Beth Orton foi audaciosa ao misturar a beleza delicada do folk tradicional com as batidas eletrônicas do trip-hop, criando uma nova e bastante distinta mistura de sons e ritmos. A inglesa antes de se lançar na carreira solo, fez em 1995 uma parceria com nada menos do que o Chemical Brothers, na ótima canção “Alive: Alone” e em 1996 lançou seu aclamado primeiro disco “Trailer Park”, que contém seu maior sucesso comercial, a linda “She Cries Your Name”. Beth não teve pressa e levou aproximadamente três anos para lançar o seu próximo álbum, “Central Reservation”, que em um circuito mais fechado atingiu o patamar de disco cult. O primeiro single, “Stolen Car” chegou a fazer até um certo sucesso nas rádios americanas. Depois de mais um hiato de três anos, Beth lançou o já aguardado por seus fiéis fãs “Daybreaker”, que não conseguiu repetir o impacto de seus primeiros trabalhos, sendo um disco mais previsível e quase que comum para os padrões atuais.
De lá para cá, Beth voltou a trabalhar com o Chemical Brothers e também realizou uma parceria com o cantor folk Ryan Adams. Porém, já se passavam quase quatro anos de seu último trabalho de estúdio, e eis que no inicio de 2006 fomos presenteados com um sublime legado de quatorze canções gravadas em pouco mais de duas semanas. “Comfort Of Strangers” merece ser analisado primeiro pela sua arte gráfica, que é sem dúvida alguma uma das capas mais bonitas dos últimos tempos: uma linda pintura a óleo de uma casa de campo com seu lago e um belo arco íris no meio, o contraste de luz e sombra passa a idéia perfeita de como o disco soa.
É muito bom saber que as qualidades que mitificaram seus dois primeiros trabalhos estão de volta: sensibilidade aliada a muitas idéias novas e interessantes em seu estilo peculiar de música, tome como exemplo a belíssima faixa de abertura “Worms”. O disco é uma fusão da delicadeza acústica de violões, pianos e cordas com os ritmos intricados e muitas vezes surpreendentes, como podemos perceber em “Countenance”. É engraçado dizer, mas é um som complexo e ao mesmo tempo prazerosamente digestível. Claro que a voz doce e as letras engajadas de Orton são um dos grandes destaques. A produção ficou por conta de Jim O'Rourke, que é responsável pelas misturas de ritmos e toda a complexa sonoridade do álbum.
“Shadow of a Doubt” é forte e, como marca registrada de Beth, deixa-nos com uma sensação agradável de esperança, mesmo que uma esperança quase nostálgica. Aliás, essa idéia mostrada na capa do raio de sol rompendo as densas nuvens é uma imagem constante durante a audição de “Comfort Of Strangers”, como em “Shopping Trolley” que tem um clima todo peculiar, com guitarras marcantes e a bateria nos levando cada vez mais longe. Esses são apenas alguns dos muitos grandes momentos deste já grande disco de 2006.
Pode-se dizer que “Comfort Of Strangers” é um novo começo para Beth: é um trabalho simples no todo, e também simplesmente um dos sues melhores trabalhos.
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