sexta-feira, outubro 31, 2008

Demoro cerca de quinze minutos para chegar ao trabalho, isso me possibilita, no geral, chegar de bom humor, uma vez que durmo um pouco mais, tomo meu café da manhã e ainda consigo checar os e-mails, a programação de cinema do dia e a parte de divulgação que tenho feito para a minha banda. O trajeto é curto, duzentos metros e dobro a esquerda na Santo Amaro, mais ou menos um quilometro depois caio a direita na Bandeirantes e por fim um pouco antes da Marginal Pinheiros dobro na Berrini. Logo a primeira impressão é de estar chegando a um outro país, os imponentes prédios comerciais têm as mais diversas formas, todos no geral dão um ar de moderno, os bancos na avenida desfilam charmosas fachadas e as pessoas, no piloto automático, seguem seus trilhos apressadas para sua labuta diária.
Um fato curioso, é que a algumas décadas isso aqui era um rio, uma região totalmente abandonada. As ruas não eram asfaltadas e nem o mais visionário dos empreendedores fazia seu comércio vingar. Hoje, se vê um centro financeiro pulsante e quase tão febril como uma Avenida Paulista, talvez com menos glamour, mas com o mesmo clima.
O prédio aonde está a empresa, era antes, um dos primeiros de quem vem sentido bairro. Terceira rua a esquerda para ser exato. Hoje, já temos um quase pronto que roubou o título de primeiro prédio da Berrini. A maneira correta de entrar na garagem, seria descer até a Nações Unidas e contornar o quarteirão, em vista que é contra mão. Ninguém faz isso, do encanador ao presidente da empresa, todos se arriscam em cinco metros de irregularidade no transito e assim evitam os preciosos trinta segundos gastos no pequeno, porém oficial, desvio.
Observando de forma objetiva, é fácil reparar o quão metódico sou. Estaciono sempre no quarto subsolo, em uma vaga contra a parede, com isso não preciso deixar a chave com o manobrista e fico mais tranquilho com o carro quieto lá. Subo e comprimento a recepcionista, ela torce para o meu time também, trocamos um ou dois comentários da situação atual no campeonato e então desço para meu departamento. Nós ficamos no andar novo da empresa, porém talvez seja o andar mais movimentado. Logo de manhã, não existe paz, na sala ao lado, funciona o atendimento ao cliente. Trinta pessoas que se ocupadas falam todas ao mesmo tempo no telefone, se desocupadas falam todas entre si ao mesmo tempo. Como eles fazem turno contínuo, não importa o quão cedo eu chegue, sempre existe uma pequena agitação.
Afirmo categoricamente que sou sempre o primeiro a chegar na sala que efetivamente trabalho. Sou pontual, e normalmente estou destrancando a sala por volta das oito da manhã, tenho todo o meu ritual, ligo as luzes, tiro a carteira e o documento do carro e coloco na gaveta, tiro o celular e coloco ao lado do teclado, pego minha garrafinha de água vou até a copa, volto com ela cheia, vou até a sala dos equipamentos ao lado e desligo o exaustor que funciona durante a noite. Vale uma pequena observação que o anexo ao lado, possuí duas dezenas de equipamentos que por si só fazem um constante barulho de máquina e produzem um calor que transforma a pequena sala em uma verdadeira sauna. O exaustor tem que funcionar madrugada adentro pelo simples motivo que o ar condicionado do prédio não funciona depois das dez da noite.
Depois de feito meu ritual, sento em minha mesa, e ligo o computador. Aí começa um sub ritual que consiste em verificar o email pessoal, mesmo que recém verificado ao sair de casa, verificar o email profissional, checar eventuais sites ou documentos que ficaram abertos de ontem para hoje e por fim começar a tocar o serviço adiante. Normalmente, as oito e meia já estou concentrado e só desvio o foco para trocar duas ou três palavrinhas para os colegas que vão chegando, ou se estão circulando pela empresa cumprindo seus afazeres.

quinta-feira, outubro 30, 2008

E ela?

Eu disse que queria um pouco de paz. Que estava bem aonde estava. Que não precisava de mais aventuras. Isso tudo pôs o barraco abaixo e foi ali que tudo começou a desmoronar, em um enorme efeito dominó. Pela noite eu disse que não tinha como dar certo, era uma dor aguda falar que não tinha como dar certo, mas era o que eu podia fazer. Ele, com seus olhos brilhando, não desistiu. Disse que eu era louca e que estava fugindo do inevitável, fugindo da felicidade. Eu disse que mesmo assim não havia a menor chance. Ele disse que me amava. A dor aguda apertou, eu também o amava. Mas mesmo assim. Ele disse que iria esperar. Disse com a boca amarga de um conhaque barato, te espero no meio fio. Mas mesmo assim. Ele não sabia o que fazer da vida, pra onde ir. Eu ficaria na minha segurança. Sendo sincera, nem sabia muito bem o que faria em seguida, talvez passar um tempinho comigo mesma. A cena me imobilizou. A balada toda era um funeral agora. As pessoas dançavam como numa marcha fúnebre. A introspecção não é o meu forte. Me agarrei ao meu porto seguro. Eu não o amo, mas ele me sustenta para que eu possa viver. Ele me sacudia, pedia atenção. Eu apenas contemplava, contemplava o seu coração se partir pela minha covardia. Eu me perco nos limites nem sempre bem definidos entre realidade e ilusão. Tenho certeza que pude ver aquele homem se perdendo no rastro do desamor. Ou pode ter sido ilusão. Me afastei ao som massante da música. Beijei sedenta por paixão a boca do homem vazio que me acompanhava. Me sentia a beira de um penhasco enorme, agarrei como podia aos braços dele, me entreguei como nunca, saímos e transamos em seu carro, em uma travessa escura da Pamplona. Naquele momento, eu o amava, quando estivesse sozinha novamente, amaria ao outro. Essa minha trama sobre perdas e sonhos está longe de acabar. Engulo seco, ainda com gosto de porra na boca. Agora já sozinha, caminho os últimos metros até em casa. O celular vibra. Você tem duas mensagens. O coração vira uma bola de basquete, passando de mão em mão e sendo arremessado para todos os lados. Se ao menos alguma coisa fizesse sentido.

segunda-feira, outubro 27, 2008

“Pensei em escrever umas coisas aqui, botar em palavras o que tenho pensado, mas é impossível escrever sobre isso. hoje, comprei dois livros no sebo, edições velhas, de capa mole desgastada, peguei um jornal, umas latas de cerveja no posto, e voltei pra casa, ainda sob o efeito das pílulas e do coração chacolhado pela garota do baixo. tenho o pressentimento, que ainda vão ouvir mais dessa estória.”

Escrito no dia 22 de dezembro de 2007, alta madrugada, coração feito turbilhão depois da noite.

ontem voltei pra casa nostálgico. não consegui dormir direito com esse calor. paro pra pensar e vejo que meus poucos amigos ainda levam vidas de boêmios incorrigíveis. penso um pouco mais atenciosamente num deles. quando ele montava a casa, aonde mora sozinho, me perguntou o que deveria comprar? eu fui seco, um sofá e uma televisão, a solidão é obrigação hoje. poucos malucos ainda se arriscam num casamento, a maioria quer sua sonhada independência ao máximo. ele, hoje, vê o sol nascer da porta de sua varanda. dorme desregradamente e tropeça a cada quarteirão atrás de algum sentido. enquanto eu tomo meu café e dou bom dia pra minha garota, ele toma um pingado em um boteco qualquer. se esfrega numa prostituta que não lucrou na noite, e continua buscando sentido pras coisas.
que tipo de cara é esse? mistério, o cara que afasta o sono com pinga e sol batendo na cara. não usa óculos escuro. leva a puta pra casa e traça ela como se fosse uma amante. depois, a solidão cobre a casa de maneira sem igual. confesso que me entristece quando ele ainda rasteja para o computador e se lamenta por longas conversas desconexas. normalmente o papo cessa quando ele adormece ali mesmo, ele se perde cada vez mais, num verdadeiro espiral. ele vai despertar logo mais, vai me invejar. vai invejar eu voltando pra casa, a minha garota, e nossa vida. vai encher um copo de uísque e beber amaldiçoando o mundo. eu tenho meu mundo, ele tem um lugar no mundo. como ele gosta de parafrasear, ele vai todos os dias na doceria, porque tem uma falta absurda de doce na vida dele. guerra perdida. cara amassada no asfalto. pelo menos ele busca um sentido. será que existe?

