Eu gosto muito disso, sou viciado na minha mulher, ela enche a cama na melhor maneira possível de dizer. E aqui estamos nós, carnaval, acabamos de foder, e foi uma foda boa pra cacete. E agora ela tá ali, dormindo, desmaiou, e eu aqui, mais acordado do que nunca. Tamo num hotel de quinta categoria. Paredes amarelas, ventilador de teto barulhento, gambiarra no banheiro e gravuras do Dali de decoração. Pensando melhor podia ser bem pior, mas convenhamos, é um hotel decadente que cobra cinquenta pila a noite. Não tem água e eu to com uma puta sede, e ela tava com sede mas depois da trepada apagou total, me deixou falando sozinho. Rodei umas duas vezes na cama, senti o peso da noite que ainda está por começar e me levantei. Agora sentado aqui no notebook refaço mentalmente a noite. Tem um amigo meu que tropeça a cada degrau e cada vez mais se afunda na miséria. O cara hoje encheu a cara e ficou com aquela cara de coitado, de quem lamenta cada segundo de vida, e lamenta a própria falta de coragem de dar cabo em tudo. Ele cospe que devia ter morrido certa vez que tava se afogando no mar e foi salvo por duas pessoas. Cospe que debocha da vida e que devia ser castigado por isso. Ele cospe a amargura que é passar noites em claro sozinho, tendo a luz azulada do monitor refletida na parede mofada de seu quarto. Tendo putas de terceira aninhadas em seus braços, tendo o peso de se arrastar por aí em busca da próxima etapa, que com certeza será pior que a anterior. Ele é um artista. Ele devia falar de cada tombo, de cada visita ao hospital e de cada soco na cara. Na música, na literatura, no diabo que ele queira, mas ele não pode deixar de expor suas feridas para que apodrecem em praça pública. A poucas horas ele fumava um béque na mesa conosco. E agora deve estar debruçado sobre alguma revista de mulher pelada, matando a ânsia de ser homem que adormece no seu pau. Ele como tantos, não tem uma mulher linda ao seu lado, não tem como se virar e aninhar num corpo liso e quente, encochar uma bunda convidativa e adormecer ou não tendo sonhos perversos. São esses caras que rastejam pela noite e rascunham com suas vidas em busca de sentido. Eu sinto um certo orgulho de ser amigo desse cara. Agora, eu que não tenho essa vida perdida para viver, vou tentar adormecer ao lado da garota, vou deitar e tentar apagar até amanhã. Mas a insônia vai me segurar, talvez eu volte, ou talvez eu a acorde.
segunda-feira, fevereiro 23, 2009
sábado, fevereiro 21, 2009
Leonad Cohen - I'm Your Man
If you want a lover
Ill do anything you ask me to
And if you want another kind of love
Ill wear a mask for you
If you want a partner
Take my hand
Or if you want to strike me down in anger
Here I stand
Im your man
If you want a boxer
I will step into the ring for you
And if you want a doctor
Ill examine every inch of you
If you want a driver
Climb inside
Or if you want to take me for a ride
You know you can
Im your man
Ah, the moons too bright
The chains too tight
The beast wont go to sleep
Ive been running through these promises to you
That I made and I could not keep
Ah but a man never got a woman back
Not by begging on his knees
Or Id crawl to you baby
And Id fall at your feet
And Id howl at your beauty
Like a dog in heat
And Id claw at your heart
And Id tear at your sheet
Id say please, please
Im your man
And if youve got to sleep
A moment on the road
I will steer for you
And if you want to work the street alone
Ill disappear for you
If you want a father for your child
Or only want to walk with me a while
Across the sand
Im your man
If you want a lover
Ill do anything you ask me to
And if you want another kind of love
Ill wear a mask for you
Sobre amor, sonhos e desemprego.
Eu juro que não guardo rancor algum. Só não quero sentar na mesma mesa de bar de alguns que trabalhei no passado. Não quero nem olhar nos olhos. Vocês quiseram me apagar. Não culpo. Acontece, e eu não fiz muito para evitar. O problema não é esse. O problema é o pesar que jogaram no meu coração. Eu não tava assim, ácido, a uns dois meses atrás. Eu era outra pessoa, agora ao menor sinal de depressão me atiro no chão. Mas preciso deixar a tristeza do que não foi esse emprego pra trás. Não posso me transformar nesse monstro novamente. Tenho sonhos, tenho sonhos que tijolo a tijolo se aproximam da realidade. E não posso virar um monstro, tenho minha garota, tenho minha vida inteira. Não quero guardar mágoa de quem me apagou como se apaga rascunho mal feito.
Muitas vezes eu choro, de cantinho, sem ninguém ver. Quando chega alguém, eu levanto rapidinho e ninguém percebe nada. Eu, sei que amo a raposa como nunca amei ninguém, mas to virando um disco quebrado. Acho que to me repetindo, me tornando alguém chato, amargo pela queda abrupta. E fico escorrendo entre as garrafas que nem me amparam mais. Não quero. Eu vou dar a volta por cima. Mas sinto ela distante, sinto ela se enfasando da minha apatia.
Fico imaginando se ela ainda me ama. Eu acredito que sim, acredito na sinceridade dela. Mas ao mesmo tempo tenho esse sentimento forte que to me tornando algo ruim. Deixo claro, ela não é mais uma boceta na minha vida. Ela é tudo. Eu não quero nunca deixar de ser um pingo pra ela. Ao mesmo tempo tenho certeza que esse rancor que eu juro não ter, já tá me correndo e me fazendo de lixo.
Eu desapareço feito pó na estrada. E ela é feito lua pra mim. Para o resto de nossos dias, quero respirar o mesmo ar que ela.
Não quero dispersar, e quero amanhã ser o homem que ela ama. Não quero me perder em loucura. Não mesmo, quanto ao trampo, uma hora aparece, até lá a gente se vira. Eu prometo que vou dar um jeito, da mesma maneira que a insônia me segura aqui, olho arregalado e cabeça perdida, eu amanhã vou lutar contra esse amargo que não sai da boca, em busca do eu que é o ele que ela tanto ama. Não vou perder.
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Quer dizer, eu ando angustiado, não consigo escrever o que gostaria de escrever. No entanto, tenho que escrever algo pra me agarrar no resto de sanidade que tenho. Talvez ontem uma nova oportunidade tenha começado a brilhar, mas por hora são 45 dias de total falta de perspectiva de como sustentar meu futuro apê e minha garota. As vezes fico numa vontade imensa de ficar em casa, juntar os pedaços em que me fragmentei nos últimos meses. As vezes eu nem estou em mim, sou aquele maluco descontrolado, aquele caótico e ensandecido cara que cospe fogo em que chega perto. Mas agora é agora, e eu estou aprendendo a controlar esse pequeno monstro. Sentado na padaria, podia ficar horas com uma cerveja e a luz esverdeada da televisão transmitindo um jogo de futebol. Sofrendo. Mas não é isso que está faltando, muito pelo contrário, isso é justamente o que não devo buscar. Vou me agarrar nessa pequena oportunidade que começou a germinar ontem. Minha vida anda tão, mais tão bagunçada que desencanei completamente de tentar entender. Engraçado que essa bagunça foi causada pela falta de atividade. Pela falta de um trabalho. Nunca liguei pra essa coisa de trabalho, mas bastou ter zelo por alguém, que me sinto completamente inútil na situação atual. Não aguento mais essa bagunça, mesmo. Preciso mudar logo a cara disso tudo. Ainda não consegui, mas vou dar um jeito. Enquanto isso, mais músicas sobre o descompasso da vida. Vou lá.
terça-feira, fevereiro 17, 2009
É, eu ando com a cabeça em outro lugar mesmo. Mês passado, ano passado, foi um ano lindo. Tenho certeza do que estou falando. Foi o ano mais foda da minha vida inteira até hoje. Acordei diversas vezes e estava tudo claro. Até as baladas do Elvis fizeram sentido. Enfim toda a lenga lenga do romance se fez clara. Garotas, recolham as barracas que o coração foi vendido a preço de ouro pra garota perfeita. Não existe mais espaço pra ninguém. Estou escrevendo disso porque acordei sem ar. Precisava do puta beijo dela. Porque acordei suspirando e ficando puto de ver a cama vazia. Cá estou eu, meio tonto, imaginando como será nossa casa. Decidi duas coisas fúteis, mas foda-se, quero mesmo assim. Primeiro, um poster do filme Bande À Part, por que não outro? Porque esse filme é foda e tem significado na minha jovem experiência de amante do cinema. Segundo, um suporte de casacos e chapéus bem estiloso, de preferencia com mais do que dobro da minha idade.
Aguenta aí, já volto.
Aonde eu estava? Na casa, sim, na casa nessa odiosa e amável cidade. Não sei, tenho essa relação sádica com São Paulo. Essa porra é sufocante. Odeio o barulho, odeio o formigueiro que obriga andar quase que por sobre as pessoas. Eu bem que queria paz, silêncio e tranquilidade. Mas nunca viveria num lugar pasmo e morto como uma cidade de interior. Meu deus, to sem ar e queria falar muito mais. Queria falar da viagem, da perdição por terras ao sul. Mas não quero falar, quero ser egoísta e guardar esse pequeno tesouro só comigo. Só eu e a minha garota vamos ter acesso a essa joia rara. Não gostei de compartilhar. Eu sei que devia escrever, escrever e escrever mais um pouco. Mas é foda, me sinto um inútil por não servir a um puto de cidadão como funcionário. E porque? Não sei, me considero um bom cara, boa formação, culto, empenhado, as vezes, é posso ter um outro defeito, mas quem não tem?
To ficando com sono. Acho que vou me jogar na cama e esperar algumas horas até a entrevista de emprego. O misterioso emprego. Acreditem ou não, fui chamado pra um lugar misterioso que não pode ser revelado até determinada etapa desse processo de castração do meu tempo livre. Não posso reclamar porque quero minha casa, meu poster e meu suporte chapéus, e isso tudo curta grana, então vender a alma um pouco em troca de tudo isso parece justo. Me desejem sorte.
domingo, fevereiro 15, 2009
sexta-feira, fevereiro 06, 2009
Sul - Parte 1
Acabou com um enorme vazio.
Era começo de ano e eu ouvi daquele velho japonês que estava despedido, que eles estavam precisando repensar o departamento, que infelizmente não tinha como me colocar no novo quadro, então eu fui, e a próxima coisa que me aconteceu foi uma viagem pela América do sul. Vagando por aí à toa ao lado da mulher que amo.
Não sei se venho aqui contar uma história de um fracasso, de uma busca ou simplesmente um conto de amor. O que quero dizer com essa pequena estória é que existe uma inquietude em todos nós, e ela não pode ser ignorada de forma alguma.
Começar pelo fim pode ser clichê, mas sinto uma enorme necessidade de desabafar o vazio agudo que me incomoda desde que despertamos desse sonho. Esse silêncio do quarto grita o tempo todo. Agora ela está de volta ao trabalho e eu vou passar a maior parte do tempo só. No começo é fácil, arrumamos o que fazer, botamos em ordem pendências, mais depois começa a ficar difícil. E esses poucos dias de viagem fazem uma falta danada.
Mas vamos ao fracasso, ou não. Foi tudo planeja meticulosamente, com mochila nas costas o destino era Ushuaia, a cidade mais ao sul do mundo. A passagem até Buenos Aires estava comprada a alguns meses e o resto seria feito na base do improviso. Mas nem tudo saiu como pretendíamos, principalmente quando algumas previsões falharam e o que seria uma viagem mítica ao sul tornou-se uma quase impossível jornada para dois jovens.
Eu sei que faltou um pouco de culhão para mandar muita coisa a merda e ir de carona, sem ter lugar para ficar ou mesmo arriscar de dormir no relento. Mas quando do lado caminha a sua amada, pesa. Pesa muito uma decisão dessas. Um sentimento de guarda baixa e buscamos de certa forma um conforto minimo, uma segurança mínima. Isso não tira o mérito de uma viagem maravilhosa. Cheia de encanto e que realizou o impossível. Uniu mais ainda dois jovens.
Saindo do vazio desse quarto velho, aonde tantas recordações de infância repousam, vamos direto para a década de 50. Uma avenida de ouro. Uma pequena Europa encravada no mundo novo. Buenos Aires carregava toda a áurea dourada do velho continente. Nosso hotel tinha uma entrada majestosa com duas portas de quase três metros de altura. Adornos talhado a mão pelos melhores marceneiros. Escadaria de mármore branco e corrimões de ferro fundido, trabalhado e retorcido em perfeita harmônia. Hoje, não passa de um fantasma velho do passado. Como que coberto de pó e adormecido em uma época inexistente o hotel sobrevive em tempos da praticidade do plástico.
Foi ali, em um quarto velho, no final do corredor. Ali tivemos nossa primeira noite em solo portenho. Em meio ao glamour acinzentado e o fervor de nossa paixão fizemos amor ali. Era um gozo pela liberdade, pela nossa vida ainda não vivida e pela jornada que estava começando. A cama velha rangia, o pé direito alto deixava espaço de sobra para nossas ambições.
Buenos Aires se tornou pequena para nós. Passeamos por suas ruas, por sua grandiosa arquitetura, por seu porto, por sua periferia. Andamos apaixonados e nosso desejo estava ao sul. Era apenas o começo. O duro golpe veio logo ali. Veio logo ao pisar no ringue, beijamos a lona praticamente no segundo após ouvir o gongo anunciar a luta. É uma facada ver sua amada chorando desolada por um sonho ser rasgado em nossa frente sem que pudéssemos fazer nada.
Se foi a crise, se foi a situação econômica precária do terceiro mundo, se foi má fé portenha, se foi o diabo se divertindo a nossas custas nunca vamos saber, porém o que era um custo passou a ser duas vezes mais, logo no primeiro dia. Teríamos que buscar alguma alternativa. Faríamos o roteiro de trás pra frente. Quem sabe descer pelo interior seja mais barato, uma vez que em época de férias Buenos Aires inteira viaja, e obviamente as passagens ficam mais salgadas. E com a confiança abalada mas não destruída partimos para Córdoba, em busca do Chile, e futuramente do sul extremo.