota com aquele nome morasse ali. Diante a minha falta de tato em lidar com tal situação só consegui ficar quieto e bravamente buscar alguma saída. Salvo pelo gongo, pois a garota sorridente e radiante me surgiu na soleira da porta e se despediu do pai que me assassinava com os olhos. Marta não deixou margens para reações do pai. Me pegou pela mão e saiu caminhando rumo a praça novamente.

“O meu pai é assim mesmo, muito conservador e zela demais por mim.”. Fomos até a praça dialogando sobre o quão assustador o velho tinha me parecido e ela me contando aspectos de sua vida familiar, principalmente, depois que sua mãe faleceu e o pai entrou numa crise de falta de rumo, um alcoolismo bravo e finalmente um zelo desproporcional pela única filha. Pouco me fez muito sentido, me focava em aproveitar cada pedacinho daquela mãozinha delicada e macia que repousava em minhas mãos de peão. Fazia carícias milimétricas descobria seus calos, as juntas de seus ossos, enquanto acordava com os comentários ininterruptos. Quando chegamos na praça, fomos como se fosse o fato mais óbvio do mundo pro Cu do Padre, que nada mais era do que o antigo coreto, hoje abandonado aonde os jovens iam se pegar, a pouca iluminação a pequena fonte davam cobertura perfeita para jovens amantes. A simbologia vinha do fato de que esse pequeno jardim secreto ficava atrás da igreja. Conveniente. Não havíamos combinado nada além de um lanche, porém aquela ruivinha sabia muito bem que o prato principal seria ela e que se ela fosse tomar algo, não seria nada além de leite.

Satisfeito pelo sucesso mais fácil do que esperado, caminhei confiante ao seu lado, sem me preocupar com os olhares que iam descaradamente nos seguindo. Chegamos ao cu do padre, nos desviamos da fonte e logo sentamos nos degraus da construção abandonada. Ela sentou e continuo conversando a respeito de sua família, parte do jogo, ela tinha montado toda a posição das peças, me cabia dar o cheque-mate. “Eu sei porque viemos pra cá.”. Bastou eu encarar ela e falar isso, ela se calou abriu o sorriso esperado e eu ataquei. Beijei e me abundei daquele corpo sardento. Já explodia de tesão e pouco me lixava para a salvação ou para o caminho da paz que havia me sido oferecido, queria é comer aquela pequena a noite toda.

Continuamos num amasso incrível até que uma luz forte e invasora acabou com nossa magia. Duas bolas brancas, irradiavam luz diretamente sobre nós. Era um carro. De cima dele saiu dois sujeitos, o pai da menina com uma espingarda imensa nas mãos e o policial aposentado, que tinha fama de maluco. Logo a menina correu para longe da luz, feito vampiro correndo do sol e eu me vi sozinho. Dando um passo pro lado recebi a ordem clara de estatizar ou morrer. Do meu novo ângulo percebi mais duas figuras, o Seu Osvaldo e o padre da cidade. Todos me olhavam com o despreza do diabo. Me senti só feito o barbudo na cruz. Sem falar nada alguém que chegará por trás tapou minha cabeça com um saco preto e logo apaguei com umas porradas na cabeça.

Acordei no asfalto escaldante. Os fanfarrões davam risada e bebiam cerveja, a menina, doce Marta, chorava na caminhote. “Esse maldito acordou.”. Com a mira da espingarda sempre carregada do pai da moça, me botaram a marchar naquela estrada quente. “Tu vai é sair do país”. Não acreditava na real intenção deles, iam é me dar um tiro longe da cidade e voltar como heróis. A civilização vence o bárbaro que iria violar a nobre garota da aldeia. Sairia até no jornal local. Caminhei algum tempo e vi a primeira placa. Paraguai - 35 quilômetros. Aquele sol quente na cabeça, e os filhas da puta na caminhote atrás me fizeram mergulhar num mundo só meu. Pouco importava o cano flamejante que apontava pro meu rabo, ou a risada e a cerveja gelada que banhava os malditos logo atrás.

Que inferno de vida. Entrando nas regras a vida nos prende e tudo vira um mar sem onda. Quando nos debatemos o suficiente, mesmo o suficiente para uma pequena marola se formar, logo alguém se incomoda e da um jeito de te tirar da jogada. Sou uma carta fora do baralho mesmo. Um coringa que veio a mais e não é usado em nenhum jogo. Demorei. Já era quase entardecer quando me deparei com a assustadora placa da fronteira do Paraguai. Na guarita, os velhos da cidade devem ter dado algum suborno e comprado a ajuda dos homens da lei.

O golpe final ainda foi traiçoeiro demais, Seu Osvaldo, mandou que eu devolvesse os sapatos e o sinto de couro que havia lhe custado mais do que eu poderia imaginar. Humilhado e perdido atravessei aquela guarita e me coloquei a caminhar rumo ao desconhecido. Com a calça em mãos e o pé queimando feito pão na chapa. Ainda pude ouvir por muito tempo as risadas que ficaram para trás. Com a calça em mãos pra não cair e o pé escaldado nada me restou além de seguir a minha jornada pornográfica pro além do conhecido.

Um comentário:

Ana Carolina disse...

atualizaaaaaaa