São socos no estômago, é disso que se trata a vida, socos e mais socos no estômago. estou deprimido, e a cabeça estourando de uma ressaca. lá estava ela, como sempre, ela. falava de tudo, de planos para o futuro, de quando era uma garota, falava de uma vida inteiramente dela. descansávamos sob o luar tímido da cidade. essa putinha meche comigo. eu não a vi por quase um mês, e agora estava deitada na espreguiçadeira, como se fosse seu melhor amigo. ignorante de meus sentimentos, honesta até a alma. honesta com a porra dos ideais. seus cabelos se esparramavam como uma lata de tinta derrubada. ficamos ali, ela forçava a situação e encarava o meu falso desdém. tentei manter a fantasia de homem de madeira, sem sentimento algum, oco. não durou muito, minha patética situação de apaixonado me entregava ao primeiro olhar. com ela por perto, tornava-me um estranho dentro de mim, era como se todas aquelas noites guiando minha bicicleta, com as estrelas escondidas na espessa camada de poluição, era como se tudo aquilo fosse de um tempo que não vai mais voltar. ela era tão honesta que fiquei com nojo de mim mesmo, nem sequer podia enfrentar seus olhos cálidos. não a beijei. o grande espanhol, conquistador e cheio de si, murcho só se deixava postar feito mera estátua acompanhante. e agora? aonde está o desejo? e a paixão? preciso manter meu nível. eu me sentia miserável, toda a merda de sentimento dentro de mim não passava de palha. ela podia estar do lado de um presunto frio que pouca diferença faria. o nojo, o terror e a humilhação me queimavam. enfiei meu rosto entre as pernas com vergonha. ela falava de seu amor. alguém tão distante que me evaporava ao seu lado. brutalidade. no final só resta pó mesmo. mas esperem só, tão certo como existe um Deus no céu, alguma hora vai se erguer um homem desse pó.
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