segunda-feira, outubro 29, 2007

XXY (2007)

Diretora – Lucía Puenzo (Não tenho informações sobre essa nova diretora argentina, vou pesquisar algo em breve.)

Uma visão tocante a respeito dos hermafroditas sem ser piegas. É sempre muito difícil lidar com certos tabus, existem temas que simplesmente não se fala. Seja por um inconsciente coletivo muito forte, ou por um certo medo do desconhecido, alguns assuntos são evitados e colocados no ostracismo sem o menor remorso. Apenas a idéia de mostrar de forma delicada as dificuldades enfrentadas por uma hermafrodita de 15 anos é louvável. Não só as dificuldades enfrentadas por ele(a) mas também os tormentos atravessados pelos pais. A indiferença causada pelo fato, o medo que as pessoas tem do diferente.

Forcei minha memória e sai em busca de filmes que tivessem tratado sobre hermafroditas, e o máximo que consegui foi lembrar que no filme do Fellini, “Satyricon” , existe um nu frontal, porém apenas com aspecto de chocar. Aqui não, neste filme argentino, temos o tema tratado de forma bastante humana. Não gostaria de ser tendencioso e colocar em pauta o fato que a diretora é uma mulher, porém, sim existe um delicado toque feminino na forma de abordar os dilemas.

O final é realmente belo e um amadurecimento incrível em termos de assumir a proposta do filme e levar ela até o final. Quando temas similares eram abordados em filmes, parecia que um final óbvio era reservado aos “diferentes”, que era em geral uma morte para conscientizar o público. Lúcia levou a proposta de forma muito mais madura e nos entregou um lindo desfecho. Grande filme.

Tratando de aspectos técnicos, a edição de som deixa bastante a desejar, como acontece muito nos nossos filmes, os hermanos não foram muito diferentes. Muitas vezes as vozes são encobertas pelo som ambiente. A localidade é a praia de Montevideu e conseqüentemente temos o som do mar, ou chuva, quase que o tempo todo nos cobrindo os diálogos. Sou descendente de espanhol e no geral não tenho dificuldades para compreensão, aqui fui pego muitas vezes tendo que usar as legendas. Não acredito que tenha sido opção da diretora, para criar um ar mais casual e sim uma falta técnica que nos sul americanos ainda temos em relação ao tratamento do som em nossos filmes.

Também devo ressaltar que algumas cenas são compridas demais, lembrando até Bergman em algumas passagens de mostrar a personagem de perfil por minutos a fio sem nenhuma palavra. O mestre fazia isso com maestria e climatizava toda questão, aqui achei um tanto quanto forçado e sem necessidade.

No demais vale falar que são apenas duas faltas pra lá de minímas perante a grande qualidade do filme. Com belas atuações e um ótimo roteiro. Foi uma das melhores surpresas da Mostra até o momento.

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