Segue a primeira parte dessa puta poesia do caralho.
Eu vi os expoentes da minha geração, destruídos pela
loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
arrastando-se pelas ruas do bairro negro de madrugada
em busca de uma dose violenta de qualquer coisa,
hipsters com cabeça de anjo ansiando pelo antigo
contato celestial com o dínamo estrelado da
maquinaria da noite,
que pobres esfarrapados e olheiras fundas, viajaram
fumando sentados na sobrenatural escuridão dos
miseráveis apartamentos sem água quente, flutuando
sobre os tetos das cidades contemplando o jazz,
que desnudaram seus cérebros ao céu sob o Elevado
e viram anjos maometanos cambaleando iluminados
nos telhados das casas de cômodos,
que passaram por universidades com olhos frios e
radiantes alucinando Arkansas e tragédias à luz
de Blake entre os estudiosos da guerra,
que foram expulsos das universidades por serem loucos
& publicarem odes obscenas nas janelas do crânio,
que se refugiaram em quartos de paredes pintura
descascada em roupa de baixo queimando seu
dinheiro em cestos de papel escutando o Terror
através da parede,
que foram detidos em suas barbas púbicas voltando
por Laredo com um cinturão de marihuana para
Nova Iorque,
Que comeram fogo em hotéis mal pintados ou
Beberam terebentina em Paradise Alley, morreram ou
Flagelaram seus torsos noite após noite com
Som sonhos, com drogas, com pesadelos na vigília,
Álcool e caralhos em intermináveis orgias,
Incomparáveis ruas cegas sem saída de nuvem trêmula,
E clarão na mente pulando nos postes dos pólos de
Canadá & Paterson, iluminando completamente o
Mundo imóvel do Tempo intermediário,
solidez de Peite dos corredores, aurora de fundo de
quintal das verdes árvores do cemitério, porre de vinho
nos telhados, fachadas de lojas de subúrbio
na luz cintilante de neon do tráfego na
corrida de cabeça feita do pazer, vibrações de
sol e lua e árvore no tronco de crepúsculo de
inverno de Brooklyn, declamações entre latas
de lixo e a suave soberana luz da mente,
que se acorrentaram aos vagões do metrô para o
infindável percurso do Battery ao sagrado Bronx
de benzedrina até que o barulho das rodas e
crianças os trouxesse de volta, trêmulos, a boca
arrebentada o despovoado deserto do cérebro
esvaziado de qualquer brilho na lúgubre luz do
Zoológico, que afundaram a noite toda na luz submarina
de Bickford´s, voltaram à tona e passaram a tarde
de cerveja choca no desolado Fuggazi´s escutando
o matraquear da catástrofe na vitrola
automática de hidrogênio,
que falaram setenta e duas horas sem parar do
parque ao apê ao bar ao Hospital Bellevue ao
Museu à Ponte do Brooklyn,
Batalhão perdido de debatedores platônicos saltando
Dos gradis das escadas de emergência dos parapeitos
Das janelas do Empire State da Lua,
Tagarelando, berrando, vomitando, sussurrando fatos
E lembranças e anedotas e viagens visuais e choques
Nos hospitais e prisões e guerras,
Intelectos inteiros regurgitados em recordação total
Com os olhos brilhando por sete dias e noites,
Carne para a sinagoga jogada à rua,
Que desapareceram no Zen de Nova Jersey de
lugar algum deixando um rastro de postais ambíguos
do Centro Cívico de Atlantic City,
sofrendo suores orientais, pulverizações tangerianas
de ossos e enxaquecas da China por causa da
falta da droga no quarto pobremente mobiliado de Newark,
que deram voltas e voltas à meia noite no pátio da
ferrovia perguntando-se aonde ir e foram, sem
deixar corações partidos,
que acenderam cigarros em vagões de carga, vagões
de carga, vagões de carga, que rumavam ruidosamente
pela neve até solitárias fazendas dentro da noite do avô,
que estudaram Plotino, Poe, São João da Cruz, telepatia
e bop-cabala pois o Cosmos instintivamente
vibrava a seus pés em Kansas,
que passaram solitários pelas ruas de Idaho procurando
anjos índios e visionários que eram anjos índios e visionários
que só acharam que estavam loucos quando Baltimore
apareceu em estase sobrenatural,
que pularam em limusines com o chinês de Oklahoma
no impulso da chuva de inverno na luz das ruas
da cidade pequena à meia-noite,
que vaguearam famintos e sós por Huston procurando
jazz ou sexo ou rango e seguiram o espanhol
brilhante para conversar sobre a América e a Eternidade,
inútil tarefa, e assim embarcaram
num navio para a África,
que desapareceram nos vulcões do México
nada deixando além da sombra das suas calças
rancheiras e a lava e a cinza da poesia espalhadas
pela lareira Chicago,
que reapareceram na Costa Oeste investigando o FBI
de barba e bermudas com grandes olhos pacifistas
e sensuais nas suas peles morenas, distribuindo
folhetos ininteligíveis,
que apagaram cigarros acesos nos seus braços
protestando contra o nevoeiro narcótico de
tabaco do Capitalismo,
que distribuiram panfletos supercomunistas em Union
Square, chorando e despindo-se enquanto as
Sinrenes de Los Alamos os afugentavam gemendo
mais alto que eles e gemiam pela Wall Street e
também gemia a balsa de Staten Island
que caíram em prantos em brancos ginásios desportivos,
nus e trêmulos diante da maquinaria de outros esqueletos,
que morderam policiais no pescoço e berraram de
prazer nos carros de presos por não terem cometido
outro crime a não ser sua transação pederástica e tóxica,
que uivaram de joelhos no metrô e foram arrancados do
telhado sacudindo genitais e manuscritos,
que se deixaram foder no rabo por motociclistas
santificados e berraram de prazer,
que enrabaram e foram enrabados por esses serafins
humanos, os marinheiros, carícias de amor
atlântico e caribeano,
que transaram pela manhã e ao cair da tarde em
roseirais, na grama de jardins públicos e cemitérios,
espalhando livremente seu sêmen para
quem quisesse vir,
que soluçaram interminavelmente tentando gargalhar
mas acabaram choramingando atrás de um tabique
de banho turco onde o anjo loiro e nu veio
trespassá-los com sua espada,
que perderam seus garotos amados para as três
megeras do destino, a megera caolha do dólar heterossexual, megera caolha que pisca de
dentro do ventre e a megera caolha que só sabe
sentar sobre sua bunda retalhando os dourados
fios intelectuais do tear do artesão,
que copularam em êxtase insaciável com um garrafa
de cerveja, uma namorada, um maço de cigarros, uma
vela, e caíram na cama e continuaram
pelo assoalho e pelo corredor e terminaram
desmaiando contra a parede com uma visão da
boceta final e acabaram sufocando o derradeiro lampejo da
consciência,
que adoçaram as trepadas de um milhão de garotas
trêmulas ao anoitecer, acordaram de olhos vermelhos
no dia seguinte mesmo assim prontos
para adoçar trepadas na aurora, bundas luminosas
nos celeiros e nus no lago,
que foram transar em Colorado num miríade de
carros roubados à noite, N.C., herói secreto destes
poemas, garanhão e Adônis de Denver – prazer
ao lembrar suas incontáveis trepadas com garotas
em terrenos baldios & pátios dos fundos de
restaurantes de beira de estrada, raquíticas fileiras
de poltronas de cinema, picos de montanha
cavernas com esquálidas garçonetes no
familiar levantar de saias solitário à beira da
estrada & especialmente secretos solipsismos de
mictórios de postos de gasolina & becos da cidade
natal também,
que se apagaram em longos filmes sórdidos, foram
transportados em sonho, acordaram num
Manhattan súbito e conseguiram voltar com uma
Impiedosa ressaca de adegas de Tokay e horror
Dos sonhos de ferro da Terceira Avenida &
Cambalearam até as agências de desemprego,
Que caminharam a noite toda com os sapatos cheios
De sangue pelo cais coberto por montões de
Neve, esperando que uma porta se abrisse no
East River dando para um quarto cheio de vapor e ópio,
Que criaram grandes dramas suicidas nos penhascos
De apartamentos do Huston à luz azul de holoforte
Antiaéreo da luta & suas cabeças receberão
Coroas de louro no esquecimento,
Que comeram o ensopado de cordeiro da imaginação
Ou digeriram o caranguejo do fundo lodoso dos
Rios de Bovery,
Que choraram diante do romance das ruas com seus
Carrinhos de mão cheios de cebola e péssima música,
Que ficaram sentados em caixotes respirando a
escuridão sob a ponte e ergueram-se para construir
clavicórdios em seus sótãos,
que tossiram num sexto andar do Harlem coroando de
chamas sob um céu tuberculoso rodeados pelos
caixotes de laranja da teologia,
que rabiscaram a noite toda deitando e rolando sobre
invocações sublimes que ao amanhecer amarelado
revelaram-se versos de tagarelice sem sentido,
que cozinharam animais apodrecidos, pulmão coração
pé rabo borsht & tortilhas sonhando com
o puro reino vegetal,
que se atiraram sob caminhões de carne
em busca de um ovo,
que jogaram seus relógios do telhado fazendo seu
lance de aposta pela Eternidade fora do Tempo
& despertadores caíram em suas cabeças por
Todos os dias da década seguinte,
Que cortaram seus pulsos sem resultado três vezes
Seguidas, desistiram e foram obrigados a abrir
Lojas de antiguidades onde acharam que estavam
Ficando velhos e choraram,
Que foram queimados vivos em seus inocentes
ternos de flanela em Madison Avenue no meio das
rajadas de versos de chumbo & o estrondo contido
dos batalhões de ferro da moda & os guinchos
de nitroglicerina das bichas da propaganda &
o gás mostarda de sinistros editores inteligentes
ou foram atropelados pelos taxis bêbados
da Realidade Absoluta,
que se jogaram da ponte de Brooklyn, isso realmente
aconteceu, e partiram esquecidos e desconhecidos
para dentro da espectral confusão das ruelas
de sopa & carros de bombeiros de Chinatown,
nem uma cerveja de graça,
que cantaram desesperados nas janelas, jogaram-se
da janela do metrô saltaram no imundo rio
Paissac, pularam nos braços dos negros, choraram
Pela rua afora, dançaram sobre garrafas
Quebradas de vinho descalços arrebentando
Nostálgicos discos de jazz europeu dos anos 30
Na Alemanha, terminaram o whisky e vomitaram
Gemendo no toalete sangrento, lamentações nos
Ouvidos e o sopro de colossais apitos a vapor,
Que mandaram brasa pelas rodovias do passado
Viajando pela solidão da vigília da cadeia de
Gólgota de carro envenenado de cada um ou então
A encarnação do Jazz de Birmingham,
Que guiaram atravessando o país durante setenta e duas
Horas para saber se eu tinha tido uma visão ao se ele tinha
Tido uma visão para descobrir a Eternidade,
Que viajaram para Denver, que morreram em Denver,
Que retornaram a Denver & esperaram em vão,
Que espreitaram Denver & ficaram parados pensando
& solitários em Denver e finalmente partiram
para descobrir o Tempo & agora Denver está
saudosa de seus heróis,
que caíram de joelhos em catedrais sem esperança
rezando por sua salvação e luz e peito até que a
alma iluminasse seu cabelo por um segundo,
que se arrebentassem nas suas mentes na prisão
aguardando impossíveis criminosos de cabeça
dourada e o encanto da realidade em seus corações
que entoavam suaves blues de Alcatraz,
que se recolheram ao México para cultivar um
vício ou às Montanhas Rochosas para o suave
Buda ou Tânger para os garotos do Pacífico Sul
para a locomotiva negra ou Havard para Narciso
para o cemitério de Woodlaw para a coroa
de flores para o túmulo,
que exigiram exames de sanidade mental acusando
o rádio de hipnotismo & foram deixados com sua
loucura & e mãos & um júri suspeito,
que jogaram salada de batata em conferencistas da
Universidade de Nova Iorque sobre Dadaísmo
e em seguida se apresentaram nos degraus de
granito do manicômio com cabeças raspadas e [
fala de arlequim dobre suicídio, exigindo
lobotomia imediata,
e que em lugar disso receberam o vazio concreto da
insulina metrazol choque elétrico hidroterapia
psicoterapia terapia ocupacional pingue-pongue
& amnésia,
Que num protesto sem humor viraram apenas uma
Mesa simbólica de pingue-pongue mergulhando
logo a seguir na catatonia,
Voltando anos depois, realmente calvos exceto por
Uma peruca de sangue e lágrimas e dedos
Para a visível condenação de louco nas celas da
Cidades-manicômio do Leste,
Pilgrim State, Rockland, Greystone, seus corredores
Fétidos, brigando com os ecos da alma, agitando-se
E rolando e balançando no banco de solidão à
Meia-noite dos domínios de mausoléu
Druídico do amor, o sonho da vida um
pesadelo , corpos transformados em pedras
tão pesadas quanto a lua,
com a mãe finalmente ***** e o último livro
fantástico atirado pela janela do cortiço e a última
porta fechada às 4 da madrugada e o último
telefone arremessado contra a parede em
resposta e o último quarto mobiliado esvaziado até
a última peça de mobília mental, uma rosa de papel
amarelo retorcida num cabide de arame do armário
e até mesmo isso imaginário, nada mais
que um bocadinho esperançoso de alucinação –
ah, Carl, enquanto você não estiver a salvo eu não
estarei a salvo e agora você está inteiramente
mergulhado no caldo animal total do tempo –
e que por isso correram pelas ruas geladas obcecadas
por um súbito clarão da alquimia do uso da elipse
do catálogo do metro inviável & do plano vibratório,
que sonharam e abriram brechas encarnadas no
Tempo & Espaço através de imagens justapostas
E capturaram o arcanjo da alma entre 2 imagens
Visuais e reuniram os verbos elementares e
Juntaram o substantivo e o choque da consciência
Saltando numa sensação de Pater Omnipotens
Aeterne Deus,
Para recriar a sintaxe e a medida da pobre prosa
Humana e ficaram parados à sua frente, mudos e
Inteligentes e trêmulos de vergonha, rejeitados
Todavia expondo a alma para conformar-se ao
Ritmo do pensamento em sua cabeça nua e infinita,
O vagabundo louco e Beat angelical no Tempo,
Desconhecido mas mesmo assim deixando aqui
o que houver para ser dito no tempo após a morte,
e se reergueram reencarnados na roupagem
fantasmagórica do jazz no espectro de trompa
dourada da banda musical e fizeram soar o
sofrimento da mente nua da América pelo
amor num grito de saxofone de eli eli lama lama
sabactani que fez com que as cidades tremessem
até seu último rádio,
com o coração absoluto do poema da vida arrancado
de seus corpos bom para comer por mais mil anos
segunda-feira, março 31, 2008
Allen Ginsberg e o Uivol
quinta-feira, março 27, 2008
Em Busca do Eu - 7
Aonde está aquele velho inútil? Já devia ter subido pra cá e deixado comida e suprimentos básicos a mais de quatro dias. Se ninguém vier até essa inferno, vou acabar morto por aqui. Não tem como descer isso tudo a pé. Morreria no meio do caminho. Devo estar ficando maluco. Não tenho mais a noção da hora, deve ter passado do meio dia, mas não sei ao certo. Minha barriga ronca de fome, e tive que entrar em um racionamento forçado.
Esse vento que teima em assoviar por entre as encostas das montanhas sempre me trás o presságio que o velho safado se lembrou que existo. Minha diversão tem sido imitar animais. Tem dias que quase me convenço que sou um tigre ou um gorila. Pulo pela casa, ocupo o tempo, evito os fantasmas que teimam me assombrar. Eu e essa minha música imaginária. Esse ruído rudimentar de engrenagem desgastada de uso. Parece uma máquina engasgada com seu sangue. Sou um gorila, e enfrento esse frio de peito aberto. Arranquei toda a roupa e me posto na porta de casa, controlo minha respiração em busca da irracionalidade tão desejada. O barulho mecânico aumenta.
Posso quase não sentir nada. Apenas o frio, meu corpo, meu apoios com a terra, minha postura desconstruída em favor da condição verdadeiramente animal. Desconsidero sonhos de grandeza, sonhos de um tempo melhor. Sou apenas eu e a natureza. Meu estado primal e irracional de sobreviver custe o que custar. Seguro, como se fosse minha mais preciosa arma, um pedaço de madeira que separei para me defender deles.
Sinto meu pé já enterrado na neve, quase não o sinto na verdade, isso que me desperta a sensação de existência deles. Maldição, a racionalidade volta a me assombrar. Um sol surge na encosta da pedra, brilhante feito um demônio sedento por sangue. Outro sol surge em seguida, se aproximam de mim. O tilintar das maquinas me assombra mais, seguro como se agarrasse a vida por um fio em meu pedaço de pau.
Um enorme demônio de metal surge por detrás das pedras e desses astros brilhantes que me recuso a crer serem tão magníficos como o sol. O bicho metálico destroça minha neve e engole tudo se aproximando a um ponto de quase sufoco de meu bicho-homem. Seguro mais forte no pedaço de pau, sinto fissuras abrirem na palma da mão e o sangue escorrer. Finco o pé, ou o que creio ser meu pé com mais afinco na terra e meu olhar de bicho predador fixa-se nesse Lúcifer pós moderno. O demônio para a cerca de dois metros de distância. Meu bote está preparado. Ele abre sues braços imensos.
