quarta-feira, junho 13, 2007

Relógios Chineses.

3:30 AM refletidos no LCD do relógio vagabundo que comprei no centro, cinco reais, por dez eu levava três relógios, o que eu faria com tantos? Controlaria mais ainda o pouco tempo que tenho, e que teimo em gastar com nada? De modo algum. Me recuso a me lembrar tão constantemente o quão solitária tem sido essas noites. Algo fica me remoendo por dentro e eu não consigo pregar os olhos.

Olho pro relógio; 3:33 AM refletidos também na janela em frente ao relógio, amanhã preciso mudar isso. O fato de ter algo refletido em dois lugares me incomoda muito. Olho pro teto. Meus olhos parecem duas lentes capturando tudo e qualquer movimento, mesmo que nada mais importe muito.

Me levanto, sinto minhas costas doerem. Respiro com dificuldade e tento tatear no escuro em busca do lençol ensopado de suor que joguei longe, faz frio e já são 3:34 AM no meu relógio vagabundo, que de certo corre mais devagar do que os Rolex de ouro dos bem sucedidos. Não encontro meu lençol, e não quero levantar, e também não faz tanto frio assim.

Procuro algum livro na cômoda ao lado. Lispector e Artaud: aposto que esses dois passaram várias noites assim. Penso em mil coisas e não me concentro em nada. Sinto que não me contento com nada e saio correndo, mas quando percebo ainda estou na cama.

Me viro para o lado, busco o controle remoto e coloco para tocar o cd player. É ao vivo, não tenho muitos discos ao vivo. É Wilco, mais uma punhalada certeira no orgão central do sistema circulatório.

Desligo, faço sexo com garotas que não vou conhecer, tudo no fantástico mundo imaginário. Parece que tem vermes andando em mim, me sinto sujo, podre, decadente. Começo a tentar programar meu dia, e obviamente entro em desespero, vai ser a mesma merda que o dia anterior, talvez melhor do que será daqui dois dias.

De súbito me levanto puxando todo o ar do quarto para dentro dos meus pulmões, como se estivesse tomando o melhor pico de Cocaína no mundo. É agora, lágrimas escorrem do rosto e o peito sobe e desce como uma locomotiva, vieram me buscar e tudo acabou. Não, nada acabou, são 3:37 AM e desligo o som antes mesmo de chegar na minha parte preferida da música, aquela que diz que ela é tão mal compreendida.

Se ligar a TV, terei que me subordinar aqueles canais maravilhosos de leilão de gado, ou talvez as maravilhas científicas que pouco mudarão minha vida. Viro para a parede, começo a imaginar como seria tomar um tiro e cair no chão, ver tudo sair pelo buraco da bala, meus sonhos, minhas vontades, meus amores, meus ruídos e minha alma. Abro um pequeno sorriso. Imagino como seria se eu voasse.

Canso. Muito cansado, pouca vontade de continuar acordado, nenhuma vontade de dormir, vontade alguma de acordar. Logo, durmo.

Um comentário:

Anônimo disse...

ainda gostaria de falar sobre esse texto...

mas pensei: pq não atirar logo duma vez?