terça-feira, outubro 30, 2007

Até o Dia em que o Cão Morreu - Daniel Galera

A arte de escrever é a mais solitária de todas, talvez traçando paralelos com a pintura. Porém mesmo assim escrever é privar-se de tudo que o cerca e transcender em palavras a vida. Tarefa nada fácil em um mundo que se perde em valores e cada vez assisti sua própria identidade naufragar em meio a coletividade. Daniel Galera é um paulista que já mora em Porto Alegre a bastante tempo, escritor, três livros lançados, jovem e que consegue costurar essa delicada teia que é unir palavras e montar uma confortante rede para aparar a vertiginosa velocidade da queda.

Até o Dia em que o Cão Morreu é seu segundo livro e recentemente foi adaptado para o cinema em “Cão Sem Dono”. É uma ficção com toques pra lá de realistas. O protagonista é um jovem, formado, sem o menor estimulo para seguir os teoricamente próximos passos dados pela sociedade, achar um bom emprego, casar e ter filhos. Tudo isso passa bem longe da cabeça de nosso anti-herói e o que vemos é alguem sem animo de conhecer coisas novas ou sem a menor vontade de viver. O ponto de partida da história é o momento em que duas novas personagens entram na história: um vira-lata e uma modelo chamada Marcela. Agora vemos o conflito no protagonista a respeito de se envolver ou não com esse novo universo que se abre.

A identificação com a personagem principal é quase imediata, ele é um retrato fiel de uma geração inteira, talvez venha a ser calcado como um romance de formação no futuro, apesar que eu não entendo muito a respeito desses rótolos. Vemos claramente o adolescente que se acha adulto antes da hora e acima de tudo acredita ser capaz de fazer qualquer coisa, porém não se dá o trabalho de realizar nem os menores feitos. Desenvolvido de uma forma quase teatral, acabamos achando que a personagem é exagerada e tentamos fugir da identificação, porém só estamos diante de uma lupa que aumenta nossos próprios tormentos.

A escrita é bastante ágil o que nos proporciona uma leitura bastante fluída e rápida. Em certos momentos lembra com bastante louvor o grande Salinger em Apanhador no Campo de Centeio. Uma leitura pra lá de recomendada.

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