Por um lapso de ação vejo pequenos seres saindo de dentro do demônio. Outra estrela surge apontando pra minha cara, mordo o lábio e solto com ferocidade no ser da esquerda. Toco de madeira em mão acerto sua cabeça com desejo de morte. Primam em mim a força de matar esse invasor de meu espaço. Já caio sobre esta presa e a ataco com seguidos golpes na cabeça. Sinto o choque frio da borracha semi congelada me acertar no lombo, me viro e vejo pessoas me acertando com força golpes com cacetetes. A dor aguda no corpo me desperta desse sonho bizarro, são guardas e um jipe da patrulha Andina que vieram até cá. Tento falar algo, tento grunhir palavras, mas nada me vem em mente, devo estar chorando, a dor é demais, ao cair pra trás vejo o corpo do velho safado estirado, a neve vermelha de sangue.
A visão mesmo turva me revela a minha casa escancarada, porta aberta, folhas voando, fogo aceso, minhas roupas formam borrões coloridos por toda a imensidão branca. Um brilho do assoalho marrom a beira da porta da minha casa me dá a impressão de visualizar a siringa que antes me trazia tanto alivio. Devo estar tendo alucinações de dor, o turvo dando lugar ao negro.
O silêncio exceto pela melodia da música invisível em minha cabeça. “Death on two legs / You’re tearing me apart”. Por fim o silêncio que só a inexistência nos proporciona.
Acordo ensopado em suor, sentindo a pedra fria contra minhas costas, o lençol fino, as paredes de concreto frio e sem sentimento. E visão das grades me separando do mundo trazem de imediato o impacto das lembranças, da cabana no Andes, do velho safado estirado na neve, do meu pedaço de pau assassino. Da siringa salvadora na veia. E de trás dessa jaula, só consigo respirar e recordar o que vivi até agora.
quarta-feira, março 26, 2008
TV On The Radio.
Apresentação ao vivo dessa banda fantástica. Como pode esses caras não terem um reconhecimento maior?
Eu?
A Humanidade Não Tolera Muita a Realidade. É isso é fato, disfarça como pode o que tem em volta. E eu apenas me vejo como um grande sonho lúcido por vezes. Uma quase fusão do real com o imaginário. Vivendo como posso meu egoísmo platônico a dois. Por ventura, acabo sendo um grande Fiasco. Daqueles de proporções épicas. Fisco dentro do molde quadrado e antiquado da visão de meu pai.
Trago da minha infância o que há de melhor: "Quando somos crianças, somos um pouco de cada coisa. Artista, cientista, atleta, erudito. Às vezes parece que crescer é desistir destas coisas, uma a uma. Todos nos arrependemos por coisas das quais desistimos. Algo de que sentimos falta. De que desistimos por sermos muito preguiçosos, ou por não conseguirmos nos sobressair, ou por termos medo". já dizia Kevin Arnold.
Chegando a uma tentativa mais soturna, Márcio Araújo explora melhor o equilíbrio delicado na beira do abismo: "Tenho clareza que somos uma das tentativas da vida. Não mais do que isso. Uma tentativa fazendo escolhas. Me entristece e quase enlouquece pensar que posso ser uma tentativa que fracasse. Ou que já fracassou." E finalmente chegamos ao meu grande mestre, o sabedor da alma humana: "Em um mundo de tantos solitários, seria imperdoavelmente egoísta ser solitário sozinho." Tennessee Williams. E felizmente a minha felicidade é bastante real, e principalmente compartilhada. E como diria Lester Bangs: "the only true currency in this banrkupt world is what you share with someone else when you're uncool".
E eu, definitivamente não sou um cara legal. Isso tenho certeza, porém, dentro da minha tosca realidade, sei dividir o que tenho de bom com quem se entrega a esse jogo de batalha naval com nossas almas. Essas mesmas almas que são dilaceradas pela vida dia após dia. Essa mesma alma que a arte teima em me lembrar que possuo uma. Quem quer me conhecer, precisa de fato é conhecer o meu tripé:
A minha Raposa;
O meu Teatro;
A minha Banda.
Se a sociedade definiu o que é sucesso e o que é ser legal... me dou por feliz por ser o maior fiasco, e o cara mais chato da terra. Não faço parte disso aí não.
.
.
.
Se eu não muito me engano, acabei de escrever uma linha inútil!
"- Eu odeio pessoas, você não?
- Não. Só quando elas estão perto de mim"
terça-feira, março 25, 2008
Em Busca do Eu - 6
“All your dreams are over now
And all your wings have fallen down”
A distorção abafada, a batida deficiente, o clima catastrófico do CD do TV On The Radio arrancava os falantes do lugar e botavam o quarto do motel abaixo. A luz amarelada e velha dava um tom decadente ao lugar, muito mais simples que nosso quarto anterior, esse se resumia a cama, uma pequena mesinha, o banheiro básico. Nem banheira esse aqui tinha, e o que mais nos animou. Um belo aparelho de som, certo que antigo e que necessitou de muita paciência para funcionar, mas agora as caixas saltavam ferozmente contra a recepção que ficava logo abaixo.
Estava deitado na cama, sem camisa, sem calça, apenas usando minha cueca preta. as pernas pendiam pela beirada e me concentrava unicamente no suor que escorria de minha testa e percorria seu longo caminho rumo ao lençol encardido. De onde estava apenas podia ver o reflexo do rosto de Julia no espelho do banheiro. Ela acabara de lavar o rosto e prendia o cabelo, estava semi nua também, e só lhe restava a calcinha. Seu corpo de moleca tinha mais curvas do que minha devassidão permitiu sonhar.
Recapitulei os últimos vinte minutos, nosso beijo na padaria, o quase sermos atropelados ao atravessar avenida feito dois bichos do mato, as risadas alcoolizadas, o dono da padaria correndo atrás da conta, a recepcionista do motel nos dando a chave do quarto, o peso dela sobre o meu, os beijos jogados em seu rosto, seu pescoço, o seu cabelo cobrindo minha face, minha mão aproveitando de cada parte daquele corpo inocentemente cheio de pecado, as roupas que voaram quarto a fora e finalmente o súbito parar. Batidas na porta, um outro casal sedento por sexo que confundira o quarto. Nessa pausa não programada notamos o aparelho de som, botamos pra funcionar um CD típico da geração notebook, que compila suas músicas preferidas como se faziam com as fitas. Nesse caso, o disco eu tinha preparado para presentear minha ex namorada, adiei o dia de entrega-lo até que se esqueceu em minha gaveta, e agora está aqui, perdido no mundo comigo.
Ela volta, graciosa, um balanço magistral no corpo, um sorriso sapeca e uma fome de amor nos olhos. Se deita ao meu lado, damos um jeito de acomodar a barriga entre nós e a beijo cheio desejo novamente, sentindo o tesão crescer com as músicas que se sucedem.
Sussurros narram nossa transa, o instinto é algo magnífico, me levou mais dentro daquela garota do que qualquer outro ousou estar. Logo no começo meus dedos a deixaram tão escorregadia que não teve moralidade que segurasse qualquer ato. Ela gritava e agia feito uma profissional, pensei nas bonecas que a desvirtuaram do caminho, e lhe ensinaram os segredos dessa vida.
Sei que em meio flashes de luzes vindos da janela, da música incessante e do corpo quente dela, não me agüentei e senti meu corpo tombar para trás logo em seguida de ter jorrado todo o meu gozo dentro dela. Demorei a recobrar os sentidos, devo ter dormido, não lembro de nada após a trepada. Quando abri os olhos, ela estava sentada na cama, fumava uma baseado que eu não tinha idéia de onde arranjou.
Me ofereceu, eu agradeci e olhei sorrindo pra sua bunda, ou melhor, parte dela que aparecia entre os lençóis. O clima havia mudado drasticamente, as luzes da avenida haviam diminuído, a música já estava em um volume mais controlado. Devia estar tocando alguma dessas canções pós apocalípticas do Radiohead, algo que me deixa com um puta baixo astral, enquanto ela curtia sua onda em alguma viagem bastante pessoal.
Um piano marcado e orquestrações saídas de algum filme do Lynch me botavam numa bad, mesmo sem ter me trocado, aquele gozo havia sido tamanho que estava anestesiado. E agora sentia frio, mesmo nesse calor, parecia que o teto ia desabar na minha cabeça a qualquer momento, fechei os olhos e tentei dormir.
