segunda-feira, dezembro 31, 2007

Tudo azul.

Um calor de derreter em São Paulo.
As pessoas continuam a me surpreender.
Alguns amigos somem como fumaça
Outros surgem sem dar sinal algum,
Eu posso até dizer que estou feliz
Miles sendo debulhado nos fones.

É,
Os tempos estão mudando.
A boca dela está cada vez mais próxima e nem será a mesma coisa daqui pra frente.
Até sinto meu humor inconstante buscando uma certa paz de espírito.
A cama convidativa, o jazz fluíndo, o vinho alterando os sentidos e nada de sono.
Relaxa John, relaxa homem. Embale-se no groove e relaxa ao menos hoje.
Mas que inquietação mais filha da puta. Vai ser uma longa noite.

O passado não será mais esse cativeiro sujo. A sombra distorcida na parede não é mais motivo de medo.

Vou tomar mais uma com meu amante celestial e mais sofisticado camarada.
Cada altar que me força a ajoelhar é destronado de Deuses.

Todo mundo teve um bom ano! Certo John?

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Desejo de Anos.

Esqueci todas as poesias vividas em meu pequeno universo. Que essa seja a poesia número um, e também seja a derradeira nota do instrumento vivencial. Não deixarei que retalhem mais pedaços do mesmo tecido em minha pacata vida, buscarei outras cores e transformarei essa colcha de retalhos em uma verdadeira alegoria de carnaval. Lhe digo, trago dentro de seu coração, todo o universo que ainda está por ser criado neste imaginário complexo que é a realidade. É, neste porto que é a vida, cheio de chegadas e partidas, levarei tudo comigo. Enfim serei livre! Mais do que meus pés descalços permitem, ou muito mais do que minha visão míope consegue tocar. Esqueci esse grande e castigador sol e abracei a idéia que a vida não é pouco e nem demais, é o que deve ser. De tão brilhante que é a vida, chega a cegar, queimar, doer, roer e encantar. Beijarei toda e qualquer puta. Amarei toda e qualquer moça de família. Me apaixonarei por toda e qualquer alma vadia. Enquanto somos constantemente jogados e abandonados no mar revoltoso que é o destino. Que religião mais cheia de fé pagã e incerta. Vai noite, vem cobre-me com suas estrelas e me conforta com a sensação de insignificância perante o absoluto. Que me seja carinhosa e diga Amém a minha prece magoada. Choro a Terra, choro a Mãe, choro a Irmã. Distorcido em caos televisivo e delirante. Vai grande circo, ò grande circo, me convida pra dançar a valsa tortuosa. Eu vou ser a mais abstrata das flores, pra talvez conquistar a fugaz garota dos livros. E os anos passam. Quero ser ator de todos os palcos, e quero ser humano em todas as praças. Despi-me não de roupa mas de desculpas escorregadias. Sou isso, fraco e real. Um louco que sabe de sua insanidade. Um bobo que sente o beijo de todo e qualquer encontro em apenas um leve toque do lábio amado. Que esse infindável desfile tenha algum propósito, é tudo que desejo, um insignificante propósito. Minha alma canta, minha alma aguá, minha alma depende, minha alma sol. Todos os amantes gostam de Vodca e solidão acompanhada.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Vidas Secas - Graciliano Ramos (1938)

Públicado em 1938, talvez esta seja a maior obra de Graciliano, ou pelo muitos a consideram tal. Com um enredo simples aonde vemos uma família tentando sobreviver ao bravo sertão nordestino, somos carregados a conhecer um pouco mais dessa cultura as vezes tão ignorada neste nosso enorme país. É interessante ver o recurso utilizado pelo autor em narrar sua epopéia em terceira pessoa, uma vez que suas personagens são simples e não teriam a riqueza necessária para se comunicar com o leitor, essa narração cria um elo de introspecção muito maior. Mesmo tendo um protagonista em tese, podemos observar que a história muitas vezes segue uma ordem por vezes aleatória e mesmo a cadela da família recebe a devida atenção.

É interessante ver como os capítulos são independentes e podem ser lidos como contos isolados, o que é verdade, afinal o livro nasceu do conto “Baleia” que foi públicado em um jornal e devido a repercussão gerou em Graciliano a vontade de escrever o romance. Mesmo o linha temporal é bastante relativa, sabemos apenas que os dias e anos passam, agora quantitativamente não temos a menor idéia.

Uma idéia que tenho sobre está obra é que G.R. construíu tudo de forma fragmentada usando de espelho a propría vida dos sertanejos. Nos romances mais tradicionais existe uma evolução dramática que é resultado da interação do homem sobre o mundo. Aqui temos mais uma interação do mundo sobre o homem, que é posto no lugar de vítima.

Fato marcante é que mesmo toda fragmentada e descontínua a obra ainda sim apresenta uma enorme coesão. Talvez fruto da estética bruta e seca da narração, ou de recorrências de certos motivos que vão e voltam através de toda a obra.

Um marco da literatura Brasileira, altíssimo nível.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Infância Esquecida?

Eu amava ficar olhando o céu pela janela quando tinha meus dez anos de idade. Ficava parado uma porção de tempo, criando meus reinos mágicos e os terríveis dragões a serem derrotados. Eu era sonhador, era sonho e era real. O Nirvana já virava história, não que isso fizesse muita diferença a minha pacata existência, viria a fazer tempos depois, porém todo um mundo se desdobrava em acontecer o presente como tempestade, e eu lá, feito rocha. Meu mundo era as peladas no prédio, as brincadeiras como Polícia e Ladrão, Barra Manteiga, Queimada e tantas outras. Tudo isso e ainda não existia a princesa a ser resgatada do maléfico dragão. Moleca de si, loirinha, parecia saída de algum filme. Raramente se jogava no tanque de areia conosco. Na verdade, consigo contar nos dedos as vezes que ela apareceu. Ela nem tinha idéia de quem eu fosse. Um ano mais nova, morava na cobertura e aparentemente tinha uma vida muito bem resolvida fora daquele prédio que guardava tantas histórias. Mas pra mim, ela é que era a princesa a ser resgatada. Ela me apresentou a palavra solidão, o fato único que era se sentir só, trancado no quarto ouvindo Pearl Jam ou Soundgarden. Imaginação a mil correndo sobre vales e enfrentando hordas de batalhões para conquistar o coração dela. Sem contar as aventuras de espionagem, inspiradas pelo 007, em que furtivamente invadia o telhado do prédio e passo a passo me colocava a espia-la em sua piscina. Será que é marca da doce visão inocente da criança: a mágica em torno de alguém que nem se conhece? Quantas e quantas vezes me deitei e coloquei-me a forçar um sonho perdido sobre minha musa? Borges dizia, perca a capacidade de sonhar, então perderá a esperança e estará a um passo da cova. Sinto-me quase agredido por ser assim, palhaço de circo, pronto pra levar tortadas e servir de riso para a massa. Só porque busco acreditar que a magia está no olhar, e que busco dia após dia, aquele olhar de criança, aquele primeiro e furtivo olhar que merecidamente me colocou em doces devaneios. Aquele pequeno momento em que ela nem sabia quem eu era. Mal podia imaginar toda a história que ainda viveria com aquela garota da cobertura. Agora acho que sou responsável demais para frustar qualquer espectativa, ou pior, libertino em demasia, pronto a uma entrega assustadoramente completa para pessoas normais. Projeto vida, rumo a mais um ano.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

Once (2007)

Direção - John Carney

Que filme maravilhoso, divertido e tocante. É engraçado como é um musical por definição, porém não tem nada do que um musical costuma ter. A dupla de personagens principais são músicos e assinam a belíssima trilha sonora. A atuação totalmente naturalista por parte do enredo em geral deve se dar em conta do fato de não serem atores por excelência que realizam o trabalho, fato que reforça um ponto que sempre adoro abordar, quem é ator? Aquele que ganha a carterinha do curso? Ou aquele que encara a vida como um palco? Aqueles tantos solitários que fazem parte do grande drama moderno.

A história? O que pode ser mais simples do que um técnico de aspiradores de pó que nas horas vagas vai a rua tocar suas músicas em busca de algum trocado, que esbarra com uma imigrante que vende flores, gosta das músicas dele e tem um aspirador quebrado? Sim, apartir deste ponto de partida bastante simples, temos uma história bonita, real e cheia de sentimento.

Sabe aquele laço invisível que as vezes une duas almas? Aqui nada mais é do que o amor pela música e o modo como duas almas fragilizadas encaram o mundo. Isso é suficiente para resultar em belas canções e momentos memoráveis. Quanto a trilha, é realmente de primeira qualidade, muito boa, lembra bastante Damien Rice.

O final do filme me deixou meio sem ar, vou me refugiar no meu telhado prefirido, ler alguma coisa e tomar o vinho que faturei no natal da empresa. Boas festas a todos.

Aniversário do Perdido na Tradução.

1 ano de Blog.
182 Posts.
Não achei que chegaria até aqui.
Mas parece que depois que os primeiros passos são dados, a estrada faz o resto. Que venha mais um ano de Perdido na Tradução.

Fico aqui nesta noite natalina, chorando com bobagens e feliz por coisas simples.

Agradeço por todas as visitas.

Pensamento Perdido.

Não, não creio em poeta. Capturar um efêmero minuto do mundo é um ato maior do que um substantivo pode qualificar. Dizer que os lábios úmidos dela são como frutos mordidos não é mérito de poeta. É feito de sentimento escutado. É processo de alfabetização sentimental de uma raça praticamente desconhecedora dos estranhos e prazerosos caminhos da alma. É engraçado como cada vez mais ignoramos os silêncios que combinam perfeitamente entre duas pessoas. Em uma sociedade com tamanha massificação de idéias e conceitos, creio que existe até uma alma coletiva como Quintana sugeriu certa vez. Acho que a grande vantagem não é olhar para os lados e buscar ser diferente, e sim ser indiferente. E esse mistério evidente que é o inexplicável acaso de dois estranhos em uma noite suja? É algo tão óbvio, que consegue não ser chato como a realidade. Creio que apartir dessa previsibilidade é que temos o gostinho incrível que é o descobrimento de uma nova forma de se observar. É bom sentir o sangue correndo.

sábado, dezembro 22, 2007

Carlos Drummond de Andrade

Creio que uma das maiores faltas para um brasileiro é não conhecer o nosso gênio: Carlos Drummond de Andrade. Fiquei em dúvida sobre qual poesia colocar, existem tantas. Essa é um clássico, bem conhecida mesmo, mas eu adoro.

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Passagem Das Horas - Álvaro de Campos

Trago dentro do meu coração,
Como num cofre que se não pode fechar de cheio,
Todos os lugares onde estive,
Todos os portos a que cheguei,
Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,
Ou de tombadilhos, sonhando,
E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero. [...]

Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.
Não sei se sinto de mais ou de menos, não sei [...]

Porque, de tão interessante que é a todos os momentos,
A vida chega a doer, a enjoar, a cortar, a roçar, a ranger,
A dar vontade de dar gritos, de dar pulos, de ficar no chão, de sair
Para fora de todas as casas, de todas as lógicas e de todas as sacadas, [...]

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.

Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,
Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,
Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,
Seja uma flor ou uma idéia abstrata,
Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.
E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo. [...]

Multipliquei-me, para me sentir,
Para me sentir, precisei sentir tudo,
Transbordei, não fiz senão extravasar-me,
Despi-me, entreguei-me,
E há em cada canto da minha alma um altar a um deus diferente. [...]

Foram dados na minha boca os beijos de todos os encontros,
Acenaram no meu coração os lenços de todas as despedidas,
Todos os chamamentos obscenos de gesto e olhares. [...]

Sim, e o que tenho eu sido, o meu subjetivo universo,
Ó meu sol, meu luar, minhas estrelas, meu momento,
Ó parte externa de mim perdida em labirintos de Deus! [...]

terça-feira, dezembro 18, 2007

As 100 melhores de 2007 segundo a Rolling Stone

Saiu a lista das 100 melhores músicas de 2007 pela Rolling Stone. Nem sei porque olho, em quase tudo discordo ou desconheço. Quem quiser dar uma conferida o link está aqui.

Comentando algumas faixas:

- 8 - Bruce Springsteen - Long Walk Home - Esse foi um ano que não fiquei tão antenado nas novidades como nos anos passados. Só sei que é uma música linda. Esse sim tem acertado cada vez mais com a idade chegando.


- 17 - Radiohead - Weird Fishes/Arpeggi - Quem diria que senhor Thom Yorke voltaria a fazer músicas de amor? Uma linda canção, de um dos melhores discos de 2007.


- 18 - White Stripes - Icky Thump - O que falar de um dos melhores Riffs de guitarra desde Led Zeppelin e Sabbath?


- 22 - Arcade Fire - Keep The Car Running - Muita gente não gostou, mas eu amei o Neon Bible e essa é a melhor música do disco.


- 32 - PJ Harvey - When Under Ether - Vou admitir que esse disco eu ainda não engoli bem, falta algo, mas essa música é uma das melhores mesmo, se a intenção era causar uma estranheza e e arrepios ela conseguiu.


- 51 - Robert Plant & Alison Krauss - Eu sempre fiquei com o pé atrás em relação a carreira solo do Plant, mas aqui ele acertou em cheio, com canções matadoras junto com essa grande cantora de Country.


- 71 - Wilco - Impossible Germany - O novo disco do Wilco é como sempre uma bela surpresa, e essa música nos presenteia com um dos melhores solos de guitarra dos últimos tempos.


- 78 - Charlotte Gainsbourg - The Songs That We Sing - Essa francesinha tem algo que ao mesmo tempo não me agrada porém essa música me manteve viciado por parte do ano, perdi a conta de quantas vezes escutei. Sem contar que a banda de apoio é o Air.


De resto é só dar uma conferida, deve ter mais coisa boa, ou não. Não sei.

A Loucura de Papai.

Os tormentos em casa só se amansavam com a nudez da noite calada; pois é aí que deixamos a vigília finalmente ser vencida pelo sono, pesado cansaço dos intermináveis sermões de papai. Uma fúria contida, prestes a explodir ao menor desvio na linha tracejada que nós leva de hoje para amanhã. Isso bastava para trazer a loucura aos olhos dele, a inquietação ao corpo, as falas desmedidas de sentimento ou razão. O que lhes registro aqui aconteceu hoje, aconteceu no dia antes de ontem e acontecerá novamente sempre que o demônio cobrir os sentidos do chefe da casa, então tempestades desabarão novamente sobre aquele, outra hora tão calmo lar. Entrava furtivamente, descalço, como uma ladrão. Não era fácil prever as obscenidades que trazia tatuadas em seu corpo, muito menos de fácil compreensão a tensão disfarçada de um molejo gingado. Ele dizia nada, nós não dizíamos nada. Chegava a pensar que dessa vez seriamos polpados. Tão logo sentíamos a sombra da ofensa sobre nós, sentíamos a punhalada certeira que partia das palavras de papai. Descontroladas como uma ensandecida locomotiva, babava sobre nós o peso de todo uma nação esquecida. Tirava lágrimas de mamãe, que mesmo dura feito rocha, desabava e punha-se em joelhos, humilhada e destroçada por um monstro impiedoso e cruel. Só me restava, justo eu o caçula, ser mediador desta terrível personificação da destruição. Era comovente e me punha aos prantos ver que a razão, tão amada e motivo de tanto orgulho do patriarca, lhe faltava e eu enxergava sim, um velho assustado com o Câncer, também conhecido como vida, que lhe devorava o brilho dos olhos. Era triste, ver aquele, que em tempos de reis, era tão forte e destemido. Aquele que cruzou a nado oceanos, derrotou moinhos de vento, e resgatou a princesa do alto da torre. O grande rei do passado, entregue as traças destinadas a devorar as páginas da história. Ver perdido em tamanha tempestade, apenas um garotinho, amedrontado e em busca de carinho.

segunda-feira, dezembro 17, 2007

Novos Rumos?

A minha cabeça repousava na mais confortável cama que eu poderia pedir naquele momento, uma cama cheirosa e macia. Estímulos fundamentais para entender tão suave sonho. Estas incitações externas me entorpeciam em uma delgada realidade que velejava na beirada do nosso mundo e o de acolá. Que carinhos eram esses que tão suavemente me embalavam nesta nave noite a dentro? Ela me acalentava nos seus braços do mesmo jeito que a noite me recebera tão amavelmente. Descrever o sonho seria como explicar a poesia. Pois todos somos poetas quando dormimos e deixamos a alma falar por sobre a razão. Será que era pedir em demasia mais tempo ao lado de tão doce fantasia? Ou seria egoísmo demais se prender em tal devaneio e não aceitar o brusco retorno que nos puxa para cá? Ela que nunca foi tão real, sempre esteve perambulado na mais delicada inconstância de existir. Ela que veio abraçar-me com outro nome, roubar minhas vontades íntimas e dominar meus desejos secretos. O medo do inexplicável levaria muitos a fuga, me levou diversas vezes a fuga, mas não dessa vez. Desde todas minhas escapadas, será calando minha revolta silenciosa que eu, cada vez mais, me distanciarei do meu porto seguro, e se o encadeamento de fatos distraídos me levar ao revoltoso mar da imprevisibilidade, não me importarei, erguendo meus olhos, assistir a novas paisagens, quem sabe menos ásperas?

quinta-feira, dezembro 13, 2007

Pacto Maldito - Mean Creek (2004)

Direção - Jacob Aaron Estes

Por mais inocente que as vezes parecemos, todos temos algum segredo. É sobre essa premissa que Jacob desenvolve um filme pra lá de intrigante. Circulando os canais da TV a cabo, me deparei com o filme ainda nos créditos iniciais, como todo bom cinéfilo não resisti e resolvi conferir ao menos os primeiros quinze minutos, quase duas horas depois ainda estava lá acompanhando uma bela história que apresenta a verdade crua e nua.

Primeiramente Rory Culkin consegue dá um banho em atuação e definitivamente se mostra uma grande promessa como ator. Sem deixarmos de lado o trabalho bárbaro de Josh Peck, que faz o papel de um garoto solitário porém não menos temido na escola em que estuda, típico "Bully" como os americanos costumam chamar, traduzindo, aqueles metidos a arranjar confusão na escola e que gostam de abusar dos mais fracos. É incrível como Josh chega ao ponto de fazer agente se simpatizar pelo personagem dele, isso sem termos muita história do passado dele, tudo apenas com uma atuação sensível, realista e tocante. Rory protagoniza o papel do adolescente que constantemente é amolado pelo arruaceiro da escola, mostra bastante sensibilidade e um carisma cativante.

O filme é bastante inteligente e nos levanta diversas reflexões sobre essa época tão turbulenta que é a adolescência. Basicamente o roteiro decorre sobre a vingança que o irmão mais velho arma para o garoto que bate em seu irmão mais novo na escola. O que poderia nos jogar num imenso vale de clichês é salvo por uma grata surpresa de personagens que fogem do caricato e uma profundidade dos personagens bastante interessante e uma louvável discussão sobre moral, sem ser piegas.

Grande destaque mesmo para o elenco mirim do filme, como já citado os dois atores anteriormente, ainda temos a coadjuvante Carly Schroeder em um papel de uma garota que cai no enredo sem ter idéia de onde está se metendo. Ela dá um banho de atuação e se mostra muito mais madura do que a pouca idade poderia supor.

É de fato um perturbante porém belo retrato da adolescência. Uma história simples contada em diversas camadas complexas aonde culpa, humilhação, pesadelos e vingança fazem parte de todos os personagens. Uma história sem heróis e sem vilões exatamente como a vida é. Tudo isso torna o filme bastante único, fica até complicado de catalogar algo assim. A atmosfera, mensagem, emoções e atuações são tão reais que é impossível não sentir um belo tapa na cara ao final.

Uma das maiores armas que pode existir é a culpa, que pode se transformar numa paranóia insustentável. Por menor que sejam os atos, ou mesmo por mais inocentes que sejam as intenções, sempre acabamos por correr o risco de escorregar em algo que pode nos manchar para sempre. E carregar esse fardo é tarefa mais do que complexa para qualquer um, independentemente de idade ou sexo.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Breve Momento Na Praça

Tentava decidir se estava satisfeito em estar sentado naquele boteco na praça dos artistas, perto porém muito longe da pessoa que estava sentada a sua frente. Não conseguiu decidir. Parecia uma forte e boa decisão se aproximar e toma-la em seus braços, porém continuar sentado naquela situação de contemplação estável lhe parecia incrivelmente lógico. Talvez ele devesse se levantar e fazer o que o coração mandava, mesmo a razão lhe alertando o contrário. Ou talvez ele quisesse fazer isso para se superar de uma vez por todas. O mais provável era que amba as coisas fossem o mais simplório fogo de palha. O desejo de estar em casa talvez fosse mais adequado a situação. É, talvez devesse, naquele momento mesmo, se levantar e voltar pra casa, trocar a calça desbotada por uma bermuda, pegar algum de seus livros intocados e ler alucinadamente madrugada a dentro, até seus olhos negarem o pedido de continuar abertos e as mãos se curvarem com uma câimbra ocasionada pela, muitas vezes incomoda, posição de se ler deitado. Novamente caiu no limbo da indecisão, não sabia se avaliando essa nova e brilhante possibilidade, tinha algo que realmente queria fazer ou simplesmente algo que achava que devia ser feito, ou pior, será que era algo que achava que deveria ser visto fazendo? As vezes esses momentos de insanidade são tão cheios de razão que por um momento podem ser a pista definitiva para a mais íntima identidade, uma sintética formação de quem realmente somos, quem imaginamos ser, ou quem todos enxergam ao nos ver.

Na luz do palco da vida, emanando uma aura cinematográfica, entre aqueles atores amadores, incertos de seus reais papéis, existia apenas um ponto de destaque físico. Cabelos cacheados, blusa vermelha, sorriso cativante, ela bebia seu Cappucino graciosamente. O olhar sincero e aparentemente fixo nas mais variáveis realidades possíveis do momento. A feminilidade expoente de uma natureza sem artificialidades. Ela conduzia aquele momento sem mal saber o impacto fulminante que causava do outro lado da mesa. Era, em suma, uma pequeno ato de Shakespeare se escrevendo em tempo real. Ela parecia isolada em seus próprios vôos de pensamento. O tempo enorme que permaneceram sem se falar, talvez tenha atingido alguns minutos, não parecia necessário dizer nada além de suas presenças mudas, uma incrível tensão estonteante entre dois universos interiores em expansão.

Ele inspirou o ar com um pouco mais de vontade e pode até sentir o hálito cafeinado e achocolatado dela, que era regular como a respiração de um bebe. Na cabeça dele, conseguia imaginar a bochecha dela encostada em seu rosto, fazendo suaves movimentos para cima e para baixo. Ele acreditava que permaneceria estático, rígido feito pedra, olhando pra ela de canto dos olhos, mantendo-se sempre imóvel, como se servisse apenas de suporte para a garota. Até que sua atitude impassível ruísse e sob um instinto selvagem, ele cedesse, perdendo o controle, até não existir nenhuma opção a não ser virar o rosto e permitir que os lábios se tocassem, se tocassem em um beijo indeciso, que faria de tudo para não demonstrar ser o beijo de carência de uma vida.

Ela disse algo.

Não, não foi ela quem disse, alguém se aproximava e apontando dizia: "Você não é ator?"

Fantasia derretida, brusco retorno a realidade.

terça-feira, dezembro 11, 2007

O Som e a Fúria - William Faulkner (1929)

É engraçado o fato de que ao ser indagado a respeito da dificuldade e as vezes necessidade de ler a obra duas ou três vezes Faulkner responde: "Leia quatro vezes.", uma resposta assim seca e direta. E o que mais surpreende é o fato que ele está certo, alicerce da nossa ficção moderna, este livro não é nem um pouco fácil. O enredo é bastante simples se formos analisar friamente, é a história de decadência de uma das muitas famílias, aristocratas do sul dos Estados Unidos, que viram seu pequeno império ruir com o fim da escravidão.

O livro é dividido em quatro partes bastante distintas, cada uma delas é narrada por um dos irmãos da nossa decadente família. O que mais nos impressiona é que tudo é visto através de fragmentos de memória, de mosaicos nada harmoniosos e de construções emblemáticas com uso de lampejos de sanidade ou insanidade dependendo do ponto de vista.

O que quebra todos os paradigmas é o fato que Faulkner não usa o fluxo normal de narração, no qual um personagem tenta se comunicar e sim realiza um audacioso e amedrontador mergulho na mente das personagens o que nos proporciona saltos temporais, falta de liga ou mesmo detalhes muitas vezes omitidos na falha tentativa de expressar-se. Fato que se constata por muito só começar a fazer sentido na terceira parte do livro e definitivamente apenas na quarta parte termos um olhar lúcido e mais pontuado da história.

Toda essa construção é única e cria um dos maiores expoentes na história da literatura, tamanha é a grandeza desta obra que aqui nos é esfregado na cara que existem coisas que não são feitas para cinema ou teatro, e sim atingem sua magnitude real apenas no formato de palavras que brincam e destroçam como bem querem nossa realidade patética.

Natal, Vodka e Aquarela Desbotada

Acho que o maior problema é sempre achar que o sinal está fechado para quem é jovem. Falta perspectiva de beijar o amor na lua ou me encantar como canta coração partido. E doí uma dor chata saber que ainda vamos ser os mesmos amanhã e que não vamos aprender nada com sabe-se lá quantos anos de história. Talvez eu esteja por fora mesmo, ou inventando história pra boi dormir, mas eu digo que são os outros que doem por terem acreditado em não se perder por aí e hoje estão sentados em seus sofás mofados ao bem dará.

Seria algo como uma chuva desproporcional. Daquelas que fazem a noite cair sobre o dia feito cachoeira, que trazem todos aqueles espectros banhados pela luz boêmica do centro da cidade me levando a crer tudo que eu posso fazer é aquilo que faço. Um sonho com a volta do amor partido em cometa alado mesmo que trazendo uma esperança pungente e tortuosa. Correndo ou galopando na ribeira como caipira inocente e simplório, aonde estará o trem dos peões sem montaria? Será que descasando ou dando trela ao acaso vamos chegar lá? Como não sou um rapaz de reza tudo que me resta é travar monólogos interiores. Será que existe mesmo o gosto do fruto que ainda está por germinar? Esse mergulho doentio e a cegas contra o concreto amarelado do eu interior é fuga pela falta de espaço e pelos dias tão longos.

Perdoem por tantas lamúrias e tanta falta de afeto. Inumanidade é o que mais me parece humano a se fazer em dias tão caóticos como os de hoje. Ainda que a falta de ar e falta de sorrisos delicados sejam presságio de névoa densa a caminho, ainda sim passaremos a limpo e diremos que tudo vai valer a pena. Pois quando quebrarem as correntes faremos a festa por todos, assim que lavarem a cara e largarem a ganância tão humano. Então sim colheremos os frutos a tão esquecidos. Então me digam qual é o gosto da banana com mel e sorrirei com gosto de canela.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

100 Livros Essênciais da Bravo.

Quando vai chegando o final do ano começa a aparecer diversas listas de melhores filmes do ano, melhores discos do ano e por aí vai. Achei muito bacana mesmo é o lançamento da Bravo! dos 100 Livros Essências e 100 Filmes Essências. Pois é uma edição especial que está chegando esse mês nas bancas e trás uma bela analise de 100 obras ditas fundamentais para qualquer amante da boa arte.

Talvez o grande sucesso de se fazer estas listas não seja o fato de serem guias definitivos ou mandamentos a serem seguidos a risca mas sim a diversão que geram ao serem discutíveis e sempre gerarem contra argumentos de algo que foi menosprezado ou hiper valorizado ou mesmo algo que foi deixado de fora ou uma surpreendente nomeação do que se considera uma bela bomba. Fora isso, é sempre bom ter um incentivo a se conhecer coisas novas ou mesmo um ponta pé pra quem pouco conhece.

Essa relação de livros da Bravo não poderia ser diferente, modéstia parte eu me considero um cara que apesar da pouca idade já li muito mesmo. Durante uma boa época os livros foram os meus maiores companheiros e mesmo hoje mantenho um belo ritmo de leitura. Foi ao mesmo tempo instigador e prazeroso descobrir que dos 100 livros eu já li 11. Parece pouco mas 10% foi algo bastante razoável e foi um belo incentivo para já ir pensando em um 2008 com mais livros. Se não fosse o teatro desses 11 acho que não teria chego em 6 mas isso não vem ao caso agora. Fica aí a dica e quem quiser comentar do que já leu, e o que não concorda na lista, será um prazer.

sábado, dezembro 08, 2007

Pensamento Avulso

Temos mais é que vomitar tudo e qualquer reação que venha nos provocar com a indiferença que muitas vezes temos conosco mesmo. Não deviamos temer tanto qual será o poema ou acorde que está por vir. O palco purifica. Todos somos atores, e todos fazemos arte. Estou realizado esse ano.


"Quanto às luzes da Ribalta... O ator, ah! O ator! Essa necessidade de brilho e de atenção... Honrem-me, aplaudam-me, aprovem-me! Vou entrar no palco e arrasar...! Sou o máximo! Sou melhor, mais ousado, mais sensível, sou ator, o resto do mundo é apenas normal... Tenho a coragem de representar aquilo que gostaria de ser, o que poderia ser, o que deveria ter sido e o que nunca serei... Eu te mostro no palco do teatro todas as nuances que no palco da vida eu escondo!"
Clara

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Nem Aracaju nem Saci.

As vezes fico imaginando como é a ação em um grande jornal como Estadão, El Rancaguino ou Clarín, a tensão que é ser o mediador das informações que milhares, ou melhor milhões irão se alimentar e formar suas devidas opiniões, pelo menos na teoria. Pois por mais que eu me mude para Aracaju, Mazatenango, Bangladesh ou Bali vou continuar sendo bombardeado pelo desejo avído que foi implantado em minha cabeça de consumir cultura enlatada da FNAC ou entorpecentes baratos na Rua Augusta, não vou deixar de ter um enorme desejo de ter um fusca verde limão. O Saci, Zeus e o Popeye continuarão a ser personagens que povoam meu encantável imaginário. Se ao menos garra eu tivesse pra queimar minha dignidade em frente a prefeitura de São Paulo. E agora começam a chegar as pavorosas mensagens de natal! Responsabilidade cobrada, futuro em jogo, tensão balançando entre o ótimo e o péssimo. Não é fácil brincar na vida real não.

Em ato o ar é mais leve.

Se me ontem ser uma felicidade fervorosa da chapa
Não vou mais nem ontem, nem amanha ou hojear.
Pois em todos os instantes temos instantes completos
Não devem ser medidos e desvirtuados na exatidão
Por mais que possamos brincar no ato de cada dia
Eu ato o tempo como bem quero e por isso sou ator
Saborear cada atoar com dessemelhança temporal
Em ato fui hoje, serei ontem e sou amanhã sempre.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Bailei Na Curva

Será apresentada a peça teatral "Bailei na Curva", nos próximos dias 07 e 08 de dezembro de 2007, às 20h30, no Campus Marques de Paranaguá. Trata-se da primeira produção do Grupo de Teatro Comunitário (GTUP), composto por alunos, ex-alunos e funcionários da PUC/SP, sob a direção do Ex-aluno de Relações Internacionais, Fernando Daglian, com apoio da Vice-reitoria Comunitária.
Vale a pena prestigiar e a entrada é franca!!!

É isso galera mais uma estreia de uma peça que faço parte do elenco, e essa não tem desculpa é de graça, basta aparecer lá.

William Shakespeare

"Oh! Uma mesa de fogo, que ascendesse
Ao mais luminoso céu da invenção,
Um reino por palco, príncipes a representar
E reis a observar a cena arrebatadora!
Então deveria o guerreiro Henrique, como ele próprio
Assumir o porte de Marte, e a seus pés,
Atrelados como galgos, a fome, a espada e o fogo
Rastejando a pedir emprego. Mas perdoai, gentis auditores
Ao espírito raso e pouco exaltado que ousou
Neste indigno cadafalso apresentar
Tão grandioso tema. Pode esta arena conter
Os vastos campos da França? Podemos nós amontoar
Dentro deste cercado todos os capacetes
Que até o ar assustaram em Azincourt?
Oh, perdoai! Dado que uma figura errada pode,
Em pouco espaço, testemunhar por um milhão,
Deixai que nós, cifras desta enorme conta,
Trabalhemos a força da vossa imaginação.
Supondo que, entre esta cintura de muralhas,
Estão agora confinadas duas poderosas monarquias
Cujas frentes alevantadas e contíguas
O perigoso e estreito oceano separa e divide.
Completai as nossas imperfeições com os vossos pensamentos:
Em mil partes dividi um homem
E criai uma potência imaginária;
Pensai, quando falamos de cavalos, que os vedes
Imprimindo os seus altivos cascos na terra acolhedora;
Pois os vossos pensamentos devem agora ornar os nossos réis,
Levá-los ali e acolá, saltando sobre os tempos,
Mudando as ações de muitos anos
Numa hora de ampulheta; para tal serviço
Admiti-me como Coro desta história;
O qual, à laia de prólogo, pede à vossa caridosa paciência
Que ouça com mansidão e julgue com bondade a nossa peça."

Henrique V

Pra que vou eu tentar falar de teatro, se o mestre já disse tudo?

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Desrelacionamentos Inumanos

É tudo vermelho, uma delícia na verdade, é quentinho, temos nosso alimento na dose certa. Se tivermos a sorte da mãe ser responsável, não teremos mal algum vindo para nossos primeiros momentos como ser humano. Me remete ao útero nossa primeira relação, e talvez a mais profunda delas, humana. É um limite metafísico quase imperceptível, porém separado por abismos de vivências, características e vontades. Cada qual com sua peculiaridade e sua loucura, com seu tortuoso modo de percepção do mundo. Não estou me referindo ao relacionamento entre os Judeus e os Árabes, ou entre os brasileiros e os argentinos, muito menos dos matemáticos e das letristas, estou me referindo ao relacionamento do individuo para com o seu semelhante no menor dos campos possíveis.

