domingo, abril 13, 2008

Outros Reflexões

Palavras do sábio mestre Ginco:

A arte não existe.

Trezentos mil olhos críticos estarão sobre mim. Principalmente dos acadêmicos.

O que existe é o olhar. Olhar.

Recairão sobre mim. Sobre um anônimo que, apesar, é artista. Têm olhos de encanto.

Quem não perdeu o encanto do mundo pode criar a arte. Mas a arte está criada. Uma latinha de cerveja rolando pela sarjeta pode ou não ser poesia. Depende do olhar de quem olha. Caso contrário – tudo é arte.

Nada deixa de ser arte, devido ainda, aqueles olhos que não se perderam no óbvio da cotidiana realidade.

Todos podem saber ou imaginar ou ser despertados para a imutável presença das auroras. Mas na balança das sensibilidades, somente se apercebem dessa indispensável transmutação do encanto, aqueles que ainda são prescritos de encantamento. Nenhuma aurora se repete e também nenhum crepúsculo. Como quase um caleidoscópio. Suas formas prescindem de uma essência de sentimento. A unidade pode ser nomeada e dentro desta unidade as infinitas e variadas transmutações nos colocam em sentidos e emoções também tangíveis. É quando a forma e o conteúdo significam de tal maneira que nos surpreendem por sinais que o humano não consegue esconder ou mascarar. Portanto o que aparentemente é intangível é tocado por algo que “aparentemente” não explica níveis de emoção que a vivência obrigatória do cotidiano nos resguarda.

Se consciente ou inconscientemente, a arte, por mais sistêmica e estudada, sempre deriva de um imaginário popular.

Este imaginário não permeia ou está em absoluto incrustado nos domínios do popular regional. Também é urbano, metropolitano ou encontrado, extraído e decupado das megalópoles. Afinal, quem compõe os diversos segmentos sócio-econômicos-políticos e culturais que as estatísticas consideram, serão indícios; os índices mais avantajados nos gráficos que contribuem e justificam como maiores indicadores dos percentuais percapitas do país!?

Parece-nos coisas estanques.

Se o nordeste tem menor contribuição neste digamos, produto final (PIB); o que nos impede de questionar quantidade e qualidade no montante discutido, gritado e arrematado ao conforto da Avenida Paulista (SP)?

A safra ressequida do nordeste é, culturalmente, que reboque à orvalhada safra do sudeste? Ininteligível?

Nossa economia não se baseia apenas e somente em produtos tangíveis, esta é uma discussão que é preciso ser revista.

A contribuição simples ao planeta deixará de ser um planeta simples quando a arte se constranger. Neste sentido, além de risível são pretensiosas as investidas “modernas” da humanidade na questão da corrida contra a degradação do planeta.

Voltar-se ao encantamento é desculpar-se da inevitável dizimação de pelo menos 2/3 (dois terços) da humanidade para a reconstrução do próprio planeta. Na verdade o planeta estará presente como sempre esteve. A reconstrução será uma compreensão movida por outra lógica que despertará a humanidade do que foi ou será até então um sonho ou quiçá, premunição.

Obviamente a arte vem se debulhando.

Não posso afirmar isso quanto à ciência. Não sou cientista no sentido epistemológico, mas posso dizer fenomenologicamente que, tanto uma quanto a outra, cada vez mais não admitem a importância e necessidade do caos para extrair do que lhe parece criativo; um repetitivo original que já freqüenta o cotidiano.

Tudo o que é tangível é tão rápido e mutável que ainda mais acelera o tempo num tempo que já não nos diz respeito e qualquer criança percebe e questiona. Além de mercadoria, muito pouco falta parta nos tornarmos supérfluos. Então, que arte e que ciência se fará?

Sidarta e sua iluminação através das águas correntes do rio, em que se difere da árvore e seu movimento de copa? Talvez o que mude não seja o objeto; mas o olhar sobre o objeto olhado. Assim, aquela latinha de cerveja poderia ser uma página de jornal. Exemplos de objetos simples e comuns. Só passarão a ser arte através do olhar.

Poderia discorrer e aprofundar o assunto, mas a essência do que quero dizer está, espero, claramente presente.

Tenho aprendido falar besteiras sem me impor com o preço que pagarei por isso. Mas reparo. Falo. Calo. Como questionamos e num repente são julgamentos. Como julgamos e de repente nos damos conta que são questionamentos!... No entanto, todo silêncio me diz que: olha-se para trás e não se escapa da humilhação de reconhecer que atrás da maioria dos questionamentos, estamos pré-julgando. Quem somos nós? O que aconteceu com as lágrimas da beleza? O que aconteceu com o ser?

