domingo, fevereiro 28, 2010

Educação



Esperei muito pelo filme Educação, com o roteiro assinado por Nick Hornby. Talvez parte da empolgação venha do trailer bem feito e que realmente instiga. O resultado acabou sendo agradável. O filme acera em diversos aspectos.

Antes de tudo, é preciso entender que não é uma refilmagem de Lolita. A intenção não é essa e o filme toma outros rumos. Existe sim a colegial que se apaixona pelo homem mais velho, mas longe de toda a malícia e toda a polêmica do clássico.

As atuações são na média, nada demais, o único brilho mesmo fica por conta da jovem Carey Mulligan que brilha no papel da protagonista. Não é uma atuação de gala, mas não escorrega e convence. O seu par já não brilha tanto, e até chega a perder quando entra em cena o colega de golpes.

Um grande destaque fica para a parte que se passa em Paris. Existe todo um clima diferente ali e muito agradável. É sempre bom ver as cidades européias nas telas. O charme é incrível e ainda não existe lugar no mundo que se compare ao velho mundo.

O grande defeito do filme é o desfecho. Partindo completamente para o óbvio e de certa forma até acelerado demais, o filme acaba por baixo, perdendo a chance de encerrar em grande estilo. Nick Hornby mostra cada vez mais que perdeu a mão e depois de seus primeiros livros o estoque de idéias pop se esgotaram. Uma pena.

Nota: 8

quinta-feira, fevereiro 18, 2010

O Amor Segundo B. Schianberg



O Amor Segundo B. Schianberg é uma porcaria. O pior é que vende como filme arte ou Cult. Não tenho tantos argumentos para justificar a porcaria de filme que é.Mas digo que a industria de cinema as vezes esquece que fazer filme pode ser muito mais simples.

O filme só não é pior por causa do vídeo arte que entra no final, que consegue ser mais sofrível. Primeiro que o filme é vendido de uma forma bastante falsa. O Amor Segundo B. Schianberg é um livro do maravilhoso romance Eu Receberia As Piores Notícias de Sua Linda Boca de Marçal Alquino. Diga-se de passagem, esse romance é um puta livro da literatura brasileira. Uma pancada na cara, forte e muito bom mesmo.

Um filme que carrega uma referência dessas devia se preocupar em honrar a obra original. E não apenas usá-la como um argumento barato para um filme experimental meia boca. Não preciso ir muito longe para discursar sobre a trama. Casal é submetido a uma experiência de como nasce e cresce o amor.

Criando uma situação forçada, eles vivem em um apartamento durante algumas semanas e num esquema big brother de ser acompanhamos a montagem preguiçosa dos melhores momentos. A única esperança para uma obra dessas era um casal de atores monstro. Não temos isso, são atores comuns e que nem de perto seguram tamanha responsabilidade.

A edição também por vezes tenta demais fazer uma arte jererê que não funciona e só nos leva a bocejar diante as tentativas pretensiosas do filme Adianto que não assisti a série na TV cultura e não consigo imaginar que o resultado seja muito melhor. Infelizmente sou classicista demais para admitir que um filme sem roteiro, sem fotografia, sem sonoplastia e sem bons atores possa ser por mais que experimental bom.

Como experiência, valeu, é bom sair do molde engessado do cinema nacional. Como obra, foi um tiro no pé fraquíssimo. Não quero nem citar como fiquei desapontando, afinal Beto Brant é pra mim um dos nomes do cinema nacional. Espero que sua próxima empreitada volte aos trilhos.

Forte candidato a pior experiência em uma sala de cinema.

Nota: 0,5

quarta-feira, fevereiro 17, 2010

Preciosa - Uma história de esperança



É bom quando entramos no cinema com uma expectativa e esta é totalmente superada. Preciosa não é um filme fácil. É uma história até certo ponto perturbadora e que tem conteúdo. Muito diferente do cinema pastiche que tem sido feito.

Sem dúvida o grande mote do filme são as duas atuações sensacionais. Preciosa, nossa heroína é uma garota obesa, negra, moradora de um bairro barra pesada de Nova Iorque, que coleciona mais problemas do que veremos em nossa vida toda provavelmente. Algumas vezes questionei o quanto é atuação e o quanto talvez seja a atriz se expondo ali. Já a segunda atuação memorável vai para a mãe de nossa protagonista que leva fácil o prêmio de personagem mais asqueroso da história do cinema.

Outras duas atuações surpreendem muito, Mariah Carey e Lenny Kravits se mostraram bastante honestos e fizeram seus papeis com firmeza. Na verdade acredito que ambos sejam até melhores aqui do que na sua suposta música. Gosto a parte, acredito que ambos se saíram muito bem mesmo.

