segunda-feira, agosto 27, 2007

Conto Pré-fabricado de Amor #37

"Sim, eu acredito em você." era tudo que o rapaz magro, na verdade quase esquelético, queria poder dizer. Tinha o cabelo preto como café e escorrido - mesmo sendo prova de ao menos ter sido lavado a aparência era de algo descuidado e sujo - as roupas não ajudavam nem um pouco, o suéter era demasiadamente sufocante para o dia quente e a calça era de um tamanho mal gosto que não acrescentava em nada ao visual quase patético do senhorito. Ele era a típica pessoa que seqüestra dois segundos de sua atenção, pelo visual bizarro, e depois some para nunca mais deixar registros para ti. O que mais lhe agradava era as manhãs de sábado que surgiam quase como um filme em preto e branco, o relógio barato apitando, a sua vista da típica avenida movimenta ainda deserta e o cheiro que vinha da padaria abaixo de seu apartamento. Gostava da forma que a simetria preenchia sua casa: um quadro deste lado resultava em um quadro do lado oposto - ele justificava: "é para não pesar de mais nenhum dos lados" - a quantidade de cadeiras era sempre proporcional e até dois fogões, duas televisões e pasmem duas camas ele tinha, o que infelizmente foi uma má escolha afinal ele percebeu que teria que dormir no chão para não estragar seu perfeita balança. Claro que por muitas vezes estragava sua perfeita harmonia se pegando desligado e reparando que nunca poderia estar em perfeita harmonia com sua mais perfeita obra de balanço.

"Arranja uma namorada." foi a solução que quase todos os davam, ele não tinha muitos amigos. Seu melhor amigo era um perfeito boa vida. Filho único e mimado de uma rica família da zona sul ele levava uma vida de vícios mundanos e era daqueles que adorava despejar desconhecimento da mesma maneira que uma máquina de Pinball continua a engolir moedas. Bola nove como era conhecido demorou quase 7 anos de convivência quase diária para ter a incrível idéia de apresentar sua prima, solitária prima que era bastante excluída da família por ter uma leve tendência ao ato de balancear tudo em perfeita harmonia, claro simetricamente. Foi em um momento de tamanho insight em que bola nove percebeu possuir a solução para o problema dos dois, apesar que foi uma luta interior quase desumana para praticar o bem e unir o casal perfeito.

Foi numa tarde de sábado, bola nove tinha os convidado para assistir o mais novo episodio de "Guerra Estrelares – O Mais Novo Começo, Recomeçado De Novo." o décimo sétimo da franquia. O rapaz vestia seu melhor suéter e tinha tentando por diversas vezes um novo penteado, porém acabou não mudando com medo de parecer descuidado em relação a si mesmo. Ela vestia timidamente um vestido que sua vó tinha feito, era com os restos do tecido que tinham usado para fazer as cortinas de um garoto completamente viciado em pássaros. Ela adorava o vestido azul turquesa com diversos passarinhos desenhados. Quando lhe perguntavam, ela só respondia "Gosto muito de pássaros.".

Foi amor a primeira vista, principalmente quando ambos fizeram questão de deixar Bola Nove no meio afinal, o equilíbrio foi mantido. Depois de quatros horas e meia de raio lasers, espaço naves e um momento constrangedor aonde o roliço amigo deles desaguou em lágrimas com a prisão de um dos terroristas intergaláticos por não entregar seus comparsas o filme acabou sobre palmas entusiasmadas de ambos que procuravam o olhar do outro em um claro ato de agradar mais a si mesmos do que qualquer outro. Ali eles se juntaram e nunca mais se separaram. Afinal, o grande pesar da vida deles que era não poder estar em simetria o tempo todo estava resolvido.

A garota dos pássaros amou o organizado e balanceado apartamento novo e se mudou na manhã seguinte para lá, eles dormiam cada em uma cama, ambos virados um para o outro assim podiam mandar beijos e desejar boa noite até adormecerem aos olhos zelosos do parceiro. Tomavam café da manhã cada qual ao seu lado. No início foi um pouco difícil acertarem a quantidade igual de comida, porém isso era detalhe em uma nova vida cheia de possibilidades. Era quase torturante passar o dia longe e no perfeito caos criado pela sociedade que não sabia agradecer a natureza pelo dom do equilíbrio. Chegavam em casa procuram o centro dela para darem um abraço caloroso e cheio de remorso pelo tempo que ficaram desesperadamente longe um do outro.

Certa manhã de sábado ele foi surpreendido por algo mais do que o seu relógio barato. Um toque quente lhe acordava, ele demorou a entender e percebeu que ela estava se deitando na sua cama, tudo que pode fazer foi dar um grito de total desespero o qual espantou a garota de volta para sua cama. Ela parecia um pequeno animal acuado perante a presa, ou pior parecia uma criança acuada perante aos pais sabendo que fez besteira. Ele levantou-se e logo voltou pra cama, desesperado para manter o equilíbrio na casa. Apontando o dedo para o até então grande amor da sua vida despejou o que era a frase mais temida e difícil de ser dita: "Você não respeitou meu amor, tudo que fiz por ti, tudo que construímos você destruiu. Nossa simetria não existe mais." lagrimas rolavam abaixo em seu rosto. Ela balbuciou "Eu juro que não era minha intenção."

"Sim, eu acredito em você." era tudo que o rapaz magro, na verdade quase esquelético, queria poder dizer. Mas não disse... nem isso... nem mais nada...

2 comentários:

Anônimo disse...

ficou ótimo
sempre se superando!
beijos

John disse...

oh minha querida moça, que ainda cruzará a America comigo. Valeu =) beijão.