terça-feira, outubro 07, 2008

Gosto de viajar, meter o pé na estrada, ver o mundo ficar pra trás e todo um mar de possibilidades se abrir lá na frente. Gosto pra cacete de conhecer novos lugares, de saber que existe um puta macarrão com frutos do mar em Paraty, ou que existe uma cidade bem mais civilizada um pouco mais ao sul daqui. Mas porque diabos eu ainda guardo um carinho especial por São Paulo? Não sei se é pelos porres madrugada a adentro que tenho guardado em cada cantinho dessa cidade. Eu as vezes sinto uma saudade quase estúpida dessa cidade. De uma boa feijoada no centro, de um puta macarrão bom no planetas, do teatro, do cinema, de uma comida japonesa de primeira, de um show perdido na augusta, de todas os malabarismos que essa cidade suja oferece em troca da vida condicionada que ela oferece.
Esse lado sujo e sombrio de Sampa me encanta, me fascina ao mesmo tempo que me repulsa. Já perdi a conta de quantas vezes amaldiçoei essa cidade. Mas eu sempre volto, e meu apê tá subindo, subindo feito máquina, feito essa cidade que só sobe. As vezes me assusto pensando em sair fora, em deixar a cidade de lado, mas não sei, tenho um sangue paulista correndo nas veias. Quem sabe, quando mais velho? Talvez me canse daqui, que queira uma casa no campo, no exterior, na lua, foda-se, agora não. É foda, passo todo dia em frente a minha futura casa, olho, vejo um peão trabalhando, acho tudo lento. Eu orgulhosamente posso afirmar que vou morar numa cidade única, vou casar, me meter numa casa que vai ter a minha cara, e principalmente a mulher que eu amo lá dentro.
Eu não sei, na verdade me perco em tantas possibilidades surgindo. Eu, hoje, acredito em amor e felicidade. Exatamente um ano atrás eu ria dessas coisas. Então não sei se posso falar muito a respeito do futuro. Posso falar de minhas vontades hoje. De meu desejo pela garota da minha vida e por minha futura casa na cidade da minha vida. Se a garota foi uma escolha pessoal incondicional, a cidade foi um acaso descontrolado. Por hora é isso, é um quero por quero. Vou morder e arrancar pedaço pra chegar lá aonde desejo. Afinal, alguns bebem até morrer, outros vagam sem esperança por aí. Eu, eu achei um osso que não vou largar tão fácil. Achei a possibilidade de viver essa encrenca toda que chama vida, ao lado de alguém. Achei a possibilidade de fazer tudo que eu mais amo, ao lado de alguém muito especial. Resta esse desconforto gostoso com a cidade aonde moro. Se não é o paraíso na terra, é um canto que consigo falar de peito cheio que é meu. Não é terra deles, é terra minha.
Eu queria que essa peça de teatro acabasse num baile, um casal dançando ao som de Here There And Everywhere dos Beatles, um bêbado canastrão sentado no meio fio com uma garrafa de pinga barata, uma puta sendo estuprada por um caminhoneiro solitário e uma jovem perdida metendo uma bala na própria goela. A platéia iria assistir em primeiro plano o estupro e o suicídio, e ao fundo, meia luz, quase desesperançado, o casal dançando.
Agora queria comer um bom virado paulista e sair com minha garota pela paulista, vagando sem rumo, tropeçando num músico de rua, tomando uma breja barata em algum canto. Pra ver erguer mais um tijolo de minha casa no raiar do dia seguinte.

...

Não esqueçam de visitar, comentar e divulgar:

http://www.myspace.com/georgeband

Nenhum comentário: