Direção: Marcos Prado (Produtor de Ônibus 174 e Tropa de Elite)
Mesmo sendo um documentário de 2004, é eterno, Estamira está em todo lugar.
A primeira impressão que temos ao começar a assistir esse documentário é de estarmos diante um fotografia soberba; o cineasta captura alguns momentos de um cotidiano diferente, em tomadas mais do que bem feitas.
Primeira porrada é a loucura aparente de Estamira: ela começa a despejar alguns conceitos que fazem agente ficar de queixo caído, tudo é extremamente fora do comum e muitas vezes irracional, só podemos levar a crer que se trata de uma mulher fora de sanidade; talvez seja uma justificativa, o tempo que ela passa em meio a tanto lixo tenha levado-a a este estado. Porém o documentário vai se desenvolvendo e as palavras vão ecoando de forma impressionante com vários cenários. A rampa, um aterro de lixo no Rio de Janeiro, nos leva a profundas reflexões a respeito da falta de consciência que a humanidade tem a respeito do próprio lixo. Estuprando a Terra e consumindo todos os seus recursos como se não houvesse o amanhã.
Mesmo em um ambiente tão desumano e sem a menor condição aparente de vida vários gestos de compaixão e fraternidade são mostrados. E as palavras muitas vezes incoerentes de Estamira começam a fazer um assustador sentido, considerando todo o plano de fundo que vem sendo proposto. De fato ela é doente, algum problema mental. Suas alucinações variam entre coisas místicas como o fato de acreditar ser uma feiticeira até o ódio profundo que sente pelo catolicismo. Ela de fato jura possuir poderes superiores, e mesmo sentindo fortes dores culpa a um “controle remoto”.
Então mudamos um pouco o foco e começamos a conhecer a história pessoal de nossa protagonista, sua filha, seu filho (um fanático religioso), sua filha perdida, o abandono de seu marido, os estupros e o quanto ela sofreu, o quanto ela se frustrou com suas crenças. Sua loucura começa a ser coerente e a cada vez mais tocar-nos de forma profunda. Entendemos a mistura de pensamentos e memórias que existe na cabeça dela.
Apesar de tudo isso ainda vemos uma mulher feliz e satisfeita. Provavelmente é uma ilusão, mas sua vida é colorida, e o cineasta teve uma sacada genial ao usar o preto e branco e o colorido para diferenciar momentos pessoais de momentos mais amplos.
Então começamos a pensar: ela está em uma realidade tão depressiva e sem futuro (comparada a nossa), e tudo o que ela fala sobre a vida, o futuro, a política, a religião, suas crenças e perspectivas... pensamentos de uma mente doente, fazem muito sentido para nós. Chega a ser até revelador. Provavelmente o mundo é louco, e no início Estamira afirma: "A minha missão, além de ser a Estamira, é mostrar a verdade e capturar a mentira". Estamos todos vivendo em um caos e Estamira, que está vendo tudo de fora do sistema econômico, está alertando a todos.
Ou mais triste ainda, estamos todos tão perdidinhos em nossa patética vida vazia e padrão, que aceitamos acreditar em qualquer um que diga que pode nos salvar.
Nota: 10/10
sexta-feira, setembro 28, 2007
Estamira (2004)
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Um comentário:
sou louca pra ver esse filme!
ele passou aqui mas eu nem pude ir... :(
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