quinta-feira, outubro 30, 2008

E ela?

Eu disse que queria um pouco de paz. Que estava bem aonde estava. Que não precisava de mais aventuras. Isso tudo pôs o barraco abaixo e foi ali que tudo começou a desmoronar, em um enorme efeito dominó. Pela noite eu disse que não tinha como dar certo, era uma dor aguda falar que não tinha como dar certo, mas era o que eu podia fazer. Ele, com seus olhos brilhando, não desistiu. Disse que eu era louca e que estava fugindo do inevitável, fugindo da felicidade. Eu disse que mesmo assim não havia a menor chance. Ele disse que me amava. A dor aguda apertou, eu também o amava. Mas mesmo assim. Ele disse que iria esperar. Disse com a boca amarga de um conhaque barato, te espero no meio fio. Mas mesmo assim. Ele não sabia o que fazer da vida, pra onde ir. Eu ficaria na minha segurança. Sendo sincera, nem sabia muito bem o que faria em seguida, talvez passar um tempinho comigo mesma. A cena me imobilizou. A balada toda era um funeral agora. As pessoas dançavam como numa marcha fúnebre. A introspecção não é o meu forte. Me agarrei ao meu porto seguro. Eu não o amo, mas ele me sustenta para que eu possa viver. Ele me sacudia, pedia atenção. Eu apenas contemplava, contemplava o seu coração se partir pela minha covardia. Eu me perco nos limites nem sempre bem definidos entre realidade e ilusão. Tenho certeza que pude ver aquele homem se perdendo no rastro do desamor. Ou pode ter sido ilusão. Me afastei ao som massante da música. Beijei sedenta por paixão a boca do homem vazio que me acompanhava. Me sentia a beira de um penhasco enorme, agarrei como podia aos braços dele, me entreguei como nunca, saímos e transamos em seu carro, em uma travessa escura da Pamplona. Naquele momento, eu o amava, quando estivesse sozinha novamente, amaria ao outro. Essa minha trama sobre perdas e sonhos está longe de acabar. Engulo seco, ainda com gosto de porra na boca. Agora já sozinha, caminho os últimos metros até em casa. O celular vibra. Você tem duas mensagens. O coração vira uma bola de basquete, passando de mão em mão e sendo arremessado para todos os lados. Se ao menos alguma coisa fizesse sentido.

2 comentários:

Ana Carolina disse...

É, se pelo menos alguma coisa fizesse sentido.

Gostei.

Uidol Macaya disse...

e eu? pra variar Fico nesse jogo sendo EU a bola.