sábado, outubro 25, 2008

Luidou no fim.

hoje eu trabalhei bastante na oficina. meu pai foi atencioso, percebeu que algo ia errado, quis saber quem era a garota. o velho é foda, matou todo o mistério em menos de meio expediente. minha resposta foi dada com um silêncio e uma maior concentração no trabalho. sentei pra almoçar banhado de suor, fazia um calor infernal e aquela garagem era um verdadeiro forno. comi muito depressa e tomei um café. voltei pro trabalho. era só me manter ocupado. o céu tava num tom violeta bizarro, e eu nem vi o tempo passar. quando me dei por conta, não tinha mais o que fazer, havia desmontado e recolado as peças da moto centenas de vezes. eu estava vazio, tinha escorrido junto com todo óleo que tiramos da moto. sentei com as mãos sujas de graxa no velho vaso de minha mãe, que outrora sustentava uma bela palmeira em miniatuara, agora não tinha nada, terra batida e bitucas de cigarro, e o tempo que não volta pra essa planta. meu velho tinha saído pra fazer uma entrega, sentei ali no escuro e chorei. lembrei de nosso beijo projetado. nunca chegou a ser como eu sonhei. estávamos na praia, nadávamos e beijávamos como velhos amantes. Depois ela se vestiria e com seus olhos brilhantes me diria que me ama. eu quase sentia a noite de verão escorrer por meu corpo sujo. se não fosse o gotejar chato da torneira do outro lado da oficina. refleti por uma fração de minuto, não sei porque, alguma coisa se rompeu dentro de mim. parei de chorar, as lágrimas secaram. meu coração despejou todo o âmago de cólera e tristeza num choro sem lágrimas, sem barulho, um pranto silencioso e fatal. nem certeza de estar vivo eu tinha. afinal vivia como um morto. ela, Ana, ela me matou. me olhei no espelho da moto, tinha os olhos vermelhos, cheios de um profundo vazio. reencontrei a cama, fui direto pro meu quarto. estava esgotado. acho que dormi, ou não, me dei por conta de algumas estrelas, tão raras no céu dessa cidade. a paz da noite acalmava minha alma. a noite, nada mais era do que uma trégua entre dois dias torturantes. não me sinto pronto a reviver tudo. essa grande cólera, esse grande vazio deixado por ela, ainda não purificou esse bastardo. eu, estou indiferente a mim mesmo. desprendi-me desses valores fúteis, desprendi-me de mim mesmo. Ana não vai voltar a figurar aqui, nem mesmo eu vou voltar a figurar aqui. Com o que resta de coração, desejo que me apedrejem com ódio do covarde que me transformei.

sexta-feira, outubro 24, 2008

Meu estado de espírito oscilava entre depressão e euforia. O que as vezes é um prazer, deslizar o carro, noite a fora, cidade iluminada e toda aquela fauna noturna: prostitutas, bêbados, artistas falidos, cafetões, gente perdida, toda essa corja, e a cidade toda. Você é maior do que todos. Mas agora não, agora eu sento, levanto. Choro, mordo os dentes com toda a força do mundo. Quero arrancar meu maxilar fora. O comprimido que engoli junto com café mais cedo ainda faz efeito, o sangue pulsa forte na minha testa, sinto o meu cérebro encolher lá dentro, tudo fica flutuante, e o medo, o desespero bate mais alto. Agora, nesse minuto, é minha garota que tá lá fora, no meio de toda a selva que nunca adormece. Imaginei todas as merdas, um terreno escuro, um ex condenado, uma faca, sangue. Quase vomitei. Meus olhos vermelhos pediam paz. Redenção! Será que minha paz está em matar um qualquer sem motivo? Ou imaginei ela perdida, uma rua vagabunda, o cheiro de salsicha e cebola sendo frita em óleo barato. Nem os mais ferozes param uma bala no peito. Meu corpo tá esquisito, como se faltasse ar e alma. Quando eu apagar, vou apagar por completo, nem sonhos vão escoar pra dentro de mim. Pra saciar, água da torneira e o celular do lado. Cacete, cade minha garota, queria estar num bar, beber uísque até as veias pegarem fogo. Celular tocou, uma hora e meia depois do esperado, ela chegou, chuva, condução quebrada, a corja de safados ficou pra trás, e agora as pílulas que não me deixam dormir. Cade o meu interruptor?

terça-feira, outubro 21, 2008

Doze homens e uma sentença - 12 Angry Men (1957)

Direção – Sidney Lumet

Doze homens e uma sentença é um drama americano da era de ouro de Hollywood, em preto e branco abusando de simplicidade, a trama é simples. Um julgamento, o moleque acusado de matar o próprio pai, testemunhas, tudo a favor da incriminação. O juri, composto por doze pessoas distintas entra na sala e a priore acredita que é apenas o caso de assinar embaixo e jogar o garoto numa cadeira elétrica. Então o personagem de Henry Fonda, contesta e nega-se a condenar o réu. Como a decisão tem que ser unânime os doze entram em um verdadeiro embate a respeito da inocência ou não do acusado.

Quase tudo se passa num mesmo plano sequência, com exceção de uns pequenos cortes e as cenas iniciais e finais do filme. Na verdade, quase tudo se passa na sala aonde os jurados devem tomar a decisão. É incrível o poder de tensão que se cria e o estado emocional que as personagens são levadas. Mais do que uma produção despojada. Os diálogos são um show a parte. Dignos de teatro do mais alto nível, o fino da arte de representar relações humanas.

Não existe como entregar a trama, o filme é isso, um caso aparentemente liquidado e doze jurados com o poder de mudar o destino. No cartaz original do filme, existia uma frase que define bem a psique humana explorada nessa película: A vida está nas mãos deles, a morte está nas mentes deles. Vale destacar também a impessoalidade, durante quase o filme todo nem sequer sabemos os nomes das personagens, que são apenas identificadas por seus números, jurado número um, jurado número dois e assim por diante. É um deleite ver as máscaras caírem, e ao mesmo tempo, é um tapa na cara sermos levados a pensar na forma como julgamos as outras pessoas. Vários fatores podem deixar as pessoas se levarem, desde preconceito, ódio escondido ou mesmo pura influência do grupo.

Um clássico absoluto, indispensável na vida de qualquer cinéfilo ou mesmo amante de teatro. Enfim arte no seu estado mais nobre.

sábado, outubro 18, 2008

Até o dia em que o meu eu ensandecido morreu, eu não me lembrava de sonho algum. Acho que nem sonhar eu sonhava. Ou melhor, sonhar eu sonhava sim, e tudo durava um segundo precioso que era esmagado com o pesar do abrir dos olhos. Hoje, ela continua fitando o transito caótico da cidade de São Paulo, a luz vermelha do freio dos outros carros dava um contraste bonito no seu rosto branco. Realçava sua boca cor de maça e criava um contraste quase surreal no vácuo de seus olhos. Céu cinza, nuvens esparsas e chuva fina. Cacete ela é linda sob qualquer ótica. Eu pensava em jogar ela num quarto de motel qualquer, ouviríamos Jeff Buckley e dormiríamos abraçados depois de uma bela trepada. Eu sonhava em esquecer um pouco a amarga realidade que abortou nossos planos, puxou nossos pezinhos de volta a superfície e nos lembrou que existem contas, prestações e outras coisas que são um saco, mas são reais. Hoje, curiosamente, lembrei de como a vi em nosso primeiro encontro. Parecia uma mulher saída dos meus livros preferidos. Uma descrição de Fante e sua Camila desvairada. Não consegui me concentrar, as buzinas chiavam incansavelmente. Quero que ela saiba que tem o homem dela. Na tentativa desesperada de manter o antes adormecido sonho vivo, me coloquei a falar, me coloquei a bestialmente falar, cutucar e quebrar um silêncio totalmente cabível. Eu aprendo, aprendo todos os dias com meus erros. Garota, tenha paciência comigo, sou péssimo em me relacionar, mas acredite, você me faz continuar tentando, e mais, desejando do fundo do coração aprender. Eu nem me lembro o tanto que falei. Porra, na real é só garoto pedindo atenção.