Tenho até medo, ou melhor quase me enlouquece o fato de estar devaneando a respeito de algo tão sútil como a troca de sentimentos e emoções, algo tão misterioso e mágico, que tentamos passar através de falhas tentativas de representação oral, gestual ou de qualquer outra forma. É um pouco utópico, mas gosto de acreditar cegamente que todo o contado de um ser com a realidade envolve sentimento e emoção. E acho que é justo pensar em algo assim, afinal para entender a sútil arte de se relacionar com outro ser, devemos primeiro entender como nos relacionamos com a realidade que nos cerca e com nós mesmos. E como um ciclo vicioso, voltamos ao sentimento e a emoção, pois como nos relacionamos com o mundo, sentindo-o com nossos cinco dons maravilhoso, e interpretando e vivenciando-os com nossas emoções.

Essas emoções e sentimentos são combustível base para qualquer relação, eles nos dão o sentido de prazer e desprazer. Acho que começamos a chegar a algo mais complicado, quando tento imaginar que toda essa parte emotivo é mera conseqüência dos valores que atribuímos a maioria das vezes inconscientemente acabo por desacreditar em uma possível harmonia entre tantos valores e pseudo realidades criadas.

Sempre acabo me voltando a minha amada Grécia, lá muito foi descoberto, e infelizmente deixado por lá mesmo, é uma pena que tão pouco tenha sido aprendido. Platão (~300 AC) tinha pensado em tanta coisa relacionado a esse meu surto de realizar mais este aborto mental, ele mesmo dizia que a realidade era interpretada por cada indivíduo e que a chave para uma harmonia era cimentar muito bem isso como alicerce de nossa sociedade.

Toda essa divagação é pelo sofrimento que venho tido com relacionamento humano, tendo uma constante vontade de chorar e explodir em mil pedaços.

terça-feira, novembro 27, 2007

Bar Lua Azul

Bar Lua Azul

Não percam. Dias 4 e 5 as 20h30m no Espaço Cênico Viga (Rua Capote Valente, 1323)

O Reino - The Kingdom (2007)

Direção - Peter Berg (Nada que eu tenha visto)

Esse filme tinha tudo para ser bem ruim, não tinha cogitado de forma algum assisti-lo, tendo em vista que estou com um bocado de coisas pra fazer e mais um belo punhado de filmes engavetados pra assistir, porém existem situações em que abrimos exceções; um amigo de infância, que anda afastado pelas dificuldades que a vida profissional coloca e que raramente bate a agenda com a minha para marcar algo, lhe convida para ir ao cinema, comer algo e bater um papo, ao chegar no cinema, o único filme relativamente interessante é este além de ser o único que estava em um horário agradável. Foi dentro dessa situação quase onírica que acabei caindo de para-quedas em uma das novas salas da rede Cinemark no shopping Eldorado. Devo ressaltar que as salas estão de um capricho magnífico, ótimas poltronas, uma ótima tela, som muito bom, além da promoção que qualquer sessão essa semana até o dia 29 sai por seis reais. Mas enfim vamos ao filme.

Primeiramente me animei ao ver que era algo do Jamie Foxx que já havia debulhado em todos os sentidos ao interpretar Ray Charles no mais do que excelente "Ray". Não é uma atuação de gala como a anterior, porém Jamie se mostra versátil e convence no papel do agente especial do FBI. Infelizmente como muito do que nos é jogado por Hollywood, não temos um desenvolvimento bom das personagens e ficamos mais presos a trama e ação do que qualquer elaboração maior. Mais talvez o maior pecado seja que o filme passa o tempo todo em cima do muro, não é um thriller de ação nem um suspense policial, é mais para aqueles genéricos que tentam ser modernos. Para explicar melhor vou exemplificar: começamos com muita ação jogada na tela de forma frenética, então temos um longo e denso momento de manipulações políticas para se chegar ao fim que temos um sessão a la Rambo. Não que essa lógica nunca funcione, porém, quando não dado o devido enfoque e cuidados nas emendas, acabamos tendo algo forçado e que aparentemente amador.

Agora existem méritos sim, começando pelo fato que tenho dormido muito pouco, e em momento algum tive sono! Uma vitória para Berg, em segundo momento, o que é mais importante foi a forma muitas vezes humana que retrataram os Árabes, coisa que os americanos as vezes esquecem. Agora se existe um grande momento, digno de ser visto por muitas e muitas pessoas e que com certeza paga o filme e redime de toda a falta de sentido e cenas de ação aparentemente gratuitas é o final, não vou contar claro, porém as duas ultimas frases são de um impacto que a bastante tempo não é visto. Enfim diversão pipoca com uma boa mensagem no final.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Bar Lua Azul

Bar Lua Azul

Olá a todos, meu nome é Fifi, sou garçom deste maravilhoso Bar Lua Azul. Trabalho aqui a bastante tempo e o que eu vejo por aqui poucos olhos puderam ter a chance de presenciar em outro lugar. Como todo bom ambiente boêmico aqui é um reduto para almas perdidas e desoladas, um porto para marinheiros perdidos, agora o que poucos sabem é que aqui quem manda é o sentimento e a imaginação, ambos imperam sobre a razão. Já vi príncipes e princesas, detetives, bruxas, guerrilheiras, objetos místicos e muitas outras coisas fantasiosas acontecendo por aqui. Então venho lhes convidar, por esses poucos dias que abrirei o Bar nesta cidade maravilhosa que é São Paulo, a conhecer este lindo Bar. Quero a casa cheia de alegria, cores e vida, todos aqui estão convidados a presenciar essas duas noites mágicas. Aguardo vocês com todo o entusiasmo possível.

Um mega beijo.

Fifi.

Bar Lua Azul.
Espaço Cênico Viga - Rua Capote Valente, 1323 - Sumaré (Próximo a Estação de Metrô Sumaré.)
Dias 4 e 5 de dezembro às 20h30m.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Mario Quintana

Do Amoroso Esquecimento

Eu agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?

Continuando minha saga através do delicioso e onírico mundo das poesias, visito este que é um dos meus preferidos, Mario Quintana, é um dos grandes mestres da arte de poetizar. Vindo da minha querida Porto Alegre, cidade que carrego um apego especial e em breve gostaria de passar um tempo por lá, Mario era um jornalista de primeira mão, além de ser considerado um poeta que primava por excelência técnica e bastante profundidade em assuntos bastante simples, Quintana era o mestre da ironia, exemplo maior é seu nome ser grafado sem acento e as ótimas tiradas de humor tão características de sua obra.

Engraçado o fato que este grande poeta foi recusado por três vezes na ABL, e depois tarde demais quando reconhecido seu valor, foi convidado e recusou cordialmente o convite. Da-lhe Quintana. Esse verso é inclusive para aos membros da associação:

Todos esses que aí estão / Atravancando meu caminho / Eles passarão... / Eu passarinho!

Se alguém quer se iniciar na arte do poeta gaúcho um ótimo começo é a livreto "Quintana de Bolso" da editora L&PM, uma edição simpática com um apanhado de poesias por um preço pra lá de camarada, menos de R$10,00.

Viva o mestre.

Os Degraus

Não desças os degraus do sonho
Para não despertar os monstros.
Não subas aos sótãos - onde
Os deuses, por trás das suas máscaras,
Ocultam o próprio enigma.
Não desças, não subas, fica.
O mistério está é na tua vida!
E é um sonho louco este nosso mundo...

Pablo Neruda

El Amor

Pequeña
rosa,
rosa pequeña,
a veces,
diminuta y desnuda,
parece
que en una mano mía
cabes,
que así voy a cerrarte
y a llevarte a mi boca,
pero
de pronto
mis pies tocan tus pies y mi boca tus labios,
has crecido,
suben tus hombros como dos colinas,
tus pechos se pasean por mi pecho,
mi brazo alcanza apenas a rodear la delgada
línea de luna nueva que tiene tu cintura:
en el amor como agua de mar te has desatado:
mido apenas los ojos más extensos del cielo
y me inclino a tu boca para besar la tierra.

Coincidência ou não, daquelas arteiras que só Cronos, o senhor do tempo, consegue aprontar, menos de um dia depois de escrever da musa Cecília Meireles, tive súbita vontade de falar um pouco de Neruda, esse poeta Chileno que domina as palavras como poucos. Talvez a parte mais espantosa dos fatos correlativos seja que Pablo também teve uma morte bastante cedo na família, perdeu a mãe que era professora primária quando tinha um mês de vida. Quem assistiu ao maravilhoso filme "O Carteiro e o Poeta" saiba que é a história de Neruda que é contada, no período em que ele passou em uma ilha na Itália e de fato passou os segredos dos versos a um jovem carteiro, o filme é de uma beleza descomunal, se nunca nem ouviu falar, pare de ler isso aqui agora e vá procura-lo.

Se nunca leu nada de Neruda, eu pessoalmente recomendo que comece por 20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada. É o terceiro livro do chileno e nele agente conhece melhor o lado jovial e vívido que consagrou-o no início de carreira. Era sim o poeta do amor, e também era comunista, escritor, amante de todos seus amigos, das mulheres, dos charutos e dos vinhos. Estar vivendo em Santiago despertava um enfervecer delicioso. Começamos a acompanhar a forma delicada e graciosa que o poeta revela e explorar os mais simples detalhes da vida. Outra opção mais em conta e fácil de encontrar é Cem Sonetos de Amor, que foi publicada pela editora L&PM e custa em média 10 reais. É dessa coleção que tiro este outro maravilhoso poema, que mesmo traduzido não perde a força:

Saberás que não te amo e que te amo
posto que de dois modos é a vida,
a palavra é uma asa do silêncio,
o fogo tem uma metade de frio

Eu te amo para começar a amar-te
para recomeçar o infinito
e para não deixar de amar-te nunca:
por isso não te amo ainda

Te amo e não te amo como se tivesse
em minhas mãos as chaves da fortuna
e um incerto destino desafortunado

Meu amor tem duas vidas para amar-te
Por isso te amo quando não te amo
e por isso te amo quando te amo.

quinta-feira, novembro 22, 2007

Quando as festas terminam...

Quando as festas terminam, começamos a nos deparar com os delicados e encantadores despojos: seja na fotografia digital, na quilometragem do carro que é um triste relógio impecável; no ar fica o aroma melancólico da comida feita com tanto amor, um banquete de cores, verde, marrom, branco, vermelho, laranja, batidos com temperos especialmente escolhidos, despejados em travessas para o deleite geral; símbolos como uma estrada de terra ou um por do sol, agora são desmesuradas recordações, sustentando-se com as garras fincadas em nosso mais profundo subconsciente, como uma árvore centenária. Acabou-se o festejar, desmanchou-se a fantasia, volta-se a realidade.

A cruel e dura realidade, desprovida de falsos alardes. Por detrás desta máscara que vestimos para aparentemente sermos, escondemos o verdadeiro e único desejo, que se oculta e se emaranha para nunca ser descoberto, um instinto tão bem escondido que apenas as festas permitem que sua força bruta quebre qualquer máscara que a reprime o ano todo.

Ao mesmo tempo que podemos afirmar que todos somos únicos e com isso formamos uma variedade imensa, isso tudo soa contraditório demais: o meu encanto é o seu maior defeito, e para outros é a indiferença batizada de "vejo o que quero". É quase embriagador saber que passamos tanto tempo nos contendo e que em uma plena época em que médicos e advogados são a trilha do sucesso existe ainda tanta vocação para sermos apenas bicho homem e que apenas trilharmos nosso próprio instinto.

Todavia, nem tudo é Carnaval, neste país governado por uma corja de bandidos e dito uma economia emergente, quem poderia imaginar que há tantos filhos da mesma ideologia, que existem sereias e hippies perdidos por aí. Que existem jovens que recebem a magia da fada madrinha e passam uma noite de príncipes e princesas no baile do reino do imaginário, porém essa mágica resulta, afinal, em algo muito mais caro: pois no conto de fadas o final é sempre feliz, aqui, o preço não é nem um pouco desprezível, pois dura somente poucas horas ou dias.

E são justamente esses jovens, oriundos de um país tão liberal - segundo dizem - que irão com coração imperial, sonhos profundamente lúcidos e muita vontade no peito, explodir e começar a maior trilha que alguém pode desejar estar, a que fica entre ele e ele mesmo. É o nosso sonho de grandeza, a nossa revolução pessoal, compensando, a exagerada valorização que damos aos méritos mesquinhos do dia a dia...

Mas, agora que a Festa passou, que vamos fazer com tanto sonho em terra aonde não se dorme?

Não podemos viver de ilusão, apesar de amarmos ela, não devemos esperar a próxima fiesta...

Cecília Meireles

Meu Sonho

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar ?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.

Fazia tempo que não me entregava a magia da Cecília, ela tem esse dom fantástico que é fazer arte com a escrita, se não conhecem nada dela, podem procurar o livro Cânticos que é um dos meus preferidos de todos os tempos.

Para os mais desavisados, Cecília foi uma poetisa brasileira, carioca, que sabe como ninguém lidar com temas como a passagem do tempo sem deixar marcas ou sentidos latentes na vida. Em um trecho de texto da própria:

"Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno..."

Somos colocados um pouco mais a par da dura realidade que nossa querida poetisa enfrentou. Duras perdas desde criança, são alicerce fundamental para a obra dela. Como se não bastasse ainda teve o suicídio de seu primeiro marido, com o qual tinha três filhos.

E como diria o mestre Mário Quintana:

"Nem tudo estará perdido
Enquanto nossos lábios não esquecerem teu nome:

Cecília..."

quarta-feira, novembro 21, 2007

epifaniedade #1

Como sinfonia romântica ontem meu sono viajou por terras desconhecidas. me senti galopando na marcha eslava e desafiando batalhões inteiros. pois sim, sou herói, sobrevivo aos ideais franceses e a labuta diária. é ontem eu sonhei, sonhei como não sonhava a mais de ano. como toda a lógica nebulosa de um sonho, não sei direito o que me aconteceu, sim, o efêmero sempre me atraiu muito, e como não podia ser diferente peguei esse meu devaneio e formei uma pequena esfera, bem fofinha, com farinha e ovos e fritei no azeite. sonhei que voltava pra casa com meus queridos, tinha o groove do jazz embalando o carro e uma garoa delgada, quando cheguei em casa minha gata estava lá estática me olhando com aquela reprovação pesada em seus olhos verdes. fugi de sua malícia e escorreguei para debaixo do edredon macio, me senti em um tanque de areia movediça, afundava, afundava, afundava, até sumir. quando sumi por completo, tudo fez sentido. a doce e suave recordação nostálgica agora me afogava e finalmente poderia admitir, admitir algo que não pude nem quando perambulei sozinho na chuva após a primeira bota, ou quando perdi o primeiro emprego, ou me toquei que tinha feito até agora escolhas bastante erradas, mesmo quando acordava sempre pior do dia anterior no qual exageros me levavam ao fundo do poço, pude finalmente depois de tudo isso admitir que não sei de nada e que consigo sentir saudades de algo que nunca fui.

terça-feira, novembro 20, 2007

Onde?

Cheguei agora de longe, de um lugar tão longe que me senti perto de tudo que faz tanta falta aqui, sujo de barro e com a pele queimada, com uma angústia no peito de não estar mais lá, totalmente perdido, me sinto dentro de minha própria garganta entalado. mas vou continuar fazendo tudo como fazia antes, porém com um contíguo de felicidade trazida de lá longe. antes deste romper do alvo momento passado, sei que muito aprendi e muito cresci. espero ter colocado algumas partes pouco sabedoras em um triturador e agora só quero é deitar me na minha cama ao som da vida até que ele acalme essa batida descarrilhada e síncopa do meu coração dessemelhante ao passado onde todos esses excessos passavam muitas vezes sem deixar marcas. agora com tudo engastado em meu peito aberto vou tocar em frente, assim como quando um violeiro toca. quero receber meu merecido boa noite mesmo que seja de dia. o escurão da noite vai passar com todas essas estrelas que brotaram. agora tocaremos nossa arte em frente fazendo do sertão da sociedade campo fértil para que as violetas rompam as rochas. pois a vida é isso sem medo sem dó sem arrependimento. agradeço a essas estrelas nascidas da vigília de um santo ferido.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Joe Cocker - With A Little Help From My Friends

O feriado promete, um retiro teatral fantástico no meio do nada. Depois conto.

Fiquem com o hino de uma geração:

Sonhos....

Acredito que o problema não seja a falta de coisas acontecendo. Tem. Tem muita coisa acontecendo de fato, mais do que eu até desejei algum dia. Possibilidades mil, encruzilhadas a cada curva na estrada, desvios planejados e não planejados, e qualquer outra figura de linguagem adaptável a nossa vida. Porém todas essas possibilidades estão me levando para um caminho o qual somente me traz uma pontada dos meus sonhos. Seria muito ganancioso querer mais? Pedir mais ao mesmo tempo que tanta gente se contenta com muito menos?

Eu quero trilhar muitos outros lugares, São Paulo é sim uma cidade especial pra mim. Não que eu conheça muitas outras, porém com tamanha identificação com essa cidade cinza, duvido que crie tamanho apego por outro lugar. Mas não é por isso que fecho a cara e muitas vezes ando nas ruas fazendo as pessoas se desviarem. Não é por isso que por vezes me pego na mais profunda solidão.

Não quero mais ter como único feito as coisas que faço no dia a dia. É incrivelmente lamentável sentir-me culpado por algo que não fiz. Não é como se eu quisesse apenas juntar as tralhas e dar o fora, é quase como uma dívida para comigo mesmo. Há quem diga que só o tempo cura, porém o tempo também pode ser o maior inimigo pra quem tem fome de viver.

terça-feira, novembro 13, 2007

pó de alma.

Sinto muita falta da época que era eu, meus sonhos e ideologia furada contra o mundo todo. Uma fúria descontrolada e desmedida, ganancioso, de traz da minha guitarra e sobre meu palco achando que o picadeiro do mundo mudaria com duas notas ou um monologo. Saudades desse vigor juvenil que se esvaiu e que nunca mais consegui encontrar em um eu dilacerado e perdido. De um eu quem talvez nem eu seja mais. Sinto tanta falta desse eu.
As notas enfurecidas deram lugar ao ritmada batida marcante, e os sonhos... é triste, tenso e triste demais. Tensão descabida de motivo e implacavelmente cruel. E essa falta de vontade de sair? Aonde está toda a sagacidade que levava esse sonhador para noites perdidas em porões do submundo paulista? Agora, como um zumbi tenho que comer e dormir para levantar no dia seguinte, no máximo tendo sonhos de uma época que se foi.
Rebelde sem causa? James Dean ilustrava uma juventude sem causa mas com muito sonho. Hoje ícones sem face representam uma juventude sem causa nem sonho. Me sinto mais um no meio da multidão, sendo levado pela inércia que move a massa. Mesmo querendo ser joio no meio trigo, os sonhos que não passam de memórias, me acorrenta num passado que pode ter sido em vão. Me enlouquece acordar e sentir que o ontem talvez tenha sido um sucesso perante ao eminente fracasso do hoje. Falo como um derrotado, porém penso como o povo, apenas jogo o pão na cara do Senhor e não rio das palhaçadas do circo.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Poesia: Alberto Caeiro

Hoje de manhã saí muito cedo

Hoje de manhã saí muito cedo,
Por ter acordado ainda mais cedo
E não ter nada que quisesse fazer...

Não sabia que caminho tomar
Mas o vento soprava forte, varria para um lado,
E segui o caminho para onde o vento me soprava nas costas.

Assim tem sido sempre a minha vida, e
Assim quero que possa ser sempre --
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.

sábado, novembro 10, 2007

Citação: Virginia Wolf

Recorro aos dias em que não bebi tanto como hoje para não merecer nada do que digo, presto homenagem ao meu instinto por aquilo que não faço, roer a corda do que me prende ao que quero ser, para que possa finalmente ser o que sou.

Será que quando o for... vou querer morrer?

quinta-feira, novembro 08, 2007

Durval Discos (2002)

Direção - Ana Muylaert (Assina o roteiro de "O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias.")

Uma das características mais marcantes dos antigos Lps era o fato de ter dois lados diferentes, o A e o B, isso é perfeitamente aplicado para esse grande filme nacional de 2002. É muito difícil rotular esse grande trabalho da diretora Ana Muylaert, não é uma comédia, nem um drama, é uma viagem por um reino trágico e onírico, com momentos de uma beleza plástica próxima aos grandes mestres como Tim Burton e David Lynch.

Um trabalho que explora praticamente uma só locação, poucas personagens, porém emoção de sobra, e situações pra lá de inusitadas. A primeira parte apresenta as personagens, Durval, o qual me lembrou muito um amigo, sua mãe, a vizinha, e a empregada que contratam. Tudo num clima leve e bastante gostoso, quando somos apresentados para a garotinha Kiki, é impossível não abraçar o carisma da garota. A atuação mais do que soberba de Beth Fraser é um dos grandes destaques, no papel de Dona Carmita, mãe de Durval.

O roteiro caminha de forma surpreendente da metade para frente, seria um crime apontar qualquer uma das peripécias que bagunçam a vida de nosso anti-herói. Com um clima que lembra muito os romances de Nick Hornby, somos jogados a uma trama bastante original e nos vemos perdidos e com um nó na garganta.

Destaque de arrepiar para a tomada de abertura, que é um longo plano pela Rua Teodoro Sampaio, poucos ousam filmar um plano tão longo e tão elaborado como esse, um deleite. Durval Discos faz parte de uma safra de filmes nacionais ímpar que nos pegou de surpresa no começo dos anos 2000. Filmaço, altamente recomendado.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Será... de John e Ka.

08/09/2007

John e Ka


Será...


Zona Descordenada Compasso Quadrado

Devaneios Austero

Atenciosamente Avoado Colméia

Seus putos e voraz com canela

No porão de veludo a camélia desde a canela

Revolucionários da Viola Caipira Teadorar, Teodara.

Vários Fogos Com Inside da Galáxia Distante

Adoro Chiar! Inconstitucional

Tintilindar, vergoreiro

Sangue correndo nos copos de neón

ocos e livres, concentra – ação

cordas de aço na claustrofobia, tic-tac...

senhora de si, ódio momentâneo

Bigode malandro e amor descontrolado

Tenebrosos Vilões Sangue! Sandman

Telefones Geniais e Ostra Mongolóide Aula

Laque, Reinventar a alma e chanel número 5.

Cristianismo Agnosticamente Composto

Austeridade, adoro essa palavra. Bonitinho, gay

conforme a norma 337 e 442

formidável cor-de-rosa


"Não quero mais saber de lirismo que não é libertação" Manoel Bandeira.


Karla tu é foda. Amo-te.

terça-feira, novembro 06, 2007

pensamento solto.

ao menos aparecem as vezes algumas situações prazerosas por alguns minutos, sábio é aproveita-las e estar ciente que nada é para sempre, e que cada vez mais nada dura mais do que muito aquém do que podemos desejar.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Into The Wild (2007)

Direção - Sean Penn (O ótimo Sobre meninos e Lobos e Unidos pelo Sangue)

Um excelente filme que mostra belas paisagens e trata da vida, sem grandes elucubrações. Não vou me prender a história, a qual é muito mais interessante embarcar sem o menor conhecimento prévio. Foi o melhor filme da Mostra de Cinema e concorre fácil ao menor do ano, batendo de frente com grandes como Lynch e Cronenberg.