Toda história de outsiders me agrada. E aqui não foi diferente. Nossa pesada protagonista não se ajusta, é expulsa de sua escola e acaba sendo aceita em um grupo de estudos especial. Ali temos nossa pequena turma de desajustadas dos mais diversos tipos, guiadas por uma professora dedicada que mais tarde se revela lésbica. Tinha tudo para dar errado, mas dá muito certo.

A história é contada de forma bem humorada e com os pés no chão. Sempre de uma forma bastante convincente e humana. É até surpreendente ver o Oscar se lembrar de um filme tão independente e fora dos padrões de Hollywood. A safra deste ano continua ótima. Mais uma recomendação.

Nota: 9

sábado, fevereiro 13, 2010

A Fita Branca




Acho que o primeiro ponto a destacar desse filme é a belíssima fotografia preta e branca. Não existe como imaginar o filme de outra maneira. Parece que o branco da neve fica ainda mais forte, os personagens ganham ar mais imponente. Tudo conspira a favor tomando como mote de partida a escolha pelo preto e branco.

Quem está acostumado com os filmes de Haneke sabe que ele sempre tende a abordar temas sobre violência de uma forma bastante direta e crua. Neste novo trabalho não poderia ser diferente. Ainda que ganhe uma nova forma de explorar o tema, a velha tentativa do diretor de explicar a origem do mal continua ali.

Veja bem, essa é uma forma de olhar o filme. Não deve se restringir a isso. O filme caminha em um ritmo bastante próprio por mais de duas horas. A construção do clima da aldeia é meticulosa e envolve. O desfecho instiga. Méritos mesmo para os personagens que são ao mesmo tempo fortes e marcantes. O tímido professor, a mais tímida ainda babá, o barão e sua mulher, o pastor e os grandes astros: as crianças da aldeia.

Parece que o povo alemão nunca vai se livrar do fantasma do nazismo. De certa forma ainda procuram se retratar ou pelo menos justificar o que foi talvez o pior momento da história humana. Ainda que o filme seja muito mais que isso. Em nome de uma idéia bonita, de uma ideologia superior, não existe certo ou errado. O filme leva a questionar se o juízo do bem e do mal é certo, e se as conseqüências são justas.

Sobre a trama pouco vou falar. Vale mais aproveitar o filme em um bom cinema e mergulhar nessa tortuosa história que o diretor nos conta. O filme cresce e muito quando assistido na tela grande, é bom não perder a chance.

Nota: 9,5

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Guerra ao Terror



São poucos os filmes de guerra que não são patriotismo piegas ou ação testosterona. Da mesma forma que algumas imagens ainda não me saíram da cabeça, o filme conseguiu algo complexo. Não tomou partido. Não me trouxe uma mensagem do tipo os americanos estão salvando o mundo ou o país de terceiro mundo sofre com a guerra. Nade de mensagens políticas ou mensagens de moral.

De uma forma sutil o filme se aproxima de clássicos absolutos do cinema como Apocalipse Now. Estamos falando da guerra e da maneira doente que ela meche com a cabeça dos soldados. Premissa quase tão simples quanto ao do clássico do Coppola. Se lá o objetivo era: suba o rio e mate o coronel maluco. Aqui o objetivo é, sobrevivam uns dias mais desarmando bombas e voltem para casa.

O protagonista entra em cena logo depois de uma cena de abertura eletrizante, e se mostra avesso ao estereótipo soldado americano. Na verdade é um viciado. O filme alerta, a guerra é uma droga e vicia. Esse é um pobre coitado, que vive em função da adrenalina de desarmar bombas sem proteção ou em situações adversas.

É intenso, chocante e perturbador. Nunca uma câmera de mão foi tão bem utilizada. Aquela filmagem tremida, com cortes rápidos e sem delimitar exatamente o foco da cena é perfeito para compor a atmosfera do filme. É minucioso o trabalho que a diretora faz. Ela procura pintar detalhes na tela a cada segundo, construindo um clima de tensão fantástico. Seja um iraquiano suspeito escondido na janela, ou mesmo uma bomba que definitivamente vai explodir e o protagonista tenta até o final.

A tradução do título não podia ser pior, não existe guerra ao terror, não existe lado ruim e lado bom. Existe um objetivo claro, desarmar bombas. O final quase desanda, mas consegue se recuperar de forma incrível. Não conhecia o protagonista. Jeremy Renner, mas merece as honras de uma atuação soberba. Vale também salvar a cena dos atiradores de elite. Western em sua essência e dirigido a punho de ferro. Talvez se torne um clássico atemporal. Mesmo porque deixa marcas. Merece todos os prêmios e mais.

Nota: 10