quinta-feira, outubro 16, 2008

Esse não sou eu.

Ontem eu senti a boca secar pela falta da pílula. escorri pela rua augusta abaixo com minha garota, mãos dadas e andar perdido. sonhei com o dia que aquelas ruas decadentes serão palco do glamour perdido da minha banda. vi meu andar perdido se tornar um andar cheio de confiança. e a boca secava, um desejo por uma gelada e a química me inibindo. minha mão soava junto a dela. de repente, sem mais nem menos um carro saindo de uma garagem recuou e pegou na minha coxa, filha da puta, nem foi forte, mas fela da puta! esmurrei duas vezes com gosto a traseira de metal, o cara ficou puto, perguntou se eu achava certo bater no carro dos outros? é certo jogar essas merdas em nós? maldito. fui tomar o famoso sorvete vegan, lá na augusta quase central, não achei nada demais. depois fugi da chuva, perdido naquele futuro paraíso crepuscular. tenho sede. minha boca ainda tá seca.

segunda-feira, outubro 13, 2008

Tô com saudades de escrever aqui. To secando de mergulhar de cabeça na divulgação da banda. Na hora que eu pego aquele violão, e mando minhas músicas junto com os rapazes, não existe mais o porque de trabalhar, o porque de viver encoleirado, enjaulado. Não existem mais motivos para desfeita de aceitar e abaixar a cabeça. É uma sensação ótima, e agora, pela primeira vez, estamos dando um passo para levar isso a todos.

Queremos o mundo. Quero transformar a casa do batera num reduto de música para os paulistas. Nós vamos derrubar a casa dele abaixo, jogar tudo num quarto, abrir bastante espaço livre e encher de breja. Vendendo a um preço justo, tocaremos de sábados pra galera. Show descompromissado. Como música tem que ser. Celebração, gozo em vida. Não obrigação. Queremos o mundo.

Por favor, sendo chato, mas é necessário. Ajude o sonho:

www.myspace.com/georgeband

Não esqueçam de adicionar o perfil, deixar comentários e principalmente passar adianta. Valeu. Em breve volto a dedicar aos meus escritos. Já to coçando os dedos pra escrever qualquer porcaria.

Bom vou lá.

quarta-feira, outubro 08, 2008

você deitada em cima de mim, até que vejo as coisas de outra forma. digo eu te amo com a convicção de um bluseiro descarado. quero perambular pelos becos obscuros de seu corpo até o amanhecer. minha viagem é no seu corpo garota. desde a primeira vez que nossos lábios se tocaram. minha diva não tem só mulher, tem alma, coração, sofrimento, amor e perdição. cacete, escrevo com tripas e sangue. como se fosse o compositor de sua melodia final. a banda que toca fica no meu peito. não quero me vangloriar, o resto é fotografia do fim dos tempos.

terça-feira, outubro 07, 2008

Gosto de viajar, meter o pé na estrada, ver o mundo ficar pra trás e todo um mar de possibilidades se abrir lá na frente. Gosto pra cacete de conhecer novos lugares, de saber que existe um puta macarrão com frutos do mar em Paraty, ou que existe uma cidade bem mais civilizada um pouco mais ao sul daqui. Mas porque diabos eu ainda guardo um carinho especial por São Paulo? Não sei se é pelos porres madrugada a adentro que tenho guardado em cada cantinho dessa cidade. Eu as vezes sinto uma saudade quase estúpida dessa cidade. De uma boa feijoada no centro, de um puta macarrão bom no planetas, do teatro, do cinema, de uma comida japonesa de primeira, de um show perdido na augusta, de todas os malabarismos que essa cidade suja oferece em troca da vida condicionada que ela oferece.
Esse lado sujo e sombrio de Sampa me encanta, me fascina ao mesmo tempo que me repulsa. Já perdi a conta de quantas vezes amaldiçoei essa cidade. Mas eu sempre volto, e meu apê tá subindo, subindo feito máquina, feito essa cidade que só sobe. As vezes me assusto pensando em sair fora, em deixar a cidade de lado, mas não sei, tenho um sangue paulista correndo nas veias. Quem sabe, quando mais velho? Talvez me canse daqui, que queira uma casa no campo, no exterior, na lua, foda-se, agora não. É foda, passo todo dia em frente a minha futura casa, olho, vejo um peão trabalhando, acho tudo lento. Eu orgulhosamente posso afirmar que vou morar numa cidade única, vou casar, me meter numa casa que vai ter a minha cara, e principalmente a mulher que eu amo lá dentro.
Eu não sei, na verdade me perco em tantas possibilidades surgindo. Eu, hoje, acredito em amor e felicidade. Exatamente um ano atrás eu ria dessas coisas. Então não sei se posso falar muito a respeito do futuro. Posso falar de minhas vontades hoje. De meu desejo pela garota da minha vida e por minha futura casa na cidade da minha vida. Se a garota foi uma escolha pessoal incondicional, a cidade foi um acaso descontrolado. Por hora é isso, é um quero por quero. Vou morder e arrancar pedaço pra chegar lá aonde desejo. Afinal, alguns bebem até morrer, outros vagam sem esperança por aí. Eu, eu achei um osso que não vou largar tão fácil. Achei a possibilidade de viver essa encrenca toda que chama vida, ao lado de alguém. Achei a possibilidade de fazer tudo que eu mais amo, ao lado de alguém muito especial. Resta esse desconforto gostoso com a cidade aonde moro. Se não é o paraíso na terra, é um canto que consigo falar de peito cheio que é meu. Não é terra deles, é terra minha.
Eu queria que essa peça de teatro acabasse num baile, um casal dançando ao som de Here There And Everywhere dos Beatles, um bêbado canastrão sentado no meio fio com uma garrafa de pinga barata, uma puta sendo estuprada por um caminhoneiro solitário e uma jovem perdida metendo uma bala na própria goela. A platéia iria assistir em primeiro plano o estupro e o suicídio, e ao fundo, meia luz, quase desesperançado, o casal dançando.
Agora queria comer um bom virado paulista e sair com minha garota pela paulista, vagando sem rumo, tropeçando num músico de rua, tomando uma breja barata em algum canto. Pra ver erguer mais um tijolo de minha casa no raiar do dia seguinte.

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Não esqueçam de visitar, comentar e divulgar:

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segunda-feira, outubro 06, 2008

Paraty

Atrás do centro velho, em um emaranhado de ruas pequenas, uma multidão cria um zumbido alto e constante por toda a parte. Bem ali, do lado da avenida principal, próximo do rio, dorme o albergue de Paraty, e mais próximo do que se pensa, pessoas comemoram de forma fervorosa as eleições. Das janelas dos sobrados, acima das calçadas, rostos cujos corpos não faziam-se visíveis alimentavam mais ainda o pequeno caos instalado ali.
Foi ao longo de horas e curvas, deslizes pelas serra abaixo e risadas perdidas que chegamos a esse pequeno paraíso dantesco. Primeiro se avista o caís, e todos seus barcos luxuosos, imponentes, uma visão cinematográfica. É a sala de visita da cidade.
Sentado no vaso sanitário do pequeno quarto que nos arranjamos, um pensamento ecoava na minha cabeça: “sou um homem feliz”. Aquela puta cidade linda, uma mulher maravilhosa me esperando ali no quarto, um fim de semana perfeito. Estava um pouco nervoso com a iminência de algum passeio a barco, sou homem da terra, um puta medo de enjoar e alimentar o peixinhos.
Posso dizer que foi foda, depois de sair fora daquele banheiro, deitar e fazer amor com minha raposa, entrei numa montanha russa sem freio. Praia, trilha, pessoas se afogando, mato, ondas, areia, comida boa, barco, tempestade. Só deixamos lá junto com o sol, saímos feito cão molhado. Tristes por deixar o pequeno paraíso para trás. O paraíso feito por nós, para nós.
Foi uma viagem tensa de volta, chuva, neblina, pneu furado, horas de trás do volante. Tudo para regressas a nossa terra da garôa. A felicidade é muito mais gratificante quando compartilhada. Caralho, como é bom sentir-se vivo.

sexta-feira, outubro 03, 2008

Passei devagar, quase despercebido pelos corredores do prédio.

Vi os dois de relance, e deixei a situação acontecer, caminhei no escuro deixando a voz deles me guiar. Um mundo de peso nas costas, me mesclando com o concreto. Tô derretendo, ouvindo eles falarem e pensando. Como porra isso foi acontecer?

Isso tudo não passa de um grande carnaval. Desde o começo tava clara a merda que aconteceria nesse choque rei. Ele um irremediável romântico. Ela uma pequena com medo do que lhe aguarda dobrando a esquina. Eu não entendo, nunca entendi, você também não sabe de nada, e não vai ser tão cedo que alguém vai entender.

Ela resolveu estragar tudo, acha que as coisas são pedra e não saem do lugar. Se fodeu, amanhã já é tarde.

Não tem como voltar. Mesmo escarrando na cara deles, não tem jeito, coração não tem cabeça mesmo.

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Por favor galera, visitem, comentem, divulguem:

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Fugi. Até segunda.

quinta-feira, outubro 02, 2008

Frase do dia: A vida é muito perigosa para quem tem paixão.

O que acharam do novo projeto do Macca?

quarta-feira, outubro 01, 2008

Saiu meu mojo! Quem quiser dar uma olhada.

Mojo do Wilco

Música foda pro meio da semana.

Olheiras, profundas olheiras, a cara amassada de uma noite mal dormida. As vezes ele se desprende a rir, um riso atormentado de quem já tá morto por dentro. Um desperdício de um ser humano. Murchando e bebendo em sua vidinha ridícula, em um bar provavelmente ridículo como ele. Esse é o cara, e ele é meu amigo. Sou rodeado por gente assim, acho que curto a decadência.

Ele escarrou seu amor, amassou e jogou no lixo no passado. Hoje revira lixeiras feito cão de mendigo. Tá buscando feito um filha da puta esse osso do próprio capeta. Antes buscar do que dar de ombros e aceitar a mediocridade. Aceitar o vazio. Esse é um dos poucos caras que chora, e faz o mundo todo duvidar que tenha sido com sinceridade. Ele chora, chora pra descongelar o coração.

Ele me ouviu, chamou a garota dele, e vai se enfiar no carro, chutar a estrada comigo e a minha garota. Ele tá em busca daquele fervor, daquele gozo que só os jovens sabem achar. Tá em busca de um foda-se a tudo. Só pegando a estrada e se desligando um pouco do mundo para ter a chance de achar. Ainda bem que ele me ouviu. Não tem motivo para se esfaquear, eu mesmo tirei a faca da mão dele. Eles se gostam, eles tem a faísca escondida em algum lugar. Amor é um bêbado filha da puta mesmo.

Nada.

Não tenho tido vontade de escrever, mas só o fato que vou arrancar o cara mais mal humorado de casa para pegar estrada me anima. Aproveitando o feriado das eleições, me vou pra longe. Esvaziar um pouco a cabeça.