Tinha acabado de arrumar meu primeiro emprego. A grana tava começando a entrar, pude sair da periferia. Morava numa kitchnet na República. Junto com as putas. O cubículo mal dava espaço pra cama e fogão. Muitas vezes o bife queimava, o cano da máquina estourava e inundava a casa, e a maioria das vezes de madrugada. Pela janela via os malandros da noite, cheios de ginga, catavam as mulatas no boteco com jeito. E eu naquele buraco, roupa suja, lixo, um amontoado de desordem escondendo minha cama. Eu tinha uma vitrola velha, tocava algum clássico dos negros, curtia o som na minha, acendia um cigarro atrás do outro até esfriar a cabeça. Até desencanar daquele apê de merda e cair no sono no meio da sujeira mesmo.
Na porta da frente moravam três putas. Uma negra escultural que na verdade cheirava formol, passava o dia alisando a juba. Uma ruiva gordinha e uma albina magrela. Passavam o dia todo fumando maconha e vez ou outra vinham contar dos fregueses pra mim.
Eram três piranhas, porém eram piranhas de respeito e só vendiam o corpo em troca de grana boa. Viviam ali por opção, aposto que podiam descolar algum lugar na Angelica ou mesmo em Pinheiros. Mas curtiam viver ali na boca. Tinham droga, tinham toda a paz do mundo pra foder com permissão de deus e o diabo.
Foi numa noite, depois de muito trampo. Tava numa época fodida, fumava mais do que o normal, e as perspectivas não eram animadoras. Na porta estava a ruiva gordinha. Abri a porta do jeito que tava e convidei a moça pra entrar. Disse sem rodeios que precisava de um favor meu. Trazia consigo uma bela garrafa de pinga artesanal. Foi logo servindo generosas doses e chorando seus problemas no meu colo. Se aquela puta trabalhasse com a devoção que me pedia aquela favor, descolava até o papa como presidente. Era sexta e eu tava pensando em jogar um bilhar, mas fui deixando a puta desaguar suas mágoas. Era bom, bebia pinga da boa, ouvia a puta falar de sua situação humilhante e quem sabe descolava uma transa. Ela usava um top justíssimo, estava bêbada, parecia amistosa comigo. Perfeito. Me servia pinga. Que mais eu podia querer? Ela tinha se chapado rápido e tava bem liberada. Balbuciava besteiras, falava que queria ser como a Bettie Page, e que seria estrela de cinema. E eu roçava meu quadril contra suas coxas. Eu sentia uma vontade danada de lambê-la inteira. Tinha uma cor de mel, mas a safada queria chorar.
Me atraquei com ela meio a força. Resistência e finalmente ela liberou geral. Me beijava por todos os cantos do corpo. Sua boca tinha gosto de pinga. Eu era um moleque saído da Cidade Tiradentes, eu nunca tinha me atracado com uma ruiva daquelas. Sei que meti feito louco. Sem proteção nem nada. Esporrei os dezoito anos de punheta acumulada naquela vagabunda. Depois, eu voltei pra pinga, ela num canto, eu no outro. Ela era uma puta chorona, tinha voltado aos lamentos, gaguejava. Aquilo me broxou um pouco. Aquele cheiro doído mesmo após a transa fodidamente boa. Eu tava bêbado, matei a pinga numa tacada só. Lembrei o que um camarada do bar disse. Puta é puta, namorada é namorada. Gelei, e quis prestar atenção no que a ruiva murmurava em seu canto. A vagabunda tinha gonorreia, e agora o idiota aqui também. O cara tinha razão. Puta é puta.
quinta-feira, março 12, 2009
E assim começou o cara...
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