segunda-feira, março 30, 2009

Eu nem me toquei do gosto de sangue na boca. Acho que nem percebi a quantidade de jazz obscuros que cantarolei durante a caminha de volta pra casa. Parei num boteco e pedi uma dose de whisky, dizia ser Red Label mas tinha gosto do velho oito vagabundo. Eu então comecei a sacar qual é que é dessa porra de solidão. Total estado de abstinência. Era algo como estar de trás de um desses possantes dos anos sessenta dirigindo a mil numa Highway acidentada através do deserto. As vezes temos que encarar a fronteira, e mesmo morrendo de medo atravessar. Sinto como se todas as armas estivesse apontadas para a minha carcaça. Gestos de adeus, foda, tudo que vem vai. Não aconteceu nada, na verdade foi uma pequena besteira. Minha garota não se sentiu bem, dor no peito, e isso me assustou pra cacete. Me vi sozinho, egoísta? Não, pois me assustou pra caralho ver ela sozinha sabe-se lá aonde. Não aconteceu porra nenhuma, e nem vai acontecer, mas tudo isso me botou um baque do cacete. Acho que foi dessas coisas que chegam antes da hora, sem avisar, arrombando porta adentro e mandando tudo a merda. Eu só consegui parar quando percebi que tava sem espelho retrovisor. Percebi que é foda, é foda e não tem volta, to com ela e não vai acontecer nada. Absolutamente nada. Eu tava precisando de vida, e vida é sentimento. Caralho, me sinto vivo e isso me assusta. Eu, pelo menos, tenho o deserto todo pela frente.

domingo, março 29, 2009

Merda, uma puta ressaca do caralho. Quero lembrar de tudo, saber de tudo, mas na verdade to totalmente por for a do que foram as últimas semanas. Uma puta sensação boa no corpo. Mas na verdade tá tudo indo rápido demais. Se eu pular do carro agora, quebro a cara no asfalto. Novo emprego, novas responsabilidades. Estou a mil por hora. Uma correria que me deixa meio tonto. Não sei se estou centrado. Mas sei que tudo que quero tá mais perto. Eu e a raposa vamos noivar. Em breve, vamos ter nosso canto, eu ainda quero um porta chapéu pra pendurar na porta da frente.

Eu fiquei olhando pra ela outro dia, parada numa esquina me esperando. Tão pequenininha, vários homens passam e olham. O jeitinho dela, é fantástico, tenho muita sorte de ser o homem dela. Essa correria, essa vida a mil, não vai me deixar perder o foco que é a raposa, nós vamos ser felizes pra cacete.

segunda-feira, março 23, 2009

tá foda, não tenho tido tempo pra nada. Mas não posso reclamar, to feliz. Com o trampo, e com a mulher, principalmente com a mulher. Doce raposa. vamos nos casar

sexta-feira, março 13, 2009

Quem Quer Ser Milionário? - Danny Boyle

Quem Quer Ser Milionário? - Slumdog Millionaire

Direção - Danny Boyle (Trainspotting, Cova Rasa, Alerta Solar e Extermínio)

Ou você compra a viagem do filme, ou sai frustrado. Eu comprei. A montagem do filme é muito boa, apesar de nada revolucionária. Prende bastante a maneira que a história é contada. Tem quem ache o filme raso demais. Eu achei na medida. Tem quem ache o final brega e vazio demais. Eu curti. Agora, a parte da fotografia e o forte apelo visual do filme são realmente de primeira. A história é simples: garoto pobre, que trabalha servindo chá numa imensa operadora de call center, consegue chegar e participar de um programa de TV que lhe dá a chance de ser milionário, quando na verdade, tudo que ele quer é finalmente ficar com o seu amor. História simples, bem dirigida. Recomendo.

quinta-feira, março 12, 2009

E assim começou o cara...

Tinha acabado de arrumar meu primeiro emprego. A grana tava começando a entrar, pude sair da periferia. Morava numa kitchnet na República. Junto com as putas. O cubículo mal dava espaço pra cama e fogão. Muitas vezes o bife queimava, o cano da máquina estourava e inundava a casa, e a maioria das vezes de madrugada. Pela janela via os malandros da noite, cheios de ginga, catavam as mulatas no boteco com jeito. E eu naquele buraco, roupa suja, lixo, um amontoado de desordem escondendo minha cama. Eu tinha uma vitrola velha, tocava algum clássico dos negros, curtia o som na minha, acendia um cigarro atrás do outro até esfriar a cabeça. Até desencanar daquele apê de merda e cair no sono no meio da sujeira mesmo.
Na porta da frente moravam três putas. Uma negra escultural que na verdade cheirava formol, passava o dia alisando a juba. Uma ruiva gordinha e uma albina magrela. Passavam o dia todo fumando maconha e vez ou outra vinham contar dos fregueses pra mim.
Eram três piranhas, porém eram piranhas de respeito e só vendiam o corpo em troca de grana boa. Viviam ali por opção, aposto que podiam descolar algum lugar na Angelica ou mesmo em Pinheiros. Mas curtiam viver ali na boca. Tinham droga, tinham toda a paz do mundo pra foder com permissão de deus e o diabo.
Foi numa noite, depois de muito trampo. Tava numa época fodida, fumava mais do que o normal, e as perspectivas não eram animadoras. Na porta estava a ruiva gordinha. Abri a porta do jeito que tava e convidei a moça pra entrar. Disse sem rodeios que precisava de um favor meu. Trazia consigo uma bela garrafa de pinga artesanal. Foi logo servindo generosas doses e chorando seus problemas no meu colo. Se aquela puta trabalhasse com a devoção que me pedia aquela favor, descolava até o papa como presidente. Era sexta e eu tava pensando em jogar um bilhar, mas fui deixando a puta desaguar suas mágoas. Era bom, bebia pinga da boa, ouvia a puta falar de sua situação humilhante e quem sabe descolava uma transa. Ela usava um top justíssimo, estava bêbada, parecia amistosa comigo. Perfeito. Me servia pinga. Que mais eu podia querer? Ela tinha se chapado rápido e tava bem liberada. Balbuciava besteiras, falava que queria ser como a Bettie Page, e que seria estrela de cinema. E eu roçava meu quadril contra suas coxas. Eu sentia uma vontade danada de lambê-la inteira. Tinha uma cor de mel, mas a safada queria chorar.
Me atraquei com ela meio a força. Resistência e finalmente ela liberou geral. Me beijava por todos os cantos do corpo. Sua boca tinha gosto de pinga. Eu era um moleque saído da Cidade Tiradentes, eu nunca tinha me atracado com uma ruiva daquelas. Sei que meti feito louco. Sem proteção nem nada. Esporrei os dezoito anos de punheta acumulada naquela vagabunda. Depois, eu voltei pra pinga, ela num canto, eu no outro. Ela era uma puta chorona, tinha voltado aos lamentos, gaguejava. Aquilo me broxou um pouco. Aquele cheiro doído mesmo após a transa fodidamente boa. Eu tava bêbado, matei a pinga numa tacada só. Lembrei o que um camarada do bar disse. Puta é puta, namorada é namorada. Gelei, e quis prestar atenção no que a ruiva murmurava em seu canto. A vagabunda tinha gonorreia, e agora o idiota aqui também. O cara tinha razão. Puta é puta.

segunda-feira, março 02, 2009

“Todas as palavras boas estão pálidas de exaustão. Flores, lua, olhos, lábios. Eu gostaria de escrever como se a literatura nunca tivesse existido. Eu não consigo; a ironia devora as palavras”
Victor Shklovsky