quinta-feira, janeiro 15, 2009

Não sei o que leva uma pessoa a contar uma história. Sei que quem sou eu, onde eu nasci, como passei toda a porcaria da minha infância, quem são meus pais, podem até ser um bom começo, mas eu não tenho o menor saco pra falar disso. Eu só quero contar sobre esse turbilhão que está revirando parte da minha vida. E, afinal das contas, é o que de fato interessa.
Vou começar contando meu primeiro dia de trabalho neste recém começado ano. Eu estava chegando a minha mesa, carregando no peito uma nova camiseta e pronto para iniciar novos projetos e enfim um novo ano. Apesar de toda a alegria, o prazer de trabalhar com algo que eu pude escolher, que me apetece, meu objetivo sincero nunca foi o coletivo. Eu nunca vesti a camisa daquela empresa, era apenas eu fazendo minha mínima parte, e eles bancando meus sonhos. Eu achava que era assim que o mundo funcionava. Naquela manhã em específico, meus pensamentos se fixavam alternadamente nas férias que tiraria em quinze dias, e na minha casa que estava saindo do chão, tijolo a tijolo e em pouco mais de um ano seria um sonho concreto. No engasgo surdo de um feliz ano novo, feliz vida nova, recebi a notícia que o diretor principal queria me ver. Pensava acima de tudo na liberdade que tinha conseguido nos últimos anos. Na estrada que se estenderia a minha frente logo que tomasse minhas férias. Um emprego é importante. Ainda mais do que dinheiro. É uma âncora que nos mantêm fixos durante períodos de mudanças. Amanhecia, eu sempre chego cedo no trabalho, a cidade ainda retomava seu ritmo, ainda de ressaca, e eu adentrava a sala do chefe. Cumprimentos, sorrisos falsos, talvez uma promoção, ele parecia estar de bom humor. E eu estava demitido. Nada de conversa, de alerta, de perguntas. Era um papel pálido na mesa, uma caneta postada ao lado, e o chão ruindo – eu estava sendo chutado de meu trabalho.
Enfim, era um dia quente de verão, sei que fiquei quase uma hora ouvindo a perdição dos jovens, a falta de comprometimento, a falta de paixão. Fazia um calor de derreter, principalmente dentro daquela sala idiota.
Era muito cedo para voltar pra casa, por isso fui mesmo a pé até o boteco da esquina. Liguei para a minha garota, contei, aperto no peito. Como ficariam nossos sonhos. Ela cofia em mim. Eu não posso deixar de confiar em mim mesmo. Tomei um trago na esquina e voltei pra casa. Humilhado, regressando a casa e ao estado de uma criança que depende dos pais novamente.
Poxa, aí começou a chover pra cacete. Um dilúvio de verdade. As pessoas corriam apressadas para seus trabalhos. E eu me via sozinho, me sentia o mais solitário dos solitários. Eu acho que estava a ponto de chorar. Sei lá por quê. Mas aí, acho que bateu, eu estou apenas começando, daria um jeito. Tomei chuva e fui pra casa. Desde então, me botei a revisar a vida. E estou feliz pra burro de ter encontrar uma garota com a minha, de ter uma banda como a minha. E principalmente, feliz ao ponto de chorar, de saber que tudo que eu sonhei e continuo sonhando, ainda está plenamente ao alcance. Não posso falar que estou cem por cento. Mas a estrada começa amanhã. Rumo a Patagônia, vai ser foda. Eu vou contar tudo aqui. Mas desse trauma, fica apenas a saudade das coisas boas. Mal acabo de contar e tenho que admitir que a vida é feita de tombos também.

Um comentário:

Ana Carolina disse...

e traga um pedaço do deserto pra mim.
beijos! boa viagem!