No momento seguinte, abri os olhos e o rádio já não tocava, ela estava deitada, de lado, de costas pra mim, me aproximei e a abracei por trás, lembro que minha ex chamava isso de conchina, achava o nome meio estúpido, mas com essa aqui era diferente, logo me excitei, acho que comecei a meter nela antes mesmo que acordasse. Pelo que percebi ela gostou muito, quando foi se tocando do que acontecia logo se soltou e mandou a ver comigo também, creio que a segunda foda da noite foi mais controlada, menos bestial, mas nem por isso pior, foi cheia de malícia, deixei-a tão maluca que me deu uns tapas enquanto sentava feito maluca em meu colo. Gozei uma quantidade enorme novamente, desta vez pude aproveitar o sorriso dela ao sentir meu orgasmo prolongado.
Quando veio pro meu lado, pousou a cabeça em meio peito e lembro que falamos de mais algumas coisas, dos nossos planos de rumar ao sul. Engraçado foi falarmos com a maior naturalidade do mundo em acharmos o pai da criança. Em momento algum me pareceu uma tarefa impossível. Adormecemos nessa posição mesmo.
Pela manhã, não resisti e a despertei novamente com uma foda bem dada. Dessa vez a safada se soltou mais ainda, pediu por puxões de cabelo, e soltou palavrões, tanta repressão na sua vida criou uma perversa ninfomaníaca. E pra minha sorte, quem comia essa tarada era eu.
Tomamos um banho longo em seguida e descemos, o recepcionista da noite dormia no balcão, e de fininhos demos o calote e pulamos rumo a liberdade matinal da rua. Quando deixamos a viela que dava pra entrada do motel e voltamos para avenida caímos numa gargalhada gostosa. Só fomos ambos mergulhar no mais profundo silêncio quando percebemos o Fusca vermelho estacionado bem no lugar que ontem deixará meu carro, e praticamente todas nossas coisas. Um gelo percorreu minha espinha e percebi pelo olhar vazio dela, que realmente não estávamos sonhando. O carro havia sido roubado.
Banda George
Agora no MySpace.
Quem quiser escutar o som da minha banda.... acaba de nascer um myspace pra ela.
ainda tá meio pobre, prometo dar uma melhorada nele em breve, mas o mais importante já tem.. músicas.
http://www.myspace.com/georgeband
Em Busca do Eu - 5
A estrada era nossa constante, ao lado Julia perdida em pensamentos devia estar longe, refletindo sobre seu Homem, sobre seu filho. Eu me contentava em meditar olhando as faixas da estrada, uma linha que acalmava e ao mesmo tempo despertava uma pontada de desespero. Me sentia bem de estar entregue a esse voluptuoso desejo de sumir e me desesperava ao ponto de quase jogar o coração goela a fora o fato de estar deixando tudo para trás.
Em meio a esse limbo mental, o carro deslizava país adentro e logo avistamos a placa nos recebendo a nossa Londres brasileira, feito serpente pronta ao bote, saltamos para dentro de Londrina, foi um ato meio que inconsciente, no demais costumávamos passar sempre por fora das cidades e não perder tempo com besteiras.
Não sei se é o ar outrora majestoso de uma das maiores importadoras de café do país, ou simplesmente o silêncio bem colocado e totalmente confortável que cercava o carro naquele hora em que o sol já tinha percorrido metade de seu trajeto diário. Sei que ela não questionou e logo o carro rodava lentamente pela avenida dez de dezembro, passei a observar a vida urbana, um hábito que me persegue desde cedo.
Desde longe consegui identificar o vulto de um pobre desiludido que devia ter bebido todas na noite passada e agora estava jogado na calçada, como um saco de lixo. Quando olhei para o lado, percebi que Julia fixava o olhar no mesmo sujeito entregue a sujeira da sarjeta. Comentei que é duro chegar tão fundo e não conseguir se levantar.
Ela com seu jeito jovial, deu um pequeno sorriso e me encarou, talvez tenha sido aqueles olhos ou aquele sorriso lacônico, só sei que me senti extremamente invadido, o comentário veio como uma faca no peito. Parecia que no segundo que antecedeu o golpe, ela tinha ido fundo em minha alma, buscado aquele ponto mole e rasgado feito pão velho. “E a gente que acha que já foi tão fundo nesse poço da vida...”. Foi uma dedada violenta no orgulho ferido.
O semáforo antes vermelho, abriu e as buzinas surgiram, focado a minha frente dirigi por mais três quarteirões e encontrei uma velha padaria decadente, daquelas com vidros fume e uma máquina giratória de frangos na porta, encostei o carro e desci, ela deve ter sentido pena desse pobre mauricinho bancando o herói comunista. Sentei numa mesa da padaria e pedi uma cerveja, ela sentou-se cerca de cinco minutos depois, trazendo a chaves do carro que tinha deixado no contato. “Eu tranquei o carro e estava pensando em comer um desses frangos o que me diz?”. Anos se passaram em minha cabeça, demorei pra criar coragem e encarar quem desfilou sobre meu cadáver apodrecido.
Quando a encarei, encontrei novamente aquele rosto sereno que me encantara, aquele sorriso de menina sapeca, consegui pela primeira vez perceber um certo carinho que ela tinha por minha pessoa. Em seguida, despejei todas minhas angústias, minha família de berço de ouro, meu futuro brilhante, meu refúgio em caras como John Fante e Albert Camus, meu glorioso lugar no topo da sociedade. Lamentações escorriam igual a cerveja que era jogada pra dentro, o dia passava e o peso de minhas costas não facilitava. Ela ouviu tudo com paciência e com uma ternura fantástica, hora segurando minha mão, hora afagando meus cabelos. Quando as palavras já haviam se esgotado e apenas lágrimas restavam, deitei com a cabeça na mesa e fiquei observando a calçada, com o agito descomunal do fim do dia, as pessoas desesperadas para voltarem para casa e deixarem essa máscara macabra que a sociedade impõem frente a sobrevivência. Sentia apenas o carinho de seus dedos brincando suavemente nos meus cabelos.
Havia desabado, e lá estava ela para me segurar, aos poucos começou a dizer o que pensa, dizer que de nada vale o passado e o futuro, se não vivermos o presente, que se nosso passado é vergonhoso e nosso futuro desastroso, somente o que fazemos agora no presente pode remediar essa situação, não percebi, porém certo momento me levantei para prestar atenção nos desabafo dela. Foi uma troca muito tênue de assuntos, juro que não percebi quando eu deixei de ser o foco e ela havia virado o assunto da mesa. Pedimos cachaça, uma garrafa inteira, e uma porção de frango frito, ela me contou mais de sua vida.
Pela primeira vez consegui me ligar a alguém de verdade. Era dessa porra que eu falava o tempo todo aos meus amigos. Temos que ser cúmplices, ela me entregava de mão beijada sua vida. Detalhou como sua família era ultra religiosa e sonhava com o casamento virgem de sua única filha mulher. Contou como seus irmãos viviam se divertindo e ela era obrigada a ajudar a mãe dia e noite, noite e dia. E finalmente chegou na parte em que revelou a festa de reis em que a família malhava Judas, e que esse loiro vindo da televisão a abordou, devia estar meio alto, o cheiro de bebida era claro, mas na hora, era um momento mágico. Ela nunca havia tido a oportunidade de estar assim, com alguém que demonstrava real interesse a sua pessoa. Com muito menos do que o cara imaginava ser necessário, a levou para detrás da igreja e ali mesmo arrancou seu cabaço, meteu feito besta selvagem. Ela sentiu como se a rasgassem no meio, ao mesmo tempo que sentia sangue quente escorrendo em suas coxas, sentia-se mulher pela primeira vez.
Depois disso, o loiro, sumiu, nunca mais o vira. Só sabia que vinha de uma cidade ao sul do país, nem o nome da cidade ela sabia. Não demorou muito para os enjôos aparecerem e logo a família desconfiou de algo. Assim que despontou a barriga, foi expulsa de casa a ponta pés. Apanhou feito cão de rua do pai e dos irmãos que se consideravam sujos pela indignidade da filha. Foi amaldiçoada e ordenada a nunca mais voltar.
E foi desde então que de trecho em trecho, do jeito que dava, foi viajando rumo ao sul. Não pela real busca de seu príncipe, e sim apenas por ser sua única referência de um mundo melhor. Logo fez amizade com uns travestis em Salvador e lá aprendeu a se vestir com mais jeito de mulher, admitiu que ganhou uns trocados com um velho rico, que as duas bonecas que acolheram arranjaram. Não tinha sido bom e ela nem pretendia repetir essa experiência, porém a barriga pesava, e ela logo não teria como ganhar essa grana, que parecia ser tão fácil.