Passei pela praça e ouvi o mendigo dizendo ao outro: “Quando eu era gente...” Quando eu era gente, foi quando era criança? Quando eu era gente, foi quando era adolescente? Quando eu era gente, foi quando...?

Foi quando fui economia? Quando fui mercadoria? Foi quando? Foi quando fui o requinte dos vernizes sociais e muitas vezes não tinha um centavo no bolso? Quem foi mais gente? O mendigo no seu lixo sobrevivente ou meu lixo sobrevivente numa mesa de um famoso restaurante?

Nossa estética está vendida por falácias bancárias!

A ciência está dormida até que a família, a tradição e a propriedade privada sejam absolvidas pelo papa e toda democracia armada e destramele as portas e janelas desde o primitivo até a modernidade. E que se foda o povo e o engodo de sua fé. Pois necessária e verdadeira sejam uma nova epifania e que volte a fazer do crente um crente e não um penitente na ilusória idealização do fora, mas na constante mutabilidade de sua energética força de dentro.

Como dizer... Nietzche, Michel Foucauet, Sartre, Capra... Vejam: até Sócrates... Até alguns pré-socráticos... Artistas plásticos, poetas, músicos, literatos... Até internos, loucos, santos, depravados... Vejam: eu ninguém, você todo mundo ou eu todo mundo, você ninguém... Ressuscitaremos? Em que outro mundo?

É talvez do possível no impossilvemente, porque afinal... Apodrecemos este. E em que outro mundo se, apodrecido este porque nos apodrecemos!?

Bem: vanglorio-me de tanta besteira. E sem rumo. E sem fundo. E sem coerência... Aparentemente. E sem muitas coisas que apenas coisas na coisificação dos sentidos.

Meu ponto de fuga: a realidade. Se o virtual me assusta? Imagina. Sou a consagração das suas intenções escondidas, o verdadeiro que extraio do real – tenham certeza – é seu antônimo. Não o irreal, pois este é mais real. É o que chamo de virtual. O virtual já existia antes da internet. Não exatamente da informática. O depois da internet depois do depois de Cristo. Minas Gerais: Tremor de terra. Abalo sísmico. Destruição. Mortes.

Minas Gerais... Ais, gente... E é só o começo do inovo Brasil.

O mundo contemporâneo? Deus que me perdoe!... Mas o mundo é sempre contemporâneo. Quanto tempo tem o tempo que a estrutura de pensamento se conserva no lógico mecanicismo aristotélico-cartesiano? O Mundo está esgotado. O império mais velho já não abastece a humanidade. Os infartos financeiros são cada vez mais freqüentes e cada vez em menor espaço de tempo.

A arte resiste cada vez mais do caótico e a ciência... Bem, ainda detonará o intangível sem a necessidade de produzir bens tangíveis. É fácil deduzir pedras sobre pedras e esqueletos onde tudo o que circulava eram mercadorias – inclusive nós – seres humanos. Como definir valores num mundo prestes a explodir? Seja o tempo que for, como inexplicável a velocidade do tempo agora na absoluta certeza do homem comum que apenas sente... Um piscar de olhos!? Nossa!? Já é ano novo? Mas não foi ontem?...

Por favor: resgatem o futuro, porque o presente é um discurso que sobressai das realizações praticadas como um defunto que se acaba de enterrar. Para que permaneçam vivos os grandes e ratos acontecimentos, é necessário criar um novo cemitério.

O mundo nessas várias tentativas de pretender se ressuscitar é um enorme cemitério cujos epitáfios reduzem-se a túmulos muito bem resguardados dentro de uma geografia estabelecida desde uma contemporaneidade deste mundo contemporâneo.

Porque preciso ter tempero ou destempero em apenas pronunciar-me. As filosofias que leio, li... Quiçá lerei... Aguento? Não impedem poder coagulo de reflexão. Ai, como já nem questiono, nem julgo e nem sei o que digo das lembranças que se desnudam através da caneta. Acho que a tinta pensa. A mão rabisca. A cabeça intenta. O coração arrisca. Juntando tudo: asneira das asneiras que peneirei e pesei nas sombras sóis das expectativas. Referências experenciadas e experimentadas desde a infância até este “moribundo” que tem como total e íntegro otimismo – absolutamente – o pessimismo. Nossa! Quanta historinha o povo me contou. Ainda que rodapé de livros, ele, muitas vezes valeria uma obra completa de renomados autores de memoráveis estilos. Como gosto do Guimarães Rosa!

A motricidade que me move já não move o vento que balança a árvore. São auras. Tantas cores reduzidas em uma. A unidade da alma. Passa e mesmo seca, vejo a densidade de suas folhas e é do céu a formação de sua copa.


Antonio Ginco

Março/2008

“Outras Reflexões”

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