Primeiro irei fazer a sessão de rasgar elogios. É um filme lindo, tocante, me fez chorar em algumas passagens de pura inspiração. Está tudo lá, no roteiro e nas atuações, tudo bastante humano e real, as relações frágeis e ambíguas, tudo extremamente simples e real, talvez muitos não considerem isso um ponto forte, porém eu acho extremamente difícil de se achar e quando feito na medida certa é sublime. Nada soa artificial ou sem vida, é tudo bastante orgânico e de uma sutiliza cativante. É o melhor trabalho de Penn.

Vemos pinceladas de Terence Malik, algo de Werner Herzog e um pouco de Ken Loach. E não achei o filme longo, como algumas pessoas comentaram, na verdade, acredito que para uma jornada de tamanha magnitude, é de fato necessário passar por tudo que vimos no filme. Ao final da sessão, vi muitas pessoas saindo emocionadas.

Aspectos técnicos ficam até um pouco ofuscados diante a tanto coração e alma colocados em um trabalho. Me encantei com as atuações, com as locações, com as belas tomadas de silêncio, com a trilha que acrescenta e não distrai, alias a trilha foi composta por ninguém menos do que Eddie Vedder, seu primeiro trabalho solo. Filmaço que deve ancorar em outros cinemas depois do furacão da Mostra.

Quanto ao cinema, que venha 2008.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Catarse

Purificação, libertação e limpeza. Superação em um ato, de alguma maneira opressor. Passagem obrigatória para o crescimento. A melhor escola é o sofrimento.

terça-feira, outubro 30, 2007

Até o Dia em que o Cão Morreu - Daniel Galera

A arte de escrever é a mais solitária de todas, talvez traçando paralelos com a pintura. Porém mesmo assim escrever é privar-se de tudo que o cerca e transcender em palavras a vida. Tarefa nada fácil em um mundo que se perde em valores e cada vez assisti sua própria identidade naufragar em meio a coletividade. Daniel Galera é um paulista que já mora em Porto Alegre a bastante tempo, escritor, três livros lançados, jovem e que consegue costurar essa delicada teia que é unir palavras e montar uma confortante rede para aparar a vertiginosa velocidade da queda.

Até o Dia em que o Cão Morreu é seu segundo livro e recentemente foi adaptado para o cinema em “Cão Sem Dono”. É uma ficção com toques pra lá de realistas. O protagonista é um jovem, formado, sem o menor estimulo para seguir os teoricamente próximos passos dados pela sociedade, achar um bom emprego, casar e ter filhos. Tudo isso passa bem longe da cabeça de nosso anti-herói e o que vemos é alguem sem animo de conhecer coisas novas ou sem a menor vontade de viver. O ponto de partida da história é o momento em que duas novas personagens entram na história: um vira-lata e uma modelo chamada Marcela. Agora vemos o conflito no protagonista a respeito de se envolver ou não com esse novo universo que se abre.

A identificação com a personagem principal é quase imediata, ele é um retrato fiel de uma geração inteira, talvez venha a ser calcado como um romance de formação no futuro, apesar que eu não entendo muito a respeito desses rótolos. Vemos claramente o adolescente que se acha adulto antes da hora e acima de tudo acredita ser capaz de fazer qualquer coisa, porém não se dá o trabalho de realizar nem os menores feitos. Desenvolvido de uma forma quase teatral, acabamos achando que a personagem é exagerada e tentamos fugir da identificação, porém só estamos diante de uma lupa que aumenta nossos próprios tormentos.

A escrita é bastante ágil o que nos proporciona uma leitura bastante fluída e rápida. Em certos momentos lembra com bastante louvor o grande Salinger em Apanhador no Campo de Centeio. Uma leitura pra lá de recomendada.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Mostra Internacional de Cinema

A primeira semana da Mostra chegou ao fim, e acabei cumprindo o que desejava dentro da agenda apertada. O destaque ficou para XXY, o filmaço argentino. Agora chegando a segunda semana, muita coisa boa está por vir. Tentarei estar presente nestas sessões.

Segunda-feira
Into The Wild – Sean Penn (Cinemark Eldorado - 21h30m)

Terça-feira
Nome Próprio – Murilo Salles (Cine Bombril I – 16h20m)

Quarta-feira
Senhores do Crime – David Cronenberg (Cinesesc - 19h20m)

Quinta-feira
Transformaram Nosso Deserto em Fogo - Mark Brecke (Cine Bombril II - 21h40m)

Ainda vou tirar férias exatamente no período da Mostra e aí sim, compro um daqueles passes e assisto a milhares de filmes.

XXY (2007)

Diretora – Lucía Puenzo (Não tenho informações sobre essa nova diretora argentina, vou pesquisar algo em breve.)

Uma visão tocante a respeito dos hermafroditas sem ser piegas. É sempre muito difícil lidar com certos tabus, existem temas que simplesmente não se fala. Seja por um inconsciente coletivo muito forte, ou por um certo medo do desconhecido, alguns assuntos são evitados e colocados no ostracismo sem o menor remorso. Apenas a idéia de mostrar de forma delicada as dificuldades enfrentadas por uma hermafrodita de 15 anos é louvável. Não só as dificuldades enfrentadas por ele(a) mas também os tormentos atravessados pelos pais. A indiferença causada pelo fato, o medo que as pessoas tem do diferente.

Forcei minha memória e sai em busca de filmes que tivessem tratado sobre hermafroditas, e o máximo que consegui foi lembrar que no filme do Fellini, “Satyricon” , existe um nu frontal, porém apenas com aspecto de chocar. Aqui não, neste filme argentino, temos o tema tratado de forma bastante humana. Não gostaria de ser tendencioso e colocar em pauta o fato que a diretora é uma mulher, porém, sim existe um delicado toque feminino na forma de abordar os dilemas.

O final é realmente belo e um amadurecimento incrível em termos de assumir a proposta do filme e levar ela até o final. Quando temas similares eram abordados em filmes, parecia que um final óbvio era reservado aos “diferentes”, que era em geral uma morte para conscientizar o público. Lúcia levou a proposta de forma muito mais madura e nos entregou um lindo desfecho. Grande filme.

Tratando de aspectos técnicos, a edição de som deixa bastante a desejar, como acontece muito nos nossos filmes, os hermanos não foram muito diferentes. Muitas vezes as vozes são encobertas pelo som ambiente. A localidade é a praia de Montevideu e conseqüentemente temos o som do mar, ou chuva, quase que o tempo todo nos cobrindo os diálogos. Sou descendente de espanhol e no geral não tenho dificuldades para compreensão, aqui fui pego muitas vezes tendo que usar as legendas. Não acredito que tenha sido opção da diretora, para criar um ar mais casual e sim uma falta técnica que nos sul americanos ainda temos em relação ao tratamento do som em nossos filmes.

Também devo ressaltar que algumas cenas são compridas demais, lembrando até Bergman em algumas passagens de mostrar a personagem de perfil por minutos a fio sem nenhuma palavra. O mestre fazia isso com maestria e climatizava toda questão, aqui achei um tanto quanto forçado e sem necessidade.

No demais vale falar que são apenas duas faltas pra lá de minímas perante a grande qualidade do filme. Com belas atuações e um ótimo roteiro. Foi uma das melhores surpresas da Mostra até o momento.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Velvet Underground - Loaded (1970)

São poucas as bandas que realmente foram revolucionárias e quebraram barreiras do convencional criando todo um universo novo. Podemos citar algumas como Beatles e Ramones, mas com certeza nenhuma citação estará completa sem o Velvet Underground. Uma banda realmente vanguardista, com experiências sonoras e uma força totalmente deslocada de seu contexto histórico. As letras levadas a um novo contexto mais perverso e realista. Durante sua curta vida, o grupo não teve o reconhecimento que merecia, existiam sim, uma legião de fãs devotos e alguns críticos entusiastas, porém mesmo o impacto que a banda causava no rock só seria constatado muito tempo depois.

Loaded pode se dizer ser o último suspiro artístico da banda, logo depois seu fundador e principal compositor Lou Reed saiu da banda para seguir uma peculiar e interessante carreira solo. E mesmo assim existem controvérsias, afinal, Maureen (a Baterista) tinha acabado de ter um filho e estava um tanto quanto distante da banda e John Cale (multi-instrumentista) a muito tempo distante o disco é quase que um trabalho solo de Reed. Porém como é o primeiro lançamento por uma grande gravadora, existe um melhor tratamento da gravação, uma produção mais primorosa, o que faz com que as músicas soem como sempre deveriam ter soado.

Esse trabalho é a prova definitiva que o V.U. poderia sim ser uma banda gravando material de ótimo nível mesmo estando em uma gravadora grande. Era um disco recheado e hits, com uma sonoridade muito agradável e sem jamais deixar de fato o lado “underground” da banda. Um fato que poucas bandas conseguem administrar quando atingem um certo sucesso. Uma pena que o reconhecimento tardou demais para vir, a coisa só tenderia a melhorar.

Destaques: “Sweet Jane”, “Rock N' Roll”, “Oh, Sweet Nuthin'” e “Who Loves The Sun”.

terça-feira, outubro 23, 2007

Império dos Sonhos - Inland Empire (2006)

Direção - David Lynch (Cidade Dos Sonhos, História Real, Veludo Azul, Corações Selvagens e Eraserhead)

David Lynch disse que o filme é sobre uma mulher com problemas e que isso é tudo que precisamos saber ao embarcar nesta onírica viagem. O novo capítulo da filmografia deste cineasta, que considero o maior em atividade (os grandes que me perdoem, perderam a mão a muito tempo), é uma obscura e doente trilha tortuosa pelo subconsciente e por toda a insanidade que carregamos conosco. A tradução do nome é uma (mais uma) bela infelicidade, por que insistem em trazer novos sentidos aos nomes? Inland Empire é um bairro de Los Angeles, porém pode ser algo como Império da “Terra Interior” se viajarmos um pouco, algo como uma viagem para dentro de nós mesmos, de sonhos, existe pouco nesta nova obra.

“Eu não consigo lhe dizer se é hoje ou ontem, e isso está realmente fodendo com minha cabeça.”

Isso é o que passa pela cabeça da maioria dos espectadores durante a sessão do filme, porém é também uma das frases que a personagem de Laura Dern diz depois de mais de duas horas de projeção. Chega a ser até um certo alívio para nós, pobres mortais, que nem o filme de fato se entenda.

Gostaria de me prolongar nesta analise e por isso antes irei fazer um breve relato sobre as técnicas que me chamaram a atenção: ele é inteiro filmado em uma câmera digital semi profissional, bastante acessível ao público em geral, o que pode nos tirar um pouco do floreio habitual nos presenteia com mais realismo, o que acaba sendo muito proveitoso para o tema do filme. Os cenários, iluminação, figurino e trilha sonora como sempre são destaques e mostram que tudo foi pensado no menores detalhes possíveis.

Um dos fatos de se usar uma câmera digital, foi a liberdade proporcionada. Lynch alegou que sentia-se preso as antigas câmeras, e desta vez trouxe uma experiência muitas vezes quase voyeur. Enquadramentos estranhos e closes exagerados ajudam a dar o ar de estranheza necessário para o filme.

Laura Dern é a atriz principal do filme, aparecendo em cerca de 90% das cenas. O trabalho dela é louvável, sofrendo uma transformação brusca ao longo da história e muitas vezes até levantando a dúvida se é a mesma atriz. Poucos conseguem trabalhar tanto tempo com um diretor como este e não enlouquecer por completo.