Acabou por me contar das duas travestis que praticamente a salvaram quando chegou a Bahia, eram duas negras de quase dois metros de altura, apesar do tamanho todo, Julia me jurava que tinham toda uma infinidade de qualidades absolutamente femininas. Se vestiam feito mulher, agiam feito mulher, e principalmente amavam como mulher. A acharam em um beco atrás da rodoviária, aonde tinha sido espancada por uns moleques que tentaram lhe assaltar e se enfezaram ao ver que não tinha nada.
As duas cuidaram dela, lhe deram comida, lhe deram roupas, e diziam que tão logo ela se sentisse bem, poderia seguir seu caminho. Foi quando certo dia perguntou alguma forma de ganhar um trocado e Julia foi apresentada ao mundo da prostituição. Foi apenas um único programa, para aquele velho extremamente rico, ela achava que era algum político, casado e infeliz com a mulher, lhe pagou muito bem e com essa grana ela conseguiu chegar até o ponto que me encontrou na estrada com um pouco mais de dignidade do que as surras e humilhações passadas.
Eu escutei tudo isso com um nó na garganta, a pouco chorava o fato de ter uma família que me ama, de ter dinheiro, emprego e liberdade para fazer o que bem entender. Agora ela me contou de nariz em pé sua história, e não derramou sequer uma lágrima. Não tinha idéia do que fazer, o frango já tinha se acabado faz tempo, e cachaça beirava a metade da garrafa. Sem reação, esperei. Ela se levantou e abriu os braços para um abraço. Me levantei e agarrei com força aquele agasalho surrado, abracei e beijei sua face um tanto de vezes. Ela me emanava um calor acolhedor. A dor do meu passado, já era fútil, a decisão do meu presente me fortalecia.
Quando me afastei de leve do seu corpo, observei aquela boca em forma de morango, mordi de leve meus lábios e novamente colei nossos corpos, agora boca a boca também. Beijei sem medo do que viria depois, e graciosamente me senti correspondido, um beijo carinhoso e longo. Nem o barulho da avenida ao lado nos incomodava, nem nossas vidas tortuosas, no momento era apenas minha boca na boca dela, minha alma em comunhão com a dela.
quarta-feira, março 19, 2008
Feriado.
Feriado. Sempre bom, dar um tapa na estrada e sumir um pouco da vidinha quadrada. Pegar a raposa, colocar no banco do passageiro, tomar uma vodca barata enquanto fudemos feito bicho. Escutar Neil Young no talo, e meter a cabeça debaixo de uma cachoeira violenta. Eu sei que nesse meio de montanhas as violetas podem sim romper a rocha. Foda-se sociedade e até uma próxima... agora serei yo e ella, perfeição invejada.
Fiquem com o vídeo do Mestre.
e até segunda.
segunda-feira, março 17, 2008
Em Busca do Eu - 4
E esses meus dentes que tanto doem no frio? Seria descuido ou descaso comigo mesmo? Acho que a única coisa que me chama de volta a realidade é essa gritante dor que vem dos ossos, dentes e da alma. Esse frio cortante me rasga feito papel. Gostaria de saber se a Julia se deu bem, aquela guria merece algo melhor do que aquele traste que ela diz amar. Quando chega essa hora, próximo do anoitecer é a hora mais difícil, já não posso ficar me aventurando lá fora, e a casa ainda não está suficientemente quente. Boto pra esquentar uma sopa de legumes, e me sento próximo ao fogão, no chão mesmo buscando o calor febril que outra hora sentia ao leve toque na pele macia dela.
As vezes, nessa altitude toda dos Andes me sinto num quadro de Van Gogh, tento imaginar, ele usando os tons azul bem claro e branco para pintar toda essa neve, um vermelho alaranjado aonde faria um borrão arredondado, ali seria o fogareiro aceso a pinho para me aquecer. Um quadrado de linhas grossas e tons de marrom madeira seria a representação mais que perfeita da minha cabana. Como será que ele me representaria? Me deixaria oculto dentro da casa? Entregue a boa vontade do admirador da obra para imaginar-me? Ou pintaria minha própria existência em um borrado vermelho do casaco e um rosto sem face perdido na imensidão branca?
Não é que aquela guria sapeca iria adorar estar aqui comigo? Ela adora o frio, adora papear sem imposições de dinheiro para hospedagem, ou olhos interesseiros de gente que nada com nossas vidas. Acho que se aninharia em meu colo, falaríamos de coisas como Salinger ou Mutantes. O calor de nossos corpos bastaria para matar esse frio. Aposto que estaria usando um daqueles suéteres de lã que comprou em uma feira de rua em Novo Hamburgo. Usaria também seu gorro acinzentado, velho de dar dó.
O apito agudo da chaleira me desperta do sono aconchegante, minhas pernas dormiram. Checo rapidamente a sopa, no medo de ter estragado tudo e vejo que ainda posso deixar mais um tempo no fogo. A casa já está mais morna e um chá verde e quente é perfeito para aguardar a sopa ficar pronta. Olho pela janela, a escuridão já tomou conta de tudo. Não sei aqui, a solidão é tamanha quanto a que sentia quando estava rodeado por todo mundo. São solidões diferentes, a daqui é mais crua, mais primal, a daqui é quieta e traiçoeira. Sempre prestes a me jogar no abismo da insanidade. A solidão acompanhada é mais certeira, sabe aonde cutucar e sempre mexe na ferida, é mais superficial, acho. Ambas são frias como esse buraco no meio da cordilheira, aonde fui me meter.
Enquanto a sopa não fica pronta e o chá me aquece a goela, escorrego minha mão pra dentro das calças e começo a me tocar, lembro da Julia e sua barriga, lembro da chilena Mercedes e toda sua ginga latina, recordo dos toques promíscuos da lolita gaúcha e me toco intensamente, com uma certa raiva desprovida de razão aparente. Me sinto um alemão prestes a executar uma fileira de pobres judeus. Pior me excito com a idéia de pegar alguma judia bem magrela, magra de fome mesmo e abusasse dela.
Continuo me tocando e jogando o chá pra dentro... alegorias passam por minha cabeça e quase me sinto completo nesse momento de extasie mundano. Tudo jorra num momento de prazer grudento e quente, gosto de sentir minha virilha se aquecendo e ao mesmo tempo grudando meus pentelhos contra minha pele castigada com a rotina de trabalho. Me lembro da Vera no momento do gozo, me lembro de como me sentia terrivelmente bem afortunado ao toca-la sabendo que poucos o fizeram, e poucos o farão contando com o pouco tempo de vida que deve restar a essa coroa solitária. Ela me acolhia como a ultima chance de ser feliz, eu a usava para momentos de gozo mental e físico.
Me lembrei de tudo isso, limpando a mão contra a barra de minha camiseta e sentindo o cheiro da sopa que devia estar quase pronta. Dois meses de isolamento começavam a me afetar seriamente. A barriga, apesar de tudo, ainda fala mais alto. Chegou a hora do rango.
sexta-feira, março 14, 2008
Como manter a mulher da sua vida feliz. (Dez dicas)
Nos últimos três meses tenho me aventurado em algo que fazia tempo que não me arriscava. Um relacionamento. Achei a mulher da minha vida, o que é algo que alguns podem dizer ser coisa de apaixonado, exagero, os mais céticos até podem dar risada, eu faria o mesmo ano passado. Mas o que importa é que achei alguém por quem vale a pena e digo mais é muito recompensador estar junto. Quem me conhece sabe o bem danado que a minha raposinha está me fazendo.
O que venho escrever é a árdua e dura tarefa que venho tentando realizar de manter um namoro gostoso para os dois. A humanidade já está cansada de saber que homens e mulheres pensam de forma extremamente diferente. E muitas vezes gostando, e gostando muito, acabamos por estragar o que poderia ser um ótimo namoro, por não saber lidar com isso.
Posso estar completamente enganado, nisso peço que as mulheres me corrijam. Porém, estou tentando deixar umas dicas para os caras, felizardos como eu que acharam sua mulher e querem demonstrar tudo que sentem de uma forma que realmente faça sentido para elas.
Nunca fui bom de me expressar em relacionamentos humanos, a Fernanda tem sido um aprendizado danado, e vou continuar dia após dia, buscando o frescor e o cuidado com esse namoro maravilhoso com qual tenho sido presenteado.
Aqui vão uma série de dicas que tenho sacado ao longo desses 3 meses e não só agora, mas construí ao longo de toda a minha vida.
1) Seja você mesmo: É isso mesmo, as vezes quando conhecemos a garota mais a fundo, descobrimos que ela tem uma queda por caras com tal estilo, ou que ela não gosta de um detalhe x, que você julga possuir. Bobeira, ela se apaixonou por você, e se deseja construir algo para longo prazo, que faça como você mesmo, máscaras caem, não podemos fingir ser outra pessoa por muito tempo. Confie, ela se apaixonou por você.
2) Faça pequenas coisas para ela: Creio que é um detalhe, porém, acredito que faz a diferença. Comprar um chocolate preferido sem razão aparente. Mandar uma mensagem no celular ou um e-mail. São detalhes que mostram que você está pensando nela, está com saudades.
3) Aprecie ela. Sim exatamente isso, demonstre que você gostou de um gesto, que algo lhe agradou. Agradeça, elogie. Todos temos um senso de auto valorização, se em algum momento ela começar a achar que você não a valoriza como merece, pode causar problemas.
4) De a devida atenção e ela. Quando estiverem juntos, tente dar a atenção que ela merece. Por mais que seja uma companhia agradável e que você se sinta a vontade para ficar devaneando ao lado lado dela. Não queira fazer ela se sentir em segundo plano, afinal, saiu com a guria para ficar com ela, ou para ter um suvinier ao lado?
5) Faça a rir. A risada é uma porta para a intimidade. Rindo, juntos, compartilham de um momento único. Criam um laço de afeto gostoso e cúmplice. Que seja de uma forma natural. Um relacionamento é algo sério sim, mas isso não descarta que deve ser divertido.
6) Mostre interesse nos gostos dela. Não digo que é para gostar do que ela gosta. Pelo contrário, apenas tenha a delicadeza de saber os gostos dela, de por ventura descobrir um evento que ela adoraria ir e leva-la. Mostrar que você se importa pelos gostos dela, é mostrar que se importa por ela.
7) Conheça os amigos e a família dela. Um ponto em comum com o item seis. Mostrar interesse nas pessoas importantes pra ela, é mostrar que você de fato se interessa por ela. Não minta, se você não gostou de algum amigo, seja sincero de forma delicada. Ela vai adorar saber que pode unir seus amigos e seu namorado vez ou outra.
8) Não relaxe na sua aparência. Temos tendência a cuidar de nossos visual como arma para conquistar garotas. Nem todos somos assim, porém muitos são, e sei disso por experiência própria. Essa dica é mais pessoal do que para o namoro em si. Não se vista bem, ou se preocupe com a saúde, ou faça a barba, ou malhe, ou se mantenha no peso por causa delas. Isso é um dever para com o seu corpo, para com você. E não demonstrar amor próprio é o primeiro passo para destruir um namoro.
9) Mantenha-a informada. Ela não é sua dona, porém, com o tempo vai acabar conhecendo a sua rotina, vai se acostumar com o horário que chega em casa, ou o horário que costuma estar na Internet. Se por uma acaso vai ter uma mudança na rotina drástica, é educado avisar ela, não por obrigação apenas pra demonstrar cumplicidade. Se vai trabalhar mais durante a semana, avise-a antes, ou ela pode programar algo para seu horário tradicional, e quando você tiver que negar na hora, vai parecer uma desculpa fraca.
10) Esteja aberto a novas coisas. Não deixe seu namoro cair no tédio. Faça viagens diferentes, freqüente motéis diferentes. Realize fantasias sexuais. Extrapole com um jantar diferente. Fazemos isso com nossa vida, quando nos vemos na monotonia, logo tratamos de buscar o frescor. Isso tem que ser trazido para a vida a dois.
11) Não faça essas dez dicas por fazer. Isso são dicas de como expressar vontades verdadeiras. Se em algum momento teve desejo de agradar sua namorada, o que é natural que aconteça em relacionamentos saudáveis, saiba que esses são caminhos que agradarão mais facilmente ela. Faça tudo isso de verdade, não como um guia de manter a guria apaixonada enquanto eu me divirto. Ser honesto é tudo.
Bom, que esse blog é bastante variado é. Mas eu nunca imaginei chegar a esse ponto. Escrevi isso por alguns motivos, primeiro porque estou apaixonado, e quero demonstrar isso a ela aprendendo as diversas maneiras de a manter feliz. Segundo porque o que eu já vi de amigo meu se fudendo porque não soube cultivar um namoro não tá escrito. Então para os marmanjos de plantão, as dicas ficam dadas. Para as gurias, se eu estiver falando alguma merda, rs sinta-se a vontade de corrigir, discutir e questionar, será ótimo.
quarta-feira, março 12, 2008
Interpol - Via Funchal - Rock is Dead?
assim é um bom editor de texto, sem distrações algumas, você e o seu texto. Apenas isso! O terror da folha de papel em branco na sua frente, e você sem nada para escrever. O mesmo jeito medroso no qual tentamos encarar essa vida doida. é bom passar por momentos diversos e provas de fogo a respeito do que acreditamos, pois eu, melhor que ninguém, sei como é frustrante ser uma tentativa que falhou. Um fiasco. Sei o quanto doem os músculos que se recusam a relaxar nas longas noites a dentro. Sei como o vazio interior grita mais alto do que qualquer silêncio profano e lhe mantêm a noite inteira desperto, apenas a espreitar as sombras dançando na parede de seu quarto. E depois no dia seguinte, o fundo de seus olhos clamando por descanso e paz.
o pânico que é a página em branco sempre ser mais assustadora do que o que já foi preenchido. a modernidade é uma faca cravada no peito. se antes tínhamos o limite físico de número de folhas em branco, agora temos uma quantidade beirando o infinito de gigabytes a serem preenchidos. zero um zero um um zero zero zero um. podemos nos sentir ridículos perante a tamanha falta de criatividade em tomar para si o árduo trabalho de preencher as páginas em branco.
e elas continuam ai, me assustando, me encurralando. me tragam a cabeça do nerd infeliz que assassinou as máquinas de escrever.
apático e em seus melhores momentos em uma temperatura quase morna, o show mais fraco que já assisti até hoje foi do Interpol. Essa é a prova real, é o mdc que o rock morreu com o tiro que Kurt deu no céu de sua boca. O miolo dele espalhado pelo quarto, o cheiro de podridão, os vermes devorando sua carne, a estrela apagada... nada mais é que o último suspiro devoto de algo que algum dia se chamou música dos jovens.
como a um enterro fúnebre, o quarteto nova iorquino, demonstrou falta de originalidade, falta de tesão, falta de vida. se o show tivesse sido em playback talvez tivesse ganho um pouco em qualidade. é uma dor no peito saber que o que um dia era a salvação da juventude, hoje é crianças de motorista, estilo blaze, histeria controlada e premeditada, e total falta de perspectiva para um futuro real.
vivendo numa alegoria constante de fantoches e fetiches me assusta saber que o tempo chega e vamos ficando velhos.
o que me bota uma luz no final do túnel são pessoas como a trupe do Vanguart e poetas da vida como Daniel Galera, que tem sangue correndo na veia e fazem o ímpar da sociedade. eu acredito no futuro, eu achei meu futuro e vou construir pedra por pedra, eu mais minha raposa.
quatro e meia da manhã, a mão cansa e a cabeça pesa, esse caderno pelo menos tem um fim e não está tão longe, amanhã passo esse texto para as infinidades de gigabytes e jogo ele nesse limbo chamado Internet.
me resta um trago de uísque, Alberto Fuguet e sua fuga da realidade mergulhando de cabeça no baixo astral e um fundo de Nick Drake e sua visão crua e mítica do mundo.
ps. essa raposa realmente está me transformando, em alguém melhor, pela primeira vez consigo planejar e almejar um futuro ao lado de alguém. Raposinha, desculpe - me pelo baixo astral, vez ou outra, a vida bate e estraçalha com tamanha força, que somente a arte nós faz lembrar que temos alma, e você é minha arte, minha poesia, minha pintura e minha música. Amo-te e quero até o fim dos dias.
Raposinha, tu és minha constante.
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Nota mental:
Nada mais de showzinhos de bandas de terceira. Que o Interpol vá a merda. Que venham Amy Winehouse, REM, Morrissey e Smashing Pumpkins. Aí sim!!! E o Ozzy, se sobrar dinheiro será mais do que merecido depois do sono de ontem.
segunda-feira, março 10, 2008
Em Busca do Eu - 3
Apesar que ainda falta muito caminho pela frente, não me importo nem um pouco. Afinal a estrada é a vida. Me sinto mais velho a cada minuto. Claro, com mais experiência. Finalmente livre desse autismo social. Acho que as pessoas criativas sempre tiveram mais dificuldade em relacionamentos pessoais, conseqüentemente se acabam isolando de tudo e de todos. É ainda mais que as vezes acabam caindo em traumas para a vida toda.
A manhã se ergue timidamente, borra o quarto barato que achei na beira da estrada. Sonolenta e cheia de orvalha a estrada me convida a seguir em frente. Nascido pra correr, acho que o bardo americano tinha razão. Nasci pra correr, tenho suor escorrendo na nuca e o vento na cara para me despertar de vez. Pego essa máquina suicida e corro como nunca. Corro do sonho brasileiro de um futuro de primeiro mundo. Sou um vagabundo de primeira classe, um vagabundo com carro, um vagabundo fracassado. A velocidade me enjoa e vejo que nem de perto estou completo dirigindo esse possante.
Dilemas.... como continuar? Como largar tudo? Mais rápido. Eu não acredito na falsa moral que me levaria feito engrenagem em frente.
Mais a frente uma figura destacada pela grande barriga, perfeitamente redonda cobrindo o horizonte, pede carona com duas mochilas grandes jogadas ao lado. Reduzo e me aproximando percebo se tratar de uma garota grávida, o sorriso de empatia pela carona que vai rodando devagar em sua direção é nítida. Todos meus amigos devem estar voando em naves brancas, fugindo de uma utópica noite perfeita, regada de cachaça e festas líricas. E essa garota, sorri e encara o mundo da mesma maneira que eu fiz na outra manhã.
Com um sorriso jovial ela se abaixa na janela do passageiro e pergunta pra onde vou. “Seguindo em frente”. Ela tem olhos verdes, meio tristonhos, o nariz é uma batatinha, redonda e achatada. A pele meio sardenta e sem imperfeição alguma revela de fato ser tão ou mais jovem que eu. Não usa maquiagem e tem um ar cativante natural. Seria aquela garota que passa despercebida em qualquer roda de papo, porém nunca deixa de cativa uma alma mais atenta a esse brilho tímido que insiste em raiar.
Depois de trocarmos um comprimento mais coloquial, ela joga suas mochilas no banco de traz do carro e se acomoda ao meu lado. Descobri que se chama Julia. Ela usa um allstar surrado, de um preto desbotado de tão velho, eu e ela poderíamos nos apaixonar e esquecermos tão rápido quanto o sol tinha me trazido está companheira de viajem. Mas não era o caso, ela falava tanto quanto o meu silêncio permitia. Logo soube que era do norte, já vinha viajando de carona desde Pernambuco e rumava para o sul em busca do amor de sua vida e pai de sua filha. Estava de sete meses e fugira da família que a pressionava para que abortasse o filho renegado pelo pai. Ela por sua vez acreditava que aquele romance de verão fora algo além. O brilho de seus olhos refletia claramente a esperança de se achar em um cara que provavelmente nem se lembrava dela. Me senti comovido e tentado a fazer algo para lhe mostrar que a vida não era bem assim. Mas afinal, quem era eu para explicar algo a respeito da vida?
Encolhi os ombros e sorri maroto, disse que o sul me parecia uma boa idéia, e que era uma boa idéia ir rumando até aonde nos parecesse conveniente, então ela poderia reencontrar seu amado e eu, bom eu seguiria minha fuga rumo ao desconhecido. Como se fôssemos conhecidos de anos, me beijou a face e sorria feito criança frente ao aguardado ovo de páscoa. Ela ainda me contou diversas história do que tinha passado pela estrada, inclusive um quase estupro de um caminhoneiro que lhe levara por um trecho da viagem.
Disfarçando-a de desculpa deslavada, me senti mais confiante a rumar sul. Depois de jogarmos algumas besteiras de beira de estrada goela adentro e deixar o norte para trás me senti um pouco mais a vontade e lhe contei a família abandonada, a carreira deixada pra trás e tudo que me ocorrerá nos últimos tempos até o encontro fatídico na estrada com ela. Parecia que se divertia e acho que me dei por um bom contador de histórias, por várias vezes sua careta expressiva demonstrava suspense, apreensão e deleite com as situações mais extremas.
Ainda que ela duvidasse que minha fuga ou busca, era apenas pessoal, não tinha outras pessoas na história ela, como uma romântica perdida em um tiroteio de realidade, insistia que alguma mulher havia me fisgado e me levava rumo ao sul com ela. Me divertia suas tentativas de adivinhação e sua criatividade aparentemente ilimitada. Me tornei amante de índias, gaúchas, inclusive de uma poetisa argentina que tocava piano e vivia drogada pelos subúrbios de Buenos Aires. Uma das histórias que mais me fascinei foi com a que eu rumava para os Andes em busca daquele avião que desaparecesse semanas antes e que minha amada estava neste vôo, e que em momento algum eu me abalei e tinha certeza que ela estava viva.
Em meio devaneios e invenções homéricas, nos divertimos, rimos bastante e deixamos um bom trecho de estrada para trás. Mas a noite já avançava e logo mais teríamos que achar um canto para descansar. Me surpreendi quando a proposta por racharmos um quarto no próximo motel saiu da boca dela. Já havia me passado diversas imagens na cabeça, aonde dormia em um sofá e no meio da madrugada e guria com aquele barrigão me acordava com beijos e nos fazíamos amor de uma forma quase selvagem, sem pudor ou medo algum. Ao mesmo tempo uma repulsa e um forte sentimento de culpa me assolava pelo estado da garota e pela malícia descabida de meu ser. O convite despretensioso dela me pegou em cheio, Aceitei e doze quilômetros depois fazíamos o check-in no Amarotel 24 Horas com Café da Manhã, o quarto era de tirar gargalhadas de qualquer ser humano sério. Laranja com detalhes rosas. Parecia um quarto saído de um sonho bizarro do Tim Burton, a cama tinha um enorme coração retalhado na colcha, e a lâmpada era controlada por um termostato que possibilitava regular a intensidade, variando do amassos calientes ao dark room. Originalidade a flor da pele, caímos na risada com o adesivo cafona que indicava as intensidades da luz. No sofá as almofadas eram com perfume de morango, e como kit promocional recebemos um par de camisinhas extra grandes e um tubo pequeno de lubrificante íntimo.
A luz logo foi apagada, deixamos combinado que pela manha tomaríamos um banho, pegaríamos o café da manhã e botaríamos o carro para rodar estrada abaixo novamente. Depois de comentários maldosos a respeito do duvidoso gosto do decorador desta obra de arte de quarto, o sono bateu e do meu sofá podia escutar a respiração constante e calma de Julia, assim como os gemidos devassos e passionais do casal empolgante ao quarto ao lado, creio que ela tinha caído no sono antes dos vizinhos começarem a sacanagem pornográfica que devia rolar por lá. Não pude evitar de soltar pequenas risadas e em vão esperar por mais uma conversa jogada fora. Logo o sono bateu e me entreguei sem lutar.
quinta-feira, março 06, 2008
Em Busca do Eu - 2
Pra mim, minha mãe morreu por viver demais, por se adequar demais ao que a cerca. Cinco anos antes meu pai morreu pelos mesmos motivos mesquinhos. Tudo isso pra mim são cenas de uma vida. De uma porra de vida conturbada e triste. Não que eu seja um desses caras que se arrasta pelos cantos, se afoga no álcool e é um típico fudido pelo mundo. Longe disso, na real, quem me olha pensa que sou um cara muito bem encaminhado nessa doideira. Tudo seguia o roteiro na mais perfeita harmonia, até aquele fatídico dia da colação de grau. Perdi a noção do tempo, acredito que agora estou em algum dia em novembro.
Já me acostumei com o pouco oxigênio nas alturas dos Andes. Viver no topo do mundo é uma baita lição. Aprendi que não preciso do excesso doentio que somos levados a acreditar que é o mínimo para se sobrevivência. Admito que sinto falta dos filmes e da música que me foram alicerce para chegar aonde estou hoje. A solidão do diabo é o que mais aterroriza o ser humano. Se no século passado tivemos a grande depressão do mercado norte americano, nesse século temos a grande depressão da alma do mundo. Todos se isolando o máximo possível e ao mesmo tempo se cercando de afortunados que fazem parte de seu ciclo de amizades. Ninguém quer ficar sozinho. Porém ninguém enxerga dois palmos a frente do seu nariz. A quanto tempo não se ouve o pronome nós utilizado de forma correta e não da forma mesquinha e egoísta que vem sendo empregado.
Arrumei o emprego que muitos rejeitaram. Cuido de uma pequena fazenda de folhas de fumo nas alturas do andes. O fazendeiro é um senhor torrão, desses ariscos feito gato de mato. Beirando seus cinqüenta anos, não é casado e nem tem filhos. Se comunica o mínimo possível e eu nunca o vi sorrindo. Quando me ofereci ao emprego, logo desconfiou, o que um jovem Brasileiro, estava planejando ao se isolar em uma área tão inóspita. Me deu o emprego e cheio de ressalvas vinha verificar a condição do lugar e o meu trabalho quase todas as semanas, percorrendo os sessenta quilômetros de estrada estreita e em péssima condições que me separam do pequeno vilarejo de San Pedro do Atacama. Atualmente, vem uma vez a cada dois meses mais ou menos, me traz comida, algum óleo, uma ou outra ferramenta que tenha requisitado em sua ultima visita e não se dá o trabalho de verificar toda a fazenda, apenas dando uma checada por cima.
Meu trabalho não é ruim, tenho uma rotina de tranqüila, devo manter qualquer intruso longe, o que acho um certo exagero, nunca sequer vi uma alma viva por aqui. Cuido das plantações que não são grande coisa e consigo fazer em metade do dia e de resto mantenho a casa arrumada e me ocupo da mais perfeita paz de espírito que podia buscar. Apesar de já ter sido alertado diversas vezes que o inverno quando chegasse seria extremamente complicado de enfrentar, e que seria melhor descer para a cidade durante todo esse período gélido, esse era o meu desafio máximo. Quando chegasse iria atravessar de peito aberto, e assim seria um só comigo mesmo. Um só entre essa razão nula e esse instinto selvagem.
A casa é bastante simples, construída de maneira bastante rudimentar, é basicamente um cômodo de uns vinte metros quadrados. Em um canto tenho um pequeno fogão de barro, no chão mesmo, fogão a lenha, dos antigos, o mais interessante é a forma que ele dispersa o calor. A chaminé não é convencional, ela desce e passar por baixo de todo o chão da casa em espiral, e sai pela lateral oposta da casa. Um sistema bastante simples, e que mantém a casa quente durante as frias noites. No lado oposto uma cama na altura do chão mesmo e um baú aonde guardo minhas coisas. Na parede oposta a porta tenho uma janela que dá para uma montanha linda que apelidei de pico do lobo. Em algumas noites de insônia, posso jurar ouvir o uivo do matilha vindo daquela direção. Mas acho que é só minha imaginação fertilizada por Hollywood, uma doença eterna, cicatriz cravada fundo no meu mais precioso bem. Abaixo da janela um pequeno armário que vez ou outra também uso de mesa em conjunto a cadeira de palha ao lado dela.
Nesse modo simples de vida, achei o que me faltava. Cumpri passo a passo o que me foi imposto. Agora a última e grande aventura será vencer esse inverno que castiga até os mais acostumados moradores da região. Porém antes acho justo contar como cheguei aqui, tudo que passei desde a colação de grau. Não foi pouca coisa, porém acho que a busca por uma vivência mais natural e mais perto do que deveríamos ser por essência, requer todos esses ritos de passagem. Essa barba ermitã e esse cabelo falho, não são falta de civilidade, são sinais de amadurecimento. Depois que renasci para o mundo selvagem e real, tive que engatinhar feito bebe, até chegar aqui. E agora sentado nessa pedra observando o grande nada que se estende da fazenda até o além do pico do lobo, lembro de cada tombo e cada aprendizado dessa jornada.
quarta-feira, março 05, 2008
Medo - O Futuro Assusta e MUITO.
Fonte: http://uoltecnologia.blog.uol.com.br/
O telefone toca e para atender você aperta um botão na pele. Uma idéia surreal? Não para o designer americano Jim Mielke. O protótipo de celular com bluetooth sob a pele concorreu ao prêmio Greener Gadgets.
Depois de "apertar o botão", um display de 2 x 4 poelgadas aparece e simula a interface de um celular. Quando a ligação termina, a tatuagem desaparece.
Isso é possível graças à um implante Bluetooth sob a pele. Flexível, ele é composto de silício e silicone - e implantado entre a pele e o músculo. Ou seja, não há riscos.
Para alimentar o aparelho, os combustíveis usados são o oxigênio e a glicose encontrados no sangue humano. O duto para obter essa alimentação é composto de dois tubos implantados nas artérias e veias do braço.
O implante é à prova d'água e ecologicamente correto. E o melhor, movido à comida. Achei um tanto assustador, mas interessante. Vamos comentar?
PS - Para falar é usado um sistema "viva-voz". Não precisa fazer contorcionismo para falar. Sobre os comentários: eu me solidarizo e admito que ao mesmo tempo que achei fascinante, fiquei com medo!
terça-feira, março 04, 2008
Arte? Amor? Talento? / Kula Shaker
Talento? Dedicação? Uma misteriosa combinação de genes que nos dá super poderes? Afinal, porque tem gente que pega num violão e faz maravilhas e outros que soam pra cacete pra conseguir tocar um simples quatro por quatro? Tem gente que nunca nem pensou a respeito, mas é ator, é músico, é poeta, é escritor e é artista. Arte. Que palavrinha mais safada. Arte é minha vida, ou coloca-se arte em tudo que se faz, ou se enterre vivo e espere os vermes devorarem seu corpo. Somos artistas e inibimos isso, temos vergonha disso na maior parte do tempo. Pro inferno a sociedade, vamos viver, artistas como devemos ser e convencidos de que é apenas o processo de algo muito maior, um projeto chamado vida. Minha arte está se encaminhando, seja no palco, na guitarra, na poesia ou na amada. Arte no amor e arte no viver. E olha essa garotinha de dezesseis anos que toca um violão que me deixou boquiaberto.
É a vida. Eu, João Raposa, vou tentando achar arte por aí. Achei arte na estrada, no metrô e no quarto do hotel barato no centro.
Kula Shaker - "Govinda"
Kula Shaker - Shower Your Love
Kula Shaker é uma banda que ficou esquecida na explosão do rock britânico e injustamente diga-se de passagem não teve seus grandes clássicos espalhados pelo mundo como mereciam. Lançaram dois discos na década de 90 e tiveram um retorno quase 10 anos depois com um mediano disco já resenhado neste blog. Porém “K” e “Peasants, Pigs and Astronauts” são duas obras primas. Discos com com canções perfeitas e uma atmosfera mágica. Para os não iniciados fica a dica da coletânea Kollected: Best Of.
Destaques: Govinda, Shower Your Love, Mystical Machine Gun e Light of the Day.
segunda-feira, março 03, 2008
O que é amor?
E aí o que é? Acho que é uma das perguntas mais difíceis da humanidade. Pois por mais incrível que pareça, é tema central de histórias desde a antiguidade e nunca perdeu sua força. Sei lá, eu vejo um pouco como uma amizade que pegou fogo, ou um misto de sorte com desejo ardente. Sei que é uma verdade constante em tudo que se define como humano.
Dependendo da situação, pode ser bem diferente. Românticos, tendem a ver como algo profundo, intenso e sem fim. É compartilhado de forma bastante intima, entre pessoas e com relações sexuais. Acho que é mais que desejo e sentimentos. É mutável, vai mudar de relacionamento para relacionamento, e é sempre extremamente complexo numa forma simples de se ver.
Existe amor platônico, amor familiar e amor de fé. Nosso mundo presenciou diversas histórias de amor, e sempre com advento de pitadas de ódio, sim esses dois sentimentos caminham extremamente próximos. Só se odeia alguém que em outra situação se amaria. Histórias de famílias que se odiavam e se amavam, amigos traíram uns aos outros, filhos mataram os pais pelo trono e a contagem não acaba tão cedo. Mesmo nós dessa geração vazia enfrentamos esse dilema todos os dias. Talvez tenhamos subjugado o real significado, se é que existe, mas o amor tá aí.
No passado, religião, psicologia e filosofia fizeram diversos estudos a respeito do fenômeno chamado amor. Mas quem chegou mais perto de decifrar, foram os pintores, atores, músicos, pintores, escritores e poetas. A arte é em parte amor.
A psicologia vê o amor como um evento social. Segundo eles, existem três componentes básicos: intimidade, comprometimento e paixão. Em um provérbio antigo, amor é a forma suprema de tolerância. E isso sempre foi bem aceito pelos acadêmicos. Mas se fosse tão chato assim, não seria tão misterioso e agradável de se viver. Bastaria achar alguém compatível, como alguns sites de relacionamento insistem em vender a idéia de que conseguem fazer.
Penso que ninguém é perfeito, eu não sou, nem almejo ser. E acho que tudo seria bem chato se fôssemos perfeitos. Então esse negócio de compatibilidade é um tanto quanto mais complexo. Química? Amor a primeira vista? Cheiro? Sexo? Uma longa jornada alma adentro? Achar alguém que se deseja viver uma longa jornada lado a lado é bastante complicado.
Estar juntos, dividir alegrias e sofrimentos, buscar compreender um ao outro, sempre estar lá para qualquer coisa. É esse o maior mistério que qualquer ser pode tentar mergulhar. Existe explicação? Não. Existe forma de evitar? Não.
Tenho pensado, vivido e compreendido muito a respeito do amor, nos últimos meses. Se isso vai servir para você. Sei lá, quem está amando sou eu, a minha maneira. Só sei que é algo muito bom. E espero ir longe com essa viagem.