Quando as festas terminam, começamos a nos deparar com os delicados e encantadores despojos: seja na fotografia digital, na quilometragem do carro que é um triste relógio impecável; no ar fica o aroma melancólico da comida feita com tanto amor, um banquete de cores, verde, marrom, branco, vermelho, laranja, batidos com temperos especialmente escolhidos, despejados em travessas para o deleite geral; símbolos como uma estrada de terra ou um por do sol, agora são desmesuradas recordações, sustentando-se com as garras fincadas em nosso mais profundo subconsciente, como uma árvore centenária. Acabou-se o festejar, desmanchou-se a fantasia, volta-se a realidade.
A cruel e dura realidade, desprovida de falsos alardes. Por detrás desta máscara que vestimos para aparentemente sermos, escondemos o verdadeiro e único desejo, que se oculta e se emaranha para nunca ser descoberto, um instinto tão bem escondido que apenas as festas permitem que sua força bruta quebre qualquer máscara que a reprime o ano todo.
Ao mesmo tempo que podemos afirmar que todos somos únicos e com isso formamos uma variedade imensa, isso tudo soa contraditório demais: o meu encanto é o seu maior defeito, e para outros é a indiferença batizada de "vejo o que quero". É quase embriagador saber que passamos tanto tempo nos contendo e que em uma plena época em que médicos e advogados são a trilha do sucesso existe ainda tanta vocação para sermos apenas bicho homem e que apenas trilharmos nosso próprio instinto.
Todavia, nem tudo é Carnaval, neste país governado por uma corja de bandidos e dito uma economia emergente, quem poderia imaginar que há tantos filhos da mesma ideologia, que existem sereias e hippies perdidos por aí. Que existem jovens que recebem a magia da fada madrinha e passam uma noite de príncipes e princesas no baile do reino do imaginário, porém essa mágica resulta, afinal, em algo muito mais caro: pois no conto de fadas o final é sempre feliz, aqui, o preço não é nem um pouco desprezível, pois dura somente poucas horas ou dias.
E são justamente esses jovens, oriundos de um país tão liberal - segundo dizem - que irão com coração imperial, sonhos profundamente lúcidos e muita vontade no peito, explodir e começar a maior trilha que alguém pode desejar estar, a que fica entre ele e ele mesmo. É o nosso sonho de grandeza, a nossa revolução pessoal, compensando, a exagerada valorização que damos aos méritos mesquinhos do dia a dia...
Mas, agora que a Festa passou, que vamos fazer com tanto sonho em terra aonde não se dorme?
Não podemos viver de ilusão, apesar de amarmos ela, não devemos esperar a próxima fiesta...
quinta-feira, novembro 22, 2007
Quando as festas terminam...
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