É muito difícil sintetizar o filme, o básico do enredo pouco significa. Não existe um fio condutor óbvio ou algum real ponto que conecte os diferentes focos da história. Não se deve tentar achar um real sentido para este filme. Este filme não é um mistério a ser solucionado como “Cidade Dos Sonhos” era. É um filme com cor, barulho, cheiro, gosto e temperatura o qual sentimos, sentimentos intangíveis. É típico agente querer achar um final para tudo, uma solução, e aqui não precisamos, eu mesmo sai do cinema buscando entender, necessitei outra sessão para não tentar entender e apenas me entregar a experiência. Deixe o filme desaguar sobre você e resista ao impulso de buscar uma solução.

As mais de três horas de duração pouco significam já que o filme sai e entra dele mesmo o tempo todo fazendo pouco sentido ao tempo. A tempestade de cenas e momentos nos deixam tão perdidos em relação a qualquer noção temporal, quanto as personagens. E por isso em alguns momentos quando as personagens questionam realidade e tempo, a pergunta cai como uma luva para o estranhamento que temos perante ao filme. É engraçado como ao desenrolar da trama, começamos a nos perguntar da onde vimos aquela personagem, ou quem disse algo similar a isso? Essas perguntas devem ser ignoradas e o convite para apenas sentir o filme deve ser aceito o quanto antes. Aí sim teremos o filme brincando com nossos sentimentos como bem entende, jogando fragmentos de sonhos, escorregando pra dentro e fora da realidade, explorando pesadelos e nos botando em xeque a respeito de conceitos até então inabaláveis como tempo.

Explicar tudo isso não adianta muito, pois é um filme para ser sentido, e dificilmente uma analise passaria perto do que Lynch pregou para nós. Recomendo que seja no cinema, a experiência muda drasticamente.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Mostra Internacional de Cinema

O primeiro final de semana da Mostra chegou ao fim e eu vi muito menos do que gostaria de ter visto. Apesar de ter assistido a dois filmes de peso, dos mais aguardados, senti ao final do Domingo um que de desapontamento comigo mesmo. Assisti ao Império dos Sonhos, de David Lynch, o qual me segurava já a algumas semanas para não assistir uma cópia em Divx e revisitei o novo trabalho do Tarantino, À Prova de Morte, o qual já escrevi aqui, vale ressaltar que a experiência no cinema é muito superior e levou o filme a um novo patamar.

Vou preparar algo a respeito do filme do Lynch e coloco aqui ainda essa semana. Agora vou deixar os destaques e possíveis apostas pra essa semana na Mostra:

Segunda-feira
Lust, Caution – Ang Lee (Cinesesc - 20h30m)
ou
I'm Not There – Todd Haynes (Reserva Cultural I - 19h00m)

Terça-feira
4 Meses, 3 Semanas e 2 dias – Cristian Mungiu (Unibanco Arteplex 3 – 20h00m)

Quarta-feira
XXY – Lucia Puenzo (Unibanco Arteplex 2 - 19h50m)

Quinta-feira
A Vida Dos Outros – Florian Henckel von Donnersmarck (Cinemark Eldorado - 21h30m)

Sexta-feira
Paranoid Park – Gus Van Sant (Reserva Cultural 1 – 22h40m)

Claro que gostaria de ver muitas outras coisas, escolhi os mais badalados mesmo, esse ano não estou com muita cabeça pra me jogar ao desconhecido completo. Prefiro arriscar o que seriam no mínimo experiências interessantes. É o que eu consigo dentro do meu pobre horário de proletariado.

quarta-feira, outubro 17, 2007

Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse

“Eu estava em minha casa e esperava que a chuva chegasse” é a nova peça de Jean Luc Lagarce que entrará em cartaz em São Paulo, o texto é inspirado em “As Três Irmãs” de Tchekhov. Quem nos presenteia com este trabalho é a minha querida Cia. Elevador de Teatro Panorâmico, o que já vale o ingresso, Carolina Fabri, Grácia Navarro, Juliana Pinho e Marina Vieira são muito boas no que fazem, impossível não termos uma ótima peça aí.

Um fato marcante deste dramaturgo francês são as várias falas auto-reflexivas que demonstra a total falta de capacidade de comunicação real da sociedade moderna, ou pelo menos essa é minha interpretação. A história contada aqui, é marcante, são três mulheres que passaram a vida toda esperando o regresso de um homem ao lar, quando este volta, se demonstra a beira da morte. É um apelo desmedido de forças ao afeto, fica claro como as personagens tem uma necessidade real de calor humano. Miriam Mehler e seus mais de cinquenta anos de experiencia é uma convidada especial e vai pesar positivamente nesta montagem que deve extrair e muito dos atores.

Uma bela história de (des)esperança que deve estar em uma montagem mais do que bem feita. Confio nesse grupo. Estréia essa sexta.

EU ESTAVA EM MINHA CASA E ESPERAVA QUE A CHUVA CHEGASSE
de Jean-Luc Lagarce. Drama. Cinco mulheres de uma mesma família se deparam com a volta do “neto/filho/irmão”, que esteve ausente por anos, sem dar notícias. Com Miriam Mehler, Carolina Fabri, Grácia Navarro, Juliana Pinho e Marina Vieira. Dir. Marcelo Lazzaratto. (90min). Sesc Av. Paulista. Sex e sab, 21h30; dom, 18h. R$20. 14 anos. Estréia 19/10.

segunda-feira, outubro 15, 2007

E a primavera foi muito bem recebida.

Fim de semana de muito teatro. As Satyrianas foi um evento muito bom, cresceu demais em relação ao ano passado. Foram oitenta horas de teatro para todos os gostos, algumas coisas foram imperdíveis, vou fazer um breve relato e deixar algumas indicações.

As Satyrianas começaram para mim na quinta-feira: assisti a Orésteia, o qual esperava bem mais, achei um tanto quanto exagerado demais, a sutileza as vezes fala muito mais alto que um grito, alguns atores também achei fracos e deslocados demais para os respectivos papéis, as atrizes em contraponto foram o ponto alto. Destaque para a belíssima cena do barco logo no começo.

Logo em seguida, sexta de madrugada, fui assistir Psicose 4h48, muito bom! Texto de Sarah Kane. Texto de uma dramaturga inglesa que se suicidou aos 28 anos e sempre pontuou suas peças com toques depressivos. Bastante intimista. Sarah Kane disse a respeito desta obra que ela é uma analise sobre a psicose de uma pessoa que perde o limite entre o imaginário e o real. Radiohead na trilha já vale o ingresso.

A nova jornada começou com Assim Parece, uma adaptação de um texto do mestre italiano Pirandello. Apesar de ser um espetáculo muito engraçado, o qual eu dei sonoras gargalhadas do início ao fim, um que de amadorismo me ficou no ar. Algo ficou meio fora de harmonia, não sei explicar. Seguida desta peça acabei por ir na onda e assistir ao show de barzinho Caetaneando, um violão e duas vozes, um homem e uma mulher e Caetano para todos cantar juntos, fraco, Caetano está vivo e é muito melhor contemplar a obra do nosso querido Baiano com o original, covers ou versões raramente são melhores que a original, porém um artista que realiza apenas covers e versões acaba por ser tornar bastante sem sal.

Em seguida fui apreciar a estréia da peça Tânato e Afrodite com um grande amigo meu, Banti, no elenco. Com algumas cenas boas, e algumas atuações legais, fechou bem meu dia. O Clã dos Atores Famintos, mostrou realmente fome de arte e cativou com uma energia muito boa. Os deslizes da peça acaram sendo ofuscados por uma vontade imensa de fazer Teatro.

Meu sábado começou com Quando as Máquinas Param, texto de Plínio Marcos, infelizmente eu não consigo ver a menor graça neste grande dramaturgo santista. Acho ele muito redundante, creio que ele tem pouco repertório de situações e no geral bastante pobre. Porém considerando o fato que é o teatro feito para o povo, com o povo, as perspectivas tem que ser ajustadas. A peça em cartaz no TUSP, tem um dos melhores cenários do festival, uma gaiola e a platéia sentada em volta. Um figurino básico para obra. Uma atriz linda, com uma atuação gostosa, e um ator meio afobado demais, sem saborear o texto como devia. Mais uma vez, lindo cenário.

Em seguida parti para Crimes do Preto Amaral, o qual não estava na programação porém uma atriz da peça havia me dito que estaria, porta na cara, nada de pagar o quanto quer (pode). Meia volta dada, corrida para tentar pegar ingressos para 120 Dias de Sodoma, o qual devia ser a maior procura do Satyrinas, em ambos os dias ingressos esgotados e filas imensas, mais uma negativa. Acabei caindo em Quatro no Quarto, no Teatro Studio 184, vale um comentário muito negativo a respeito deste Teatro, nem um sistema de ventilação ou refrigeração estava ligado, era uma verdadeira sauna, muitos saíram passando realmente mal lá de dentro. Uma pena pois era uma peça muito bem montada. Cenário maravilhoso, bons atores, figurinos, uma comédia de costume rigorosamente bem feita.

Quando meus colegas de peças desistiram, ainda tive forças para ir assistir Ultimas Notícias de Uma História Só, Satyrus 2, que logo roubo a cena e se tornou a melhor peça do evento para mim até o momento. Enredo ágil, rápido e envolvente. Em questões de minutos você já se vê preso a trama. Muito bom, recomendado.

Domingo, meus planos eram uma peça no final da tarde e uma nova tentativa de 120 Dias de Sodoma, acabei no Satyrus 2 novamente com o espetáculo El Truco. Magnífico, roubou novamente a cena e se tornou o melhor da Satyrianas. Realmente recomendado. Vou assistir novamente, e em breve escrevo algo dedicado a esta peça. 120 Dias de Sodoma novamente ficou para a próxima, não sei como coube tanta gente naquele porão do Satyrus 2.

Depois desta maratona de teatro, é preparar o bolso para a Mostra de Cinema. Pretendo assim que sair a programação, montar uma grade com o que considero interessante e deixar por aqui.

Teatro é tudo. Paulo Autran deixará saudades. Adeus cansado e cansativo mestre.

quinta-feira, outubro 11, 2007

Radiohead - In Rainbows (2007)

Devo confessar que está é a sétima versão do texto que escrevo. Primeiro porque existe um contexto muito maior por de traz deste novo “disco”. Segundo porque ele já começou a criar novos sentidos, novas camadas a cada audição viciante que me aventuro. Esta é uma das bandas que eu acompanho desde meus tempos de adolescente, junto com Nirvana, Pearl Jam e outras que não valem a menção Radiohead fazia parte da minha restrita discoteca. Pablo Honey - “but I'm a creep....” - foi tocado vez após vez em um loop quase infinito. O engraçado é como de certa forma vejo refletido meu amadurecimento na evolução da obra deles, nenhuma banda acompanham tão bem os momentos da minha vida.

O Radiohead, ao meu ver, chegou a um ponto que poucos artistas chegam, que é quando se faz música pela pura e simples forma de se fazer arte. Fazer arte para se entender, para entender o resto, para viver. O álbum anterior da banda mostra bastante isso, Hail To The Thief era um disco mais para eles do que para o público, com algumas canções muito fortes, porém sem o mesmo impacto causado anteriormente. Muitos apontaram que isso seria uma volta ao Rock. O que acho um absurdo de ser dito, a banda traçou um lindo caminho e deve continuar como manda a mente doentia de Thom.

