acordei agora, sujo de suor e dos outros, acordado, com olheiras, angústia no peito. tive um sonho estranho pra cacete. eu não sei o que foi, mas ficou tudo entalado na garganta. e é sempre assim, insônia fodida, quando prego os olhos, os fantasmas. eu já nem sei direito quem eu sou. sei que faço tudo errado. na verdade é até melhor não saber bem quem eu sou. a casa tá vazia, a noite foi horrível, pinguei de bar em bar, joguei bilhar com os vagabundos e sai com a Bela. estava tudo bom, até baixar o demônio no meu corpo. eu via aquela vagabunda se esfregando em mim, e sentia o seu cheiro, a sua cor. eu só queria você o tempo inteiro, a noite inteira, e me via na cama com essa puta. comecei o dia bem do seu lado, mas meu orgulho não me deixou pedir desculpas, acabei longe e arrependido, com essa angústia de cão esmagando a porra da alma. foi como se botasse tudo que amo, tudo que resta de bom em um processador de alimentos. depois do terceiro conhaque, eu disse pra todos que te amava. eu vi a Bela depois da primeira garrafa, ela tinha o seu cheiro, a sua cor. mas faltava algo. não tinha a sua dor. e em mim faltava tudo, não tinha o seu amor. meu coração descarrilhou, meu fígado fisgou, uma puta dor que me acompanha a anos. ela continuava a se esfregar, arrancava minha calça e metia a boca com voracidade, eu só queria dizer pra você que não é o que eu quero. estou sujo da rua e dela, só queria um beijo de boa noite, mesmo que seja dia já. o ser humano pode ser vil, doentio e cruel. acertei dois belos socos na cara de Bela, depois, com medo, esmaguei a cabeça dela contra a parede. desapego total. a única coisa que você me deixou foi o desapego. mesmo sabendo que essa minha doença de te querer faz mal, que não existe a mais ínfima chance de qualquer coisa acontecer novamente, isso não devia ser amor. o amor não pode fazer sangrar, nem matar. agora estou aqui sujo. no auge da paixão, escrevi num guardanapo de boteco que eu não sou eu, sou reflexo do que tu deseja. pelo visto nem isso sou. você me consumiu, jogou fora, e agora eu busco continuar esgotado. o amor romântico tá morto, tudo morreu. eu quase morri, sobrou sei lá o que. eu quero paz, e matar a puta me deu paz. mesmo me deixando sujo. sujo da rua e dos outros. me deixa dormir.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário