segunda-feira, outubro 01, 2007

Crepúsculo dos Deuses - Sunset Boulevard (1950)

Direção - Billy Wilder (Quanto Mais Quente Melhor, Se Meu Apartamento Falasse, Farrapo Humano, Pacto de Sangue, A Montanha dos Sete Abutres e A Primeira Página - todos maravilhosos)

“Eu sou grande, os filmes que ficaram menores.”

Um roteiro engenhoso, um escritor desconhecido se aproveita de uma decadente estrela do cinema mudo para ganhar algum dinheiro e assim salvar-se das dívidas que o perseguem. Nesse cenário conhecemos a estranha relação entre Joe Gillis e Norma Desmond que entram em uma trama que passeia deliberadamente pela decadente Hollywood. Não quero entregar toda a trama, que é pra lá de perfeita e merece ser vista com o menor prévio conhecimento. Mas posso falar de outros aspectos.

É muito complicado fazer arte, levando em consideração que é extremamente fácil ficar datado e perder a força. Uma idéia genial hoje pode ser algo extremamente fraco amanhã. As grandes obras que se tornam eternas tem algo em comum, elas retratam relações humanas; a relação de uma pessoa com um sonho, de duas pessoas, de uma pessoa e uma situação ou de uma pessoa com si mesma. Quando atingimos este delicado estado criamos algo digno do nome de obra de arte.

Aqui temos um trabalho único de cinema. A cena em que o macaco morto é enterrado ou ainda uma dos desfiles de alegorias que Norma nos entrega são cenas para ficar para história. Até hoje o script é um dos mais inovadores e continua assustadoramente atual, sendo copiado e citado inevitavelmente o tempo todo. O diretor é Billy Wilder, um dos mestres do cinema norte americano. A narração do protagonista é precisa e nos mantêm preso a história, exemplos não faltam, “Tropa de Elite” utiliza-se de uma narração que se não nasceu aqui, teve seus fundamentos sacramentados por esta obra. Sem desconsiderar o final mais aterrorizador que o cinema já nos presenteou.

Mas o que não deixa esse filme envelhecer é o fato que ele é de uma coragem única, ele desafiou de peito aberto uma censura que pairava sobre o cinema. Bateu de peito e mostrou o lado sujo e que poucos conheciam da terra dos sonhos. Recebeu 11 nomeações ao Oscar, porém só levou 3 estatuetas. Uma história muito mal explicada, aparentemente, a razão é a crítica pesada que o filme proferiu contra Hollywood.

Quanto ao estilo, já tive uma das melhores conversas de botequim a respeito. Muitos consideram o maior filme noir de todos os tempos. Eu não acredito que seja um filme noir por inteiro. Em alguns aspectos fica bem claro as influências: o expressionismo alemão nas cores preto e branco e a femme-fatale a beira de insanidade são dois fatos, porém não me são suficientes para definir um noir. Está mais para um drama psicológico regado com um pouco de terror (o final me causa arrepios) e algum toque bem maduro de humor negro.

Sem contar as atuações perfeitas de William Holden como nosso protagonista, Gloria Swanson como a mais assustadora personagem já criada e Erich von Stroheim como o mordomo - este que influenciou fortemente a mim como ator.

No mais, é um verdadeiro clássico e um dos melhores filmes da história do cinema que nunca irá perder seu efeito sobre a indústria cinematográfica. Citando dois exemplos: Beleza Americana e Cidade dos Sonhos são herdeiros diretos deste clássico.

Nota: 10/10

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