In Rainbows é um conjunto de músicas único, bonito, cativante, instigante e comparável a qualquer outro trabalho da banda no passado. Nós temos uma introdução com uma bateria interessante e vemos de cara que algo mudou, o vocal entra de forma precisa e temos uma baita de música a altura da fina lista de composições de alto escalão que abrem os discos da banda. É interessante analisarmos o uso da guitarra ao longo de todas músicas, ela está muito presente e mais importante, usada de formas inovadoras.

O toque especial a ser comentado é o lançamento, muito a frente de seu tempo como sempre, Yorque e a trupe resolveu lançar o novo trabalho sem gravadora alguma, na internet, com o interessante fato que se paga o quanto quiser pela versão digital, exato o quanto você estiver disposto a pagar pelas músicas. Existem uma versão de luxo em vinil que custa 20 libras, que os mais fanáticos devem estar dispostos a pagar. E todo o dinheiro vai para a banda. Bela tacada.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Satyrianas - Saudação à Primavera

Já estamos na oitava edição deste que deve ser o maior evento teatral do país. Serão 80 horas de eventos artísticos onde se paga o que pode. Este ano inclusive, para nossa felicidade, muitos outros locais aderiram ao evento. A lista não é pequena: além dos espaços administrados pelo grupo - Espaço dos Satyros Um, Espaço dos Satyros Dois, Espaço dos Satyros Pantanal e Teatro da Vila - participam do evento os seguintes teatros: Espaço Parlapatões, Teatro do Ator, Studio 184, Next, Teatro Vento Forte, Galpão do Folias, Teatro Bibi Ferreira, Tusp, Teatro Alfredo Mesquita, Companhia Corpos Nômades e Museu da Língua Portuguesa. A novidade é o DramaMix, onde 78 dramaturgos prepararam textos para serem encenados ininterruptamente durante o evento todo. Alguns dos destaques que tentarei assistir:

Espaço dos Satyros
"Primeiro Amor"
"Uma Pilha de Pratos na Cozinha"
"O Santo Parto"
"Os 120 Dias de Sodoma"

Teatro da Vila
"Cidadão de Papel"

Teatro Vento Forte
"Casa do Gaspar"

Teatro Galpão do Folias
"Orestéia"

Next
"Textículos"

Teatro do Ator
"Un Año de Amor"

Studio 184
"Quatro num Quarto"

Espaço Parlapatões
"Prego na Testa"
"Hotel Lancaster"
"Chorinho"

A programação completa.

terça-feira, outubro 09, 2007

Oh

Oh
Ho!
Ao que fica.
Bravo Capitão
Ho.
Ohh
Exclamai a ti.
O golpe da espada
O gole de vinho
Ao que vai.
O coração fica.

Eis que somos.
O que queremos.
Com ou sem
A porra da alma.
De libertinagem
Se faz vida.
De prisão se faz
arte resposta.
arteira loucura

Ei de me libertar.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Rolling Stones - Let It Bleed (1969)

Um disco que começa com “Gimme Shelter” merece no mínimo uma audição de respeito, essa canção que não só mostrava como a banda foi abalada com o incidente do show em Altamont mas também é uma simbologia perfeita para o “Sonho Acabou” era o fim da utopia hippie. Ainda sim é um disco de sangue, sangue com barro, country, blues e gospel, tudo misturado, queimando e combinando feito a receita para o apocalipse. Maníacamente desesperados como em “Live With Me”; o blues assassino de “Midnight Rambler”; o épico moralista, com direito a coro de igreja e um honky tonky sacana de “You Can't Always Get What You Want” o qual, reza a lenda, Mick escreveu no seu quarto com um violão apenas e depois parodiou dizendo que seria hilário ter um coro acompanhando.

Neste disco a participação do Brian Jones já foi bastante reduzida, e mesmo o seu substituto teve uma ponta modesta sendo assim a maioria das guitarras foram gravadas mesmo pelo Keith. O velho pirata nesta época andava bastante com Gram Parson, recém saído do Byrds, o que nos justifica totalmente a forte influência de Country que aparece por aqui.

É incrível como este disco se enquadra perfeito no quarteto de discos que os Stones lançaram no final dos 60. É uma quadra maravilhosa, começando no Beggars Banquet, Let It Bleed, Sticky Fingers e Exile on Main Street. São quatro dos discos mais importantes do Rock da terra da rainha.

Recomendação de Peças - São Paulo.

Vou deixar duas recomendações de peças que estão em cartaz em São Paulo. Em breve também estréia a nova da Companhia Elevador de Teatro Panorâmico. Um breve comentário, Pirandello é um dramaturgo incrível, um dos pilares do Teatro do Absurdo, e também é bem difícil de se ver algo dele montado, vale uma conferida. Closer é a peça que surgiu do mesmo texto que veio o recente filme da Natalie Portman, a versão de teatro ganha em uma fidelidade maior ao original, o que me agrada mais.

ASSIM PARECE Texto: Luigi Pirandello.Direção e adaptação: Alex Brasil.Com: Grupo de Teatro Meio. Comédia inspirada no texto "Assim É se Lhe Parece", de Pirandello. Diante de dois suspeitos, os moradores de uma cidade não conseguem descobrir qual deles é louco e está mentindo.www.satyros.com.br. Espaço dos Satyros 1 (pça. Franklin Roosevelt, 214, República, região central, tel. 3258-6345). 50 lugares. Sex.: 19h. Até 2/ 11. 60 min. 14 anos. Ingr.: R$ 5 (p/ moradores da pça. Roosevelt) e R$ 20. DESC. 50% PARA ASSINANTE E UM ACOMPANHANTE COM CUPOM CLUBEFOLHA.

CLOSER Texto: Patrick Marber.Direção: Florência Gil.Com: Rachel Ripani, Amazyles de Almeida, Daniel Faleiros e Joca Andreazza. Trata-se da peça que inspirou o filme de Mike Nichols. Na trama, que tem cenas diferentes e outro desfecho em relação ao cinema, focam-se os relacionamentos amorosos de um quarteto de classe média em Londres.www.teatroaugusta.com.br. Augusta - sala principal (r. Augusta, 943, Consolação, região central, tel. 3151-4141). 302 lugares. Sex.: 21h30. Sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 7/10. 90 min. 15 anos. Ingr.: R$ 30 (sex.) e R$ 40 (sáb. e dom.).

quinta-feira, outubro 04, 2007

Cidade dos Sonhos - Mulholland Dr. (2001)

Direção – David Lynch (História Real, Inland Empire, Estrada Perdida e Veludo Azul)

“Apesar que agora agente acha poesia até em caixas vazias de hamburger.”

Se você não assistiu e deseja ter a experiência mais longe de lucida possível saiba apenas: É uma história de amor desenvolvida na cidade dos sonhos. Isso é mais do que suficiente para instigar a curiosidade do que raios vocês estará vendo.

Esse é talvez o maior filme que eu tenha visto em tese no lançamento, mesmo que tardio, em uma sala de cinema. Veio antes do advento da Internet, quando se tinha que correr ao circuito alternativo de cinemas para poder assistir algo de um Lynch ou de um Amoldóvar. E talvez a experiência de ter assistido sem esperar nada, em uma sala de cinema com sua lotação pela metade colaborou e muito. Pare de ler agora e vá assistir, se continuar posso estragar tudo.

“Shhhh no hay banda”

Além de um filme, Cidade dos Sonhos é um atentado contra sua própria sanidade. Naomi Watts (em uma atuação impecável) é uma jovem atriz canadense que deseja tentar a sorte em Hollywood, típica garota inocente que acredita que quem corre realmente com empenho atrás de seus sonhos sempre chega lá. As coisas começam a se complicar quando uma atraente mulher chega, sem memória após um terrível acidente de carro, a casa da personagem de Naomi. As duas se identificam e resolvem correr atrás das respostas desta enigmática amnésia.

Porém nesse meio tempo somos apresentados a diversas outras histórias paralelas. Um assassino que acaba por causa muita bagunça para conseguir um caderninho de números. Um jovem diretor de cinema que se depara com uma máfia que comanda todos os filmes de Hollywood. E tudo se mistura de forma cruel, aos poucos realidade e imaginário começam a se mesclar, a relação das duas mulheres se torna sexual e a espiral começa a se tornar mais violenta e abruptamente perigosa. Tudo explode quando uma pequena caixa de Pandora é aberta e então temos uma quebra total do que imaginamos ser realidade. O que é real? Onde estamos?

Chega ser engraçado como Lynch brinca conosco e nos deixa cegos e surdos em meio a tanta informação que pode ou não ser real. A própria cenografia e efeitos são forçadas para o artificial ou para o mais vívido bagunçando os sentidos de quem assiste.

Sou da corrente dos que acreditam que nem mesmo Lynch tem um sentido concreto para todos os elementos do filme. Alguns aspectos ficam bastante subjetivos e nos entregam diversas possibilidades. O filme pode ser um retrato cru do lado mais sombrio dos relacionamentos humanos; a maneira sórdida que a condição humana é submetida para manter a si mesma integra. Essa é uma das várias interpretações que se pode arrancar deste intricado quebra cabeças moderno.

Um fato é que esse filme é uma obra de arte, digno de todas as honras que se pode entregar a algo tão bem feito, com tanto sentido e ao mesmo tempo com nenhum sentido. David Lynch é de longe um dos melhores diretores de cinema em atualidade. Inland Empire seu mais novo filme segue na mesma linha, em breve escrevo algo a respeito.

“É tudo uma ilusão... there is no band.”



Llorando por ti! (não assista se não quiser estragar o filme)

quarta-feira, outubro 03, 2007

Bande à Part - Band of Outsiders (1964)

Direção - Jean-Luc Godard (Viver a Vida, Alphaville, Acossado, O Demônio das Onze Horas e Uma Mulher é uma Mulher)

Um filme sobre um assalto com um ar único de jazz e poesia. Com várias boas seqüências - até mais do que se espera de um filme do gênero - e personagens cativantes e mais fáceis de se identificar do que em seus filmes passados tornam esse um clássico do Godard. O estilo artístico aqui apresentado, a trilha sonora e as atuações fazem deste um filme que influenciou muita gente.

Os dois protagonistas são ligeiramente diferentes, é uma delícia pegar esses pequenos momentos em que essas características conflitam, porém ambos tem a idéia fixa de se tornarem grandes criminosos de classe. Um dos dois acaba por conhecer a belíssima personagem interpretada por Anna Katarina e trata de seduzi-la à ajudar em um próximo grande assalto.

Apesar deste filme muitas vezes ser lembrado por sua cena final, o que faz dele um filme incrível é todo o resto, o recheio, o que nos leva ao plano final. É engraçado como podemos nos manter entretidos do início ao fim mesmo sabendo que se trata de um filme artístico e cheio de momentos de silêncio e experimentos de estética e atuação.

Um dos pontos altos é o trio de protagonistas, os três anti-heróis são extremamente cheio de emoções e mais importante do que isso transmitem tudo com muita graça e espontaneidade. Como sou um fã confesso de Anna Katarina a personagem dela me cativou desde a primeira cena, não é difícil imaginar o porque Godard se apaixonou, casou-se e transformou-a em uma obsessão. Fazendo um pequeno comentário a respeito desta grande atriz, recentemente assisti três filmes com ela: Viver a Vida, Uma Mulher é Uma Mulher e Bande À Part, e de fato ela desempenha três papeis completamente diferentes e de forma bastante convincente, grande trabalho digno de ser acompanhado.

Inclusive uma referência a ser feita é que a cena da dança do filme foi inspiração direta para Tarantino criar a sua famosa dança ao som de Chuck Berry em Pulp Fiction. O pop se come!

Nota: 10/10



As garotas do Nouvelle Vague usaram um trecho do filme neste clipe. Aproveitem a música: