quinta-feira, julho 31, 2008

É hora de falar sobre ele...

É hora de falar sobre ele, sobre como ele entorpeceu boa parte de minha adolescência. De como uma ligeira embriagues tomou conta de cada célula viva em meu corpo. Uma paixão idealizada e realizada. Ele queria ser ator... gostava de ler livros... ou gostava de falar sobre livros sem nunca ter os lido. Sei que cada vez que aquele homem me invadia eu me tornava uma mulher mais dependente do que antes. Quando batia abstinência primeiro vinha a fuga, evitava a vivência diária. Nesse período a gente se via uma, duas ou no máximo três vezes por mês, e foi assim, até que toda minha feminilidade era posse decreta dele, nunca mais fui capaz de oferecer à nenhum homem sequer.

Nosso sexo era selvagem e alegre, nada sútil. Era carne, era sangue pulsando e suor correndo. Era algo tão primal e privado de preceitos sociais, que a sutileza toda funcionava em outro plano. Ele me fazia esquecer do que achava ser necessário, um pífio mundo sórdido me fazia sentido, me sentia confortável, mais bonita e na medida do possível enxergava um final feliz... era um momento aonde prozac e vodca se tornavam dispensáveis. Era sutil o fato que com ele, a necessidade de necessitar algo morria, não existia existência densa, depois de dar para ele, eu dormia e sonhava com um vazio jamais imaginado. Era algo como se além de sêmen ele despejasse um pouco de sua alma para dentro, eu recebia tudo e me completava.

Seria hora de mentir se eu disse que percebi gradativamente como ele mudou, como enquanto eu solicitava a presença dele em minha vida, numa forma quase desesperada, ele apenas fazia seu papel, e cada vez menos se fazia presente. Primeiro recusou o casamento de uma prima minha, depois uma festa na casa de outros amigos e por fim até um cinema foi recusado.

Neguei a princípio qualquer prova de que a magia morrera. Ele agora se protegia de qualquer tentativa de compartilhamento de nossas almas. Ele violou todas minhas muralhas, rasgou pecados por todos meu poros e depois me provou que o amor foi feito para ser esquecido. Isso depois de eu ter cravado seu nome em minhas pálpebras. A guerra tinha sido vencida, eu ao mesmo tempo que sucumbia em destroços tinha pouco a oferecer. Ele continuava a transar comigo, e meu amor crescendo, crescia feito câncer. Nessa guerra, eu só tinha os despojos, e ele iria aproveitar até não sobrar pedra sobre pedra. Vivi como uma sombra da mulher já tinha sido, na iminência de qualquer dia alguém assoprar e eu ser varrida da Terra.

Será que ele teria mergulhado em minha alma do mesmo jeito que mergulhei em seu sexo? Penso o seguinte, que aceitaria ser sua mulher, aceitaria planejar uma vida ao seu lado, aceitaria o mundo que fosse e me esforçaria com unhas e dentes se ele desse a mínima bola. Mas agora, foi. Ele está com outra guria, pelo visto deve ser alguma professora de literatura. Essas gurias modernas, de aparência maravilhosa e inteligentes. Ele é infinitamente melhor do que ela, ou mesmo melhor do que eu. Eu acho que virei a página errada da vida.

quarta-feira, julho 30, 2008

Sobre a estrada, a amizade e o amor.

Eu não falo na estrada em si, antes prefiro falar do despertar. Acordar em meio a toda a delicadeza e estranheza, comum na entrega que fazemos do nosso corpo ao desconhecido. Antes sozinho, quando tudo que me restava era senão recordar, imagens vertiginosas, por do sol em Búzios, fragmentos de madrugadas insones... agora acompanhado existem dedos, deslizes de pele lisa no meu corpo, perfume natural, narizes em brasa quente, é um passo natural.

É exatamente neste limbo caótico que ele me deu um beijo no rosto, nos abraçamos como irmãos e, montou na sua velha moto, saiu, foi viajar, sem caminho. Feito os filmes hediondos de um passado a muito esquecido. E eu sentei para descansar com meu velho rótulo vermelho a me esperar. O uísque quente e amargo feito a vida, me remete a outra atmosfera, algo muito mais caótico, o verdadeiro Cabo das Tormentas, um caos que prima por ser apenas caos. Voltando no tempo, no dia que nos conhecemos, bebíamos vinho. Eu dizia ter saído de um relacionamento conturbado, e ele me dizia ter saído do próprio inferno na terra. A amizade foi imperativa, não foi um desejo nem uma ânsia, foi um passo natural.

Do mesmo jeito que essa amizade foi palavra de ordem, agora ele precisava pegar a estrada e esquecer a si mesmo. Sucessões que facilmente passam despercebidas como a água que cai, volta para o céu e torna a cair. Foi nessa mesma naturalidade que conheci ela, que o imperativo acabou no óbvio da cama, que o óbvio da cama descambou pela tangente, não aceitamos o óbvio da despedida. Hoje eu, ela, o jazz, a estrada e o uísque somos um só. Eu, um libido perdido e um sistema sentimental em pedaços, depois, compreensão, doçura e finalmente amor; natural como deve ser, por vezes, existem correções de curso, o natural foi corrigido, estamos juntos e continuaremos juntos.

terça-feira, julho 29, 2008

O primeiro sonho foi praticamente uma alucinação da qual não vou conseguir montar nexo algum: eram dois rapazes sem rosto, sem personalidade ou sem alma, dois figurões que bem podiam ser eu e você ou ciclano e fulano. Mas a imaginação e foda, mesmo que toda a personalidade desses indivíduos tenha se perdido, restava algo. O irreal: eram dois fantoches, de meio metro de altura e um terno florido. Mutilavam-se. Porra, não era um delírio, era um sonho bastante real. As marionetas brigavam e jogavam madeira, pano e sangue de fantoche para todo o lado.

Infelizmente, quando acordei dei um tiro a queima roupa nesses dois belos seres sem existência. Toda a pequena história deles foi abruptamente cortada e assassinada. Um pequeno porém costumeiro assassinato. Queria assumir meu delírio de ser humano sem o sentimento de culpa pela falta de compreensão.

segunda-feira, julho 28, 2008

Acabou meu dinheiro. Como sempre, cacete pra onde vai todo o salário? Eu sempre acabo usando o limite e me enrolando numa bola que vem a séculos. Qual seria a solução, viver feito monge até as finanças se estabilizarem? Pelo menos eu encontrei perdido no computador minhas musicas da Nina Simone, com todo o respeito, negra filha da puta. Chega a ser uma ofensa tentar fazer música sem ser negro. Eles são foda. Jazz. Jazz é foda, parece que vai sair um filme chamado Os Desafinados, com o Santoro e o Selton Mello, meio mega produção brasileira, mas vai mostrar aquele momento legal que a música brasileira nacional sem medo de ser feliz flertou com o jazz fodido americano. O que mais dizer? Quando estamos bem, tudo fica mais fácil, e tão o tão foda abismo que se encontra os desesperados não é tão excitante e nem tão inspirador. Mas mesmo assim a ânsia por escrever não muda, é um bichinho, uma vez mordido, dificilmente se consegue parar. Vício bom! Dois vícios muito bons: jazz envenenado e literatura desenfreada. To acabando Minha Querida Sputnik. Foda! Puta livro, esse japonês sabe fuder com tudo sem nunca parecer entregar sua alma. Digo isso porque tenho uma tendência franca de adorar autores que parecem rasgar um pedaço da alma vagabunda e bandejar para nós em páginas datilografadas na madrugada. Haruki escreve claramente uma ficção parece que nos transporta para outro mundo e ao mesmo tempo entrega a alma de um mundo inteiro. Eu não tenho dinheiro nem sapatos, uso os mesmos a um bom tempo, não tenho nem cultura nem amigos. Queria nem ter nome. Porém tenho um coração e dedos, por isso vou continuar escrevendo qualquer seja as letras, e eu tenho um coração. Um coração preenchido. Eu tenho a mim mesmo e a ela. Estou praticamente sem beber esse ano, coincidência ou não, ano dela. Não estou fazendo nada de errado. Alguns amigos com certeza matemática acham que eu fui abduzido, que é um clone E.T.. Se fui ou não, nem ligo, só não quero que mudem nada. Quanto ao dinheiro, uma hora dá certo. Foi gasto com ela, com a banda e com coisas que tem meio feito feliz, então, pra que chorar? To com a barba por fazer, cara de menino-mendigo, alias outro dia um mendigo gostou da minha barba e ficou feliz se identificando com minha pessoa. É, acabei de descrever minha vida sentimental. Ouvindo Nina Simone e gastando meu tempo no único lugar que pode cobrir as dívidas. Ainda bem que minha querida só se importa comigo, diria Nina.

quarta-feira, julho 23, 2008

Tudo que eu tinha era – eu. Como sempre. Ana não retornou nos próximos quinze minutos nem nas próximas duas horas. E eu continuava no meio fio. E por lá continuei, nem sei bem até quando. Se não fosse meus amigos estaria lá até agora, afinal ela era tudo que eu precisava. É ela que enfeita a fotografia na minha cabeceira. Acordei com o sol já deitando, tinha o cheiro dela em mim ainda. Fedia cigarro e amor desencontrado.

Liguei lá pelas nove da noite, dois toques e sinal de ocupado, ela não queria falar comigo. Não deixei recado. Liguei perto da meia noite, mesmo sinal de desprezo. Após o sinal sem vida deixei meu nome e um pedido de retorno. Provavelmente ela e o Sonic Youth estavam ocupados demais sendo donos do mundo perfeito deles.

No intervalo das minhas duas chamadas, fumei três cigarros e liguei para minha garota. Sim, essa é a hora que introduzo a vocês a Eliana. Me atendeu amorosa como sempre, contou do dia perfeito que havia passado, das saudades que tinha estar comigo. Quando ia me despedir, pensei em Ana, no Sonic Youth. Pensei no Sonic Youth dentro da Ana, tentei evitar de imaginar essa cena, mas não consegui.

Se não existisse Ana na história, eu teria me apaixonado por essa garota, dois anos mais nova. Ela era linda, atenciosa, gentil. Usava o cabelo de forma descontraída e era um charme. Se vestia com uma elegância que poucas garotas tinham. Ela nem se preocupava por ter o corpo perfeito ou perder uma barriguinha a mais, nem precisava mesmo. Certamente nunca me queixei de sua figura pra lá de sexy. Ela sabia de todos meus desejos, ela sabia acordar no meio da noite, caprichosamente despenteada e parecer divina. Sabia aonde ir, como ir e como fazer, dentro e fora da cama digo. Me sentia um homem cheio de caprichos ao lado dela.

Mas eu não podia amá-la. Pela razão que fosse, nunca eu teria a intimidade incondicional que tenho com Ana. Parecia que sempre existiu uma névoa que fosse, algo que nunca deixou eu ser por completo dela. Era uma barreira que até hoje se mostrava intransponível. Aconteciam silêncios e mais silêncios constrangedores e isso me incomodava. Estar com Eliana era prova irrefutável do meu amor por Ana.

Depois da segunda ligação, sai andando sozinho, queria dar uma volta, esparramar as idéias dentro da cabeça. Andando por completo sem destino. Acabei me vendo passar na frente do bar que certa vez bebi com Ana na saída da faculdade, entrei e pedi um uísque sem gelo, sentei sozinho, e joguei pra dentro rapidamente o drinque. Pedi mais um, e depois outro, e não sei até onde fui. Fechava os olhos e pensava na Ana. A imagem era forte, gravada no fundo dos meus olhos. Ana de joelhos chupava o maldito do Sonic Youth. Do meu lado dois bêbados completavam o balcão, ao fundo uma mesa com alguns universitário. Um deles, corpulento e com cabelo até a cintura, arranhava um violão. Uma velha canção do Pearl Jam.

Puta que pariu! Quando foi que deixei minha juventude escoar ralo abaixo? Don't Call Me Daughter. Estava acabado, não estava? Ainda ontem era um moleque rebelde, hoje estou aqui junto aos bêbados chorando o amor que não tenho. Não fazia muito tempo estaria naquela mesa. Eu tinha que amar, se não eu não sobrevivo. Eles tinham a mesa, Ana o Sonic Youth, até Eliana tinha seus amigos, eu estava sozinho aqui. Me senti um inseto totalmente insignificante, vagando sem razão aparente pela mesa, esperando a mão pesada me esmagar. Mais uma dose.

terça-feira, julho 22, 2008

Você devia ser macho de falar tudo o que pensa na minha cara. Acha que é muito superior ao resto? Só porque a seus pais morreram e você teve que crescer antes que os outros não te faz melhor que os outros. Acha que é assim? Cria-se uma realidade, sou o rei nela e foda-se o resto do mundo. Eu te amava cara, você era um irmão pra mim. Botaria minha mão no fogo se fosse pra te defender. E agora tu só arranca lagrimas de mim, e com rancor sim digo que vá a merda. Você, sua filosofia estúpida e sua falta de humanidade, que tudo vá a merda. Eu não preciso de você. Estou cansado de relações falsas e cheias de cordialidades mesquinhas. Aproveite bem sua fantasia em dó menor e passar bem.

segunda-feira, julho 21, 2008

tao vazio tudo sem você. nada. não tem absolutamente nada no quarto, na casa ou na cidade. e esse nada faz um barulho absurdo, daqueles de tirar a paz de qualquer um.

domingo, julho 20, 2008

Quem foi que inventou as despedidas em rodoviárias? Sabe aquela cena típica dos grandes filmes românticos, aonde o mocinho corre atrás do trem que leva sua mocinha emocionada na janela? Bom eu não corri atrás, mas fiquei até ela sumir na curva, e não era um trem e sim um ônibus. É foda, mesmo sabendo que ela volta, mesmo sabendo que não é nada demais, apenas ela aproveitando uns dias de folga Brasil a fora. Eu sei de tudo isso, mas doí, doí pra cacete a dor da separação. Quando ela voltar, vou cobrir de beijos. A maior invenção do mundo só pode ser a chegada da bem amada. É foda, pedir pra ela voltar para tudo isso, calor, poluição, trânsito, gente, gente, bagunça, mais gente, São Paulo. Só quero que ela volte para esse cara que sangra os dedos no teclado. Cama ao meu lado. Cabeça pilhada. Poucos centavos no bolso, os olhos secando feito molusco fora d'água. O negocio é realmente foda. Sem sangue não faz sentido. E eu tenho muito sangue correndo nesse corpo. Falta só ela.

sexta-feira, julho 18, 2008

Quero todo o vinho que meu corpo puder agüentar. Vinho é o combustível da minha musa. Ela impede que eu ame qualquer um por completo. É tipo uma neblina, existe ela, existe um mundo a redor, e pra mim apenas as sombras projetadas através da densa confusão causada pela névoa. Ela as vezes nem lembra que eu existo. Talvez nem saiba que eu existo mesmo tendo seus lábios colados ao meu nesse momento. Ela sempre quis esquecer, independente demais para amar. E acho que esqueceu. Deve estar bêbada e sem o menor sentido de sanidade concreta. Nossos lábios sabem o que fazer, aquela boca pequena. Sua pele lisa contra meu cavanhaque volumoso. Tudo me faz querer vinho e me faz querer ser de minha musa eternamente.

Muito vinho. Cada litro que eu consegui ingerir vai nutrir esse fogo doente que me cega do que me cerca. Paulo se atraca com a namorada, foda-se, quero minha musa. Felipe lamenta num canto e minha musa enche a cara. To tonto de bêbado. Eu te amo, lembra? Amor não acaba! Amor perdura. Jogo a cabeça de lado, na esperança que tombasse e rolasse até o bueiro lá fora, o pescoço segura. Minha musa volta. Está frio, eu to quente, ela é quente. Quero morrer. Morrer é perder minha musa. Não, não quero morrer de forma alguma. Estou totalmente desnorteado para dizer tudo que quero para ela. Eu sei que o que sinto por ela não acaba de forma alguma. Smashing Pumpkins bomba no porão.

Eu gosto deles, fazem um puta som de primeira, impossível me imaginar o que sou sem a companhia constante dessa banda. É de certa forma eles são minha constante, só não me perco nesse mar de variáveis por que tenho aonde me agarrar. Queria me agarrar na minha musa, mas ela é escorregadia e agora deve estar ficando bem louca com alguém no andar de cima. Merda perdi minha musa. Não, ali está ela, trazendo mais vinho. Amor não acaba mas bem que pode virar ódio. Eu não consigo odiar essa japonesa. Vou me jogar no sofá pra ver se o sentimento de escoar passa. Eu sou de verdade, eu existo e respiro. Alguém mais perdido nessa noite é de verdade? Ela não está mais por aqui, o meu cigarro acabou, o celular não toca, cada um de meus amigos deve estar perdido demais navegando em suas próprias vidas. Quero entender porquê. Porque você me dá corda, porque você chega perto. Me sinto um porco preso no chiqueiro, você vem joga qualquer coisa, como e depois quase morro de fome para ser alimentado novamente quando já estou a beira da morte.

Porque é que você escolheu essa vida morta, uma vida feia e definitivamente estúpida. To aqui, sou de verdade e você prefere enganar a todos e viver uma vida de bonequinha de luxo, sua falsidade é tão verdadeira que se enganou a si mesma. Eu quero que você se renda ao menos uma vez à sua real índole. Deixe eu instinto falar mais alto pelo menos uma vez. Não, não vá embora com esse cara com a camiseta do Sonic Youth, ele não é o cara pra você. Sou eu quem sou. Aposto que tu vai acabar sem nada, porque tá me jogando fora. Vai acabar sem amor, é uma covarde. Tu nega o amor que quero te dar porque tem medo de perder. Medrosa. Um dia essa doce ilusão que você inventou vai cair. Você é a dualidade em pessoa, precisa de todos e tem medo de depender de qualquer um, preza opiniões que apetecem seu ego e ignora quem quer seu maior bem.

Porra, eu disse para não ir embora com o garoto do Sonic Youth. Banda de merda, só sabe fazer barulho, e agora me rouba a musa. Me escuta. É a última vez que vou falar. Cuidado com essas suas mentiras, cuidado com esse seu falso pudor e essa sua falsa vida. Tu ta se matando, e junto vai me enterrar. E tu não vai ter salvação, porque o céu está vazio minha querida. Nem céu nem inferno são feitos de ilusão, quem não vive a própria vida vai vagar pra sempre na casa de espelhos. Porra Pára! Volta aqui e manda a merda do Sonic Youth, ao menos se eu não estivesse tão bêbado eu podia quebrar a cara dele. O Mutante quer me consolar, a merda esse cagão também, a merda todos. De nada serve consolo se não consigo controlar a mim mesmo. Pára. Cambaleio pra fora daquele lugar e ela não está mais ali, nem sombra do cara ou dela, a esse momento deve ta fodendo ela do jeito que eu queria.

Você não podia ter feito isso. Não podia, não pode, e nem poderia num futuro hipotético. Abre os olhos enquanto eu estou vivo, antes que seja tarde e que a única coisa que te restar for lembranças de algo não vivido. Se entrega. Você não pode brigar com o que tu sabe que é o destino. Desiste, é só dar um passo a frente e se deixar cair no abismo. Eu estou aqui embaixo, esperando, quando o baque surdo do seu corpo bater no chão, vou te socorrer e vamos viver na terra, junto aos ratos sim, mas sem ilusões de uma vida que não existe. Cade você? Eu te espero aqui no meio fio.

quinta-feira, julho 17, 2008

1984

Puta que pariu!? Vou ter que me mudar de país.

Proposta proíbe realização de festas 'open bar'
Bernardo Hélio
Marcelo Melo: festas open bar estimulam consumo de álcool entre os jovens
Tramita na Câmara o Projeto de Lei 3414/08, que proíbe a realização de festas nas quais o preço da entrada inclui o consumo de bebida alcoólica à vontade, conhecidas como open bar. A proposta, do deputado Marcelo Melo (PMDB-GO), proíbe ainda a venda de bebidas alcóolicas por preços fora da realidade de mercado em eventos. "A intenção é para impedir que os organizadores cobrem um valor alto nos ingressos, camuflando o preço das bebidas, que seriam vendidas por preços irrisórios", afirmou.

O objetivo do projeto, segundo Melo, é reduzir o consumo de álcool, principalmente entre jovens. Para o deputado, as festas open bar estimulam a ingestão de bebidas alcoólicas, porque o freqüentador que ter o preço do ingresso, que geralmente é de valor alto, compensado com o consumo de bebidas. "É como se fosse a oportunidade para se dar o troco, sair da relação perde-ganha para a relação ganha-perde. Basta para isso consumir um valor superior ao que se pagou para entrar", avaliou.

Detenção e multa
Segundo o texto, os responsáveis pela organização de eventos que não respeitarem a medida poderão ser penalizados com detenção de seis meses a dois anos e multa. Melo frisou que sabe da existência de idade mínima para a compra de bebidas, mas busca com a proposta evitar o incentivo ao consumo exagerado.

De acordo com o parlamentar, outro objetivo do projeto "é poupar as famílias brasileiras de tragédias que a cada dia se tornam mais freqüentes, sejam por mortes causadas por overdose, por acidentes de trânsito ou pelo efeito do álcool no organismo ao longo do tempo."

Tramitação
A proposta tramita em regime de prioridade, apensada ao PL 4846/94, do ex-deputado Francisco Silva, que estabelece restrições ao consumo de bebidas alcoólicas. Os projetos estão prontos para entrar na pauta do Plenário.

quarta-feira, julho 16, 2008

É foda, não sou de guardar rancor. Ela bem que podia me ligar, marcaríamos uma cerveja. É só puxar a cadeira mesmo e sentar. Ser amigos, como ela mesma me definiu, uma rocha, aquele amigo que está sempre ali. Podemos tentar. Mas, porra, não chegue muito perto. Você quem quis brincar comigo. Acontece, ser humano adora se divertir, as vezes somos quem se diverte, outras somos o motivo da diversão. Só não posso te deixar chegar perto. Qualquer um menos você. Eu disse que estava aí pra ti. Sentei na janela do meu quarto, olhando a cidade tombar até bem além dos meus olhos, fumei um cigarro, dois cigarros, um maço. Tive que levantar todo fodido, sem mais um puto de sentimento no peito para continuar. Então saiba que não foi fácil. Fique longe de mim. Podemos até sentar, só não sente do meu lado, e beber qualquer porcaria. Não serei grosso, não apontarei o dedo na tua cara, nem desejarei a morte sua e de toda a sua família.

“Oi”

Eu não quero saber da sua vida e nem de suas noitadas. Muito menos que se sente insegura. Mas para de me olhar agora. Que tal enfiar a merda da tristeza que abre meu peito entre nós? Assim tu não acaba comigo de novo. Pior é que basta um sorriso seu pra me ferrar tudo de novo. E eu sei que se eu perder essa tristeza que carrego no peito, fico sem rumo. Só não chega perto, é pedir muito? Eu não quero saber da sua vida nem de suas alvoradas no relento com cheiro de álcool.

“Como está?”

Você não. É doce feito chocolate gostar de ti, é uma pena que o amargo da ferrugem estraga todo o gosto quando desejo algo mais além da pura e ingenua admiração. E cá estou eu, sozinho, atirado na noite de frente a esse bar, quietinho e sozinho. Quando alguém fala comigo, reúno o que me resta de força e dou um jeito de polidamente recuar. Me encolho. Desabo em prantos quando não tem ninguém por perto. Já me vi escorrer feito garrafa de vinho tombada. Me vejo nas cinzas que se empilham no cinzeiro. Muitas vezes choro, deságuo até achar não restar um pingo de ser humano por dentro. Mas agora eu tenho que ser forte.

“Você está linda.”

Sei que nunca chorei todo o ser humano que tenho dentro de mim porque guardo umas lágrimas, bem no fundo, mas guardo. Você me trouxe esse sentimento de abandono. Inundo os bares atrás de você, e agora que está na minha frente, linda e radiante, com esses olhinhos dançantes de japonesa nada me resta a não ser desabar. Não quero arrumar nada, nem quero mudar uma virgula. Eu só quero ser o que me resta, respirar e engolir as mágoas.

“Senti sua falta.”

Fico imaginando o tempo todo como seria se você fosse verdadeira. Queria só sinceridade. Ou melhor sinceridade doe, eu queria a minha verdade na sua sinceridade. Não quero essa máscara de falsidade. Não quero essa coleira de Prometeu. Quero aquele desejo latente e juvenil de amor sem preceitos. Quero uma noite aonde poderíamos dormir abraçadinhos e no dia seguinte você estaria lá. Não minha querida. Você nunca vai se livrar de mim. Eu não quero me livrar de você. Só não chega perto porque doí.

“Eu...”

Eu a beijei. Chegue mais perto, cole esse momento em minha retina para sempre. Ouvi a respiração de espanto dos meus amigos, ouvi a moto passando lá na rua de casa, e ouvi a cama rangendo pela madrugada adentro. Senti sua boca de cachaça e lembrei do quanto ansiava por isso. Eu não vou desaparecer. Agora vou pensar que a vida que não tivemos pode vir a existir, em breve, esse beijo representa tudo. E eu quero tudo, eu quero as manhãs de domingo, quero os anos que não passaram ainda, quero os filhos que não tivemos e os cabelos brancos que estão por vir. Quero meu violão e sua voz. Quero sua boceta e o seu líbido. Quero essa noite. Quero você perto.


“Now it's three in the morning and you're eating alone
Oh the heart beats in its cage"

terça-feira, julho 15, 2008

Uma noite, inverno, rodei até a Paulista – plena época de festas – estava tudo decorado e mais do que preparado para comemorar mais um ano de sucessos em nossas vidas. Essa avenida marco é uma das mais altas da região central dessa cidade escorregadia, traiçoeira, culpa da chuva de falsidade constante que a cobre. Era madrugada, essa avenida tipicamente empilhada de relógios ambulantes estava de certa feita vazia, a pista molhada impedia que meus pneus dessem firmeza nos movimentos. Estava indo rumo a Pamplona, iria descer a ladeira até a Franca e ali iria encontrar os caras. Seria um encontro inusitado, há tempos cada um tinha tomado seu rumo. Mesmo assim, mesmo eminente a um encontro que me ansiou a semana toda, só conseguia pensar na minha garota, nada conseguia ficar entre eu e ela. Exceto talvez o fato que ela ainda não compartilhava da mesma visão de mundo que eu. Sempre que me dava conta que eu era o tolo apaixonado e ela ainda não tinha tido as bolas de arriscar uma vez na vida, era como se minhas rodas não me segurassem contra um caminhão vindo na via contrária. Era como estar indo para a direção da morte e nada. Por um instante, paz... segundos que precediam a queda. E depois era a sensação de ser uma bala sendo atirada de um revólver torto.

Eu não fui atropelado, a Pamplona chegava e eu via os noturnos se espalhando pelos botecos sem alma. Ela podia estar lá, alguém poderia ter armado em cima de nós, marcado um encontro surpresa. Apesar de ser foda encarar aqueles olhos nipônicos sem me entregar e jogar-me aos seus pés, se ela estivesse lá agiria como homem. Ela que teria que se arrastar por mim. Quando a noite cai, meu coração pesa feito chumbo e eu não vou deixar uma qualquer foder de vez com minha cabeça. A lua tá lá em cima e eu to cheirando pólvora, a qualquer momento ela puxa o gatilho e eu sou atirado. Ela pode nem estar lá. Apesar que seria a cara do Paulo aprontar uma dessas. Eu só queria pedalar até as festas de amanhã, o hoje me cansou, essa mesma música por toda a parte. Queria que tivesse um sol rachando na minha cabeça pelo menos eu não teria que pensar tanto no porque. Pamplona, descendo até minha mão tremer no guidão. O amor sempre vem acompanhado de assassinatos. Queria que minha mente desintegrasse por um minuto. Porra por que você não me fode como fode com ele?

Viro na Franca, ali estão todos, o Felipe, o Marcel, o Paulão e o Mutante. A Velha guarda. Nada da faca que me corta só com o olhar. Nessa hora senti um desejo incrível de descer a serra e me jogar no mar. Minha turma é foda. O Felipe é como um irmão, come feito um pedreiro, tem uma banda de metal e é o cara. O Marcel doido, aparece e desaparece mas é foda. Agora o Paulo que me preocupa ele que poderia ter armado o esquema e chamado a Ana, aquela japonesa me mataria se aparecesse por aqui. O Mutante é irmão de alma, sem mais palavras. Quem sou eu? Pouco importa, o que importa é o que deixa ela feliz. Só sinto dor que levo no peito sobre as rodas. O velho reduto, DJ Club, a máquina de pinball, aonde posso me enfiar e desaparecer até de manhã. O demônio veste um vestido azul e arrumou o cabelo num moicano charmoso, ela está ali, era como se eu fosse morrer. Queria abrir os olhos, e pra isso me basta um cachaça certeira. Quem sabe bebendo ela não desaparece?

quinta-feira, julho 10, 2008

Em Busca do Eu - 14

Havia comprado uma colônia barata no mercadinho da praça, cabelo lavado e penteado para trás, barba feita, cheiro de homem limpo. A camisa social eu mesmo passara e vesti minha melhor calça. Toda a roupa havia sido presente do velho que achava indecente a maneira precária que minhas roupas estavam no momento em que me achou lá no posto. Em um mês havia juntado mais roupa do que em minha vida toda. Tinha camisas, roupas para trabalhar, calças, bermudas, chapéus. Acho que de certa forma o velho se sentia culpado por não me pagar um salário de verdade. Já me bastava dar abrigo e comida, me tratar de forma decente e não abusar de minha boa vontade. Porém para ele, faltava algo, que deve ter sido traduzido na forma em que me presenteava sem parar com roupas para as mais diversas situações. Mesmo que até então minha vida se resumia muito a uma noite informal na cidade e dias e dias de trabalho no campo, fora a sagrada missa de domingo.

Tinindo feito um centavo novo, fui a rua paralela a praça do centro da cidade. Marta havia me deixado o endereço e a referência certeira para que a fosse buscar as oito em ponto. Harmonicamente, bati a porta da residência da garota e fui atendido por um pai de poucas palavras, quieto e observador, parecia nada gostar de minha presença ali. Relutante, questionou minhas intenções e por fim negou que qualquer garota com aquele nome morasse ali. Diante a minha falta de tato em lidar com tal situação só consegui ficar quieto e bravamente buscar alguma saída. Salvo pelo gongo, pois a garota sorridente e radiante me surgiu na soleira da porta e se despediu do pai que me assassinava com os olhos. Marta não deixou margens para reações do pai. Me pegou pela mão e saiu caminhando rumo a praça novamente.

“O meu pai é assim mesmo, muito conservador e zela demais por mim.”. Fomos até a praça dialogando sobre o quão assustador o velho tinha me parecido e ela me contando aspectos de sua vida familiar, principalmente, depois que sua mãe faleceu e o pai entrou numa crise de falta de rumo, um alcoolismo bravo e finalmente um zelo desproporcional pela única filha. Pouco me fez muito sentido, me focava em aproveitar cada pedacinho daquela mãozinha delicada e macia que repousava em minhas mãos de peão. Fazia carícias milimétricas descobria seus calos, as juntas de seus ossos, enquanto acordava com os comentários ininterruptos. Quando chegamos na praça, fomos como se fosse o fato mais óbvio do mundo pro Cu do Padre, que nada mais era do que o antigo coreto, hoje abandonado aonde os jovens iam se pegar, a pouca iluminação a pequena fonte davam cobertura perfeita para jovens amantes. A simbologia vinha do fato de que esse pequeno jardim secreto ficava atrás da igreja. Conveniente. Não havíamos combinado nada além de um lanche, porém aquela ruivinha sabia muito bem que o prato principal seria ela e que se ela fosse tomar algo, não seria nada além de leite.

Satisfeito pelo sucesso mais fácil do que esperado, caminhei confiante ao seu lado, sem me preocupar com os olhares que iam descaradamente nos seguindo. Chegamos ao cu do padre, nos desviamos da fonte e logo sentamos nos degraus da construção abandonada. Ela sentou e continuo conversando a respeito de sua família, parte do jogo, ela tinha montado toda a posição das peças, me cabia dar o cheque-mate. “Eu sei porque viemos pra cá.”. Bastou eu encarar ela e falar isso, ela se calou abriu o sorriso esperado e eu ataquei. Beijei e me abundei daquele corpo sardento. Já explodia de tesão e pouco me lixava para a salvação ou para o caminho da paz que havia me sido oferecido, queria é comer aquela pequena a noite toda.

Continuamos num amasso incrível até que uma luz forte e invasora acabou com nossa magia. Duas bolas brancas, irradiavam luz diretamente sobre nós. Era um carro. De cima dele saiu dois sujeitos, o pai da menina com uma espingarda imensa nas mãos e o policial aposentado, que tinha fama de maluco. Logo a menina correu para longe da luz, feito vampiro correndo do sol e eu me vi sozinho. Dando um passo pro lado recebi a ordem clara de estatizar ou morrer. Do meu novo ângulo percebi mais duas figuras, o Seu Osvaldo e o padre da cidade. Todos me olhavam com o despreza do diabo. Me senti só feito o barbudo na cruz. Sem falar nada alguém que chegará por trás tapou minha cabeça com um saco preto e logo apaguei com umas porradas na cabeça.

Acordei no asfalto escaldante. Os fanfarrões davam risada e bebiam cerveja, a menina, doce Marta, chorava na caminhote. “Esse maldito acordou.”. Com a mira da espingarda sempre carregada do pai da moça, me botaram a marchar naquela estrada quente. “Tu vai é sair do país”. Não acreditava na real intenção deles, iam é me dar um tiro longe da cidade e voltar como heróis. A civilização vence o bárbaro que iria violar a nobre garota da aldeia. Sairia até no jornal local. Caminhei algum tempo e vi a primeira placa. Paraguai - 35 quilômetros. Aquele sol quente na cabeça, e os filhas da puta na caminhote atrás me fizeram mergulhar num mundo só meu. Pouco importava o cano flamejante que apontava pro meu rabo, ou a risada e a cerveja gelada que banhava os malditos logo atrás.

Que inferno de vida. Entrando nas regras a vida nos prende e tudo vira um mar sem onda. Quando nos debatemos o suficiente, mesmo o suficiente para uma pequena marola se formar, logo alguém se incomoda e da um jeito de te tirar da jogada. Sou uma carta fora do baralho mesmo. Um coringa que veio a mais e não é usado em nenhum jogo. Demorei. Já era quase entardecer quando me deparei com a assustadora placa da fronteira do Paraguai. Na guarita, os velhos da cidade devem ter dado algum suborno e comprado a ajuda dos homens da lei.

O golpe final ainda foi traiçoeiro demais, Seu Osvaldo, mandou que eu devolvesse os sapatos e o sinto de couro que havia lhe custado mais do que eu poderia imaginar. Humilhado e perdido atravessei aquela guarita e me coloquei a caminhar rumo ao desconhecido. Com a calça em mãos e o pé queimando feito pão na chapa. Ainda pude ouvir por muito tempo as risadas que ficaram para trás. Com a calça em mãos pra não cair e o pé escaldado nada me restou além de seguir a minha jornada pornográfica pro além do conhecido.

segunda-feira, julho 07, 2008

Eu só conseguia pensar naquela garota, os pensamentos iam do belo, do estranho ao sedutor, às vezes até ao erótico. Era uma pena que tudo desvirtuava pelo sinistro. Queria pedalar por ser engraçado. Se mantinha em pé por ser perspicaz. Mas aquele pedalar, naquele momento profundo a emoção era absoluta, uma necessidade incrível de cuspir tudo para fora. Incomum ao que poderia lhe causar tamanha repulsa, sem afeto e sem encanto. Ela era extremamente comum, uma garota que explodiu num gozo de angústia quase apocalíptico. Devastador. Sim, o amor devasta a mais forte das fortalezas humanas. Eu por mais que pedale nas mais intensas fantasias, nunca escapo da incômoda realidade de minha vida.

sexta-feira, julho 04, 2008

Pedalava como se não houvesse amanhã. O asfalto sujo ficava pra trás, o vento me entorpecia os olhos, que atentos visavam só o além do próximo semáforo. Depois de um tempo pedalando a todo vapor, as pernas atingem um estado de dormência ativa, ou seja elas continuam a realizar seu único objetivo. Rodar. O guidão nessa velocidade treme, os braços firmes impedem que eu perca o controle e me acabe no chão duro e áspero. Quando atinjo essa velocidade minha vida se torna muito mais simples. Flashes de minha família, de meu pai e suas mãos sujas de gracha, de minha irmã e seu computador, de minha mãe cuidando dos cachorrinhos. Tudo passa como imagens desconexas e sem ordem aparente. Principalmente as mulheres. Fui homem de tantas, e de tantas acho que pouco restou no peito. Um buraco, desvio e continuo minha pedalada rumo a eternidade. Tenho todas essas imagem jorrando feito sangue de um corte na jugular. Meus amigos, minha música e meu desamparado anseio por rumo na vida.

Está verde, atravesso a toda velocidade a Avenida Santo Amaro, um carro que ameaçava passar no vermelho freia bruscamente e buzina em desespero, nem olho para trás, sigo pedalando sem deixar que nada se fixe na minha mente. A incansável e nostálgica imagem de meu primeiro amor se mistura como a vodca com coca cola que alimentava minhas noitadas. A imagem da ultima desilusão. Por que ela tinha que ser tão egocêntrica, poderíamos estar juntos até hoje se não fosse a sucessão infiel de fatos que acompanha minha vida. Passo a pedalar mais rápido, o asfalto aqui na Brigadeiro Faria Lima é mais liso, é uma reta incrível até muito além do meu campo de visão. Lembro do carro exótico que um dos meus amigos tinha e que cortava o silêncio da noite rumo a um porão qualquer em busca de ar e vida em uma cidade suja e claustrofóbica. Éramos verdadeiros imbecis. Ora um mostrava a bunda na janela, ora outro gritava feito um primata ou mesmo escancarava elogios duvidosos a qualquer bunda que desfilasse na calçada.

Pedalar mais rápido, não quero formar preceitos nem idéias concretas, quero apenas virar uma máquina . Que corre e deixa o mundo escoar pra trás. Um gol geração três sem dar seta vai querer fazer uma conversão ilegal. Pedalo feito um louco, mas tenho faro para essas coisas, aquele cara mais tempos menos tempo vai virar e se eu não estiver ligado vou virar uma poça vermelha no asfalto. Brusco feito um animal acuado me tiro do canto direito do carro e pedalo mais pelo meio da avenida, a tempo de ver o gol prata virar sem prévio aviso. Aquele carro era o mesmo que costumava rodar até o outro canto da cidade em busca de diversão. Lugares desconhecidos, um maluco lendo poesia no carro, vinho, a praça do por do sol. A imagem da praça fica fixa na minha cabeça, a bicicleta já sabe o rumo que deve tomar.

Passo na frente do Shopping Iguatemi, lembro da época que trabalhei feito escravo numa loja. Era de domingo a domingo, com folgas esporádicas. Trago na cabeça a recordação do amor que me levou pedaço do peito. Logo trato de me decompor desses pensamentos chulos e pedalar a praça era logo além do bairro de Pinheiros, a Avenida Rebouças já ficava para trás e minhas pernas eram uma perfeita engrenagem de pedalo. Sempre caminhei só, solitário como um espanhol deve ser. Com as consequências de minha personalidade nas costas. O caralho as consequências. Pedalo. Pouco me importava também o que aconteceria.

Chego nessa emblemática praça encharcado de suor. A tempo de me jogar na grama e assistir o por do sol nessa cidade que me concebeu como lar. Pedalo por que vivo, ou talvez mesmo, vivo por que pedalo. Estava orgulhoso do tempo que havia levado até aqui. O sol se ocupa de lançar os últimos raios sobre essa terra da perdição. A noite, os verdadeiros demônios se lançam atrás da pureza. Ou você se esconde em sua fortaleza domiciliar ou você se entrega a uma vida de instintos e tentações. A fúria de uma paixão repentina assusta qualquer um, menos eu, já levei tanta facada que anestesiado digo que não vou me apaixonar novamente. E sei que isso é uma questão de tempo, de sangue correndo nas veias e de acaso para acontecer. O mesmo acaso que formou meu nome numa sopa de letras na cabeça do meu pai. Ludio, não era Lúcio nem Túlio, não tinha acento nem sentido. É único. Ludio Yuri, um anagrama de pessoa.

Aos poucos você vai entender a loucura que me persegue, por hora não precisa de mais nada. Apenas um trago longo e demorado no meu Lucky Strike. Apenas a porra de um lá menor no violão e o olhar perdido no horizonte. Sou um anagrama sim. Meu nome traduz a metáfora que me assola dia após dia. Apaixonado sem mulher, ciclista sem bicicleta, sobrevivente sem vida. Um artista desolado no coração de uma cidade vil e cruel.

beijava com gosto. nao era um simples beijo, era a lingua querendo conhecer a alma da outra, era ele escorrendo pra dentro dela, de uma forma simbolica e quente. queria por que queria prolongar o beijo, enquanto apoiava o corpo sobre o dela.. sentia ela, pequena ali delicada. ser engolida por sua estatura... sentia seu peito subir e descer em sincronia com o dela, sentia cada detalhe daquele momento unico.

quinta-feira, julho 03, 2008

Lei Seca.

E agora com essa porra de lei seca? Tá até que certo, eu devia vender o carro e gastar toda a grana com cerveja. Porque pura que pariu, eu até aceito que tem gente que possa ficar tonta com dois copos de cerveja. Porém é a minoria da minoria. Grande parte das boêmios da cidade, precisam de muito mais do que dois copinhos. Na real, tô sendo bem unilateral mesmo. Vendo meu lado. Eu sempre bebi, apesar de estar numa fase mais controlada, nunca passei com o carro por cima de ninguém. Não estou falando de dois copinhos de cerveja, tô falando de uma garrafa de vodca, ou doses de uísque. Se fosse adiantar algo, até vai, o pior é saber que tudo vai pro bolso dessa nossa polícia safada. Bando de filha da puta. Sim fui tomado com um desejo imenso de tomar uma breja hoje de noite com minha raposa, e vou ter que enfiar o carro em algum canto... daqui a pouco vão proibir comer carne fora de casa, pois altera o instinto agressivo do ser humano, e quanto ao sinuca ou carteado? nem pensar, brigas de bar podem gerar o caos. Se essa porra de politicagem não tem o que fazer, tem medo de viver e se esconde atrás de blindagens da realidade brasileira, não fodam com nossa vida. 1984 era pra ter sido 24 anos atrás... tardou mais chegou.

quarta-feira, julho 02, 2008

Já de volta a minha cama, ruminava uns desejos e memórias antigas. Tenho todo o enredo rabiscado na mente. Acho, não na verdade não acho, tenho certeza que as coisas vão se encaminhar como devem ser. Podia ser aqui, em Buenos Aires ou em Londres, pouco importa o lugar. O que me importa é que fosse um lugar com ruas planas que mimariam eu e minha mulher. Ruas cheias de cafés e livrarias. Inesgotáveis tentações a uma vida urbana. Porém é na hora de deitar, na hora de jogar a cabeça no travesseiro que me vem algumas coisas com mais clareza. É nesse breve exílio do sono que a sombra da duvida paira. Nada melhor para um jovem sonhador do que viver seu sonho. Sonho porque vivo, vivo porque sonho. E escrevo porque esse estranhamento causado do sonho com a realidade me instiga. E se ela não embarcar nesse sonho comigo? Todo o lance é foda pra cacete, um casal só se forma e dá certo se os dois acreditarem de verdade. Eu poderia guardar esse questionamento, mas não consigo. Quero acreditar e ela tenta me fazer acreditar. Esse processo é violento e resulta em arrancar uma perna ou um olho para que chegar lá na frente. Me considero muito feliz porque escolhi a pessoa certa. O potência da duvida é suprema e impulsiona nosso corpo adelante na corda bamba da vida. Todos somos culpados em não termos uma fé inabalável. Não nego minha culpa, e minha redenção será fruto de meu amor.

terça-feira, julho 01, 2008

Eu quero casar com você: e quero uma casa nossa, quero uma vitrola, nossos discos, o LP dos Strokes que dei de aniversário, e nossa biblioteca com muito Fante, Camus, Bukowski e poesia de bebâdos que se perderam na vida. Quero uma TV legal pra ver filmes e mais filmes, um puff vermelho e outro preto, uma cama de casal imensa aonde vamos nos esquentar nas manhãs frias de domingo, vários pôsteres de filme pelas paredes de casa. Um quarto com o violão e vários outros instrumentos musicais. Aonde nós faremos nossa musica, quero essas coisas, e em todas elas quero você. Você como prato principal, como sobremesa e como fantasia sexual. Eu quero conhecer a Patagônia, o Atacama e o Machu Pichu... assim como Los Angeles, São Francisco e Nova Iorque... e a Europa e a Ásia, e em todos esses lugares quero você do lado, coladinha comigo, dormindo nos hotéis comigo, trepando no exterior comigo. Eu quero uma vida inteira pra frente, com tudo que ela possa proporcionar: álcool e drogas pra fuder com a cabeça quando o mundo tentar fuder conosco, e ele vai tentar. Quero escrever, quero compor, quero tudo... e tudo com você do lado. A questão é tão clara que eu quero tanta coisa... que eu quero por quero... e só existe uma coisa que eu não quero. eu não quero ter que fazer algo sem você do lado.

Centenário Guimarães Rosa

João Guimarães Rosa, 100 anos do fino da literatura brasileira. 52 anos de um dos romances mais importantes do país. Infelizmente, uma margem quase insignificante tem acesso a esse verdadeiro mestre. É uma pena que críticos, na minha modesta opinião, burros classifiquem-o como regionalista. O autor que completa o centenário transcende o aspectos ordinariamente locais. Ali, o sertão é a alma do homem.

Mergulhar nessa obra, não é apenas acompanhar as aventuras superficiais do enredo. É sim buscar enxergar e interpretar símbolos e referências a diversos pontos como Astrologia, Hinduísmo, Maçonaria, Platonismo, Taoísmo, Psicoanálise ou mesmo Alquimia. É uma literatura de labirintos. Nada é definitivo. Uma abertura fantástica de possibilidades nos abre com a primeira página de seu legado.

Não é para ser uma obra rasa, fácil ou mesmo um mero entretenimento. É algo feito por alguém que realmente teve muita consciência do que estava fazendo. Dostoiévski, Borges, Pessoa, Cervantes, Goethe e um grupo muito seleto chegou a um grau tão intimista com a palavra. Poucos souberem através da palavra despertar o inconsciente do leitor de forma tão sublime.

“Todos os meus livros são simples tentativas de rodear e devassar um pouquinho o mistério cósmico, esta coisa movente, impossível, perturbante, rebelde a qualquer lógica, que é a chamada ‘realidade’, que é a gente mesmo, o mundo, a vida”.

Nesse site da cultura temos um belo acervo de fatos da vida e obra do autor. É uma pena que as escolas tratam a literatura como obrigação de vestibular, e não dão o tempo e o cuidado certo a uma obra tão maravilhosa quanto essa. Que venham mais 100, 200 e 300 anos a esse grande homem. Que na verdade pouco importa o tempo, porque se um objetivo da vida dele era a busca pelo infinito, sem duvidas isso lhe foi concebido.

"Quando escrevo, repito o que já vivi antes.
E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.
Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo
vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser
um crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um homem.
Na superfície são muito vivazes e claros,
mas nas profundezas são tranqüilos e escuros
como o sofrimento dos homens."

Pra quem quer se iniciar na obra, procure por:

Primeiras Estórias
Sagarana
Tutaméia – Terceiras Estórias

Cada qual com seu charme. Todos são de contos e estórias curtas. Para mergulhar no grande romance, busque o Grande Sertão: Veredas.